sábado, 9 de maio de 2015

FanFic: "O relojoeiro e a filha do embargador" [Livre]


Autoras: Tay Jackson e Paulinha Jackson




Ele: O Relojoeiro mais lindo que já vi. Seus cabelos curtos e negros, sua pele alva como a neve e aquele sorriso que bambeava as minhas pernas, era o motivo para a minha devoção. Meu amor era puro e emaculado. Minha maior força, mas também minha maior desgraça. 

Ela: A filha do Embargador mais perfeita que eu havia visto desde a morte da minha esposa. Bem mais moça que eu, mas era capaz de ensinar-me o verdadeiro sentido do amor. Nunca senti-me tão forte e muito menos, desgraçadamente covarde.

Dois amantes descobrindo o amor, em uma época onde os costumes e a boa reputação 
eram seguidos à risca!


Estreia dia 11/05







Capítulo 1









Londres, 1904




-Se apronte Agnes já estamos indo à igreja querida. _Mamãe me gritou pela enésima vez em apenas dez minutos, e eu ainda estava aprontando os meus cabelos.

-Já vai mamãe, espere mais um pouco. _Gritei de volta terminando de me olhar no espelho e ajeitar o meu longo vestido.



Catei minhas luvas na penteadeira e me pus a sair do quarto. Desci as escadas e estavam papai e mamãe à minha espera.



Acontece que eu sempre fui a única que demora a se aprontar para ir à igreja dia de domingo. É que sempre em eventos como esses vão os rapazes mais bonitos da cidade. Eu não poderia me dar o luxo de ir desarrumada e ser tida como assunto da cidade. De jeito nenhum. 



Sempre fui uma moça direita sim, mas relaxada jamais. E um dia com certeza um rapaz havia de se interessar por mim, e nesse dia eu teria de ficar esplendorosa.



-Céus Agnes! Para que tanta demora? _Papai reclamou impaciente.

-Desculpe papai estava me arrumando. _Expliquei um pouco furiosa.



Papai sabia que eu odiava quando me apressava daquela forma. A final quem quer ter que sair correndo em desespero para se aprontar?



-Até parece que vai se casar. _Sibilou mamãe. Revirei os meus olhos.

-Uma moça não pode se arrumar tranquila? _Rebati. 

-Claro que pode, contanto que não nos atrase. _Papai beijou o topo de minha cabeça assim que me aproximei. -Vamos? _Sorri um pouco com o feito.

Papai conhecia bem a filha que tinha e mesmo assim sempre foi muito amoroso, por isso amo os meus pais profundamente.

Eles são a base de tudo. Sempre lá para me proteger, cuidar, conversar. Papai era muito diferente dos pais da cidade em que vivíamos, ele confiava em mim. Diferente dos outros pais que tratavam os filhos como se fossem um cavalo puxando as carroças. Acho que por isso me sentia livre e especial. 

-Vamos.

Terminei de colocar minhas luvas já dentro do automóvel e seguimos até a igreja.
Enquanto o carro balançava o meu corpo, eu olhava pela janela, a cidade em que cresci. Todos se movimentando de um lado e outro para ir até a igreja. Um costume normal, mas eu sempre admirava e pensava que aquele momento era onde todos os homens deslocavam-se de suas casas apenas para agradecer a Deus por suas vidas, por Deus nos dar tudo que temos e por cuidar de nós. Uma verdadeira lição de vida. Não há conquista sem gratidão. 

Olhei para os meus pais e percebi que eu tinha muita coisa para agradecer. Pela vida deles e por se amarem tanto, por uma casa cheia de amor e fartura, pois eu sabia que nem todo mundo tinha tudo que eu tinha. 
Olhei para cima e percebi o relógio de papai de bolso que ele sempre usava pra lá e pra cá, pendurado ao retrovisor sem funcionamento.

O relógio mais importante em nossa família, algo que havia passando por várias gerações. Todos sabiam o valor do relógio na casa do embargador. Valor muito mais sentimental, do que de valor material, mas ainda assim valia uma fortuna.

-Papai o que houve com o seu relógio? _Perguntei sentindo uma pena por saber sua importância em nossa família.
-Parou de funcionar de repente, não sei como. Talvez tenha batido em algo que eu não percebi, ou talvez molhou com a chuva quando voltei para casa ontem à noite. _Tirou o relógio de onde estava e me entregou.

O coloquei em minhas mãos observando que havia parado às três horas em ponto, me fazendo saber que havia quebrado muito antes de papai ter voltado para casa ontem à noite.

-Não há de ser nada, talvez seja algo atoa. _Disse mamãe. -Há de haver um concerto.
-Sim, deve ser. Quem sabe não encontro o relojoeiro da cidade? Pode ser que dê um jeito.
-Sim, pode ser que sim. _Dei de ombros voltando a olhar as ruas de Londres pela janela do carro.

Aquela cidade era maravilhosa, desde que era criança eu adorava tudo ali. Desde os parques à cidades, de vilas à mercados. Sempre fui uma inglesa de família tipicamente tradicional, mas por outro lado sempre fui livre, nunca fiz nada que me mandassem apenas o que queria fazer, eu era assim. Mas claro, sempre respeitando a minha família que era tudo que eu tinha e amava. Eles me conheciam bem e respeitavam do mesmo jeito que eu sou. Papai sempre foi assim desde sempre.

Descemos do carro para seguirmos à igreja todas as famílias tradicionais de Londres caminhavam pela extensa escadarias. Segui com a minha família.

Nos sentamos em um dos longos bancos que havia e o Padre começou aquela missa tendo atenção de todos os fiéis, e eu não era diferente. Aquele ar metódico de paz espiritual me relaxava, mas o calor era insuportável. Parecia que Londres em peso estava naquele salão, todas as pessoas que eu conhecia e as que eu não conhecia. Cantamos uma música juntos em adoração a Deus "Lord is a Savior"

A beleza da igreja nos domingos eram os louvores de adoração, eu sabia todos, e cantava com a alegria preenchendo o meu peito.

Uma hora depois a missa havia acabado e papai cumprimentava todos na saída, e eu apenas um aceno de cabeça. Eu era livre, mas tímida. Bom, só às vezes.

-Margô aquele não é o relojoeiro? _Perguntou papai a minha mãe.

Olhei na direção em que apontava e pude ver o tal homem. Estava vestido de terno cinza muito bem polido como os homens se vestiam naquela época, uma calça de alfaiataria cinza escuro e um chapéu em sua cabeça, lindo. Fiquei olhando para o senhor admirada. É que havia me chamado a atenção, e eu não pude deixar de reparar.

-É ele sim o relojoeiro da cidade. _Mamãe confirmou.
-Senhor! _Papai o chamou com a mão. _Venha até aqui.

O moço foi se aproximando de nós um pouco desconfiado. Seu andar vacilante, com suas duas mãos no bolso. Cabelos curtos, jogando uma mexa caída em sua testa para trás com um simples movimento de cabeça. Eu não parava de olha-lo.

-Senhor embargador, como vai? _ O moço sorriu lindamente já sabia quem papai era. Para falar a verdade era algo comum, todos conheciam a família DelRey.
-Sim estou bem Senhor... _Pausou sem saber o nome do rapaz.
-Jackson, meu nome é Jackson. _Se cumprimentaram.
-Pois sim Sr Jackson, sei que o senhor é o relojoeiro da cidade e bem... Meu relógio parou de funcionar e tem um significado enorme em minha família, não quero que seja desperdiçado. Poderia dar um jeito? 
-Claro, claro, pois sim. Não há nada que eu não possa fazer. _Sorriu gentil olhando para mim. Retribui com timidez.
-Dê a ele o relógio Agnes. _Papai disse e eu catei mais que depressa de dentro da minha pequena bolsa.
-Aqui está Senhor. _Lhe entreguei.

Nossas mãos se tocaram e pela minha percepção havia demorada demasiadamente aquele toque, pois nossos olhos haviam se encontrado da mesma forma.
Aqueles olhos grandes e negros me olhando, sua pele tão alva quando a neve no inverno, seus cabelos muito bem penteados. Me tremi.

Finalmente consegui lhe entregar, e ele analisou as possibilidades.

-Ah não foi nada grave! Há como ser recuperado tranquilamente. Amanhã mesmo lhe entrego. _Papai ficou contente e eu também.
-Muito obrigado e não importa o valor. Pagarei o quanto for.
-Não se preocupe senhor embargador, não lhe custará tanto. _Jackson guardou o relógio de papai no bolso e se despediu de nós. Sorri contente pela simpatia do rapaz.

Eu não conseguia parar de olhar para ele e eu só pensava em uma única coisa. Eu precisava encontra-lo mais vezes.






Capítulo 2



Me lembrei das feições daquele senhor durante toda a tarde daquele domingo, e em boa parte da noite também. Preenchi o resto do meu dia aprendendo bordado com Dolores. Fui me deitar cedo, pois mais cedo ainda queria acordar no dia seguinte para ir até o relojoeiro com papai.


- Bom dia! – Cumprimentei, adentrando a cozinha.


- Você, de pé tão cedo filha? – Mamãe comentou sorrindo, enquanto eu me inclinava para beijá-la.


- Gostaria de ir até o relojoeiro com o senhor, papai – Ele bebericou um gole do seu café e olhou-me.


- Fazer o que por lá?


- Apenas ver um vestido no ateliê da senhorita Mildres. Sabe que tem baile na próxima semana e preciso de um vestido novo. – Papai sorriu, assentindo.


- Vá com Bernard, e com a Mary, eu tenho de resolver alguns problemas hoje e não poderei acompanhá-la. Te darei o dinheiro do vestido e do concerto do relógio – Assenti, em meio a um sorriso. Seria ainda melhor que papai não fosse, explicaria tudo a Mary e ela daria um jeito de Bernard ficar entretido enquanto eu falava com o relojoeiro.


- Se me derem licença – Me levantei – Vou pegar minhas luvas e chamar a Mary.


- Comporte-se, Agnes.


- Claro, mamãe – Segui caminhando graciosamente até sumir das vistas de meus pais, mas assim que eles não puderam me ver ergui as saias avantajadas do meu vestido e corri até a cozinha.


- Mary – Gritei, entrando no lugar feito um furacão.


- Aí menina, qualquer dia desses você me mata de susto – Ri – O que há que está tão esbaforida?
- Vamos ao centro – Sorri, dando pulinhos de euforia.


- E por que isso está te deixando tão contente?


- Por que vi um senhor muito bem apessoado ontem, quando saíamos da missa. Descobri que ele é um relojoeiro e por obra do destino papai mandou que ele concertasse seu relógio. Agora estamos indo lá pegar o relógio, e eu bem que quero conversar com o moço.


- Agnes, sabe que não é direito que uma moça fique de conversa com um homem.


- Pare de ser antiquada, Mary – Revirei os olhos – Você trata de distrair o Bernard enquanto pego o relógio e falo com o homem. Dê seu jeito – Voltei a erguer a saia do vestido e me preparei para sair – Vou buscar minhas luvas e vamos – Sai quase correndo pela a casa.


Meia hora depois estávamos parados no centro da cidade, não ficava tão longe de casa, mas havíamos ido de charrete, já que papai havia saído com o automóvel. Ainda não havia me acostumado a andar naquele veículo estranho, mas me acostumaria com esse tal de automóvel.


- Mary, pode ir onde te pedi com o Bernard? Ficarei aqui na charrete, pois esse sol não há de me fazer bem.


- Está se sentindo mal, senhorita DelRey?


- Está tudo bem, Bernard, só prefiro ficar aqui – Fiz minha melhor cara de moça inocente. Ele assentiu, hesitou algumas vezes, mas finalmente saiu com Mary.


Assim que eles sumiram de vista, saí da charrete e me encaminhei até onde eu achava que encontraria o relojoeiro. Nunca tinha ido por aquelas bandas, mas sabia que as lojas de concerto do centro ficavam ali. Depois de andar um pouco vi uma pequena placa pendendo de um alpendre, escrita “Jackson Relojoeiro” – Sorri como se tivesse encontrado a fita de cetim da rainha.


Me aproximei com hesitação, só depois de algum tempo tive coragem de bater na portinha de madeira e um garotinho veio em minha direção.


- Posso ajudá-la, senhorita? – O garotinho perguntou.


- Oh, sim – Sorri – Vim em busca de um relógio do meu pai. Posso falar com o relojoeiro?


- Claro, entre, vou chamar o papai – O garotinho abriu a porta e saiu correndo pelo corredor.


Papai? Será que eu tinha entrado no lugar errado?


Olhei ao redor e a pequena loja me parecia bastante aconchegante. Tudo estava muito limpo e em seu devido lugar. Não era uma grande loja, mas havia até duas pequenas vitrines com relógios expostos.


- Posso ajudá-la? – Vários pelinhos dos meus braços se ergueram ao ouvir a sua voz. Virei-me, para encontra-lo parado a alguns centímetros de distância.


Ele estava sujo, em trajes nada elegantes e carregando algum peça num dos ombros, mas era sem dúvida alguma o homem mais belo que já vira.







- Desculpe, senhorita DelRey – Ele pareceu desconcertado ao notar que se tratava de mim – Não pude imaginar que seria a senhorita quem apareceria... Desculpe pelos trajes – Atrapalhou-se jogando a peça em um lugar qualquer e limpando seus mãos na roupa. Ri do seu jeito, era adorável – Sente-se, por favor – Indicou-me o sofá, e eu sentei-me.


- Sua loja é muito bonita, senhor Jackson – Elogiei, olhando ao redor mais uma vez.


- Muito obrigado senhorita – Ele fitou-me, fazendo minha pele se arrepiar mais uma vez. Ele tinha olhos expressivos e olhar intenso.


- Meu pai não pode vir buscar o relógio, então eu vim. Está pronto?


- Está quase pronto, há de levar só mais alguns minutos para eu fechá-lo. Se desejar pode esperar.


- Claro, fique à vontade para continuar seu trabalho – Ele assentiu, se encaminhando para um lugar no recanto da sala, onde havia uma mesa de madeira talhada, com várias bagunças em cima, uma cadeira e um abajur. Ele acendeu-o, sentou na cadeira e passou a manusear o relógio de papai.


Fiquei hipnotizada pela forma concentrada que ele trabalhava, como suas mãos eram hábeis em lidar com aquelas peças tão pequenas. Incapaz de me manter sentada, levantei-me e me aproximei, ele nem sequer notou.


- Não sei como consegue trabalhar com peças tão pequenas – Comentei, e só assim ele notou minha aproximação.


- Aprendi desde muito cedo e me acostumei – Sorriu. E, Deus do céu, que sorriso maravilhoso era aquele?


- Seu pai também trabalha aqui? – Perguntei, louca para saber quem aquele garotinho chamou de papai.


- Não – Ele franziu o cenho, voltando a atenção para o relógio – Sou apenas eu nos concertos.


- Ah, então o pequeno que abriu a porta é seu filho? – Comentei mais desanimada do que gostaria de parecer.


- Sim, Blanket é meu filho. – Ele fechou o relógio em um clique e estendeu-o para mim – Está prontinho – Sorriu deslumbrante mais uma vez.


Peguei o relógio e novamente nossos dedos se tocaram e demoraram mais do que deveriam naquela posição.


- Papai – O menino entrou na sala gritando, mas parou ao ver que ainda estava lá – Desculpe.


- Sem problemas, Blanket, é esse seu nome, não é? – Ele assentiu – Você se parece muito com seu pai – Sorri, inclinando-me para ficar da sua altura – Sua mamãe deve ter muito orgulho de ter um garoto tão bonito assim.


- Não sei, a mamãe morreu quando eu nasci – Comentou em toda sua inocência infantil.


- Blanket, vá brincar com o vizinho – Jackson dirigiu sua atenção ao filho – Quando tiver acabado o almoço te chamo – O menino assentiu e saiu correndo.


- Tchau, senhorita – Despediu-se antes de fechar a porta.


- Tchau, Blanket – Acenei e ele se foi. Quando voltei minha atenção para o senhor Jackson ele estava me olhando daquele jeito que me deixava desconcertada. Senti minhas bochechas esquentarem. – Quanto foi o serviço? – Perguntei para quebrar o silêncio.


- Na... nada – Ele balançou a cabeça – Diga ao seu pai que foi coisa muito simples, não há necessidade de pagamento – Assenti.


- Então lhe agradeço – Guardei o relógio em minha bolsinha e me preparei para sair – O senhor irá para o baile do Juiz Claus? – Perguntei assim do nada – Quero dizer... é... papai estará lá e tenho certeza que gostaria de agradece-lo pessoalmente – Concertei-me.


- Estarei sim.


Tive vontade de dar pulinhos mais uma vez.


- Então, até mais ver, senhor Jackson – Sem que eu esperasse ele capturou minha mão e levou até seus lábios, beijando-a galanteadoramente. Perdi o fôlego instantaneamente.


- Até, senhorita, DelRey – Virei-me e saí da lojinha.


Estava com as pernas bambas, sentia meu rosto pegar fogo e um calor extremo me fez abanar-me com meu leque por todo o caminho de volta pra casa.


Mary não me perguntou muito, já que estávamos ao lado de Bernard. Sussurrei apenas um “Tudo bem” pra ela quando a mesma voltou para a charrete.












Capítulo 3



"Ele é lindo" essa frase não saia da minha cabeça de maneira alguma, eu realmente estava encantada pelo relojoeiro da cidade. O rapaz era de um charme que ainda não havia visto em lugar algum. Mesmo sujo no meio de suas bugigangas ainda continuava o mais belo. 

Queria saber tudo sobre ele. Sobre sua vida, sua família, sobre o seu filho e tudo que eu pudesse descobrir. Queria me tornar sua melhor amiga, ou talvez algo a mais. Sorri diante desse pensamento, percebendo Mary me olhar de olhos salientes.

-O que foi? _Reclamei pelo modo que me olhava, provavelmente achando que eu sorria por causa do relojoeiro. Mas não posso negar, era por ele mesmo e eu não me importava muito com isso.
-Nada não madame. _Desconversou e eu dei de ombros.

Acontece que eu estava tão empolgada para o baile do Juiz Claus, pois certamente sr. Jackson estaria lá. Sei que é errado se sentir eufórica por um homem dessa forma, ainda mais um homem viúvo, mas quem liga? Contando que ninguém saiba.

-Mamãe, precisamos escolher o vestido mais lindo para o baile. Não um que seja bonito, um que seja irresistível. _Adentrei pelo quarto dos meus pais com euforia, deixando bem claro a mamãe que queria ficar linda nesse baile. A final o relojoeiro estaria também.
-Agnes minha filha, nem sabia que queria ir tanto a esse baile. Sempre acha sem graça com as pessoas de sempre. _Isso foi antes mamãe hoje não.

Hoje Sr. Jackson, o rapaz mais encantador que havia visto estaria nos dando a honra de sua presença, com aquele sorriso de fazer qualquer uma desmaiar.

-Não sei, acho que essa noite será diferente. _Sorri com as esperanças em minhas expressões. 

Mamãe balançou a cabeça sorrindo, sabendo que eu aprontava.

-E o relógio de seu pai? Trouxe? 
-Sim, sim. Está aqui. _Tirei o relógio de papai da minha pequena bolsa. 
-Foi Bernad que tratou com o Sr. Jackson não foi? _O olhar de desconfiança de mamãe...
-Talvez. _Meu sorriso sapeca, saindo pelas beiradas do quarto, a fez ter certeza de que eu aprontava. 

(...)

Eu queria um vestido lindo, mas ao mesmo tempo não tão chamativo. Só com alguns babados na calda e no decote, um pouco roliço e levemente colado ao corpo. Nada de mangas bufantes e arredondado, não queria que sr. Jackson me achasse um metida só por ser filha do embargador. Queria que me conhecesse exatamente como sou. Simples, alegre, divertida e que podia confiar em mim sem susto. Era incrível como colocava expectativas naquele encontro. Quem manda Jackson ser tão lindo? Ri mais uma vez diante do meu pensamento.

-Agnes... Agnes! _Gritou papai, lá da sala.

Joguei o vestido escolhido no ateliê da senhorita Mildres, pela cama para atendê-lo.

-O que houve papai? _Desci as escadas com rapidez.
-O relógio, onde está? 
-Oh! Só um minuto. _Eu havia me esquecido completamente de lhe entregar assim que chegou.

Subi de volta ao meu quarto e voltei descendo as escadas rapidamente, assim como eu sempre gostei de fazer.

-Está aqui, novinho em folha. Graças ao Sr. Jackson. _Eu estava um pouco eufórica novamente, fazendo papai me olhar com rapidez, com uma expressão bem desconfiada, assim como mamãe. 
Será que meus pais me conheciam tão bem assim?
-E quanto custou? _Continuou perguntando sobre os custos sem dar tanta importância a minha rompante felicidade.
-Ah, nada. Sr. Jackson disse que não deu tanto trabalho. _Papai franziu o cenho achando aquela história absurda.
-Não, ele trabalhou, precisa ganhar. Talvez mais tarde irei até o seu estabelecimento. _Comentou pensativo.
-Ah, não precisa! Sr. Jackson irá ao baile do Juiz Claus. Será uma oportunidade para vê-lo e agradecer.
-Oh mesmo? Achei que o relojoeiro não se interessasse por bailes, nunca o viu em um antes. _Estranho aquele comentário e até que eu concordei.
Seria a primeira vez que soube de ver o relojoeiro em algum baile, eu nunca havia visto de forma alguma.
-De qualquer modo. _Continuou papai. -Não posso deixar por isso mesmo. O rapaz trabalhou, não é mesmo? _Papai se retirou de minha presença e eu voltei a terminar de organizar a minha aparência para o baile.

Aquela noite seria digna de uma moça como eu. Repleta de ansiedade e esperanças. E se tudo desse certo, talvez a mais bela noite que irei ter.

(...)

Contemplava o meu reflexo ao espelho enquanto Mary penteava os meus cabelos, eu não deixava um só momento de sorrir. Meus pensamentos fixos no sorriso daquele rapaz fazia de mim uma bobona.

-Nunca esteve tão eufórica para o baile madame. Está tão feliz... _Comentou Mary me ajudando e colocar o meu vestido. Por que será que as pessoas sempre me perguntam isso? Sorri por saber que eu não sou boa em esconder emoções.
-Isso se deve a um lindo rapaz que conheci Mary, apenas isso. _Caminhei para o outro lado do cômodo borrifando um pouco de perfume no meu pescoço. Agindo como quem não quer nada.
-Santo Deus Madame, isso é...maravilhoso! _Comemorou minha querida babá.

Mary me viu nascer, cuidou de mim desde sempre, como se fosse a minha própria mãe. Era uma boa amiga, ouvinte e cúmplices de minhas peripécias. Talvez saber que estava encantada por um rapaz a fez saber que eu estava crescendo, o que resultou o motivo de sua comemoração.

-E quem é esse rapaz encantador, que fez a pequena Agnes suspirar pelos cantos? _Virei de costas para Mary a frente ao espelho, logo minha babá se pôs a amarrar os laços de meu vestido. 

Mary se chocaria se soubesse que se tratava do relojoeiro, mas eu precisava dizer algo a alguém, ou eu explodiria.

-Você o conhece muito bem, querida Mary! _Mary parou por um instante de ajeitar os laços, talvez pensando em quem poderia ser.
-Não lembro de nenhum rapaz que tenha encantado a senhorita. _Balançou a cabeça voltando ao laço.
-Como não, se fomos ontem mesmo buscar o relógio de papai? _Sorri quando percebi Mary abrir a boca algumas vezes.
-Mas madame, o relojoeiro? _Assenti sorrindo. - Ele é viúvo! _Revirei os olhos por saber que isso realmente não me importava.
-E bonito, encantador, educado, boa gente. Isso também não conta? _Caminhei até a penteadeira colocando minhas luvas. 
-Sim, mas...
-Odeio os títulos que colocam nas pessoas. Só porque é viúvo, não pode haver alguém que se encante?
-Mas a senhorita é uma menina. _Sorri com ternura, segurando as mãos de Mary com carinho.
-Uma menina suspirante. _Rimos juntas enquanto eu piscava os meus olhos freneticamente.
-Seu pai não iria gostar. _Suspirei com um certo pesar.

Mary se preocupava comigo, em épocas como a nossa isso é quase um crime, uma jovem se apaixonar por um homem bem mais velho e ainda viúvo. Mas eu nunca me importei com as regras quando não estavam de acordo com os meus sentimentos. Tudo que eu queria é ser feliz.

-Do papai eu me resolvo outra hora. O que me importa mesmo agora, é encontrar Jackson ao baile e ter uma dança com ele. Quero que me conheça e quero conhecê-lo da mesma forma. _Mary sorriu com ternura.
-Tudo que quero é sua felicidade, menina. _Segurei seu rosto com leveza.
-E eu serei Mary, serei sim. _Meu sorriso transbordando felicidade, a contagiou.

Em poucos instantes já estava completamente pronta descendo as escadarias de minha casa, com papai me conduzindo até o automóvel. E eu não via a hora de encontrar, o meu relojoeiro favorito, no meio daquela multidão de pessoas, que já se encontravam dançando naquele enorme salão.













Capítulo 4




Papai caminhou ao meu lado pelo extenso salão. Estava rezando para que um dos seus amigos o chamassem e eu pudesse ir à procura do meu relojoeiro... Meu... se papai me ver falando assim, simplesmente me mata.


Dei graças aos céus mamãe não ter vindo, assim seriam duas pessoas para despistar ao invés de uma.


- Desembargador, como tem passado? – O senhor DeMontes veio cumprimentar papai, e junto dele estava sua filha, Marietta.


- Muito bem, DeMontes. E os negócios, a quantas anda?


- Papai – Sussurrei em seu ouvido – Posso dar uma volta pelo salão? – Ele interrompeu a conversa para encarar-me.


- Não a quero andando sozinha por aí.


- Mas, Marietta pode me acompanhar, sim? – A menina me olhou com grandes olhos ansiosos.
- Deixe as garotas, Dennis – Senhor DeMontes interveio – Não saiam do salão, estamos de olho nas duas – Assentimos e caminhamos pelo salão.


- Pensei que não fossem nos deixar – Marietta comentou. Ela era muito mais jovem do que eu, talvez tivesse 15 ou 16 anos, mas sempre que nos encontrávamos e conversávamos ela parecia muito madura para a sua idade, e muito espevitada também.


- Eu tinha que despistar papai a todo custo – Sussurrei, olhando em volta do salão.


- Está à procura de um rapaz, não é? – Assenti, abanando-me com o leque. – Eu também estou – Olhei-a de olhos arregalados. – O que? as jovens também amam. – Ri.


- Quem é o seu pretendente? – Perguntei, ainda olhando ao meu redor.


- O filho do Juiz Claus.


- Felipo? – Ela assentiu – Ele é mais velho que você, certo?


- É sim, mas não me importo – Ela deu de ombros e eu sorri.


- Então posso te contar de quem eu gosto. Mas prometa que não contará a ninguém?


- Claro que não. Quem está fazendo você sorrir assim?


- O relojoeiro.


- O senhor Jackson? Mas ele é viúvo, mais velho que você e tem um filho – Disse boquiaberta.


- E o que tem demais? Ele também é o homem mais bonito que já conheci, é gentil, trabalhador...


- Isso é verdade. Mas, Agnes, não acha que o desembargador vá permitir que se envolva com o senhor Jackson... Até por que também são de situações financeiras bem distintas.


- Eu não me importo com nada disso, Marietta. Eu gosto dele e quero que ele também goste de mim... Tem algo naqueles olhos que me deixa encantada. – Marietta bateu uma sucessão de palminhas.


- Seu relojoeiro chegou – Ela apontou para o outro lado do salão onde Michael estava, conversando com um homem e uma loura.


- Quem é aquela? – Perguntei, sentindo-me incomodada.


- Aquela é Possy, filha do padeiro. Parece que ela conhece bem o senhor Jackson – Franzi o cenho, não gostando daquela informação. – Deveria ir lá.


- É isso mesmo que farei – Empertiguei-me e caminhei em direção a ele.


O senhor Jackson não me viu de imediato, por isso deu tempo de analisa-lo e de fazer o mesmo com a mulher que conversava com ele. Ela era muito bonita, e pelas feições e o corpo deveria ter mais de 20 anos. O que não me agradou nem um pouco. Michael estava lindo, vestido em uma calça preta, camisa branca e suspensório. Seus lindos cabelos estavam penteados para trás, acentuando ainda mais as linha do seu rosto.


- Senhorita – Ouvi uma vozinha conhecida e ao desviar meus olhos vi Blanket parado em minha frente.


- Olá, pequeno – Abaixei-me para beijar suas bochechas. Ele riu, parecendo envergonhado. Estava muito elegantes, com os trajes quase idênticos aos do seu pai.


- Quer dançar comigo? – Eu ri, achando-o adorável.


- Mas é claro que sim – Segurei sua mãozinha e fomos para um lugar mais vago.


Estava encantado com seu jeitinho cavalheiro de se comportar, e não é que o menino dançava bem mesmo. Apesar da diferença de altura até que fizemos bonito. O pequeno encantador até me fez esquecer do seu pai e da loura azeda.


- A senhorita está muito bonita – Sorri.


- Obrigado. E me chame de Agnes, Blanket – Ele assentiu.


- A próxima dança é minha – Ao olhar para cima dei de cara com Michael parado bem a minha frente. O garotinho me soltou as pressas – Blanket, já te disse para convidar garotinhas da sua idade para dançar.


- Não tem problema – Intervi – Eu adorei dançar com ele. – Abaixei-me para ficar a sua altura novamente – Deveria chamar ela para dançar – Apontei para uma garotinha da sua idade e ele saiu quase correndo.


- Desculpe por isso – senhor Jackson sorriu – Ele é incontrolável.


- Sem problemas – Sorri.


- Me dá a honra? – Perguntou, estendendo-me sua mão. Eu nada disse, apenas segurei-a.


Seu corpo chegou próximo ao meu, uma de suas mãos segurou minha cintura e a outra 
enroscou-se na minha. Estava inebriada pelo seu cheiro, pela quentura e firmeza de suas mãos, pelo calor da sua respiração próximo do meu rosto.


- Se me permite, a senhorita está muito bonita. Com todo respeito.


- Muito obrigado – Sorri, sentindo minhas bochechas esquentarem.


- Posso lhe fazer uma pergunta, senhor Jackson?


- Mas é claro.


- Faz muito tempo que o senhor é viúvo?


- Desde o nascimento de Blanket, a quase 9 anos.


- E por que não se casou novamente?


- Não senti essa necessidade. Mas acho que chegou a hora de refazer minha vida. Blanket precisa de uma mãe, e eu de uma esposa.


- Então está procurando uma? 


Deus, onde tinha ido parar minha vergonha? Estava perguntando tudo diretamente.


- Sim, acho que estou – Ele riu.


A música que dançávamos chegou ao fim.


- Aqui está muito quente, não acha? – Sai do seus braços – Gostaria de tomar ar puro.


- Não acho seguro que vá sozinha até lá fora, senhorita DelRey.


- Me acompanhe então – Dei de ombros. O relojoeiro me fitou, a princípio sem entender a proposta, mas quando o fez seus olhos ganharam um brilho diferente e ele sorriu.


Segui pelo salão, tentando passar o mais desapercebida possível. Quando parei nos jardins dos fundos da casa estava ofegante e sorridente.


- Não entendo por que uma jovem tão bela e de família tão nobre tem insistido em falar com alguém como eu – Virei-me e encontrei Michael parado atrás de mim. Ele parecia muito curioso.


- Eu gosto de você – Senti minhas bochechas esquentarem.


- Mas... mas, você não pode – Gaguejou – Seu pai jamais permitiria que a senhorita sequer fosse amiga de alguém como eu.


- Alguém como você? – Disse ligeiramente irritada – Não vejo nada de errado no senhor.


- Sou pai de um garoto, sou muito mais velho e de situação financeira inferior a sua, e sem falar que sou vi...


- úvo... – Completei, revirando os olhos. – Eu sinceramente não me importo. Eu gosto de você do mesmo jeito – Ele me fitou e sorriu, aquele sorriso encantador que me derrete.


- Você está procurando encrenca, garota. – Dei de ombros.


- Me diga seu nome, estou sonhando com o nome que vem antes de Jackson.


- Meu primeiro nome é Michael – Sorri, ainda mais encantada.


- Nome de anjo – Michael se aproximou de mim.


- E o seu? O que vem antes de DelRey?


- Agnes – Foi a vez dele sorrir. 


- Agnes... Tão belo quanto você – Ele capturou um cacho dos meus cabelos e colocou atrás de minha orelha.


Ouvi passos se aproximando e antes que nos pegassem eu aproximei-me dele e beijei seus lábios, um beijo de lábios fechados... Meu primeiro beijo... E tudo que li nos romances aconteceu, as borboletas no estômago, a sensação de flutuar...


Me separei dele e saí correndo, antes que nos vissem.


Quando cheguei em frente à casa rindo e ofegante avistei papai.


- Agnes, onde esteve durante todo esse tempo? É hora de ir para casa.


- Mas já, papai?


- Hora de moças da sua idade estarem em casa. Bernard a acompanhará.


- Sim senhor.


Naquela noite, em meio aos meus lençóis eu sonhei com aqueles lábios nos meus novamente.










Capítulo 5













O dia estava lindo naquela manhã de sábado, os barulhos de pássaros da minha varanda me dava um senso de paz que eu nunca havia experimentado antes. Quando se é uma jovem com tanta expectativas e esperanças, é possível notar com prazer as belezas da vida, porque quando se estar apaixonada, até onde não tem, você enxerga amor.



Michael. Era o nome do meu príncipe!



E meu coração acabava de bater com força assim que o vi caminhando pela rua da varanda do meu quarto. Estava com uma boina nos seus lindo cabelos, suspensórios e camisa cinza que combinava com sua calça azul marinho. Ele sempre andava dessa forma e eu amava o jeito que se portava.



Soltei um longo sorriso satisfeito e corri escada à fora para acalçar o meu relojoeiro. Abri o portão às pressas e continuei correndo pela rua até chegar próximo a ele. Enquanto Michael continuava de costas parei o ritmo da correria respirando fundo, caminhando lentamente agora. Eu sabia que estava sendo um tanto ansiosa e isso causaria má impressão, mas quando há amor, nem sempre há raciocínios.



-Bom dia, Michael. _Michael virou para olhar-me nos olhos rapidamente, e aquele sorriso divino estava ali.
-Bom dia Agnes. Uma bela manhã não acha? _Levando em conta que você fazia parte desse dia, sim. Era uma bela manhã.
-Certamente relojoeiro. _Caminhamos lado a lado pela calçada. -Acho que não trabalha aos sábados, estou certa?
-Está certa sim, apenas estou com a minha caminhada diária. Adoro apreciar os dias de sol, e quem sabe, buscar alguma inspiração. _Seu olhar sugestivo para mim, fez meu coração mais uma vez bater com força.
-Acho que eu já encontrei a minha. _Ele mordeu o lábio lentamente e eu senti vontade de beija-lo de novo, mas dessa vez com demora. -Se estar buscando inspiração, acho que posso leva-lo a um lugar.
-Eu adoraria. _Seu tom rouco fez-me arrepiar.

Bastou alguns minutos de caminhada entre conversas e risos para estarmos afastados da cidade o suficiente para me sentir livre com o meu relojoeiro. Logo mais à frente havia um rio ao qual eu sempre adorava estar quando queria ficar sozinha. Acho que ficar sozinha com ele seria a melhor coisa que um dia aconteceu comigo.

-Esse rio é lindo! _Michael estava deslumbrado com a pequena cachoeira em uma graciosa queda. -A quanto tempo sabe sobre esse lugar?
-Desde sempre. _Sentamos em uma das pedras ao chão. -Gosto de estar aqui quando quero pensar um pouco.
-Certamente é um ótimo lugar para se pensar. _Senti umas das minhas mãos sendo tocadas por ele e o costumeiro arrepio me invadiu. -E o que pensa ultimamente, Agnes? _Sorri sabendo que aquela resposta era fácil.
-Não sei. Penso na vida, penso em como estarei daqui a um tempo se continuar fazendo as mesmas coisas de sempre. Digo! Eu adoro a minha vida os meus pais, a nossa cidade. Adoro ver o sorriso de uma criança assim que ganha um belo presente, o presente que sempre desejou. Mas ainda não sei muito bem o que eu quero, apenas ser feliz. Esse é o desejo maior.

Michael levou seu olhar para o rio, como se pensasse em algo.

-Sempre queremos ser felizes e sempre queremos algo maior na vida. Mas às vezes o que queremos, nem sempre acontece. _Percebi que havia muito mais além do que aquela simples percepção.
-Você fala por causa da sua esposa? _Maneou sua cabeça.
-Quando Erika faleceu achei que nunca mais me recuperaria. Eu era um homem jovem com um recém nascido para criar. Eu tinha alguns sonhos, mas...
-Você ainda é jovem! _Me sobressaltei tentando tirar a tristeza do meu amado. -Nem tudo estar acabado. _O sorriso tranquilo que deu me deixou mais aliviada.
-Você tem razão, Agnes. _Mordi meu lábio sorrindo tímida por saber que concordava comigo. -Então se importa com as pessoas? _Vi que se interessou pelo meu comentário.
-E quem há de não se importar? Não há nada melhor que ver o sorriso de uma pessoa e saber que são felizes de verdade. Uma criança pobre quando recebe uma maravilhosa oportunidade, ou uma animal de rua que consegue um lar. A vida consiste de conquistas.
-Nunca pensei que uma jovem de família como a sua se preocupava com o próximo. _Eu sei que não disse por mal, todos tem impressões ruins sobre famílias ricas. -Digo..._Se deu conta do modo que falou, mas como eu havia entendido não quis que se explicasse.
-Papai me ensinou a dar valor a tudo que eu tenho, pois há muitas pessoas que não tem o que deseja. Eu sempre achei essa frase injusta. Porque.. se Deus deu as melhores coisas aos seus filhos, por que nem todos podem desfrutar? Percebi que seria melhor buscar a felicidade em um rio, por exemplo. _Apontei para as águas do rio. -Todos nós podemos ter, não é? O rico e o pobre. Acho que é disso que se trata. _Quando terminei o meu relato, Michael me olhava com ternura.
-Você é incrível, Agnes! Acho que é disso que se trata. Se todos nós pensássemos no próximo acho que não haveria guerra.
-Eu tenho certeza que não haveria. _Fitamos com ternura um para o outro. Acho que Michael entendeu o que eu quis dizer e adorei saber que se interessou pela minha sinceridade. 
-Que tal um banho de rio? Está um sol maravilhoso. _Sugeri me levantando da pedra, já tirando a parte de cima do meu vestido, ficando somente com as roupas de baixo.

Em outra ocasião, com outra pessoa, eu estaria envergonhada em tirar a parte de cima do meu vestido, mas com ele não.

-Concordo.

Me joguei no rio, com entusiasmo, pronta para ouvir a água fazer um som denunciando que Michael veio atrás de mim. E foi o que aconteceu. Nadei próximo a ele segurando em seu ombro.

-Seus olhos ficam ainda mais azuis quando está molhada, Agnes. _O jeito que me olhava, parecia mentira que eu também estava sendo correspondia por ele. -Você é linda, porém jovem demais. _Me entristeci.
-Eu não ligo pra isso. No final das contas, o que vale é o amor e não a idade.
-Também concordo. É por isso que não paro de pensar sobre o nosso beijo na festa. _Abri um sorriso largamente.
-Nem eu. _Fitei seus lábios rubros, tão convidativos para mim, tão importantes naquele momento. Quando percebi ele fazia o mesmo comigo.

Segurei sua nuca e tive a graça de notar sua boca chegando cada vez mais próximo a mim. Compartilhamos um beijo ainda mais maravilhoso do que o outro. Pois...Sua língua entrou na minha boca com uma vontade impressionante, seus lábios pressionados ao meu, nossas cabeças em um ritmo de um lado e outro. 

Eu nunca achei que um beijo pudesse me fazer sentir um milhão de sentimentos, não achei que pudesse ser tão bom, e não achei que eu me sentiria tão feliz como naquele momento. Parecia um sonho, eu estava beijando o relojoeiro, o homem mais lindo que os meus olhos já viram, o homem mais gentil. E pelo visto, também estava gostando de mim. Eu não sei se era real ou se era apenas um sonho bom. De qualquer forma...eu aproveitaria até o último segundo.











Capítulo 6











Passaram-se quase dois messes desde que Michael e eu começamos a... bem, acho que a palavra ainda não é namorar, por que ele ainda não foi pedir a papai. Mas nos encontramos todos os sábados e domingos no mesmo lugar de sempre, no nosso rio, como chamamos.





Estou a cada dia mais encantada por aquele homem. Conversamos muito durante todos esses dias, e nos beijamos muito também, claro.





No último domingo consegui ir até sua casa para almoçar com ele e seu filho, e confesso que foi difícil voltar para casa, por mim ficaria lá. Experimentar a simplicidade e afeto daquela família fora simplesmente único para mim.




Blanket era um amor de garoto, conversou comigo, e até me convidou para brincar com ele. Como sempre fui um ‘garotinho’, joguei bola com ele e com seu pai por um bom tempo.


O problema era que estava cada vez mais difícil de escondermos nosso relacionamento, e me apavorava pensar o que papai diria quando Michael fosse pedir minha mão.


- Faz tempo que chegou? – Sua voz rouca me despertou, desanuviando meus pensamentos.


- Acabei de chegar – Sorri, apreciando seus braços firmes em volta da minha cintura. Michael plantou um beijo em meu pescoço e me girou para que ficasse de frente para ele.


- Está triste com algo? – Perguntou, seus dedos passeando levemente pelo meu rosto.


- Não... Só estou em um dia não muito bom – Tentei sorrir, mas não funcionou.


- Não gosto de vê-la assim, meu amor. Não quer falar o que aconteceu? – Neguei com a cabeça – Quer ir até minha casa?


- Michael, tenho medo que alguém veja – Suspirei.


- Certo, ficaremos aqui então. – Assenti. – Você está tão linda – Seus lábios aproximaram-se dos meus e em segundos estávamos nos beijando. Nossos beijos sempre começavam carinhosos, mas rapidamente evoluíam para algo mais intenso e forte, carregado de desejo.


Quando separamos nossos lábios, estava ofegante e ruborizada.


- Você sabe como fazer uma moça esquecer seus problemas – Ele sorriu – Não está de boina hoje... Não gostei – Resmunguei.


- Mesmo? Por que? – Perguntou de cenho franzido.


- Não gosto que mostre seu cabelo assim, parece meio... selvagem. E as moças desavergonhadas olham pra você ainda mais – Michael riu em alto e bom som.


- Está com ciúmes, Agnes? – Neguei – Pareço selvagem para você? – Perguntou em meio a uma mordidinha no lábio.


- Muito – Sussurrei, encarando aqueles lábios carnudos.


Seus lábios estavam nos meus novamente em questão de segundos. Me perdi totalmente naquele beijo, deixando-me ser guiada por ele.


Sem interromper nosso beijo Michael deitou-me delicadamente em uma toalha, que estava estendida na beira do rio, seu corpo deitou-se sobre o meu e seus lábios seguiram para o meu pescoço, enquanto uma de suas mãos infiltrava-se por baixo das saias do meu vestido, ele tocou delicadamente minha panturrilha e em seguida apertou-a de uma forma que me fez gemer involuntariamente.


Ouvi um barulho vindo a mata e em um sobressalto me levantei, empurrando Michael.


- Des... desculpe, Agnes. Não foi minha intenção ser desrespeitoso com você – Ele estava ofegante e ligeiramente vermelho.


- Achei ter ouvido alguém – Balbuciei, me recompondo.


Michael olhou ao redor, levantou-se e foi até as árvores mais próximas, voltando de lá poucos minutos depois.


- Não era ninguém – Assenti. Ele parou em minha frente, parecendo envergonhado. – Ficou chateada comigo, não é?


- Não fiquei, querido – Sorri, trazendo suas mãos para enlaçar minha cintura – Só estou preocupada com a gente... Podem nos descobrir e, bem, eu ficarei mal falada. Também quase não tenho mais desculpas para dar a mamãe ao sair de casa. Quando falará com papai, Michael?


- Em breve – Foi tudo que ele me disse, me deu mais um selinho e se afastou.


- Não entendo qual é o problema. Porque não pode ir agora em minha casa e fazer o que tem de ser feito?


- Por que não é a hora certa, Agnes. Por favor, não vamos brigar por isso novamente. Te prometo que irei, mas ainda não é a hora pra isso.


- Certo – Consenti para evitar uma briga – Terei de ir agora – Dei batidinhas na saia do vestido para tirar o amassado e me levantei. Estava prestes a ir embora, mas Michael voltou a me segurar.


- Desculpe – Sussurrou a centímetros dos meus lábios – Não quero que vá embora com raiva de mim... Não posso nem imaginar você sentindo algo por mim que não seja amor – Meu coração acelerou com sua frase – Juro que logo falaremos com seu pai, só não o fiz ainda por que estou trabalhando arduamente para dar um jeito na casa e na relojoaria. Quero que ele veja o lugar mais arrumado quando finalmente pedir sua mão... tenho medo, Agnes – Sua testa encostou-se a minha – Tenho muito medo que ele diga não e nunca mais possamos nos ver.


- Eu não vou deixar isso acontecer, vou lutar por nós dois – Segurei seu rosto em minhas mãos e beijei-o novamente. Quando separei nossos lábios ambos sorríamos - Tenho mesmo que ir.


- Nos vemos no próximo domingo? – Perguntou ansioso.


- Darei um jeito de ir jantar com você e o Blanket essa semana. Não é uma certeza, mais vou tentar.


- Te esperarei todas as noites, ansiosamente – Trocamos mais um beijo rápido e muito a contra gosto saí dos seus braços e parti para a minha casa.


(...)


- Posso saber onde estava até agora, Agnes? – Assim que abri a porta de casa mamãe me inquiriu. Parecia muito brava.


- Estava no ateliê, mamãe – Menti.


- Eu sei que não estava lá, fui com Mary até o ateliê e não encontrei-a. Pare de mentir agora mesmo.


Meus olhos se arregalaram. Eu estava muito encrencada.


- Ela estava comigo, senhora DelRey – Me virei, desacreditando em quem entrava na sala.


“Melayne” – Sussurrei incrédula.


- E quando voltou de viagem, Melayne? – Mamãe franziu o cenho para a minha amiga.


Melayne e eu éramos amigas desde que tínhamos 5 anos. Desde então sempre estivemos juntas, até os pais de Melayne decidirem viajar em família a quase 5 meses atrás. Não tivemos como nos comunicar durante esses meses, pois eles não ficaram em um ponto fixo, foram de cidade em cidade. Estava louca de saudades da minha amiga e jamais poderia imaginar que ela estava de volta.


- Voltei a uma semana, senhora DelRey – Ela sorriu angelicalmente e tive certeza que com aquele sorriso ela enganou mamãe.


Ao contrário de mim, Melayne era uma jovem muito recatada, religiosa e muito obediente. Nunca vi aquela loura desobedecer seus pais nem fugir da linha um centímetro que fosse.


- E por que você não me contou da volta de Melayne, Agnes? – Engoli em seco.


- Eu pedi que ela escondesse isso. – Melayne aproximou-se de mamãe, mas antes de lançou seu olhar “calma que vou resolver” – Sabe, senhor DelRey, estou em um infortúnio – Ela agarrou as mãos de mamãe dramaticamente – Estou enrabichada por um rapaz que papai não me permite envolver, e a bondosa Agnes tem me ajudado a me encontrar com ele. Por isso pedi segredo até sobre minha volta.


- Mas minha jovem, não é melhor que o senhor Mendes saiba de tudo. Não vá contra as regras do seu pai.


- Eu contarei a ele, prometo a senhora, mas lhe imploro que não fale nada a ninguém e que perdoe Agnes pela omissão.


- Dessa vez passa, Agnes, mas não quero que me esconda mais nada – Assenti rigidamente, incapaz de falar. – Vou deixa-las a sós – Mamãe saiu pelo corredor.


- Agnes, que saudades – Ela correu em minha direção e abraçou-me fortemente. – Acho que acabei de te salvar, certo?


- Completamente. Senti tanto a sua falta – Voltei a abraça-la – Tem tantas coisas que preciso te contar.


- Então vamos subir, por que se vou mentir pra te ajudar preciso pelo menos saber o porquê da mentira – Ri.


- Você também tem que me contar sobre a viagem... E nunca mais se atreva a sumir por tanto tempo.


- Eu prometo.


O resto da tarde eu e Melayne passamos contando nossas novidades. Escutei ela me falar sobre as cidades maravilhosas que visitou, o que aprendeu em cada uma delas, e até que conheceu um rapaz e o beijou. Isso me chocou, já que Melayne nunca citara nem uma aproximação com um homem antes, que dirá ser beijada.


Contei a ela minha história com Michael. Bem, no início ela pareceu não concordar com nosso relacionamento, pelos mesmos motivos de todas as outras pessoas, mas quando lhe disse que o amava e que não me importava que tivesse de lutar arduamente por ele, minha amiga disse que me ajudaria em que eu precisasse.


- Você fica para o jantar, certo? – Convidei-a, assim que Mary apareceu em meu quarto informando que o jantar estava servido.


- Claro. Disse a papai que viesse me buscar as 7.


- Então vamos – Descemos as escadas em meio a risadas e numa conversa animada.


- Melayne, que bom revê-la. Como foi de viagem? – Papai perguntou cordialmente.


- Muito bem senhor DelRey, obrigado.


- Agnes, amanhã sairemos para jantar na casa dos Alburque – Olhei-o de cenho franzido.


Não era comum saímos para jantar fora sem que fosse uma festa ou na casa de amigos próximos a família. E os Albuquerque definitivamente não eram nossos amigos próximos.


- Alguma comemoração especial, querido? – Mamãe externou minha curiosidade.


- O filho mais velho dos Albuquerque, o Doutor Mavi, disse ter se encantado por nossa filha ao vê-la no baile do juiz Claus, e quer conhece-la para pedir sua mão em namoro, Agnes. – O garfo que estava em minha mão caiu, fazendo barulho ao se chocar com a porcelana do prato.


- O que?









Capítulo 7









Aquele notícia afetou o meu cérebro me deixando tonta. Papai não podia fazer isso, ele simplesmente não podia deixar que eu namorasse um homem que eu mal conheço. Talvez se Michael tivesse ido antes pedir a minha mão, eu tinha certeza que esse mal seria evitado.



Mas as coisas poderiam mudar, não é mesmo? Eu contaria a Michael e ele daria um jeito, eu tinha certeza que quando souber ele falaria com o papai e tudo se revolveria.



-Tudo bem papai. _Fingi concordar, eu sabia que não adiantaria uma afronta agora, papai não aceitaria e eu colocaria tudo a perder. Michael resolveria a situação eu tinha certeza.

-Isso é maravilhoso, minha filha. Farei muito gosto nesse namoro. _Engoli a seco.

-Oh, minha filha, já é uma mocinha. _Murmurou mamãe. Dei um leve sorriso, bastante sem graça.



Se quem eles estivesse comemorando por ser o meu namorado fosse o relojoeiro, com certeza eu não estaria sentindo esse nó preso na garganta, e muito menos essa agonia que invadia o meu corpo. Muito pelo contrário, eu estaria radiante, rodopiando pela casa fazendo questão de demonstrar o meu contentamento. E muito menos estaria agora sem conseguir pregar o olho, bastante aflita pelo dia que seguirá amanhã. Deus, só espero que quando Michael conversar com o meu pai ele possa aceitar, é tudo que eu rogo! Orei baixinho antes de dormir.


(...)

-Agnes, mas que desgraça lhe aconteceu! _Melayne se compadeceu de mim. -Se seu pai aceitou Dr. Mavi como seu namorado, é porque já está certo disso. 

Andei de um lado para o outro com uma aflição, não tão pouco quanto ontem.

-Não me fala uma coisa dessas, Melayne. _Segurei suas mãos com firmeza. -Diz que quando Michael falar com papai ele aceitará de cara. É tudo que eu preciso ouvir. _Meus olhos cheios de lágrimas, denunciavam o quão eu estava em maus lençóis. 
-Michael é viúvo Agnes, tem um filho e... é um relojoeiro. 

Fiz cara de choro, mordendo as minhas unhas. Melayne tinha razão, e eu sabia disso. Papai não aceitaria Michael, talvez não por ser um relojoeiro, mas haviam outros empecilhos que nos afasta. Principalmente o fato de ser viúvo. Pois significava que era um homem já vivido.

-Dr. Mavi por outro lado, é jovem e solteiro. _Completou.
-Eu sei. _Mas eu não podia ficar naquela aflição eu tinha que me encontrar com Michael agora mesmo. -Melayne, por favor, diz a papai que almoçarei em sua casa, preciso encontrar com Michael, sim?
-Tudo bem. _Ela sorriu. Melayne era uma amiga e tanto, e não media esforços para me fazer um favor como esses.

Ela disse a papai que almoçarei em sua casa e que passaria a tarde inteira lhe ensinasse alguns penteados, para que fique bonita no próximo baile. Melayne sabia persuadir os meus pais como nunca. De certo que esse pedido era bastante inocente. Mas tinha receio de papai desconfiar dessas saídas a casa de Melayne.

(...)

-Agnes. _Ouvir a voz sussurrante e empolgada de Michael, assim que me viu adentrar sua casa, foi um elixir para toda a minha dor. 
-Michael. _Sua mão seguraram o meu rosto com leveza e seus lábios encostraram nos meus, que pouco a pouco fazia o beijo mais intenso e repleto de desejo.

Eu havia acostumado com a língua quente e macia de Michael dentro da minha boca, isso ajudava senti-lo ainda mais, como se conectássemos com a alma. Suas mãos acariciando a minha cintura, me fazia sentir o meu corpo arder, minha pulsação ser alterada, me mostrando que eu queria ir muito além. Queria para mim, e esses sentimentos me deixavam com medo de certa forma.

-Me perdoe, meu amor. _Murmurou ele, sabendo que estávamos indo além.
-Tudo bem. _Sorrimos.
-Vamos almoçar? Blanket espera por nós. _Assenti, mas ainda com aquela sensação estranha dentro de mim, que a qualquer momento Agnes e Michael não poderia mais existir, e isso machucava muito.
-Agnes! _Blanket gritou o meu nome correndo até mim, me fazendo abandonar os meus devaneios.
-Oi Blanket, meu anjo. _O abracei apertado sabendo que aquela família, eu não queria largar por nada dessa vida.

Almoçamos conversando animadamente. Eu nunca havia visto Michael sorrindo como estava, ele estava tão feliz. Mas em compensação eu estava com um nó preso o tempo todo. Então aos poucos fui ficando mais tranquila, pois ao lado daquele homem os meus problemas acabavam.

Ainda mais quando fomos ao rio naquela tarde. O mergulho naquela água com o meu amor havia me relaxado, mas eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu teria que conversar sobre o caso com ele.

Minha cintura foi envolvida por suas mãos e minha boca preenchida por ele. Sua língua macia acariciava a minha de uma forma única. Meus lábios sugavam os dele e minhas mãos apertavam sua nuca.

-Eu amo você, Agnes. _Aquela declaração me encheu de esperanças. -Tenho pensando em nós o tempo todo e...Tudo que eu quero é você. 
-Tudo que eu quero também é você, meu amor. Não posso mais viver sem você e é por isso que dói tanto. _Me virei de costas fazendo a água envolta de mim se agitar. 

Senti a mão dele no meu ombro.

-O que houve, Agnes? _Olhei para ele em lamento o fazendo franzi o cenho em preocupação.
-Papai quer que eu namore Dr. Mavi. Ele já planejou tudo para o nosso encontro.
-O que? _Michael abaixou a cabeça como se pensasse. -Ele não pode fazer isso é...Você é minha namorada Agnes, nós..._Michael parecia perturbado e de certa forma me deixou mais tranquila, tendo a certeza que me amava. 
-Por favor, Michael, diz ao papai que somos namorados. Que você me quer como sua e talvez...
-O que disse a ele? _Me cortou querendo saber a que par essa história se encontrava.
-Eu fingi aceitar, disse que está tudo bem e que eu conheceria o Dr. Mavi. 
-Fez bem. _Disse aliviado. -Vá até a esse encontro e aja como se estivesse tudo bem. Depois avisa ao seu pai que não gostou do Dr.Mavi que achou o moço não tão simpático e que não o quer como namorado. _Ri pela esperteza do meu amado. -E então você diz de quem gosta e pede uma chance ao seu pai de me conhecer melhor. E ai eu te peço em namoro.

Me joguei nos braços de meu amado com a emoção esvaindo todo o resquício de angustia. 

-Obrigada Michael, muito obrigada, meu amor!
-Eu estarei fazendo um favor a mim mesmo Agnes, eu a amo e você é minha. _Segurei seu rosto contemplando sua face bonita, seus olhos expressivos e seus lábios avermelhados convidativos. 

Eu queria beija-lo, queria senti-lo, pois como estávamos não era o suficiente. Michael tomou os meus lábios e inciamos mais um beijo intenso que voltava a queimar o meu corpo, me fazendo sentir um milhão de sensações. Eu o desejava, de uma forma que iria além do que eu pudesse controlar. A água gelada do rio parecia uma sauna devido nossos corpos quentes por conta da tensão que nos envolvia. 

Minha boca chupava a sua com maestria, minhas mãos deslizavam por seus cabelos macios enquanto as dele por meu corpo. Eu o queria, queria agora e disso eu estava tão certa.

-Agnes... _Michael interrompeu o beijo ofegante me deixando frustrada. 
-Não pare amor, eu quero, quero você. _Supliquei voltando a beija-lo.
-Tem certeza? É isso que realmente quer meu amor? _Os olhos dele brilhavam, assim como os meus deveriam estar brilhando, pela ternura que nos envolvia. 
-Eu tenho certeza. _Fui convicta.

Voltamos a nos beijar e Michael me ajudava a tirar o meu vestido pesado e molhado. O ajudei a tirar suas roupas com a mesma precisão. Não parávamos de nos beijar enquanto fazíamos e só aumentava ainda mais o nosso desejo, me fazendo ter certeza do que eu queria. Eu nunca havia sentido o meu corpo dessa forma, clamando por ele, o querendo desesperadamente, era como se cada célula do meu corpo implorasse pelo seu.

Meus seios pequenos foram revelados a ele, achei que me sentiria envergonhada quando isso acontecesse, mas não. Nunca me senti tão à vontade. Ainda mais, quando eu o agradei fazendo-o abocanhar meu mamilo, me deixando sentir contraída. Oh meu amado, você é o melhor nisso! 

Sua calça foi tirada, e eu fiquei pensando por um momento como seu membro grande e grosso entraria pela minha intimidade pequena e delicada. 

-Não machucarei você, eu prometo. _Sussurrou no meu ouvindo e meu corpo arrepiou-se. Claro que não me machucaria, ainda mais sabendo quanto meu corpo o queria.

Michael segurou minhas nádegas me montando em seu colo e assim adentrou minha abertura com cuidado. Eu estava tão sensível que gemi em seu ouvido, sua boca tomando o meu pescoço, nossos corpos tão juntos e nus, era uma sensação erógena para mim.

Ele se moveu mais um pouco, entrando cada vez mais. Ardia de inicio, mas não ao ponto de faze-lo parar, muito pelo contrário eu queria ama-lo.

-Eu amo você, Agnes. _Sua declaração assim que me fez mulher me fez chorar.

Eu também o amava e amava profundamente de todo o meu coração. Suas investidas eram mais fortes, mais prazerosa, atingindo lugares que nem eu sabia que me daria as melhores sensações. Seus gemidos de contentamento me deixava plena, sabendo que eu o agradava, sabendo que sentira o mesmo que eu. Seu coração acelerado junto ao meu, o calor do seu corpo. Seus lábios me devorando, suas mãos me tocando. Me desfiz em seus braços, em estado de graça. Sabendo definitivamente que nos pertencíamos.

-Eu também te amo. _Descansei minha cabeça em seu ombro com ofegância.










Capítulo 8









Depois daqueles momentos maravilhosos, nos demoramos ali na beira do rio apenas um pouco. Eu precisava voltar para a casa de Melayne e também estava um pouco encabulada depois de ter me entregado a um homem que não era meu marido. Mas eu confiava em Michael, sabia que ele faria o impossível para ficarmos juntos, de modo que isso não era algo que me preocupava tanto assim.





Foi difícil me despedir dele quando me deixou na porta dos fundos da casa de Melayne, por mim iria com ele naquele instante, viveria como uma concubina, sem dignidade, por que larga-lo por meros minutos que fossem era doloroso demais.





- Eu amo você, não se esqueça disso – Disse, segurando meu rosto – Vou dar um jeito de ficarmos juntos.



- Eu sei – Sorri, beijando-o rapidamente – Também o amo demais.


Observei-o se afastar de mim com um estranho nó na garganta, e uma angustia estranha no peito. Decidi ignorar, por que provavelmente eu só estava um pouco impressionada.


- Ele é um cavalheiro muito bem apessoado – Melayne comentou, me assustando.


- Melayne! – A repreendi entre risos.


- Ainda ei de encontrar alguém assim – Ela puxou-me pela mão – Agora vamos, ou irá se atrasar.


Poucos minutos depois já estávamos em minha casa. Melayne ficou de conversa com mamãe enquanto eu tomava banho e depois subiu para me ajudar com os cabelos.


- Você está tão linda.


- Pena que não me arrumei assim para o meu relojoeiro – Corei, na simples menção do seu nome.


- Agnes, o que você fez? – Perguntou de olhos arregalados.


Melayne é a pessoa mais perspicaz que conheço. Ela consegue ler qualquer coisa em sua expressão.


- Nada do que vá me arrepender – Sorri, desviando o assunto – Vamos descer.


Papai e mamãe já me esperavam na soleira da porta, e me apressaram a subir na carruagem. Antes do veículo partir, acenei para Melayne e ela sussurrou um ‘boa sorte’. Ela disse que não arredaria o pé dali até eu voltar e lhe contar os detalhes mínimos do jantar.


(...)


A casa, ou melhor, a mansão, onde a família Albuquerque morava ficava a quase 8 quarteirões da nossa casa. Não fora uma viagem longa, mas já sentia entediada e cansada antes mesmo de entrar ali.


- Comporte-se, Agnes – Mamãe sussurrou em meu ouvido antes de descermos da carruagem.


Os matriarcas Albuquerque vieram nos cumprimentar logo na entrada, abraçaram a mim e aos meus pais efusivamente, murmurando seguidos “Mas que moça linda” “Mavi ficará ainda mais impressionado”


Assim que o nome foi pronunciado o dito cujo apareceu, e posso dizer que fiquei bastante impressionada por não tê-lo notado na festa – Claro, eu só tinha olhos para Michael, e assim seria para sempre – Mas o tal rapaz era muito bonito, e tinha um sorriso que me pareceu sincero e simpático. Normalmente os membros da sociedade com renome não costumam ser simpáticos.


Retribui seu sorriso. Ele se aproximou, segurando minha mão e levando-a aos lábios.


- Fico feliz e honrado que tenha aceitado meu pedido, senhorita DelRey – Assenti.


O resto da noite se seguiu tranquila. Jantamos e logo depois seguimos para a sala de música. Todos iniciaram uma conversa e Mavi aproximou-se de mim para também conversarmos. Fui amistosa com ele e toda a sua família. De fato havia gostado de todos, e não era nada desinteressante conversar com Mavi. Ele fora educado, atencioso, espirituoso e em momento algum constrangedor. Talvez pudesse apresenta-lo a Melayne quando toda essa confusão estivesse desfeita e eu enfim estivesse nos braços do meu amado.


- A noite foi adorável, senhorita.


- Também fiquei encantada em conhece-lo – Menti.


Na próxima semana teria de me confessar e o padre José ficaria chocado com os dois pecados que cometi.


- Espero vê-la em breve – Ele beijou novamente a minha mão.


- Claro – Que não, completei mentalmente.


Não via a hora de pôr meus pés em casa novamente e inventar para meu pai um milhão de defeitos para o Mavi, e assim me ver livre dele.


(...)



Narradora





Não muito longe dali uma mulher cruzava a rua ás presas. Ela precisava entrar na casa do senhor Jackson antes de alguém vê-la. Sua reputação estaria em frangalhos caso alguém a visse entrando na casa de um homem solteiro, desacompanhada, e ainda mais a noite. Por falar em reputação... – Sorriu maliciosamente.





Possy esgueirou-se em uma viela e dali viu o filho do Michael correndo em frente à casa. Ela jurara que pestinha iria para um internato assim que ela se cassasse com o pai dele.





- Blanket – Chamou, ele olhou de um canto a outro, mas não notou-a – Blanket – Chamou novamente, acenando para que ele a visse.





- Senhorita Clarck, algum problema? – Perguntou, segurando sua bola embaixo do braço.


- Seu pai está em casa?


- Sim, está.


- Abra a porta pra mim que estou indo para lá agora – O menino encarou-a com a testinha franzida.


- Mas...


- Só faça o que pedi, querido – Sorriu afavelmente – Preciso ajudar seu pai em um assunto.


O menino não entendeu, mas conhecia a mulher desde sempre, então não viu problema em deixa-la entrar, ainda mais se fosse para ajuda seu pai.


Alguns segundos depois Posy estava dentro da casa, empurrando o menino para que ele fosse chamar seu pai.


Michael apareceu em seu campo de visão, vestindo impecáveis calças pretas, e uma regata branca. Em seu ombro descansava um pano manchado de molho. Ela pensou em quanto o amou por todos esses anos silenciosamente. No quão feliz ficou quando a esposa sem sal dele morreu e finalmente o deixou livre novamente. Ela amava aquele homem, perdidamente. E não via a hora de tê-lo apenas para si. Ele ia nota-la, sempre pensou que iria, mas então foi ficando velha demais, e para uma moça não é bom estar solteira aos 28 anos, então ela tinha que apressar as coisas. Por tanto o que lhe restou agora foi ser drástica. Michael a desposaria de um jeito ou de outro.


- Senhorita Clarck, o que faz aqui a essa hora? Algum problema com seu pai? – Perguntou visivelmente preocupado.


- Não – Sorriu, por que quando estava na presença dele era tudo que podia fazer – Podemos conversar um momento? – Michael pareceu hesitante, mas assentiu.


- Vá brincar, filho – O garotinho olhou entre o pai e Possy, mas saiu correndo logo em seguida.


- Não consigo imaginar um assunto tão importante que tenha a trago aqui a essa hora. Quer sentar-se? – Ofereceu com educação. Ela negou com a cabeça.


Michael gostava do pai de Possy, muito, mas nunca fora muito próximo de sua filha. Não gostava de parecer presunçoso, mas a moça sempre o comia com os olhos. E esse não era um bom olhar.


- Vim falar sobre um casamento – Ela começou debochada. Abriu seu leque e abanou-se, fazendo charme.


Possy não era feia, mas nunca chamou a atenção do único homem que tanto queria.


- Oh, sim, vai se casar, senhorita Clarck?


- Com certeza, e muito em breve, senhor Jackson.


- Parabéns – Estendeu a mão em um gesto solidário – E quem é seu noivo, quero lhe parabenizar ao amanhecer?


- Eu estou de frente para ele – Seu sorriso se ampliou. Michael abaixou a mão e encarou-a de cenho franzido.


- Desculpe a indelicadeza, mas a senhorita mastigou ópio*? – Possy ergueu a sobrancelha presunçosamente.


- O senhor vai aceitar, senhor Jackson. A menos que queira que toda a cidade descubra do seu romance com a senhorita DelRey.


- O que? – Michael gritou.


- Eu sei de tudo. Segui-os até a cachoeira por dias a fio. Vi cada beijo, vi-os nus – Ela colocou a mão na boca, parecendo chocada – Você deflorou a desavergonhada.


A mão de Michael coçou para calar a boca daquela mulher... Por Deus, se ela fosse um homem teria perdido os dentes naquele instante.


- Nunca mais ouse falar o nome dela – Rugiu. Possy riu feito uma hiena.


- É de fato muito digno que a defenda. E como a ama, não pensará duas vezes em seguir à risca o que quero que faça.


- Você só pode estar louca. Não tem como provar nada.


- Mas isso não será difícil. Pense, acha mesmo que se eu disser ao desembargador que a filha foi deflorada pelo senhor, ele não a mandará para um especialista? Claro que vai. A coitada vai ser humilhada, e vai acabar em um convento. Sim, por que o desembargador jamais deixará um viúvo, pai de um filho, relojoeiro e ainda por cima que deflorou sua filha antes do casamento, casar-se com ela. Se ama aquela magricela vai considerar tudo que eu disse, meu caro.


- Por que disso agora, Possy? Sempre fui amigo do seu, nunca destratei e....


- E nunca notou que sempre amei-o – Gritou – Que me transformei na solteirona dessa idade por esperar por você, mas nunca me viu realmente. Agora será do meu jeito.


Michael engoliu em seco, vendo-se sem muita alternativa. Ele queria lutar, brigar por Agnes contra tudo e todos... Mas precisava resguardar a honra que não era assim mais tão dela.


No fundo essa louca que estava em sua frente falara a verdade em algumas ocasiões. Ele amava Agnes e queria o melhor para ela, e o melhor não poderia ser ele. Agnes era uma moça da sociedade, fora criada no luxo e merecia um marido que lhe desse o que sempre teve. Sabia que no fundo não era o melhor para ela, só não tinha tido coragem de admitir isso. Ele ia deixa-la ter tudo que merece. Era hora de colocar os pés no chão e parar de agir como um jovenzinho apaixonado. Ele era um viúvo, já passara dos 20 anos, tinha um filho para criar, e precisava trabalhar arduamente para isso... Agnes jamais levaria a vida que ele pode oferecer. Ela teria de arrumar, lavar, cozinhar... Apesar de ser um anjo, uma mulher incrível, eles não foram feitos para viverem juntos. Se o destino quisesse isso teria os posto pelo menos em mundos sociais parecidos. Só havia faltado alguém para lhe dizer isso, agora que ele ouvira de outra pessoa era mais fácil assimilar para si mesmo.


- O que quer que eu faça para que a deixe em paz? – Perguntou derrubando-se na cadeira. De repente pareceu muito exausto, vazio e sem forças.


Abrir mão de um grande amor era sem dúvida uma dor dilacerante, mas as vezes era preciso.


- Vou te explicar tudo – Possy sorriu, quase saltitante.


Michael sabia que estava sendo fraco, deixando-se guiar por aquela mulher. E que feriria Agnes de morte depois de fazer o que ela havia pedido... Mas como dissera a si mesmo anterior mente... era preciso.










Capítulo 9











Acordei ainda mais feliz naquela manhã, eu sabia que Michael iria conversar com o meu pai sobre nós. Que ficaríamos definitivamente juntos. E aquilo acendia o meu coração.

Sentei à mesa com a minha família para tomamos café da manhã. Papai já foi logo me perguntando sobre Mavi.



-É um rapaz adorável papai, mas não é para mim. _Mamãe e papai me olharam depressa, um tanto quanto surpresos. -Ele é infantil demais apesar da idade, não gosta de ler e muito menos ir ao lago. Não quero namorar um rapaz que não irá me acompanhar em minhas paixões. _Papai franziu o cenho e eu ri por dentro.

-Achei que gostasse de ler, é um rapaz bastante culto.

-Gosta de ler, mas não os romances que me fazem sonhar. E o senhor sabe que é imprescindível em minha vida. _Papai sorriu.
-Ora Agnes Mavi é homem, isso é tão normal.
-Não ficarei com uma pessoa que acha os livros de romance uma bobagem, papai. É o que ele acha, não quero ser zombada e muito menos ter que me privar de sonhar só porquê sou comprometida. Não gostei do Mavi. _Papai achou minha explicação confusa demais, mas concordou. Acho que não discutiria comigo ainda mais sabendo o quanto eu estava determinada, ele sabia que comigo era assim.
-Se não quer Mavi como o seu namorado tudo bem, mas só peço que pense mais um pouco. Ele é de uma família tradicional e muito boa. Acho que será bom para você. _Sorri por ter conseguido que me ouvisse. Mas conhecendo como conheço, papai iria tentar me dissuadir sempre que puder.
-Eu agradeço sua preocupação papai, pois os pais pensam no bem de sua filha. Mas creio que não reconsiderarei.

Ele olhou para mamãe com um certo incômodo como se eu fosse a garota mais atrevida do mundo, mas conheço papai e ele não reclamaria agora. Não antes de saber o que aconteceu, e é por isso que preciso que Michael converse logo com ele. Assim ele saberá o motivo e tudo ficará bem.

Depois do café fui até o jardim, queria olhar a vista e ver o meu amado, se por um acaso passar por ali. Mas tudo que vi foi um garotinho correndo até o portão de casa e subindo pelas escadarias de ferro que havia na varanda para chegar até mim. Carregava algo em suas mãos.

-Mandaram entregar essa carta, senhorita. _Olhei com dúvidas para ela, não sabia quem poderia ter mandado.
-Quem me mandou? 
-O relojoeiro da cidade. Disse que tinha que chegar em suas mãos, ele deixou isso bem claro. _Meu sorriso se alargou, e meu coração alterou em seu compasso alegremente.

Com certeza seria uma carta de amor, me dizendo o quanto me amava e o quanto nossos momentos juntos foi tão maravilhosos para ele como foi para mim. Peguei algumas moedas em meu bolso e lhe dei com gratidão.

-Muito obrigada menino, obrigada por ter feito o serviço direito.
-Mas ele já me pagou. _Ri.
-Não há mal algum em querer pagar de novo, por ter feito uma moça feliz, não é? _O menino balançou a cabeça e se foi, tão alegre quanto eu.

Levei a carta em minhas narinas procurando o cheiro do meu amado e encontrei. Tão suave, tão delicado. Só pensei o quanto eu queria estar com ele agora mesmo. Beijando os seus lábios, sentindo o seu cheiro e até mesmo fazendo amor mais uma vez.

Subi depressa até o meu quarto fechando a porta, abrindo o envelope com tanta ansiedade que me dava ofegância.

As letras masculinas e tortas de Michael, até elas me deixavam feliz e sonhadora. Me pus a ler.


" Você é gostosa, Agnes. Tão gostosa e apetitosa que não parei de pensar nisso por muito tempo.





Achei o modo que falou um pouco diferente do Michael que eu esperava, talvez machista demais. Mas quando disse que não parou de pensar, me fez sorrir minimamente.



" Você é jovem, e não é mulher para mim. Consegui o que queria e não quero mais. 



Desfiz o sorriso tão rápido quanto a falha que meu coração sofreu nesse momento. Era como se o chão embaixo dos meus pés havia sumido para sempre. Comecei a ficar nervosa. 



"Preciso de uma mulher mais madura que possa cuidar de mim e do meu filho, e não de alguém que ainda precisa de pedir para o papai. Foi bom Agnes, mas já enjoei. Não me procure mais e fique longe do meu filho. Se contar a alguém o que fiz, negarei e direi que foi você que me rondava. Pois é verdade, não é? "



Eu estava tonta, o ar ia até a minha garganta mais não fazia seu trajeto natural até a narina. Estava preso, dolorosamente preso. O desespero me consumiu, parecia um sonho ruim. Um pesadelo cruel ao qual veio para trazer tormento e inseguranças. Eu iria acordar, só faltava um pouco e eu acordaria. Mas não foi isso que aconteceu, eu não acordava me fazendo querer gritar. 



-Não! _Meu grito longo ardeu a minha garganta. As lágrimas quentes inundaram-me, era como morrer. Aquela dor que Michael estava me causando me fez morrer.

-Por que Michael, por quê? _Não eram mais choros e sim berros.



Nem consegui ler o resto da carta, o que eu li já foi o suficiente para querer morrer. Eu tinha vergonha de mim mesma, por ter me entregado a um homem que achei que me amasse, que me fez mulher e depois me tratou dessa forma, como se eu fosse uma perdida. 



Me ajoelhei ao chão chorando cada vez mais alto, as forças me faltavam e minha cabeça doía. Foi quando senti uma tontura ainda maior e minhas vistas escurecerem. Mas antes de apagar de vez senti uma mão me segurar.



(...)

-Agnes acorde! Agnes fale comigo! _Ouvi a voz de Melayne ao longe, tão sutil que achei que fosse um sonho. 

Meus olhos abriram aos poucos. Eu estava dormindo, aquilo poderia sim ter sido um pesadelo, tinha que ser.

-Agnes ouvir os seus gritos de lá de fora. _Melayne me alertou o quanto eu estava gritando e o medo de ter chamado a atenção dos meus pais me fez levantar rapidamente.
-E os meus pais? Onde estão?
-Eles saíram, me deixaram entrar. Mas quando subir as escadas você começou a gritar, o que houve? _Lembrei daquela maldita carta, lembrei da dor que sentir por Michael ter rompido comigo daquela forma. Comecei a chorar de novo.
-Oh Agnes! _Melayne me abraçou e era como se fosse um alívio poder chorar nos braços de minha amiga. -Me fala o que houve, por favor? _Direcionei minha cabeça a carta caída ao chão, queria que ela lesse.

Melayne confusa foi até o maldito papel e pôs-se a ler, tão chocada quanto eu.

-Você se entregou a ele? _Aquela pergunta me deu um desespero ainda maior. Apertei os meus olhos com força. 
-Ele me enganou, Melayne. Michael me enganou. _Minha amiga me abraçou de novo, e eu não lembro quanto tempo fiquei assim, só lembro que foram longos minutos de silêncio com a minha cabeça reproduzindo todos os tipos de cenários. 

Nós dois juntos na festa, no rio, nosso primeiro beijo e até mesmo quando fizemos amor. Foi tudo uma mentira. Os momentos que achei que foram únicos para mim, que eu era a moça mais feliz do mundo, também foram a minha pior desgraça. Acho que teria vergonha de olhar para os meus pais novamente.

-Você deve namorar com o Mavi. _Aquela frase de Melayne doeu ainda mais o meu coração. -Ele é um rapaz bom, e pode tira-la dessa desgraça. 

Ela tinha razão, tentei colocar defeitos de Mavi, mas ele não tinha. Era uma rapaz educado e de boa família, papai quer que eu fique com ele.

-Mas eu não o amo, Melayne. _Chorei mais.
-Você há de amar Agnes. E será feliz, você vai ver. Logo Michael será uma lembrança distante.

Eu só torcia que o que me disse fosse verdade, que eu pudesse esquecer Michael de uma vez por todas e esperava nunca mais vê-lo. Senão acabaria de me matar de vez, pois eu já me sentia morta por dentro. Os meus sonhos de menina foram destruídos junto com o meu coração e a minha alma, a partir do momento que eu li aquela carta.


Capítulo 10


- Michael –


Dor, é tudo que sinto nesse momento. Cada vez que fecho meus olhos e a figura linda e sorridente de Agnes se materializa por trás das minhas pálpebras fechadas, meu peito dói e eu me sinto o pior dos homens.


Posso imaginar nesse momento o tamanho do sofrimento que a fiz passar. Eu destruí seus sonhos, quebrei seu coração, mas ao escrever aquelas palavras não foi apenas a Agnes que saiu ferida, eu também saí.


Queria saber notícias dela, principalmente agora que já se passou quase um mês desde o acontecido. Será que ela seguiu meu concelho e agora namora com o tal Mavi? Será que ainda nutre algo por mim além de ódio?


- Papai quer sua opinião, Michael – A voz irritantemente doce me tirou dos devaneios. Encarei Posy, que me sorria – Venha aqui, querido.


Caminhei até onde meu futuro sogro estava, e assim iniciamos mais uma interminável conversa sobre os preparativos do casamento. Posy me encarava como se eu fosse um prêmio que ela conquistara depois de muito esforço, e de quando em quando se metia na conversa, dizendo que queria o melhor casamento do mundo.


Pensar que dali a um mês estaria casado com aquela mulher me dava asco. Ela poderia ter conseguido o que queria, mas nunca, jamais seria por completo seu esposo. Seria incapaz de fazer amor com ela, por que meu corpo, minha alma e meu coração pertenciam a Agnes e seria assim para o resto da vida. Mesmo que nunca mais nem nos víssemos.


(...)


- Agnes –


Olhei para o céu escuro e mal iluminado daquela noite e u suspiro de cansaço escapou dos meus lábios. Eu me sentia tão vazia que nada em minha vida parecia fazer sentido.


Acordar pela manhã e sair para caminhar já não me fazia mais feliz, olhar o céu a noite já não me trazia mais paz, conversar com Melayne era angustiante e encarar meus pais se tornou um martírio. Eu vivia trancada em meu quarto, saia apenas para resolver os preparativos do casamento. Sim, eu me casaria em um mês.


Papai ficou chocado quando disse a ele que havia mudado de ideia, que não era grande coisa o Mavi não gostar de romances e que queria sim namorar com ele. Dois dias depois mais um jantar foi oferecido, dessa vez em minha casa, e oficializamos o namoro. Duas semanas depois ele se declarou apaixonado por mim e me pediu em casamento. Eu aceitei. Primeiro por que ele era minha tábua de salvação, segundo por que não poderia dizer não a um rapaz tão especial e terceiro por que gostava de sua companhia e talvez pudesse amá-lo algum dia.


Melayne me proibiu de contar a ele a desgraça que tinha cometido com Michael, mas eu não me perdoaria em enganar um homem tão bom quanto Mavi. Se ele dissesse aos meus pais eu teria de aceitar meu triste destino, por que de forma alguma eu me casaria com Mavi escondendo dele que sou moça deflorada. Seria vergonhoso para mim e para ele principalmente.


Por isso de hoje não passaria, estava pronta e forte para enfrentar qualquer coisa que viesse pela frente. Depois de tanto sofrimento e de conviver com a dor nada mais me abalaria.


- Veja isso, Agnes – Melayne gritou eufórica, desviei meus olhos para ver o amontoado de tecido que ela me mostrava.


Era meu vestido de noiva, branco, rendado, perfeito, mas que não me trazia felicidade alguma.


- Você vai ficar tão linda dentro dele – Ela estendeu a peça em frente a mim e eu me obriguei a sorrir, mas por dentro eu estava quebrada, e minha única vontade era de chorar, porém eu não faria mais isso, estava cansada das lágrimas.


Mamãe entrou no quarto, parecendo tão feliz e radiante quando Melayne. Para mamãe eu havia tirado a sorte grande, arrumando um dos melhores partidos da cidade. Para Melayne eu havia me livrado de uma desgraça eminente.


- Vai ser a noiva mais linda de todos os tempos – Mamãe bateu palmas, e sorri novamente. Vê-la assim tão empolgada era bom. Pelo menos alguém estava realmente e inteiramente feliz naquela casa.


Toquei no tecido trabalhado do vestido e uma onda de imagens me vieram a cabeça. E se esse casamento fosse com o Michael? Se ele não tivesse me enganado... Nós estaríamos juntos, prestes a nos casar... e eu seria a mulher mais feliz do mundo.


Uma lágrima teimosa desceu por meu rosto, mas enxuguei-a rapidamente. Pigarrei para clarear a voz antes de falar.


- Mavi já chegou? – Perguntei.


- Está aí fora – Assenti.


- Vou falar com ele, com licença – Antes que eu pudesse sair, Melayne segurou meu braço.


- Não faça nada que vá se arrepender, Agnes.


- Certo – Murmurei em meio a um sorrido fingido.


Desci as escadas e encontrei Mavi numa conversa animada com papai, assim que me viu seus olhos fixaram-se nos meus, eu vi tanto carinho, afeto em seu olhar que subitamente me senti melhor.


Temos nos dado tão bem durante esse mês de convivência que parecia que nos conhecíamos a anos.


- Boa noite, minha noiva – Ele se inclinou para plantar um beijo casto em minha bochecha.


- Boa noite, Mavi – Sorri, enlaçando minha mão na sua – Podemos ir até o jardim, papai?


- Claro, filha – Nos afastamos da sala, rumando para o jardim.


Assim que ficamos a sós Mavi segurou minha cintura e me puxou para junto do seu corpo, segundos depois nossas bocas estavam unidas em um beijo lento e carinhoso. Pousei minhas mãos delicadamente no peito dele e afastei-o.


- Fui longe demais? – Mavi perguntou ofegante.


- Não – Sorri – Você é bom demais comigo, Mavi. Acho que é mais do que mereço. – Ele negou com a cabeça.


- Não entendo por que tanto diz isso. Você é uma moça incrível, Agnes, muito diferente de todas moças que já conheci. Não te importa vestidos caríssimos nem joias. Prefere ver o pôr-do-sol do que ir ao teatro. Gosta de me ajudar no consultório... Sem falar que é muito inteligente, culta, linda... Me diga por que alguém como você se deprecia tanto. Eu que devo me achar pouco pra você...


- Não – Cortei-o, segurando seu rosto – Você não é.


- Tem algo lhe afligindo, não é? Me fale, eu vou ajuda-la, prometo – A preocupação em seu rosto partiu meu coração.


- Eu vou te contar, mas tenho certeza que depois que eu disser tudo de bom que sente por mim terá acabado.


- Duvido – Ele riu baixinho.


- Eu não sou mais virgem, Mavi – Ele me encarou sem alterar em nada sua expressão.


- Quem foi o maldito infeliz que fez isso com você e nem sequer assumiu-a? – Suas sobrancelhas se juntaram, formando um carranca em seu rosto bonito.


- Nã---não posso contar – Sai dos seus braços, lhe dando as costas – Pode dizer aos meus pais se quiser... duvido que queira casar comigo depois disso, e eu te entendo.


- Pelo jeito não conheceu nada de mim nesses dias, não é? – Virei-me, e o vi me encarando seriamente.


- Por favor, Mavi, não torne tudo ainda pior. Não precisa me passar sermão, eu sei que errei, mas não se julga alguém cego pelo amor.


- Não vou te julgar, muito menos passar sermão. Agnes, eu a amo e não te deixaria cair na desgraça que é ser uma mulher deflorada sem marido... Você nem pode imaginar o destino que essas mulheres tem... e você é boa demais pra isso – Meus olhos se arregalaram de surpresa.


- Vo---você ainda quer se casar comigo? Não tem nojo de mim pelo que fiz?


- Claro que me casarei com você – Seu cenho franziu – A menos que você não queira.


- Eu quero – Me ouvi balbuciar rapidamente – Mas e a sociedade e...


- Ninguém precisa saber – Ele se aproximou – Eu vou protege-la e cuidar de você. Você será minha, Agnes, só minha – Seus lábios desceram pelos meus novamente, dessa vez mais intensos e exigentes.


Um tremor ruim fez-me arrepiar. Quando disse tais palavras Mavi tinha uma determinação quase obsessiva brilhando em seus olhos, e isso me assustou.


Agora não havia como voltar atrás, meu destino estava traçado e nele não havia mais espaço nem para lembrar de Michael.







Capítulo 11




Mamãe havia me mostrado pela enésima vez a tiara que eu usaria como ornamento do meu vestido. E como sempre, não dei a mínima. Não que eu desdenhasse tudo que estavam fazendo por mim, mas é que, parece que não era comigo, parece que nada daquilo era para mim, eu não me sentia parte de nada. Talvez meu coração estivesse longe de tudo. Mas pensando bem... o vestido era lindo, os ornamentos igualmente e a festa que planejaram nem se fale, eu tinha que admitir.

Desci até a varanda para tomar um pouco de sol e respirar um pouco de ar puro, apenas para me desintoxicar daquele clima festeiro ao qual eu não estava na mesmo nível. Quando vi Mavi despontar no portão e subir pela escada de ferro para me ver. Eu achava comovente o modo que subia só para me ver. Não se dava ao trabalho de ter que entrar dentro de casa e subir as escadas.

-Bom dia Agnes. _Senti um selinho em meus lábios e logo respondi.
-Bom dia Mavi. _Meu sorriso de lado um pouco desanimado se fez notório.
-Algum problema? _Balancei a cabeça.
-Na verdade não. Mamãe está planejando o casamento e tudo que nos é direito na próxima semana. Mas como me senti calorosa, vim até qui para tomar um ar.
-Podemos fazer isso juntos. _Sugeriu. -Tomar um pouco de ar, caminhar por ai e conversarmos. O que acha? 

Na verdade eu achei um pouco animador, ficar ali olhando as pessoas passando de um lado para o outro e permitir que minha mente reproduzisse a imagem do relojoeiro, certamente não estava me ajudando em nada.

-Acho maravilhoso. _Sorri um pouco melhor e Mavi provavelmente sentiu que conseguiu algo de bom aquela manhã. Me animar um pouco.

Caminhamos pelo bosque aos risos. Acontece que Mavi me contava um pouco mais de sua vida e seu jeito empolgante que o fez se tornar um médico.

-Papai, havia machucado o dedo naquele dia, lembro-me que sangrava muito e eu só queria que melhorasse. 
Corri até a cozinha pegando o saleiro e um pouco de água e coloquei no dedo, que parou de sangrar instantaneamente. Logo papai disse que eu levava jeito para curandeiro. _Riu diante desse pensamento e eu lhe acompanhei. -Foi ai que me interessei por medicina. 

Era admirável sua história, deu para notar o quanto amava sua profissão e o motivo pelo qual esteve até aqui. Mavi tinha paixão em tudo que ele tocava o que me deixava segura em certo ponto.

-É bonita a sua história, quem dera eu poder escolher algo tão significativo para a vida. _Comentei entristecida, sabendo que uma mulher como eu e naquelas épocas era bastante difícil ser outra coisa que não fosse dona de casa.
-Você adora escrever e ler. Acho que seria uma ótima escritora. Eu sentirei orgulho em ter uma artista, como você, minha mulher. _Ri tranquila por saber que Mavi realmente era um moço bastante liberal.
-E eu ficarei grata.
-Poderíamos escrever a história de nossas vidas. Os lugares onde iremos conhecer, como queremos que fossem os nossos filhos. _Desfiz o sorriso achando aquela proposta complexa demais.

Quando me vem a cabeça em escrever, são pensamentos ou sonhos pessoais que eu possa ter na vida. Inspirar outras pessoas e mostrar a beleza da vida como eu a vejo. Não a história de nós dois. Até porque, Mavi para mim era apenas um amigo do qualquer outra coisa, era assim que o via. Nem sei se quero ter filhos mais.

-Pode ser. _Cometei um sorriso murcho de lado.
-Você é linda Agnes. _Mavi segurou em meu rosto assim que paramos de caminhar. -Tão linda que parece um anjo. E será minha.
-Obrigada Mavi, você também é lindo. 
-Eu te amo. _Seu olhar penetrante para mim me deixava um pouco desconfortável. -Tenho tantos planos para nós que mal posso contar nos dedos. _Sorri mais uma vez de lado, girando meus olhos de um lado para o outro. -Vamos até o lago, fica logo ali. É lindo você verá.
-Ah..oh.. o lago? _Senti um frio perpassar o meu corpo ao mencionar o lago. O mesmo lago em que Michael e eu nos encontramos, dávamos os nossos beijos e fizemos amor pela primeira vez. Parecia cruel demais ter que voltar até lá.
-Sim, venha. _Mavi me puxou e eu não tive a mínima escolha. Quando vi já estávamos ali em cima das pedras contemplando aquele lugar lindo, ao qual me trazia lembranças amargas.

Mavi falava qualquer coisa, talvez contando sua história de infância quando ia até o lago, mas não dei a mínima. Apenas pensava em Michael e eu. Era como se visse nós dois juntos mais uma vez, nos beijando, nos acariciando e trocando juras de amor. As falsas juras de amor que hoje me machucam tanto. 

Quando olhei para trás a figura maravilhosa de Michael aparecia em minha frente. Achei que fosse alucinação, mas não. Era ele mesmo. Tão lindo quanto eu me lembrava, tão perfeito como o meu primeiro olhar. Ele havia me machucado tanto!

Meus olhos ardiam o encarando, era como pimentas e a qualquer instante eu choraria, por lembrar que me deflorou e escreveu aquela carta suja em seguida para mim.

-Vamos embora Mavi. _Pedi um pouco chorosa e ele não entendeu muito, mas encarou Michael a mesma maneira como ele nos encarava. Seus olhos haviam dor que não entendi de forma alguma.

Puxei Mavi com tanta força daqui que nem percebi. Eu estava quase chorando e até algumas lágrimas desapontaram.

-Mas o que foi meu amor? Quem era aquele homem? _As lágrimas que eu não podia mais segurar saíram em abundância fazendo Mavi suspeitar, assim que estávamos distante o suficiente.
-Então foi esse o homem que lhe deflorou? _Chorei com tudo me virando de costas para ele, não sendo capaz de lhe olhar a face. -O relojoeiro? Mas...Ele parece tão...Simples. _Voltei a olha-lo com os meus olhos banhados.
-Ele me magoou Mavi, de uma forma horrível. Me sinto tão mal. _Mavi me abraçou em seus braços e eu me senti um pouco em paz.
-Ele não tocará mais em você minha querida, pode ter certeza. Você é minha e assim será. 

(...)

Cheguei ao choros em meu quarto, nem tive mais ânimo algum de terminar o passeio com Mavi, ele até que foi bem compreensível. Melayne estava em meu quarto e logo que me viu chorar tratou de me abraçar.

-Mas o que foi Agnes? O que aconteceu?
-Michael, ele estava lá no lago. _Franziu o cenho para mim assim que me soltou.
-Por que foi ao lago? 
-Mavi me levou até lá Melayne. Queria um passeio. _Caminhei até a minha cama e me sentei. -Achei que não seria uma boa ideia, mas mesmo assim fui. Quando pensa que não, lá estava ele. Tão lindo como nunca. _Melayne ainda estava sem entender muita coisa, e não tirava aquela expressão pensativa.
-O que ele foi fazer no lago? Achei que depois que fez não se daria ao trabalho de voltar. _Ela tinha razão, nem havia me dado conta disso.
-Talvez foi lá relembrar o que me fez como um trunfo. Ou pensando em uma nova conquista para leva àquele lugar. Só sei que nunca mais me atreverei ir para aquelas bandas. Nunca mais quero pensar naqueles momentos lindos que se transformou em pesadelo.
-Você indo ou não sempre pensará Agnes. Mas tem razão, você deve se afastar, ou verá o que jamais quis ver. _Apertei os meus olhos com força sentindo a dor daquelas palavras.
-Mavi já conhece Michael. Fiquei tão desesperada que lhe disse. _Melayne aparentemente não havia se abalado.
-Assim é melhor. Mavi irá cuidar dele, é o que penso. _Senti uma pontada me golpear o estômago.
-Será? _Não era isso que queria, por mais que eu estivesse magoada, não queria ver Mavi lhe tomando satisfações. Ele não parecia ser o tipo de cara que faria isso comigo, depois de eu ter confiado.

Não, talvez eu não devesse pensar assim. Michael me magoou, mas eu não queria vê-lo machucado, ele ainda era um pai, e Blanket não tinha culpa alguma se o pai era um cafajeste ou não.

Minha angustia aumentava com a mesma intensidade que o dia do meu casamento se aproximava. E eu me sentia mais aflita do que nunca.




Capítulo 12


Os dois meses que faltavam para meu casamento passaram-se como um borrão. Tudo em minha vida se resumia a vestido, enfeites de casamento, flores, convidados e Mavi... Esse vivia em meu pé quase 24 horas por dia. E apesar de gostar muito dele e de sua companhia ele estava começando a me sufocar.

Mamãe e Melayne não se conformavam por que optei por um vestido mais simples. Pelo menos nisso que queria manter minha essência, já bastava todos os gastos excessivos com a festa e a decoração da igreja. Tudo um exagero. Infelizmente ninguém entendia que nada daquilo me faria feliz.

Fazia poucos segundos que todas haviam saído do quarto e me deixado só. Disse a Melayne, mamãe e a famosa cabeleireira que precisava de um tempo sozinha.

Suspirei profundamente e encarei minha imagem refletida no espelho. O vestido era deslumbrante, a maquiagem e o cabelo também, mas estava claro em meus olhos que não estava feliz. E mesmo que isso soasse exageradamente dramático até para mim mesma, duvidava que algum dia essa opacidade desanuviasse meu olhar. Eu me arrastaria pela vida, amargurada e triste... E pensar nisso me dava uma sensação horrível de quem está se afogando em um poço sem fundo.

Batidas na porta me despertaram. Mamãe entrou, carregando meu buquê e ostentando um sorriso largo no rosto.

- Vamos, querida, seu noivo já está na igreja – Assenti, engolindo o choro e peguei o buquê. – Você está tão linda. Deus há de abençoar esse casamento e você será muito feliz.

- Tomara – Balbuciei com a voz trêmula.

Não acho que um casamento sem amor vá ser abençoado. Mas que posição poderia ter eu depois de tudo? Eu só tinha a agradecer a Mavi por não ter dito o que sabe e desgraçar minha vida. Eu poderia até não ser feliz, mas era obrigada a fazê-lo assim, já que ele me salvou.

Encontrei Melayne me esperando em frente ao automóvel enfeitado. Papai fez questão que usasse sua nova aquisição, só para chamar ainda mais atenção, já que automóveis ainda eram raros por aqui.

Ela sorriu ao meu ver, mas não parecia sincera.

- Você está linda – Sorri.

- Você também está. Com certeza a dama de honra mais linda que poderia ter. – Ela soltou uma risadinha triste.

- Sei que não está feliz. Sei que não era isso que queria, mas tente, pelo menos tente aceitar seu destino. Mavi é um bom homem e fará de tudo para fazê-la muito feliz – Assenti, enxugando as lágrimas teimosas que caiam pelo meu rosto – Não queria te contar, mas é melhor que seja eu.

- Diga – Franzi o cenho.

- O--- O Michael também estará se casando hoje.

Todo os pedaços de chão que ainda estavam embaixo dos meus pés, ruíram naquele momento.

- O que?

- Ele se casará com Possy, a filha do açougueiro.

- Mas... ele... Meu Deus – Me encostei no carro por que achei que fosse desabar – Por que ele fez isso comigo, Melayne? – Perguntei aos soluços.

- Você tem de aceitar... siga seu caminho, Agnes – Ela me abraçou forte – Recomponha-se pois seus pais estão vindo. – Enxuguei as lágrimas rapidamente e me pus ereta.

- Oh meu Deus, você está tão linda, filha – Papai me abraçou forte – Tenho muito orgulho de você filha – Sorri o máximo que pude.

- Vamos logo ou Mavi achará que Agnes desistiu – Subimos no automóvel e nos encaminhamos para a igreja.

Tudo estava muito bonito e a igreja estava lotada, assim que desci do automóvel as pessoas correram para se sentarem em seus devidos lugares. Mamãe foi na frente avisar para que dessem início a macha nupcial e Melayne arrumou meu vestido, prostrando-se à minha frente. Enlacei meu braço no de papai e caminhamos para dentro da igreja.

Minhas pernas pareciam pesar uma tonelada, meus olhos não conseguiam focar em nada ao meu redor. Apenas as cenas de tudo que vivi com Michael passavam pela minha cabeça, até o jeito que ele me olhou naquele dia no lago. Ele não parecia feliz, nem mesmo vitorioso pela canalhice que fez, Michael parecia tão angustiado e triste quanto eu e era isso que eu não entendia.

Deus, como ele pode mentir tão descaradamente pra mim? Provavelmente enquanto me beijava e me jurava amor, estava planejando o casamento com a outra. Como alguém pode ser tão sórdido e brincar assim com o sentimento dos outros?

- Você está tão linda, meu amor – A voz de Mavi me despertou dos devaneios.

Ele segurou minha mão e beijou-a. Em seguida nos prostramos em frente ao padre e deu-se início a cerimônia.

Não me lembro de quase nada por que meu corpo estava ali, mas minha mente não. Só pensava em Michael se casando com outra, fazendo amor com ela, tendo filhos... e rindo de mim, da minha ingenuidade.

-  Amor? – Mavi sussurrou em meu ouvido. Olhei para o padre sem entender e ele repetiu a pergunta.

- Você aceita casar-se com Mavi Albuquerque?

- Sim – Disse, antes mesmo de filtrar a palavra e possivelmente desistir de dizê-la.

Mavi também disse sim, e depois de um caloroso beijo o padre nos declarou marido e mulher.

Agora sim minhas esperanças estavam completamente nulas. Lá no fundo da minha alma romântica ainda imaginei o Michael entrando pela porta, me tirando dali e me dizendo que tudo fora um engano, mas não... nada aconteceu.

Recebemos abraços e felicitações enquanto saíamos da igreja, e eu tentava a todo custo expressar uma felicidade que não sentia.

Mas então, quando estava prestes a entrar no carro que nos levaria para a noite de núpcias, eu o vi. Estava vestido em um smoking negro, seus cabelos presos e seus olhos demonstravam uma tristeza quase palpável. Uma mulher segurou-o pelo ombro e vi que ela estava vestida de noiva.
Nossos olhares não se desgrudavam, e eu estava prestes a largar tudo, me humilhar e implorar pra que ele me tirasse dali, pra que não se cassasse.

- Michael vai se casar agora – Melayne sussurrou em meu ouvido – Entre no carro com seu marido, Agnes. Pense em seu próprio bem. – Olhei pela última vez para Michael e entrei no carro, partindo sem olhar para trás.














Capítulo 13



Haviam se passado dois meses que me tornei a esposa de Mavi, a esposa desanimada, sem vida e infeliz. Nada do que ele me dissesse ou fizesse me convenceria de ama-lo, ainda mais agora. Pedi para que Mavi mantivesse distância de mim pelo menos até eu me acostumar, eu não podia me deitar com ele, não depois de ter amado outro e de ter experimentado o verdadeiro amor. Acontece que Michael ainda povoava os meus pensamentos e eu não podia de forma alguma trair a mim mesma. Mavi estava sem paciência, não compreendia mais, e eu o entendo. Deus como eu entendo! Deve ser horrível casar-se com uma mulher ao qual não é receptiva, mas eu não podia fazer muita coisa.

Eu penteava os meus cabelos quando ele adentrou o meu quarto, até nossos aposentos era diferente um do outro, pois de forma alguma eu conseguia dividir a mesma cama com ele. Senti suas mãos delicadas perpassar a pele suave do meu braço, mãos suaves que pareciam ásperas ao seu toque. Um leve beijo depositado em minha nuca me fez sobressaltar.

-Mavi... _ Me virei o olhando assustada, eu tinha certeza. -Por favor.

Ele havia entendido que era mais uma rejeição da minha parte, acho que todos os dias desde que começou a investir, sem sucesso algum. Sua expressão terna e amável que sempre me olhava, havia desaparecido dando lugar à uma dura e rude. O abajur que se encontrava em cima da mesinha foi jogada ao chão, fazendo-me tremer.

-Droga! _Bradou cuspindo as palavras. -Eu sou seu esposo Agnes, eu tenho direitos. Será que você não vê isso? Eu tenho necessidades e quero me saciar com a mulher que me casei. _Meus olhos queimaram prontos para derramar algumas lágrimas. 
-Conversamos sobre isso Mavi, eu não posso e você sabe. 
-Não pode por quê? Porque o relojoeiro de uma figa ainda anda em seus pensamentos? _Agora sim as lágrimas teimosas começaram a derramar. As pessoas já deveriam saber o quanto dói ouvir menciona-lo. Era como se meu coração partisse em mil pedaços, como uma porcelana se partindo.

Eu ainda amava aquele maldito sim, e acho que não vou amar ou me sentir satisfeita com qualquer outro homem que não fosse ele.

-Quer se manter intocável pra ele, não é? Como uma marca? 
-Mavi, por favor, pare. Isso é tão doloroso.
-E não é pra mim Agnes? Eu a amo, e muito. Diferente daquele desavergonhado que se aproveitou de você, te usou e ainda foi embora debochando da sua cara com a filha do padeiro. _Ele devia parar, aquela dor era grande demais, ele precisava parar. -Foi deflorada e rechaçada por um relojoeiro maldito que deve está à essa hora gritando em plenos pulmões o quanto foi fácil. _Não sei como e nem quando, mas minha mão foi certeiro no rosto de Mavi lhe dando um tapa que assustou a mim e a ele simultaneamente. 
-Ai meu Deus! _Levei a mão na boca em choque. -Mavi me desculpe.
-É assim que vai ser Agnes? _Ele segurou no rosto com algumas lágrimas no olho. 

Ele saiu da minha presença jogando tudo pelo caminho a baixo proferindo uma duzias de injúrias e indo para a rua. Eu estava vivendo um verdadeiro inferno. 

(...)

-Ele está cada vez pior. _Comentei com Melayne assim que ela veio me visitar. Mavi trabalhava quase o dia todo e pra falar a verdade era o único momento que eu tinha um pouco de paz. -Ontem foi para o bar e voltou caindo de bêbado, querendo de novo algo comigo. Eu não aguento mais Melayne. _Limpei as minhas lágrimas que se tornaram tão presentes depois de ter lido aquela maldita carta de Michael.

Mavi virou outro, o homem integro e amável, se tornou um bêbado avançando sobre mim sempre que podia, como se tivesse direitos disso.

-As coisas não podem continuar assim, Agnes. Ele é o seu marido, você precisa...
-Não! _Me levantei da cama furiosa com essa possibilidade. -Eu não posso. Não posso me entregar à homem algum. 
-Mas Agnes, você deve aceitar que Michael e você nunca mais...Ele está casado agora e provavelmente feliz. _Chorei mais com essa possibilidade. -Agora olha o que você está fazendo com o seu casamento. Não jogue fora tudo por causa de um homem que não a merece. _Ela tinha razão e é por isso que eu estava tão irritada.
-O que eu faço Malayne? _Segurei suas mãos com força.
-Não há nenhum meio de você e Mavi..._Balancei a cabeça.
-Não, não há. Eu não quero. _Fui enfática. 
-Desse jeito tudo irá se complicar. _Ela se levantou caminhando pelo quarto com o dedo na boca bastante pensativa. -Já sei! _Melayne sobressaltou e pude notar que havia uma solução, ao qual me acalmaria, assim como ela sempre tinha solução para tudo. 
-Pois fale. 
-Mavi quer você não é? Essa é a única forma que há para que tudo fique bem? _Assenti cautelosa. -Eu tenho uma ideia, mas é algo bastante arriscado.
-Então fale. _Qualquer solução que aparecesse eu estava aceitando. Só queria que Mavi parece de me rodear e tentar algo comigo.
-Estella, a cuidadora do estábulo, conhece? _Confirmei com a cabeça ainda confusa. 
Eu conhecia bem Estella, era uma mulher solitária, sem família e sem expectativa nenhuma de vida. O tipo de mulher da vida que conseguiu ter a sorte de trabalhar em uma fazenda de família, com direito a bebida e a comida. Era uma jovem loira e bastante bonita que havia se perdido. Todas as moças morriam de medo de que seu destino fosse como o de Estella. 
-Ela poderia..._O sorriso cheio de ideias duvidosas de Melayne me fazia saber que eu não iria gostar nada. -Ela poderia se passar por você à noite. Poderia se deitar com Mavi no seu lugar. _Arregalei os olhos com tamanha ousadia de Melayne.
-Acho que Mavi perceberia que Estella não sou eu. _Dei uma leve debochada.
-Ah não seja boba, Agnes. É só dizer a Mavi que se deita com ele a menos que as luzes estiverem totalmente apagadas. -Aquela ideia começava a me dar esperanças. 
-Acha que Estella aceitaria?
-Claro que sim. Estella vive fazendo favores aos amigos de papai. Uma vez o peguei oferecendo Estella à um de seus capatazes e ela foi de bom grado, até sorria. _Deu de ombros e eu balancei a cabeça me permitindo sorrir um pouco.
-Acha que o seu pai..._Insinuei e logo Melayne entendeu.
-A não, papai é louco com mamãe, além do mais eu sou esperta, vigio todos os seus passos. Papai nunca faria nada. _Me senti um pouco tranquila. -Aceita? 

É eu aceitava, era melhor do que ficar eu mesma com Mavi e ainda por cima evitaria demais que nossa vida se transformasse em um inferno. 

-Sim. _Abri um sorriso largo e Melayne e eu apertamos as mãos.

(...)

Michael 

-Papai, onde está a Agnes? Por que ela não vem mais aqui? 

Blanket me perguntava a mesma coisa todos os dias, e eu não tinha uma resposta convincente para isso. Nem mesmo conseguia responder a mim mesmo, porque estava casado com um mulher que eu repudio e a que eu mais amo na vida acha que sou um canalha. Minha vida nunca havia entrada em um completa desgraça quanto estava agora. 

-Eu não sei filho. _Era só isso que eu conseguia dizer.
-Pede pra ela nos visitar papai. Não gosto da Posy, ela é má. Você ama a Posy, e não mais a Agnes?
-Eu amo a Agnes. _Minha voz saiu mais para mim mesmo do que para ele. -Por favor Blanket me deixa trabalhar, sim? Depois nos falamos. 

Blanket saiu da relojoaria e me deixou trabalhar, continuei com os olhos focados nas minusculas peças e me pus a conserta-lo, não permitindo que as frustrações de minha vida pudesse me enlouquecer. 

-Michael, precisamos falar! _A voz irritante de Posy acabava com o meu humor, aliás eu não tinha mais um mesmo. -Seu filho fez bagunça de novo na casa toda. _Eu não aguentava mais ouvi-la se queixar de Blanket, me fazia sentir um ódio mortal.
-Esqueça o meu filho Posy, por Deus! Deixa o menino em paz!
-Eu deixo. _Caminhou com elegância para o meu lado, bastante insinuativa. -Só se você deixar essas coisas sujas de lado e ir até o quarto e me fazer sua. _Senti sua mão percorrer o meu peito e por mais que fosse linda, não era quem eu desejava. Além do mais eu odiava aquela maldita. 
-Me solte! _Sobressaltei, me levantando da pequena cadeira. Eu estava farto de tudo aquilo. 
-Você é um imbecil, um desgraçado! Eu sou sua mulher!
-Graças a suas carta descabida Posy, pois eu a odeio por isso, odeio amargamente, e jamais me permitiria me deitar com uma mulher podre como você! _Senti um tapa e meu rosto, a encarei com ódio e depois sai de sua presença. Caminhar um pouco na rua podia acalmar os meus nervos.

Meus passos eram rápidos e o meu coração acelerava de tamanha raiva e dor que me minha vida se transformou. E se eu não tivesse cedido as chantagens de Posy e não ter escrito aquela maldita carta? Eu fui um estúpido covarde de ter deixando com que ela me convencesse. Eu me odiava ainda mais por isso e agora tanto Agnes quanto eu estávamos vivendo um inferno casados com pessoas que não amamos.

Olhei para o lado e uma certa visão me acalmaram instantaneamente. Agnes tinha um sorriso lindo nos lábios caminhando em minha direção com a amiga. Sorriso tristes, mas ainda assim era um sorriso e isso aquecera meu coração. Lembranças dos nossos beijos e sua pele cheirosa e macia vieram à cabeça e eu desejava que tudo que vivemos até agora fosse um pesadelo e que estivéssemos juntos agora. Agnes notou minha presença e me olhou profundamente, olhar magoado e incompreensíveis. Eu entendia bem a dor que sentia, pois era a mesma dor que eu também possuía.










Capítulo 14


Meu coração falhou uma batida, e o sorriso que estampava em meus lábios morreu. Vê-lo me trazia um misto insuportável de dor e ressentimento, alegria e raiva, saudade e repulsa...


Nossos olhares estavam presos um no outro, mas continuamos caminhando tranquilamente. Melayne segurou firme em meu braço, e me fez apresar o passo. Quando passamos lado a lado seu cheiro invadiu minhas narinas e me fez arrepiar num conhecimento profundo do aroma másculo daquela pele.


- Agnes – Ele parou e chamou-me, fazendo-me também parar.


- Como ainda tem coragem de falar com ela depois de tudo? – Melayne respondeu por mim, arrastando-me para longe dele.


“Porquê, Michael?” ficou preso em minha garganta, junto com o nó que formara-se ali. Essa sempre foi a pergunta que quis fazer a ele, mas nunca tivera a oportunidade, e agora que a tive as palavras não saíram.


O mundo a minha volta rodou e um súbito mal estar me fez parar a caminhada apressada de Melayne.


- Agnes, tudo bem? – Ela me encarou parando de matraquear por um segundo.


- Estou um pouco tonta – Abri meu leque para me abanar.


- Deve ter sido a emoção, mas já estamos chegando, venha – Assenti, continuando a caminhar.


Dora ofereceu-me um copo de limonada, que aceitei de bom grado, já que assim que tomei meu café da manhã coloquei-o para fora.


Poucos minutos depois Melayne adentrou a sala, acompanhada de uma jovem garota de pele branca, cabelos loiros e olhos castanhos. Ela era realmente muito bonita, e com as luzes apagadas poderia perfeitamente se passar por mim. Deixei meu copo de limonada sobre a mesa e me levantei.


- Você deve ser a Estella – Ela sorriu timidamente, apertando a mão que eu lhe estendia – Melayne já te adiantou a história, certo?


- Sim, senhora Albuquerque.


- Sabe que ganhará uma boa quantia em dinheiro e algumas joias, mas deve manter isso como um segredo, Estella. Ninguém pode saber nem que nos conhecemos.


- Não se preocupe, Senhora Albuquerque, tem minha palavra que jamais saberão do que acontecerá.


- Talvez eu precise de você algumas vezes, está mesmo disposta?


- Estou sim.


- Então leve-a até minha casa assim que a noite cair, Melayne. Siga como o combinado, a vista com minhas roupas e penteei seus cabelos como faço com os meus. Mavi provavelmente chegará tonto pela bebida, vou acompanha-lo até o quarto e apagarei as luzes, então você sairá de detrás da cortina e tomará meu lugar. Não o deixe acender a luz sob hipótese nenhuma, e não fale. Assim que Mavi sair deixe o quarto.


- Pode deixar, nada dará errado – Assenti em meio a um sorriso.


Aquilo seria arriscado, mas era a minha chance de me livrar de fazer uma coisa que eu não queria.


(...)


- Você está estranha hoje – Mavi comentou, enquanto ingeria mais uma taça do seu vinho.


Havíamos acabado de jantar e estávamos na sala de música. Mavi insistiu que queria me ouvir tocar enquanto ele tomava vinho.


Eu estava comemorando a cada taça, e a essa altura ele já ia na segunda garrafa.


- É, que... Mavi – Suspirei alto – Decidi que hoje quero me deitar com você – Ele largou a taça instantaneamente e sorriu um sorriso bêbado.


- O que deu e você para decidir isso?


- Só precisava de um tempo, e lhe agradeço muito por ter me dado esse tempo... então, podemos subir de uma vez? – Ele assentiu e levantou-se, caminhando até mim.


Mavi beijou-me profundamente, enquanto apertava minha cintura e desfazia meu penteado.


- Vamos, querido – Me desfiz do seu abraço e subi para o quarto ao seu lado.


Mavi jogou-se na cama, já se desfazendo da camisa.


- Vamos, meu amor, tire o vestido – Incitou-me.


- Mavi, sou tímida, queria que me entendesse e me deixasse apagar as luzes. Pelo menos por enquanto só consigo se for assim.


- Claro, amor, apague e depois venha até aqui – Assenti com um sorriso fingido.


Apaguei as luzes, deixando o quarto na completa penumbra, em seguida puxei Estella de detrás da cortina, enquanto me encolhia no canto do quarto. Sairia na primeira oportunidade.


Ouvi os estalos dos primeiros beijos e quando notei-os entretidos demais, abri a porta com o máximo de cuidado e sai do quarto.


40 minutos depois Estella deixou os aposentos de Mavi, com um sorriso de satisfação nos lábios e os olhos brilhantes. Bem, pelo menos ela se divertiu.


- Algum problema por lá?


- Nenhum – Suspirou – Com todo respeito, seu marido é maravilhoso – Ri.


- Que bom que divertiu-se. É uma pena eu ser uma dessas mulheres frigidas que não gosta de... bem, de deitar com o marido – Ela me encarou de olhos arregalados.


- S... sinto muito.


- Tudo bem – Dei de ombros. Lhe entreguei a sacola com o dinheiro e as joias – Posso contar com você quando precisar? E, claro, com sua descrição?


- Claro, senhora Albuquerque – Ela pegou a sacola.


- Cuidado para que não te vejam ao sair – Ela assentiu e saiu apressadamente.


Em meio a um suspiro caminhei para o quarto, para me deitar ao lado de Mavi. Afinal quando o dia raiasse ele tinha de pensar que foi eu que estive ali por toda a noite.


(...)


Passaram-se três semanas desde a noite em que Estella ‘dormiu’ com Mavi. E desde então ela veio até aqui mais uma dúzia de vezes. Sempre seguíamos o mesmo ritual, e até agora Mavi não desconfiara de nada. Sempre que ele queria algo a mais e não havia combinado com Estella inventava uma dor de cabeça qualquer e estava tudo bem.


Lábios macios beijaram meu pescoço, me fazendo abrir os olhos.


- Bom dia, meu amor – Mavia encarava-me com um sorriso amplo nos lábios – Você foi tão perfeita ontem... me sinto ainda mais apaixonado e fascinado – Sorri amarelo.


- Você é incrível – Menti.


Esquivei-me dos seus lábios e me levantei, mas antes que pudesse me ater mais um das estranhas tonturas que vem me assolando, me tomou e tudo ao meu redor escureceu.


Quando acordei estava acomodada na cama de Mavi, com ele sentado de uma lado, Melayne do outro e um médico parado a nossa frente.


- Veja, acordou – Mavi inclinou-se e beijou meus lábios.


- O que houve? – Perguntei, ainda sentindo-me fraca.


- Você desmaiou ao se levantar, querida... fiquei tão preocupado – Mavi estava com um sorriso estranho no rosto, enquanto Melayne parecia a ponto de enfartar.


- E o que eu tenho Doutor?


- Você está grávida, minha filha – Meus olhos formaram-se em duas órbitas.


- Mas... como assim se...


- Parabéns, amiga – Melayne interrompeu meu discurso bem a tempo – Parabéns mais uma vez, Mavi.


- Obrigado Melayne, estou mesmo muito feliz. – Ele acariciou minha barriga.


- A senhora Albuquerque está ótima, só precisa se alimentar melhor – O médico guardou seus pertences na maleta – Precisando, é só me chamar, senhor Albuquerque.


- Claro, doutor, vou acompanha-lo – Mavi levantou-se – Cuide dela, Melayne – Minha amiga sorriu amarelo.


Assim que os homens saíram sentei-me na cama, encarando Melayne ainda em choque.


- Não é dele, Melayne – Ela abanou-se com o leque, enquanto caminhava de um lado para o outro.


- É claro que eu sei... é do Michael, Agnes – Constatou, tão angustiada quanto eu.


- E agora? – Grossas lágrimas formaram-se em meus olhos.


- Agnes – Ela sentou-se ao meu lado e segurou minhas mãos – Para todos os efeitos esse filho é do Mavi. Você e o Michael não tem mais um futuro juntos. Siga em frente de uma vez. Ninguém saberá que esse filho é do Michael.


- Mas e quando nascer... o tempo e...


- Nós inventaremos uma história. Só não posso deixa-la ir para a sarjeta depois de lutar tanto para se livrar dela. Escute, nada mudou. Você será mamãe e o Mavi papai, ponto!


(...)

Michael


Dei um beijo em Blanket, cobri-o e segui para meu quarto.  Hoje Possy e eu havíamos brigado mais uma vez, ela continuava insistindo em mandar meu filho para um internato. Culpava o garoto por não se darem bem, e por ele sempre reavivar a memória de Agnes na casa, já que ele vivia me perguntando por ela.


Jamais colocaria meu filho em lugar algum. Possy era uma mulher amarga e sem coração, e o fato de eu rejeitá-la só piorara a situação, Tenho vivido em um verdadeiro inferno por esses meses.


Com um suspiro cansado entrei no meu quarto, louco para me trancar ali e dormir para esquecer dos problemas... doce ilusão, assim que acendi as luzes avistei um grande problema deitado em minha cama, completamente sem roupas.


- O que significa isso, Possy? – Balbuciei, controlando-me para não gritar.


- Venha, querido, faça amor comigo... – Murmurou tocando-se vulgarmente – Já se passaram quase três meses desde o nosso casamento... é impossível que não queira me tocar.


Olhei para a mulher deitada em minha cama. Possy era linda, não posso negar, mas em nada me atraia. E nunca conseguiria me arrastar para sua cama.


Sem dizer uma palavra, caminhei até a cama e segurei-a pelo braço.


- Michael, me solte... – Gritou.


- Suma do meu quarto – Abri a porta e joguei-a para fora, pegando suas roupas do chão e atirando-as em seu rosto – Já disse que tenho nojo de você – Fechei a porta, ignorando suas lamurias do outro lado.










Capítulo 15







Aquela noite o incômodo não me deixava pregar o olho, mal comi o dia inteiro e não conseguia fazer outra coisa a não ser dormir. A cólica era enjoativa que mal conseguia manter o meu corpo em um só canto, me movia constantemente encontrando a posição mais confortável. Me pus de buço, consegui respirar um pouco. Assim estava bem melhor! Uma dor perfurante atingiu meu baixo ventre de uma forma que eu nem esperava. 



-Ah! _Arregalei os meus olhos sentindo a dor mais forte me corroer, eu estava imóvel. -Mavi! _Chamei meu marido ao meu lado que dormia como quem não dorme há dias. -Mavi. _Balancei-o outra vez, ouvindo um gemido como resposta. -Acorde, o bebê vai nascer! _Minha ofegância me ajudava a controlar a dor, e quando Mavi me ouviu acordou de vez. Eu agradeci a Deus por eu ter aceito dormir em sua cama até o bebê nascer, já que eu não seria obrigada a cumprir com minhas obrigações de esposa. 
-O que? O bebê vai nascer? _Era o que as dores me diziam, achei que ainda era cedo para isso, até porque entrei no meu nono mês a pouco tempo, mas aquela dor era bastante precisa e reveladora. 
-Sim. _Apertei sua mão com força e Mavi se levantou acordando a casa inteira.
-Gregório! _Ouvi Mavi gritar. -Chame a parteira, Agnes dará a luz. 

Continuei agonizando por alguns minutos que mais pareciam eternidade, eu mal conseguia respirar e quando fazia uma nova dor horrenda me atingia novamente. Céus o que eu faria agora? 

Minutos depois para o meu alívio Sr Magnólia, a parteira, pareceu em meu quarto com uma bacia de água quente, acompanhada por Melayne. Minha amiga segurou em minhas mãos imediatamente enquanto a Senhora me pedia para empurrar. Eu gritava em plenos pulmões com aquela dor terrível, o suor banhava o meu corpo e quanto mais eu empurrava, mas eu perdia as minhas forças.

-Eu não aguento mais! _O desespero me assolou, eu já estava perdendo as forças e ainda meu bebê nem dava sinal de seu nascimento.
-Força Agnes, por favor. _Melayne soprou em meu ouvido. -A criança já está vindo, mas você precisa empurra-la. Por favor, sim?

Empurrei com mais força, mas eu não tinha mais nenhuma, eu estava com tanto medo. Medo do meu filho não nascer, medo do único elo que eu tinha com Michael acabasse agora. Talvez essa dor terrível e as forças que eu havia perdido, fosse um castigo por ter mentido para Mavi, o feito se deitar com outra mulher e deixado pensar que esse bebê fosse dele. Eu estava pagando pelos meus pecados, mas eu só pedia a Deus que se quisesse me levar eu não me importava, contanto que deixasse aquele ser inocente vir ao mundo. 

-Eu não aguento mais, não aguento. _Balancei a cabeça em desespero apertando com força os lençóis.

Eu estava casada com um homem amando desesperadamente o outro. O outro ao qual me magoou me feriu e ainda havia formado sua família. Sim, eu merecia ser punida, mas o meu filho não, por favor. 

-Agnes empurra! _Melayne apertou com tanta força a minha mão, que foi como um despertar. Empurrei com total força que ainda me restava e com a força que eu não tinha mais, quando ouvi o chorinho do bebê.
-Nasceu! _Sr. Magnólia comemorou e eu respirei aliviada, com a dor passando como se eu nunca havia sentido na vida. -É uma menina, uma linda menina. 

Meu coração se encheu de amor assim que coloquei os meus olhos nela, era o bebê mais lindo que eu havia visto na vida. 

-Ela é linda, Agnes. Lindíssima. _Melayne falou.

(...)

Violet era o bebê mais lindo que já vi, tinha cabelos com um escuro intenso, bochechas e lábios rubros como sangue, e olhos azuis como o meu. Parecia uma boneca de porcelana e eu não a tirava do meu colo. Era bastante parecida com Michael e isso estava nítido em seus olhos expressivos que por mais que fossem azuis tinha o mesmo brilho e me transmitia a mesma paz. As coisas poderia ter sido tão mais fáceis se ele me amasse igualmente. Eu estaria feliz, sorrindo atoa e não imaginando como poderia ter sido, apenas vivenciaria. 
Melayne apareceu de repente me tirando daquele devaneio puxando a cadeira para perto de nós naquela varanda onde tomávamos o sol da manhã. 

-Violet é linda. Deixe-me segura-la? _Estendi a bebê de bom grado para a minha amiga, ao qual começou a acarinha-la. -Ela se parece demais com ele. _Aquele comentário que povoava a minha mente a poucos minutos começaram a incomodar. 
-Acha que eu não sei? Michael está aqui, é uma parte dele. Talvez seja por isso que eu a ame tanto. _Sorri de leve.
-Fiquei sabendo algo sobre Michael logo cedo. Me falaram que ele e Possy não dormem juntos desde o casamento, eles tem uma cama separada e Michael vive evitando-a. _Senti meu coração palpitar com tanta força que achei que pararia de vez, tocar em seu nome me causava dor. -Disseram que Michael poderia ser frígido, ou algum outro problema. _Franzi meu cenho. Claro que não havia problema algum com Michael, já estivemos juntos e com ele não há nada de errado, muito pelo contrário. Era carinhoso, amável e sabia me amar perfeitamente bem. -Não vê Agnes? Michael rejeita Possy assim como você rejeita Mavi. _E mais uma vez aquela pontada no coração se deu, uma esperança renasceu, mas eu não queria e nem podia alimentá-la.
-Já chega Melayne! Pare de falar de Michael. _Me sobressaltei acabando com aquele comentário de vez. - Ele me magoou, está casado e os boatos são apenas boatos. _Olhei nos olhos de Melayne querendo terminantemente que acabasse com aquilo. -Se quer mesmo vir até a minha casa, não fale mais de Michael. _Peguei Violet de seu colo ao qual me olhava feito uma barata tonta e entrei pra dentro.

Acontece que mesmo depois de ter sido tão grossa com a minha amiga eu sabia que só queria me ajudar, as coisas não estavam as claras para mim e eu estava bem desconfiada de tudo. Se Melayne ouviu, alguma verdade haveria de ter. As pessoas em nossa cidade jamais falam coisas que não fossem verdades. 

Arrumei-me adequadamente para ir a padaria, era onde Possy trabalhava com o seu pai e onde eu iria. Eu precisava passar pelo meu medo de encarar aquela mulher e enfrentar a situação. Entrei no lugar com o chapéu escondendo o meu rosto e fiquei por trás das prateleiras de mercadoria. Possy parecia nervosa conversando com o seu pai. 

-Ele é um idiota, e da pior espécie. Estou falando papai, se Michael não se deitar comigo essa noite irei contar a todos que ele fez com a filha do embargador. _Separei meus lábios em um choque diante dessa revelação que caiu de mãos beijadas no meu colo. -Não era isso que sempre temeu, não foi por isso que se casou comigo? Pois então. Michael acha que é esperto, mas ele não é. _Me agachei entre outra prateleira, uma mais próxima. Queria muito ouvir o resto daquela conversa. -Ele sofre pela dor que causei a Agnes lhe escrevendo aquela carta e lhe obrigando a casar-se comigo, mas a dor que estar por vir será pior que essa. _Meu corpo estava trêmulo, eu não conseguia controlar o choque daquelas revelações, mas ainda não estavam claras para mim.

Quem escreveu aquela carta foi Possy afinal? Ela o obrigou casar-se com ele? Meu Deus o que estava acontecendo? Tudo estava confuso e eu precisava que Michael me esclarecesse de uma vez por todas. Eu iria até sua casa e lhe exigiria explicações.


Capítulo 16


Sem nem pensar nas consequências, ou se estava mesmo pronta para enfrenta-lo cara a cara, me esgueirei da padaria, sem ser notada, e rumei para a casa de Michael. Andava apressadamente, pois minha ânsia em tirar aquilo a limpo era imediata.

- Graças a Deus de encontrei – Melayne apareceu em meu campo de visão.

Ela, que nunca estava desarrumada, se prostrou em minhas frente completamente descabelada e ofegante.

Olhei para os lados, notando que estávamos relativamente longe de minha casa.

- Como me achou aqui? – Franzi o cenho.

- Bem, conhecendo-a como conheço tive plena certeza que assim que a poeira baixasse iria tirar satisfações com o Michael sobre o que te contei.

- Você não sabe o que ouvi hoje quando fui a padaria... Deus, Melayne, o que as pessoas andam dizendo pode mesmo ser verdade – Disse com um de euforia.

- Mais tarde me conta, agora precisa me acompanhar, é urgente – Ela segurou minha mão e me arrastou de volta.

Ainda reclamei diversas vezes de sua presa, tentei lhe dizer que precisava falar com o Michael urgentemente, mas Melayne disse que o assunto era mais sério do que eu imaginava, e que não poderia esperar.

Assim que chegamos em sua casa tomamos o rumo do jardim dos fundos, ode eu sabia que ficava os quartos dos empregados.

- Melayne – Sussurrei – Pode me dizer o que está acontecendo.

- Só quando estivermos em um lugar seguro. Venha – Ela me puxou para dentro de um quarto e fechou a porta atrás de si.

Sentada na cama estava uma garota pálida e chorosa, era Estella.

- O que foi Estella? – Sentei-me aso seu lado, segurando em suas mãos trêmulas.

- Agnes, a Estella está grávida do Mavi – Meus olhos se arregalaram. A garota ao meu lado soltou um soluço e Melayne abanou-se com mais afinco com seu leque.

- Mas... mas... e agora? – Disse aflita.

- Não sabemos, Agnes, mas temos que dar um jeito – Neguei com a cabeça.

- Não há jeito, já que essa criança está aí ela nascerá, e eu darei o que ela precisa. Afinal eu coloquei-a nessa confusão Estella, e você sempre foi muito fiel em nunca dizer nada.

- Muito obrigado, senhora – Ela abraçou-me – Não queria tirar meu filho, já pensava inclusive em fugir.

- Não, Estella, daremos um jeito de manter tudo em segredo e essa criança nascer em segurança... Bem, e depois disso decidiremos o melhor a fazer. Talvez eu deva acabar de uma vez com esse monte de mentiras e contar a verdade a Mavi.

- Não! – Melayne gritou – Sabe o que aconteceria com você se contasse... – Suspirei pesadamente.

- Verei isso depois – Voltei meu olhar para Estella – E você se acalme, vou ajuda-la, certo? – Ela assentiu e voltou a me abraçar.

(...)

Depois daquilo Melayne me acompanhou até em casa, onde passei o resto da tarde mimando minha princesa. Sim, eu queria ter voltado correndo para a casa de Michael, mas as coisas não poderiam acontecer sem um planejamento precedente ou eu poderia dar de cara com a Possy assim que batesse em sua porta.

No final da tarde, com minha princesa no colo, disse a todos que sairia para dar uma volta pela pracinha, mas me encaminhei até a escola onde Blanket estudava e fiquei aguardando o momento em que ele viria até o portão para esperar o pai. Menos de 5 minutos de espera depois o vejo vir correndo em minha direção. Seus olhinhos negros brilharam assim que ele me notou e um enorme sorriso tomou conta de seu rostinho lindo.

- Agnes – Ele gritou e seus bracinhos se apertaram em volta das minhas pernas.

- Meu amorzinho, como você cresceu – Ajoelhei-me para ficar de sua altura e salpiquei um demorado beijo em suas bochechas – Tudo bem com você?

- Não muito, por que não gosto da mamãe que o papai arrumou pra mim. Ela é uma bruxa – Ri um pouco diante de seu beicinho.

- Seu papai também não gosta dela?

- Ele não gosta, vivem brigando e gritando um com o outro. Você não namora mais ele?

- Não, meu amor – Sorri tristemente.

- E esse neném, tia? – Ele segurou a mãozinha rechonchuda de Violet e ela segurou o dedo dele com força. Meus olhos se encheram de lágrimas e um amplo sorriso estampou meu rosto.

- É minha filha, meu anjo – Sua irmã, quis completar, mas não o fiz.

- Como se chama?

- É a Violet – Blanket inclinou-se e beijou a mãozinha da irmã – Querido, preciso ir agora, pois seu pai pode aparecer, mas antes preciso te pedir uma coisa – Busquei o pedaço de papel dentro do bolso do vestido e coloque na mochila de Blanket – Entregue isso ao seu pai, mas não deixe que ninguém veja, certo? – Ele assentiu sorridente.

- Vocês vão voltar a namorar, não é tia? – Sorri, levantando-me.

- Não sei meu amor, não sei – Dei mais um beijo em Blanket e sai dali.

(...)

No dia seguinte, assim que o sol raiou eu sai de casa e me encaminhei até o lago. As ruas estavam parcialmente desertas, o que ajudou para que ninguém me reconhecesse.

Assim que escutei o barulho da água e o cheiro de mato um sorriso amplo estampou meu rosto. Aquele lugar guardava lembranças maravilhosas.

Michael estava parado, de costas para mim. Contemplava o lago e de quando em quando jogava uma pedrinha na água.

- Michael – Chamei, e ele virou-se bruscamente.

Em um segundo ele estava de pé, abraçando-me apertadamente. Senti-me em casa naquele momento, viva, realizada, como se todos esses meses longe dele nunca tivessem existido. 

Meu coração batia da mesma forma ao vê-lo, eu ainda me arrepiava com seu cheiro maravilhoso, e seus braços ainda eram meu lugar preferido para estar. Ele estava prestes a me beijar, quando afastei-me dele. Tínhamos uma conversa séria para tratar e beijá-lo agora só me desviaria de tudo.

- Nem acreditei quando Blanket me entregou aquele bilhete – Ele sorriu nervosamente – Você tem estado bem, Agnes?

- Não podemos viver inteiramente bem sem parte do coração – Ele me fitou nos olhos intensamente – Mas não posso me demorar e se levarmos a conversa para esse lado não resolveremos nada. Só quero que seja sincero comigo nas perguntas que farei.

- Cla--- claro – Seu suspiro foi audível.

- Foi você quem escreveu aquela carta terminando tudo comigo? – Ele engoliu em seco.

- Não – Fechei meus olhos e respirei profundamente.

- Por que então me deixou? Deus, me martirizei com essa pergunta por dias e dias... – Lágrimas encheram meus olhos e logo se derramaram por meu rosto.

- A Possy descobriu sobre nós. Ela me seguiu até o lago e nos viu aqui... naquele dia. Então ela apareceu e ameaçou de acabar com sua honra. Disse que pra ficar calada eu teria de me casar com ela.

Não fiquei satisfeita com sua explicação.

- Isso explica parcialmente o que aconteceu, mas não é motivo suficiente para que tenha desistido de nós... pensei que nosso amor fosse mais forte que isso. Nós teríamos dado um jeito.

- Que jeito, Agnes? Eu fugir com você? Como um cara como eu poderia te dar a vida que sempre foi acostumada a ter?

Uma dor lancinante atingiu meu coração, enquanto mais lágrimas transbordavam por meu rosto.

- Então foi por isso que desistiu de nós... por causa de dinheiro? – Alterei minha voz – Nunca pedi uma vida igual à que sempre tive... tudo que queria de você era amor, e no entanto, tudo que tive foi dor e abandono.

- Você não entende – Também gritou – Eu a amo e tive que deixa-la casar-se com outro homem... acha que também não doeu em mim?

- Não tanto quanto em mim, que fui abandonada por o homem que amava e ainda por cima grávida – As palavras escaparam de minha boca e atingiram Michael como uma bofetada, por que ele cambaleou alguns passos e toda a cor do seu rosto sumiu enquanto ele me observava boquiaberto.






Capítulo 17


-O--o que? _O homem que já era de pele branca por natureza, ficou mais parecido com um tapete de neve em dias de nevasca intensa de tão branco. 
-Sim, Michael. Nosso momento de amor onde as águas desse lago, e as árvores que farfalhavam, em plena a natureza exuberante, como testemunha, ao qual me abandonou em seguida como se eu fosse uma prostituta, deu frutos. _Achei que não seria mais necessário esconder, ele precisava saber. Saber tudo que eu tive que enfrentar por conta de sua covardia.
-Ai meu Deus, Agnes. Isso é--é maravilhoso! _Michael abriu um sorriso tão lindo que aqueceu o meu coração. Será mesmo que estava tão feliz pela notícia como aparentava estar? 
-Está vendo como me magoou? Tudo que tive te enfrentar? _Comecei a enumerar momentos horríveis em minha cabeça. - As noites que tive que fugir de Mavi, e agora Estella está grávida, porque teve que dormir com ele em meu lugar. _Desembestei a falar e ele me olhou confuso.
-O que? _Espantei aqueles pensamentos.
-Depois ficará sabendo, agora não é hora de dizer tais coisas. 
-Eu quero ver meu filho, por favor, Agnes? Deixe-me vê-lo? _Eu não sabia se era uma coisa certa a se fazer naquele momento, talvez eu estivesse prestes a cometer o pior dos erros. Mas Violet precisava conhecer o pai, eu queria muito que Michael conhecesse aquele ser tão pequeno que veio de nós, visse como é linda, e talvez assim seu coração se enchesse de amor assim como o meu. 
-É filha. É uma menina. _O sorriso dele se abriu com mais extasiamento, como se fosse a melhor coisa que havia acontecido em sua vida. 
-Eu sempre quis ter uma menina! _Lágrimas iluminaram os seus olhos, e comigo não era diferente, ao ouvir tais palavras. Meu coração estava acelerado de emoções, era o momento único ouvir suas confissões. O olhar não mente e os dele eram intensos demais para serem disfarçados. -Eu preciso vê-la, Agnes. 

Abaixei a cabeça tentando bolar um plano para que Michael visse sua filha sem que ninguém o notasse.

-Quero que fique perto da praça em frente à igreja. Há essa hora deve está todos na cidade dormindo. Pegarei Violet e trarei para que a conheça. Mas, por favor, não deixe que ninguém o veja, sim? _Ele assentiu.

(...)

Cobri a cabecinha de Violet para evitar que o sereno da noite a deixasse doente. Enrolei com bastante mantas e sair de casa sem que ninguém me notasse. Em poucos minutos estava chegando, percebendo Michael de costas um tanto ansioso. Suas mãos batiam na lateral de sua coxa, e um de seu pé sapateavam o piso de terra polida ao chão. Não pude notar o quanto era lindo e o quanto eu ainda o amava. 

-Aqui está ela. _Chamei sua atenção que logo voltou-se a nós em empolgação. Michael imediatamente segurou Violet nos braços com muita prática experiencia. Seus olhos se banharam de lágrimas.
-Ela é linda! _Violet soltou um chorinho, mexendo os bracinhos por conta de desconforto por não está em sua cama dormindo, mas logo se acalmou. -Ela é perfeita! Parece uma bonequinha de...
-Porcelana. _Completei e ele assentiu. -Eu também acho. _Dei um sorriso de lado para ele. 
-Ela se parece muito com você. Esses olhos azuis e essas bochechas tão rosadas. 
-Mas também se parece com você. _O fitei com emoção, tentando expressar com palavras tudo que havia sentindo daquele bebê ao longo desse tempo. - Ela tem um brilho intenso no olhar como o seu, e a boca e o sorriso mais lindo que já vi. _ Ele Mordeu o lábio tentando controlar o choro que estava próximo.
-Eu já amo muito. Tanto que nem sei explicar. _Levei minha mão em seu rosto e acarinhei sua pele, com emoção de finalmente senti-la contra a minha depois de tanto tempo. Michael fechou os olhos, como se apreciasse o meu toque, e eu estava radiante por notar isso. -Qual é o nome dela? _Me perguntou assim que soltei seu rosto e nos fitávamos ainda em pleno silêncio.
-Violet. Foi o nome que veio à cabeça assim que a vi. Não sei se gosta, mas como não tinha por perto para escolher...
-Violet está ótimo. É um lindo nome, assim como ela. _Michael a balançou um pouco em suas mãos. -Minha linda Violet! Você já é tão amada por mim, meu amor. Tanto que parece que meu peito irá explodir. _Soltei um riso de satisfação com as lágrimas derramando em abundâncias por minha face. 
-Sonhei tanto com esse momento, Michael. Sonhei tanto que aquela carta fosse uma grande mentira, e que tudo não passasse de um terrível pesadelo. 
-E foi! Foi uma mentira. Possy queria que me casasse com ela, sempre correu atrás de mim. Eu não podia deixa-la estragar sua vida. 
-Que ela estragasse, eu não estava nem ai. _Alterei a voz. - Que ela contasse aos quatro cantos da cidade que você me deflorou, que nos amamos no lago, eu não ligava. Papai me deserdaria e me colocaria para fora como uma qualquer? A cidade inteira apontaria o dedo na minha cara por eu ser uma perdida? Michael. _Nivelei a voz o olhando profundamente. -Nenhuma dessas coisas me doeriam tanto como a dor lancinante que senti quando li aquela carta. O tormento em achar que você apenas me usou, que não me amava. E os meses afinco que passei sem sentir os seus beijos, morrendo aos poucos cada dia que passava. Eu seria banida, mas ao menos teria amor, coisa que a proteção de um lar não me deu em nenhum momento _A expressão de Michael era um pesar culminante, talvez para ele tivesse sido tão doloroso quanto para mim, mas eu não sabia bem.
-Eu sinto tanto, Agnes. Eu sofri igualmente, sofri por saber que a fiz sofrer, sofri por ter sido tão covarde, por ter deixado uma mulher infame acabar conosco. Se eu pudesse, ou tivesse a chance de reparar o meu erro. Mas não houve um só dia que eu não pensasse em você, que eu não desejasse o seu amor. Eu amo tanto meu amor, tanto que chega a doer. _Doía tanto ouvi-lo dizer essas coisas, mas eu ainda não estava convencida, suas palavras ainda eram inseguras para mim. 
-Então prove, Michael. Prove o quanto me ama, só assim acreditarei. _Peguei Violet de seus braços com delicadeza. O fitei pela última vez e voltei ao rumo de casa, sacudindo a minha pequena.




Capítulo 18

Michael


Ver Agnes assim tão de perto, sentir seu cheiro, ouvir sua voz... Deus, saber que ela é mãe de mais um filho meu... Foi tudo tão perfeitamente impactante pra mim, que não ao menos sei pôr em palavras.

Agnes é a mulher que amo, que desejei passar o resto dos meus dias, mas que o destino afastou de mim. Agora ela voltou para meu caminho... Esse mesmo destino cruel que nos separou, fez o favor de nos juntar novamente e dessa vez eu não a deixaria escapar por nada nesse mundo. Estava pronto para enfrentar o mundo se fosse preciso, mas Agnes seria definitivamente minha novamente.

(...)

- Pai! – Blanket irrompeu a sala, correndo em minha direção – A Posy ameaçou me bater se não a obedecesse – Alisei seus cabelos longos e negros como os da mãe e sorri pra ele.

Fazia tempos que não sorria, por isso meu filho me encarou de olhos arregalados.

- Não se preocupe, filhão, nós vamos embora daqui ainda hoje – Um sorriso enorme estampou seu rosto.

- Mesmo, pai? – Assenti.

- E para onde vamos? – Posy perguntou, uma carranca no rosto e os braços cruzados sobre o peito.

- Blanket, vá brincar com seus amigos, sim? – Ele assentiu e saiu correndo. Voltei-me para Posy – Bem, pra onde você vai realmente não me interessa, mas eu e meu filho estamos definitivamente de mudança – Sua pele já pálida, empalideceu ainda mais.

- Co---como assim? Que brincadeira é essa? – Me aproximei dela, nunca deixando de sorrir.

- Tudo foi esclarecido, Posy. A Agnes já sabe da verdade e eu estou definitivamente deixando tudo pra trás, pra prova-la que a amo, que não me importo com nada mais que não seja ela. – O rosto antes pálido de Posy, ganhou um tom avermelhado.

- Você não pode fazer isso comigo – Implorou chorosa – Sabe a humilhação que passa uma mulher desquitada?

- Você me aprisionou nesse casamento infeliz para se fazer feliz. Não se preocupou se machucaria a mim, a Agnes, ao meu filho... Você é desprovida de sentimentos, a não ser os que nutri por si mesma – Estreitei meus olhos – É por isso que acabará sozinha.

- Não pense que te deixarei ir assim tão fácil – Gritou desesperada. Lhe dei as costas e caminhei para meu quarto. Ela me seguiu – Se fizer isso comigo contarei a todos o que aquela falsa puritana esconde. Agnes DelRey não passa de uma mulher da vida, que se deixou levar por você e se entregou antes do casamento. Vocês provavelmente passaram todo esse tempo se encontrando as escondidas, envergonhando e manchando o bom nome do Doutor Mavi e à mim – Eu ri, gargalhei mesmo.

- Eu adoraria que isso tivesse mesmo acontecido, por que você não merece meu respeito, mas infelizmente não foi assim. Quem é você pra falar de vergonha, se não tem nenhuma? Me manipulou para ter o que tanto queria. Lave sua boca pra falar da Agnes, por que tudo que fizemos foi puro e com amor, uma palavra que você desconhece. – Peguei em seu braço e a levei até a porta – Agora suma do meu quarto por que tenho que fazer minhas malas.

(...)


Narradora

Assim que Michael fechou a porta em sua cara, Posy engoliu o choro, endireitou a postura e saiu pela porta, pronta para contar a Deus e o mundo tudo que sabia. Iria acabar com a imagem de Agnes a tal ponto que ela nunca mais seria respeitada em lugar algum do mundo.

E ela já sabia muito bem por onde começaria a espalhar seu veneno. Claro que acrescentaria alguns pontos que sempre desconfiou... Como a paternidade da filha de Agnes. Tinha quase certeza que a bastarda era fruto do pecado que a mãe cometera com Michael. E o Doutor Mavi não ficaria muito satisfeito em saber disso.

Ela sorriu imaginando o que aconteceria com Agnes... Seus pais a renegando, todos a apontando na rua, seu choro e vergonha... Ela perdera o Michael, seu grande amor, mas Agnes também não sairia ilesa disso.

(...)

Mavi irrompeu pela grande sala da casa, estava esbaforido, pálido, e parecia em pânico. Ele bateu a porta com força, e Agnes, que estava sentada em uma cadeira, amamentando Violet, se sobressaltou.

- Mavi, isso é jeito de entrar? Poderia ter assustado Violet – Ela beijou a mãozinha rechonchuda da filha.

- Onde está a serviçal? Peça para ela levar Violet para o quarto. – Ele disse sério.

Sério demais, pensou Agnes.

- Dulce – Agnes chamou em uma voz firme. A empregada apareceu em poucos segundos – Leve Violet para o quarto, sim? – A mulher assentiu e tomou a garotinha nos braços, saindo rapidamente. – Algum problema Mavi?

- Isso depende muito das respostas que você tem pra me dar – Agnes encarou-o de cenho franzido.

- Pergunte, oras – Ela levantou-se e se aproximou dele.

- A Violet é minha filha? – Agnes arregalou os olhos e sentiu todo o sangue ser drenado do seu rosto.

- Co---como assim Mavi? De onde tirou isso?

- Estava no meio de uma consulta quando Posy Jackson aparece em meu consultório, desesperada, contando que o marido deixou-a e disse que iria embora com você – A voz controlada de Mavi estava assustando Agnes muito mais do que se ele estivesse gritando.

- Ele disse? – Perguntou perplexa.

- O que ela me relatou no início não me surpreendeu. Me relatou que sabia que você havia deitado com o Michael antes de casar, mas o que veio a seguir... Deus, Agnes, tem que ser mentira – Ele fez uma careta e Agnes se compadeceu.

Odiou-se por ter enganado Mavi. Ele era um homem bom e não merecia tantas mentiras. E ela teve a certeza, naquele instante, de que precisava contar toda a verdade.

- Ela disse, ou melhor, gritou aos quatro ventos que você continuara se encontrando com o Michael durante nosso casamento e que Violet era filha dele – Os olhos azuis voltaram-se para ela – Seja sincera comigo, por favor. – Agnes assentiu solene.

- Vou contar a verdade desde o princípio – Ela enxugou as lágrimas teimosas e respirou fundo para tomar coragem – Você já sabe que sim, me deitei com Michael antes do nosso casamento. Quando você surgiu eu estava na pior fase da minha vida. Desesperada por ter sido deflorada e em seguida recebido uma carta me dispensando, fiquei em pânico... mas aí você apareceu, e parecia que o destino te colocara em meu caminho pra que eu não ficasse mais só. Eu gostava de você, sempre gostei Mavi, mas como se gosta de um grande amigo, sabe? – Ele fechou os olhos e fez uma careta – Eu nunca trai você. Enquanto estivemos casados eu não vi o Michael, não tivemos contato algum, até por que sempre pensei que ele fosse um calhorda... Até a poucos dias atrás, quando ouvi uma conversa da Posy, onde ela confessara que convencera o Michael a se casar com ela ameaçando contar que sabia que eu fora deflorada por ele antes do casamento... Ele não queria que eu acabasse com o nome manchado, foi o que ele me disse. A Posy quem escrevera a carta e mandara pra mim. Foi tudo um plano dela.

- Deus, isso é uma loucura – Mavi levou as mãos à cabeça e andou de um lado a outro – A Violet? Ela é minha filha, certo, já que fizemos amor algumas vezes antes de você engravidar?

Agnes respirou fundo antes de continuar. Precisava de coragem, pois essa era a parte mais sórdida da história.

- Sei que vai me odiar, mas preciso contar tudo. Você não merece tantas mentiras – Mavi fixou os olhos nela – Quando começou a exigir seus direitos de marido comecei me desesperar. Você é um homem lindo, gentil, carinhoso... mas eu não podia me deitar com você amando outro. Seria falsidade demais contra você. Então eu paguei alguém para se passar por mim – Os olhos de Mavi quase saltaram das órbitas e ele se aproximou a passos rápidos, tomando Agnes pelos braços.

- Você fez o que?

- Eu paguei a uma empregada de Melayne para deitar com você. Somos relativamente parecidas e ela não tinha problema nenhum com isso e...

- Quem foi a criada que teve essa audácia?

- A culpa não é da garota, Mavi. É uma pobre menina, só viu uma oportunidade a segurou.

- Diga o nome, Agnes? Você me deve isso – Ele balançou-a.

- Estella – Ele largou-a, voltando a caminhar de um lado para outro.

- Então era ela que gemia em meus braços, que se entregava tão ardentemente? – Sussurrou mais para si mesmo.

Agnes se achou louca por um instante, pois jurara que ele sorrira quando disse aquela frase.

- Então Violet?

- É filha do Michael. Descobri a gravidez quando completamos dois meses de casados.

Agnes suspirou como se um peso de toneladas tivesse sido retirado de suas costas.

- Você ainda o ama, não é? – A pergunta pegou Agnes de surpresa, mas ela logo respondeu.

- Muito.

- Eu também a amei, Agnes, mas vi a cada dia que seu amor nunca seria meu, e acho que acabei aceitando isso. Estou muito magoado por todas as mentiras e manipulações, mas não te odeio... Só vá embora, sim? – Ela assentiu – Vou dar um jeito de anular nosso casamento. Fique à vontade pra arrumar suas coisas e da Violet, eu voltarei quando você tiver ido embora -  Ele suspirou audivelmente e virou-se para sair.

- Mavi? – Agnes chamou e ele olhou-a novamente – Obrigado por tudo. Espero que seja muito feliz, arrumando uma mulher que o ame como merece. – Ele assentiu rigidamente e saiu, fechando a porta atrás de si.









Capítulo 19 



Depositei um breve beijo na pele aveludada e macia da testa de Violet, antes de cruzar os portões da mansão, em que vivi infeliz por todos esses meses. Não sabia onde iríamos, eu não tinha para onde ir naquele momento, e muito provável que meus pais já soubessem do que fiz a Mavi, e com certeza sentiam raiva de mim. Mas eu não posso culpa-los, de forma alguma. Foi o que procurei. Mas agora se tratava de uma criança desamparada que eu juro que pediria desculpas durante toda a minha vida, se nosso destino fosse vaguear pelas ruas como umas abandonadas pelo marido. Era um destino assustador, ao qual sempre temi, e agora levava minha menina a esse pesadelo. 

Minhas vistas subiram para encarar o horizonte, quando vi uma duzia de mulheres encarando-me em frente a casa, assim que sai. Seus olhos enrubrescidos, odiosos e vingativos. Suas cabeças balançavam de um lado para o outro em condenação e injúria. Cobri o rosto de Violet com sua manta, peguei a pequena mala em mãos, ergui a cabeça e caminhei no corredor em que haviam feito no meio da rua para despejar sobre mim suas calúnias.

-Como alguém pôde fazer uma coisa dessas com o seu marido? _Uma delas murmurou. Usava um chapéu de sol nos cabelos loiros, e seus olhos bem azuis faiscavam. -Um homem tão bom. _Apertei meus lábios contendo o dor que aqueles olhares me causavam, mas continuei andando.
-É uma perdida, que tem uma filha de outro. Que se esfrega com o relojoeiro no lago, fora das vistas de todo mundo. -Outra bradou e só o que fiz foi manter Violet protegida. 

Os murmúrios aumentaram, daquelas mulheres insanas que só sabiam julgar, como se fossem melhores do que todo mundo. E quando consegui finalmente deixar aquele corredor que mais parecia um tribunal e eu a criminosa, uma vista ilustre reacendeu o meu coração apagado. Michael estava junto a Blanket com alguns sacos em mãos que julguei ser suas coisas. 

-Michael! _Sussurrei já sentindo o choro tomar o meu coração por completo, como se vê-los fosse um despertar para todo o sofrimento em que vivi, e que finalmente eu estava saindo dele intacta. 

O meu amor aproximou-se de mim com um sorriso mais lindo do mundo, pegando Violet em seus braços. 

-Vim buscá-las, meu amor. _Comentou ele. -Iremos embora daqui, todos juntos. _Mais lágrimas saíram em torrentes e eu sorri como se alguém estivesse me salvando de um precipício fundo e sombrio. 
-Vamos ser uma família, tia Agnes. _Comentou Blanket e eu acarinhei o rostinho daquele menininho lindo. 
-Olhem só! _Uma voz cortante e medonha abradou, tirando-nos daquele momento. -O pecado sobre caiu nessa cidade. Um relojoeiro sujo, e a filha do embargador, indo embora ilesos como se nada tivesse acontecido. Que vergonha, santo Deus! _Michael encarou-as com o maxilar duro, e uma expressão profunda, ao qual eu nunca havia visto antes. Tinha raiva, e revolta.

Ele deu dois passos à frente se impondo, encarado-as com altivez. 

-Vocês se acham santas e imaculadas, mas não passam de umas rabugentas invejosas. Agnes e eu nos amamos, nossos corações se pertencem, e tudo que ela passou foi apenas por culpa minha. Deus sabe o quanto me arrependo. Por isso vocês, mal amadas, estão aqui nessa rua julgando-a. Aposto que em suas casas seus maridos a deixam para buscar divertimento nos braços de outras, enquanto vocês permanecem santas, com um teia de aranha enorme em baixo dos vestidos. _Conti um riso. -Agnes é minha mulher, temos uma filha, e não é da conta de nenhuma de vocês o que fizemos, ou deixamos de fazer. Calem essas bocas nojentas e vão cuidar de suas vidas. 

Tudo que eu queria era ficar com Michael, viver nossa vida em paz e sermos felizes, mas o que acabou de fazer, só me confirmou o quanto me amava igualmente, queria ficar ao meu lado, com a nossa filha. E eu tinha a certeza plena de nossas vidas seria diferente agora.

Michael ajeitou Violet em seu colo, segurou em minha mão, incitou Blanket a segurou seu suspensório e caminhamos de volta por aquele corredor condenatório, de cabeça erguida. Como uma família deveria ser. E eu me sentia plena, em paz, com um sentimento de amor invadindo o meu e refletindo no sorriso. 

Quando cruzamos do outro lado da rua, uma voz chamando-me nos fez parar. 

-Agnes! _Olhei para trás e Papai e mamãe estavam um do lado do outro, indo atrás de nós. -Como você pôde minha filha? _Papai não estava bravo, ele apenas parecia que havia chorado, e me olhava com pesar. Nada que pudesse desmiuçar a felicidade que ainda sentia.
-Sr. Embargador, permita-me lhe dizer. _Michael tomou a minha frente. 
-Você ama a minha filha? _Limitou-se a perguntar. Eu sabia que papai só precisava de uma confirmação. 
-Com toda minha alma, Senhor. _O sorriso no rosto de papai, mostrava-me que não me odiava, e muito menos Michael.
-Se tivesse contado, que amava outro invés de Mavi eu faria diferente. _Papai acarinhou o meu rosto e eu sorri para mamãe que chorava ao lado. 
-Isso tudo aconteceu porquê fui um covarde, mas agora eu quero assumir Agnes e nossa filha. _Papai fitou Violet nos braços do pai e depositou um beijo à testa da pequena.
-Você o ama minha filha? _Perguntou-me. Lágrimas escorreram de novo dos meus olhos em uma emoção impar.
-Com toda a minha alma, papai. _Minha voz falhou e ele me abraçou com força.
-Sejam felizes, então. _Abri um sorriso radiante e me joguei nos braços de papai, era uma despedida. Depois abracei mamãe, que abençoava a minha ida igualmente.

Michael, eu e nossa família, seguíamos nosso rumo, com a carroça que papai disponibilizou para nós. E ali, começava o início da nossa vida. A vida que sempre quis ter, desde que coloquei os olhos naquele relojoeiro encantador.



Capítulo 20

5 anos depois...


- Violet, querida, vá com cuidado – Alertei, enquanto a menina descia do automóvel e corria em direção aos avós.

Michael desligou o veículo e deu a volta para ajudar-me a descer. Caminhamos de mãos dadas até onde estavam mamãe e papai, já com Violet no colo e enchendo-a de mimos.

- Mamãe o vovô disse que comprou uma boneca nova pra mim! – Ela agitou-se nos braços do avô coruja. Sorri.

- Entre, princesa, sua amiguinha Lauren está esperando por você – Ela assentiu e correu para dentro da casa.

Abracei meus pais, em seguida Michael fez o mesmo.

- Então como está o empreendimento, meu genro? – Papai perguntou enquanto caminhávamos para dentro da casa.

- Estamos crescendo – Michael sorriu orgulhoso – Estou pensando em abrir uma filial na cidade ao lado, assim nós poderemos nos mudar para mais perto... a Violet sente falta de vocês.

- Que maravilha! – Mamãe bradou eufórica.

Assim que chegamos na sala, diversos amigos se aproximaram para nos cumprimentar. Todos estavam ali para comemorar os 30 anos de casamento dos meus pais.

Depois de alguns abraços e cumprimentos Mavi se aproximou, ladeado por Estella, que carregava uma barriga de 6 meses. Admirava-os demais. Eles enfrentaram a sociedade preconceituosa, e assim que Mavi e eu conseguimos anular o casamento, eles se casaram e vivem até hoje. Estella contou que quase morreu do coração quando viu Mavi ali na sua frente, dizendo-lhe que sabia de tudo e de que, depois das noites de amor, descobriu-se apaixonado por ela. Estella contou da gravidez e Mavi apressou-se em casar, para dar nome a amada e a pequena Lauren.

A separação não foi fácil de se conseguir, mas com muito esforços obtivemos excito, e em poucos meses Mavi e eu estávamos separados. Michael lutou bem mais para ter sua anulação, mas, dois anos de luta depois, ele conseguiu se ver livre do encosto chamado Possy.

Bem, ainda não havíamos nos casado na igreja, pois Michael decidiu abrir um negócio, e eu tinha uma casa, dois filhos e um marido para cuidar, meio que acabamos sem tempo, mas pretendemos casarmos em breve.

- Vocês estão ótimos – Comentei, abraçando Mavi e Estella.

- Vocês que estão – Ela comentou sorridente – Está cada vez mais bonita, Agnes – Sorri.

- Concordo plenamente, amiga – Virei-me e dei de cara com minha amiga de todas as horas. Prendemo-nos em um abração apertado, enquanto murmurávamos a saudades que sentíamos uma da outra.

- Você está tão linda assim – Acariciei sua barriguinha pouco saliente. Ela sorriu emocionada – Onde está o Silverston? 

Melayne casou-se a quase dois anos atrás com um advogado recém chegado da Alemanha. Segundo ela, assim que viu o loiro de quase dois metros de altura se viu casada com ele.

- Ele viajou a trabalho, mas volta ainda essa semana. Acabei de dar um beijo em Violet, ela é simplesmente a coisa mais linda que já vi.

Olhei ao redor e a encontrei brincando em um canto da sala, junto a Blanket, por quem era completamente apaixonada. Michael estava entretido numa conversa com Mavi e Estella.

- Nunca pensei que pudesse ser tão feliz, Melayne... depois de tantas lágrimas, acho que finalmente minha vida trilhou um caminho certo e definitivamente feliz.

- Nós merecemos essa felicidade – Sorri, concordando.

- Melayne, venha aqui, quero te mostrar o casaquinho de croché que a senhor DelRey está me ajudando a fazer – Estella puxou-a pelo braço.

- Vá, Melayne... é conversa de grávida e eu não quero me meter – Ela riu, revirando os olhos.

Meus olhos perscrutaram mais uma vez a enorme sala e me peguei sorrindo de felicidade. Minha família e amigos estavam todos ali, compartilhando de uma harmonia e paz que sempre sonhei para minha vida. Não havia preconceitos social ali, não havia julgamento nos olhares, nem buchichos falsos... tudo que eu consegui enxergar naqueles rostos e sorrisos era amor.

- Está tão pensativa, querida – Aquela voz rouca e tão conhecida por mim, roçou em meu ouvido.

- Estou pensando em toda felicidade que estou sentindo, e o quanto foi difícil consegui-la – Michael depositou um beijo em meu pescoço e me virou para me fitar nos olhos.

- Foi realmente difícil, mas nosso destinos estavam traçados, e nada nem ninguém poderia mudar isso... A classe social não foi importante, as intrigas e mágoas não nos fizeram odiar um ao outro, por que sempre nos amamos de forma pura e verdadeira, e um amor como o nosso é escrito pra ver vivido e compartilhado... – Sorri, roçando meus lábios nos seus – Eu te amo e sempre, sempre amarei.

- Também o amo, meu relojoeiro – Nosso beijo se profundou por alguns instantes. Nos afastamos sorridentes e ofegantes - Gosto da ideia de compartilhar nosso amor... Talvez ainda escreva um livro com nossa história – Michael assentiu sorrindo.

- O relojoeiro e a filha do embargador – Foi minha vez de sorrir, assentindo.

- E o final feliz?

- Esse nós ainda vamos viver, eu te prometo.




Fim.






62 comentários:

  1. paulinha e tay juntas? ja sei q a fic vai ser maravilhosa.

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  2. Gente a estreia é amanhã, viu? Teve um erro nas datas kkkkk esperando vcs amanhã aqui <3

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  3. Olá meninas, cheguei com a estreia. Obrigada pelos coments <3

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  4. Muito fofa.. amei, e tem o Blanket.. continua..

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  5. Continua logo meninas!! Voces sao demais viiiu. Quais os dias que vai postar ??

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  6. Olá meninas \o cheguei com mais aqui pra vcs <3 Obrigada por estarem aqui <3 Posts segunda, quarta e sexta :3

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  7. Hum Agnes saidinha.. kkkk.. to amando o romance deles.. continua..

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  8. Cheguei com mais amores <3 Obrigada pelos coments

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  9. Continua.. to amando, ta muito linda.. ^^

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  10. Cheguei com mais amores \o
    Obrigada pelos coments
    Vamos ver o que o futuro reserva para esses dois :3

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  11. Ixxi... tadinho do Michael quando ele descobrir q tem outro cara na parada.. continua..

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  12. Cheguei com mais \o. Obrigada pelos coments <3

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  13. Bem, esse é meu primeiro comentário aqui e já posso dizer que estou curtindo muito essa fic! Muito gostosa de ler pois ela é tão bem escrita, tão meiga e bacana... Espero que Michael e Agnes possam ficar juntos, mas acho que vai rolar umas tretas aí e vai complicar tudo. Porém acredito que no final tudo vai ficar bem, ou talvez não né (porque não sou eu quem a escrevo kkk).
    Bem, espero que o próximo capítulo seja bom como os anteriores e estarei na espera.
    Sucesso!
    -Viviane Siqueira.

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    1. Owmm flor muito obrigada pelo carinho. Bom, terá muitas tretas ao longo da fic sim, mas no final sempre dar certo. Fico muito feliz que esteja gostando. Muito obrigada.

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  14. Cheguei com mais pra vcs \o. obrigada pelos coments <3

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  15. Nao acredito que o Michael vai fazer isso! Coitadinha da Agnes.

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  16. Mas que maldita essa Possy ! Continua ! Tá muito legal !
    (Tô comentando anónimo pq tô usando o celular do meu pai pra ler .. rsrs)
    // ~ Ianna Jackson ♡☆

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  17. Olá meninas \o cheguei com mais pra vcs <3
    Obrigada por cada coment de vcs, muito obrigada mesmo <3

    Vamos ver agora se Michael vai magoar a Agnes

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  18. Nao acredito que ele fez isso com ela :'(
    Continua logo Tay ou Paulinha.

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  19. Caramba :'( q raiva dessa mulher :(
    Continua <3

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  20. De jeito nenhum ele escreveu aquela carta.. foi essazinha q chantageou ele.. continuem meninas..

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  21. Cont... Gostei do mavi só achei ele extranho

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  22. Sinto muito Mavi, ela não será sua.. de jeito nenhum.. continua

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  23. Gente cheguei com mais <3
    Obrigada pelos coments de vcs
    Vamos conhecer mais do Mavi :3

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  24. O Mavi é um fofo *-*
    Mas prefiro ela com o Mike <3
    Continua!

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  25. Hum..kkk.. gostei do plano de Melayne. Agnes é só do Michael..

    Continua..

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  26. Aah, eles estao sofrendo tanto :'(
    Continua logo, Tay!!

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  27. AAHHHH , continuaaaa !
    É a primeira Fic livre que eu leio depois que conheci esse mágico mundo , tô amando ! Não demore a postar ! Bjoos, muuuuita inspiração e MJ a vc !
    (Anônimo de novo pelos motivos de sempre rsrs)
    ~ Ianna Jackson ♡☆

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  28. Cheguei com mais pra vcs, amores \o/ Obrigada por estarem aqui, fico muito feliz.
    Ianna obrigada pelo desejo de inspiração, estou precisando hj :v
    Vou postar \o

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  29. Sera que o Mike nao vai se tocar nunca que tem que ir atras de Agnes ?! Continua logo meninas !!

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  30. Ela ta gravida e é do Michael *------*
    Nojo dessa Possy affs
    Continuaaa ❤

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  31. Gente cheguei com mais \o
    Obrigada pelos coments
    Era pra ter postado no sábado, mas como não tem costume de postar nesse dia
    acabei esquecendo. Desculpem!

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  32. Eita, agora as coisas vão começar a esquentar u.u continua!

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  33. Agora ele sabe que é papai de novo *-----*
    Ain continua essa fic ta perfeita demais ❤

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  34. Ooohh.... a coisa sempre para na melhor hora.. continua logo meninas..

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  35. Meu Deus! Oque sera que vai acontecer agr ?? Continua logo, meninas!!

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  36. Olá meninas cheguei com mais pra vocês \o
    Obrigada pelos coments <3

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  37. Woon, o Mavi é super de boa <3
    Espero que o Mike e a Agnes fiquem de boa agora *-*

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  38. Olá meninas \o obrigada pelos coments de vcs viu.
    Bom, a fic já está na reta final, postarei agora mesmo o penúltimo capítulo e a Paulinha vem com o final. Espero que estejam gostando <3

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  39. Aaaaaah que lindooo
    Não acredito que esse ja é o penúltimo capitulo :(
    Continua ❤

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  40. Tudo se encaminhando.. ansiosa pelo final.. ^^

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  41. *--------* adoreeeei *---* até me emocionei aqui .. imaginei Michael falando isso pra mim .. parabéns às autoras , maravilhosas !! *--*

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  42. Parabéns pela historia. Terá uma continuação?

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