domingo, 6 de setembro de 2015

Mini-Fic: "Em seu nome" (+18)

Autora: Larissa Rabelo 



Mini-Fic com 13 capítulos

Sinopse

Passei minha vida inteira repudiando severamente atos que atentam contra a vida humana. Para mim conflitos bélicos transparecem a ganância desmedida do homem e sua busca incansável pelo poder. Pais de família perdem suas vidas, em nome da honra das Nações. Mulheres e crianças pagam um preço alto e se tornam solitárias no mundo.O sangue é derramado em virtude da sede de países poderosos em dominar o mundo. Há tanta dor em meio ao massacre de milhões de soldados, centenas de inocentes definhando graças a miséria acarretada pela guerra. O rastro de destruição acomete a grande maioria do planeta e eu simplesmente não consigo ignorar o pedido de socorro daqueles que não tem para onde ir, eles caminham pelo vento frio da madrugada, mortos de fome, e o pior mortos por dentro.

Arizona é uma das vítimas desse inferno,a moça mais bela e adorável que conheci,ela luta com todas as esperanças que lhe restaram e enfrenta os fantasmas de seu passado sangrento. Órfã,escondida dos alemães em um porão escuro, Arizona levava seus dias. Lembro do inverno que caminhava pelas ruas de Varsóvia auxiliando alguns feridos e movido pela minha curiosidade adentrei uma mansão antiga que chamou minha atenção.Ter entrado naquela propriedade foi somente o início de um dos desígnios do destino. Doce engano acreditar que o amor seria o bastante, talvez nossas almas não houvessem se encontrado por acaso e sempre existiu um propósito. Essa história já estava escrita e nossos caminhos traçados. Tal como a paixão inexplicável, pura e fervorosa que consumiu nossos corpos e uniu o coração de dois sonhadores rebeldes. Éramos apenas meros  escravos dos sentimentos e nos demos conta disso tarde demais ...


Estreia em breve...



                                                   Prólogo


Antes da Guerra, a população judaica de Varsóvia era de mais de 350.000 habitantes, o que representava cerca de 30% da população total da cidade. A comunidade judaica de Varsóvia era a maior da Polônia e de toda a Europa, a segunda maior do mundo, após apenas da cidade de Nova Iorque. 


Depois da invasão da Polônia pela Alemanha, em 1º de setembro de 1939, Varsóvia sofreu pesados ataques aéreos e bombardeios de artilharia. As tropas alemãs entraram em Varsóvia em 29 de setembro, logo após sua rendição.

Em 12 de outubro de 1940, os alemães decretaram o estabelecimento de um gueto em Varsóvia. O decreto exigia que todos os judeus daquela cidade se mudassem para uma área determinada, a qual foi isolada pelas autoridades alemãs do resto da cidade em novembro de 1940. O gueto foi cercado por um muro com mais de 30 m de altura, com arame farpado no topo, e vigiado continuamente para impedir relações entre a população do gueto e a de Varsóvia. Estima-se que, com a inclusão de judeus de cidades vizinhas que foram forçados a para lá se mudar, o gueto abrigava mais de 400.000 judeus. As autoridades alemãs obrigaram os residentes do gueto a morarem em uma área de 2.1 quilômetros quadrados, com uma média de 7,2 pessoas por aposento. Eles eram submetidos a toda espécie de tortura que se possa imaginar, mal tinham o que comer e seus direitos eram anulados. Em 1942 por ordens de Hitler o gueto foi destruído e os judeus de Varsóvia que sobreviveram foram transferidos para campos de extermínio.


                                            
Capítulo 1


Setembro de 1942 - Varsóvia

                                                                       Michael
 
Estamos no ano de 1942, as tropas alemãs já invadiram grande da parte Europa e devastaram a Polônia. Meu "ilustre" pai, Ernest Scruse tornou-se um dos homens de total confiança de Hitler e o reverencia como se fosse um Deus do povo. Ao longo desses anos sombrios baseado em guerra,sangue,destruição,migramos de milhas de países.Papai se nega veementemente a fazer referência sobre assuntos interligados ao seu trabalho de "general". Lamentavelmente, o povo alemão mal tem conhecimento de como realmente o exército alemão tem agido. Sou contrário a qualquer espécie de confronto bélico, em específico os que ameaçam a vida humana. Para mim o sangue derramado não é em honra das nações,mas sim o reflexo da crueldade e da deterioração da raça humana. Cada um dos soldados que morrem em nome de sua pátria tem uma família,a qual derramará lágrimas amargas por seus entes queridos durante longos anos.


"Quem é aquela dama, que dá a mão ao cavalheiro agora? Ah, ela ensina as luzes a brilhar! Parece pender da face da noite como um brinco precioso da orelha de um etíope! Ela é bela demais para ser amada e pura demais pra esse mundo! Como uma pomba branca entre corvos, ela surge em meio às amigas. Ao final da dança, tentarei tocar sua mão, pra assim purificar a minha. Meu coração amou até agora? Não, juram meus olhos. Até esta noite eu não conhecia a verdadeira beleza."


O aclamado romance "Romeu e Julieta" sempre me acompanha nos meus dias solitários. Tenho tido prazerosas noites de leitura, é uma das coisas que mais aprecio fazer, deitar-me na minha cama e viajar pelo universo encantado de Shakespeare. Às vezes quando fico deitado, sozinho em meu quarto exatamente como estou nesse exato momento, me questiono se minha dama pode estar por aí? Quem sabe minha Julieta aparecerá E trará luz de volta a minha vida sombria.


— Michael, largue esse livro idiota e me siga até a biblioteca. — Meu pai exigiu, como de costume, entrando em meu quarto sem anunciar sua presença. Esse é um dos péssimos hábitos que ele desenvolveu. Às vezes a postura rude e autoritária dele me incomoda. Especialmente quando se trata de nossas divergências de ideias em relação a guerra.


— Michael não quer que eu o arraste daí, creio eu, então trate de me obedecer. — Alertou ameaçadoramente batendo a força com violência ao sair. 


O pesadelo parece nunca ter fim, tudo que queria era me libertar das imposições nefastas de meu pai, porém ainda não realizei o sonho de me formar em medicina, precisei adiar os estudos e partir de Berlim graças a missão dele para com seu "superior".

                                                                              ~____~ 

— Quando irá aprender a agir como um homem, filho? — Repreendeu papai severamente, cravando seu olhar impassível em mim no instante que pisei na biblioteca.


— Papai, infelizmente não sou tão forte como o Sr., jamais irei apoiar algo tão cruel assim. A guerra não pode solucionar nenhum tipo de problema patriota, e sinto que esta sede de poder do seu "estimado" Hitler dizimará toda a Europa e atingirá uma escala global. — Relatei minhas intuições quanto ao rumo perigoso que os anseios de Hitler seguem.


— Anda lendo muitos romances líricos, se persistir agindo feito uma donzela queimarei todos. Precisa entender que todo o conceito que vem do partido do movimento nacional-socialista alemão fundado, liderado por Adolph Hitler é brilhante. — Rebateu se servindo de seu whisky escocês favorito não perdendo a oportunidade de me oferecer bebida.


— Não muito obrigado, sabe que raramente bebo e esse assunto não condiz com meus interesses. — Ressaltei franzindo levemente o cenho.


— Claro, toda a culpa de sua covardia provém da educação que sua mãe lhe deu. — Esbravejou agressivamente.


— Talvez, mas me orgulho dos valores que ela incutiu a mim... No meu discernimento, papai, o caráter de um homem não pode ser definido de acordo com potência da arma que ele carrega, tampouco por seguir uma "ditadura" imposta por Hitler. — Explodi, explicitando minhas convicções.


— Se continuar me confrontando com suas concepções românticas, serei obrigado a mandá-lo para bem longe. — Adiantou suas pretensões de se livrar de mim, o que não seria de todo mal, contanto que possa concluir o curso de medicina.


— Faça isso, será um alívio para ambas as partes. — Desafiei e ele cerrou os punhos pela raiva.


— Já chega! Vá para o seu quarto e reflita...Amanhã se quiser acompanhar o Dr. Greg e ajudá-lo com as vítimas - os feridos infelizes,- tem meu consentimento. — Nivelou seu tom de voz e percebi pelo seu maxilar travado que não está nada contente comigo.


— Devo agradecer a "vossa majestade" pela gentileza? — Ironizei sádico como não tenho o costume de ser. 


— É melhor dar-me licença Michael, antes que eu mude de ideia e reveja minha "benevolência' desmerecida para com você. — Aconselhou socando a mesa de madeira que preenche particularmente o espaço vasto da nossa biblioteca. A contragosto eu cedi a chantagem dele e deixei-o sozinho com seus pensamentos maquiavélicos.
                                                                        
                                                                 

No amanhecer....                                                             

Desde que meu pai e eu nos mudamos para a Varsóvia, venho reivindicando algumas condições para mantermos o bom convívio, não que esteja resolvendo, mas ao menos preencho meu tempo e as discussões se tornam escassas. As regalias que temos só servem para me lembrar de que enquanto moramos em uma mansão, e nos deleitamos com banquetes e os mais diversos luxos que o dinheiro proporciona, há miseráveis lá fora, sem um pão para alimentar seus filhos. O contraste discrepante entre ricos e miseráveis, definitivamente é um agravante dos "karmas" sociais. E no caso da guerra existem inúmeras controvérsias a serem analisadas. Muitos dos mortos de fome que caminham pelos destroços das ruas, antes possuíam imóveis e fortunas em joias, prataria além de capital aplicado nos bancos. Eles estão nessa situação em virtude dos últimos acontecimentos, não perderam tudo, lhes foi arrancado tudo, inclusive a dignidade. 

Apesar de me opor a toda essa "carnificina", sinto que há muita mais sujeira por baixo das fardas dos nazistas do que sou capaz de imaginar. As poucas informações que chegam até mim partem do rádio, o qual o acesso é limitado a quem pode pode pagar pelo equipamento. Hitler soa ambicioso em seus discursos e aparições. Ele aparenta ser firme em suas ideologias, obstinado a prosseguir dominando a Europa, e almeja render países como a Inglaterra, Rússia...

Suas palavras me assustam e causam arrepios. Dentro do meu íntimo sei que o rumo que o mundo segue pode ser traiçoeiro e demasiadamente destruidor. Tento ajudar da forma com a permissão que me é cedida pelo meu pai para atender soldados alemães e poloneses feridos. O atendimento é precário, em muitos casos opero sem utilizar anestésicos, que de fato não tem eficiência comprovada até o determinado momento, mas seriam úteis para amenizar o sofrimento humano. Já tive que fazer um centena de amputações dessa forma...No início achei que não suportaria lidar com a pressão e os gritos de dor daqueles pobres homens. Agora, aprendi a reprimir minhas emoções e guardá-las para outras ocasiões. Embora não tenha sido possível concluir minha graduação em medicina, quase terminei meus estudos e tecnicamente sou apto a exercer a profissão com destreza. Hoje é mais um típico dia em que na companhia do Dr. Greg socorreremos vítimas da guerra. Caí da cama cedo e me vesti, precisarei de um café da manhã reforçado, e me preparei emocionalmente para o que decerto virei a me deparar hoje. Raramente, me submeto a riscos, falo de afrontar as ordens de papai. Acontece que sigo a voz do coração, e ele está gritando para que vasculhe as ruas à procura de sobreviventes. Pretendo revisar do avesso cada uma das residências que restaram de pé. Milagres acontecem todos os dias, acredito nisso. Lembro de minha mãe me dizer que nunca devemos desistir de sonhar. 

Tempos dourados, aqueles, ela faz tanta falta, não me conformo com sua morte prematura. Nunca irei esquecer de suas palavras ternas e o toque aveludado das suas mãos em meus cabelos. Morgana Jackson, sempre estará presente em espírito, e era uma grande mãe. Ela me contava histórias instigou-me a tomar gosto pela leitura. Daria qualquer coisa para trazê-la de volta, contudo me lastimar não fará com que esse desejo se concretize. Então ajo como suponho que mamãe aprovaria que eu agisse nessas circunstâncias. 


Ajeitei a gola do meu casaco invernal favorito pela última vez e borrifei um pouco de perfume na nuca e pulsos, prontamente arrumado para iniciar o dia. Visivelmente desanimado e ainda relutante rumei até o jardim da mansão onde eu e papai compartilhamos a primeira refeição do dia quase em praticamente todas as ocasiões. Meu pai como de costume já está sentado a mesa degustando uma fatia de mamão, enquanto se reitera das notícias, lendo um jornal.


— Michael, Dr. Greg está a sua espera no carro, o motorista não poderá levá-los. Sr. Greg irá dirigir hoje, tem alguma objeção quanto a isso? — Indagou tranquilamente papai, fitando-me diretamente, e eu me uni a ele, sentando-me a farta mesa de café da manhã, carregada de guloseimas me servindo com uma fatia de pão na qual passei uma camada generosa de geleia de amora. Afinal, estou mais do que faminto.


— Não integra minha lista de prioridades, dirigir, prefiro sair com o motorista ou pegar carona. — Frisei, limpando o canto dos meus lábios suavemente com o guardanapo de pano ao terminar de degustar a deliciosa fatia de pão caseiro.


— Ótimo, seria pura imprudência deixá-lo assumir um volante. — Decretou.


— Tem razão, nisso concordamos. — Salientei, me preparando para levantar-me da cadeira, checando meu relógio de pulso impaciente. Meu pai me fez perder o apetite em uma fração de minutos. Inacreditável. — Devo ir, não é aconselhável me atrasar nas condições que meus pacientes se encontram. — Menti parcialmente, já que jamais poderei revelar ao meu pai que não trabalho somente no galpão de feridos. 

Ernest não está a par de eu que patrulho as ruas em busca de feridos, para socorrê-los e quem sabe proporcionar àqueles infelizes uma nova chance de viver. No que depender de mim ele não saberá dos serviços que presto nem daqui a um século, papai pode ser diabólico se o quiser, tenho consciência de que piso em ovos constantemente.


                                            
Capítulo 2


                                                                       ~Michael~


 

Após me despedir de papai conforme manda a tradição, me dirigi até o carro no qual Dr. Greg me aguarda serenamente.

***

Ao longo do trajeto silencioso, meus olhos vagaram pelos destroços do que restou da cidade, sinto a dor desses pobres homens correndo nas minhas veias.


 Sr. Jackson quer parar aqui? Há pessoas que podemos salvar. Alertou Greg, ao observar pelo carro alguns possíveis sobreviventes. 

 Por favor, pare o carro! Ordenei aflito e sedento por salvar o máximo de vidas possíveis.
Greg acatou minha ordem e nem precisamos de segundos expostos a realidade, para constatarmos o inferno que muitos vivenciam, judeus estão sendo o principal alvo das atrocidades do exército alemão...

  Inacreditável, Greg!Exclamei e meu coração se comprimiu dentro do peito quando me debati com uma pilha de cadáveres, minhas palavras ficaram presas na garganta ao presenciar tamanha brutalidade, eis a prova irrefutável dos atos atrozes que os homens são capazes de cometer pela sede do poder. São tantos mortos, e centenas de feridos. Os corpos dos "honrosos homens" ensanguentados permanecem estirados em meio aos destroços das ruas, contrastando com cadáveres de mulheres e crianças inocentes.Raros sobreviventes ainda caminham sem rumo à procura desesperadora de alimentos e atendimento médico. A Polônia foi um dos países que mais sofreu os estragos da guerra,sendo totalmente desintegrada, e tendo grande parte de seu território e população dizimada pelo "implacável" exército alemão. Eu nem sequer consigo imaginar a escala dos danos e carnificina em massa, acarretados por essa maldita guerra .Parte de mim me impulsiona a confrontar meu pai,e me impor,mas o que restou da minha racionalidade, transformou-me em um ser omisso que se contenta em "exercer" medicina mesmo exposto a circunstâncias extremamente bárbaras. Meu consolo é que ao ser um filho "prestativo" posso ajudar e socorrer os feridos, sinto-me útil ao auxiliar os infelizes que pagam com o próprio sangue o amor cego e leal que alimentam por suas pátrias e também judeus inocentes.


Greg, veja...Apontei para uma garotinha com um ferimento horroroso na parte próxima frontal do córtex cerebral.Uma construção desabou sob a menina. Cautelosamente me aproximei dos blocos de concreto entre os quais ela estava estendida ajoelhando-me para sentir a pulsação dela. Desloquei-a cuidadosamente para o meu colo removendo as pedras que caíram nela e a deitei entre minhas pernas para tentar verificar os ferimentos com mais precisão.


Moço, minha irmã, ajude-a. Implorou a garotinha adorável e com certeza sem grandes perspectivas de viver, enquanto eu prossigo examinando-a, cumprindo com minha missão de salvar mais uma vida.

Quem é sua irmã, princesa? Rolei minhas mãos pelo cabelo dela, ainda molhado de sangue, curioso para entender do que ela fala. 


Arizona, o nome dela é esse, e eu sou: Anabelle. Respondeu quase inaudível, gemendo de dor em meus braços.


Tranquilize-se, sairei à procura de sua irmã. Prometi obstinado a cumprir com minha palavra. Onde ela está, só me diga como encontro Arizona?


 Ela ficou no porão...Levantou o dedo polegar na direção de uma antiga mansão opulenta, atiçando minha curiosidade. 


 Michael o que está fazendo? É loucura se envolver com uma judia.Repreendeu Greg, temendo  qual seria a reação de meu pai se descobrisse meu auxílio aos judeus.


 Faria isso por qualquer pessoa, aliás Greg, faz parte do juramento que fez em nome da sua profissão. Ressaltei, tentando desconsiderar a covardia dele. 

 Cuide da menina, tire-a daqui e a leve para o galpão onde estão as outras vítimas. Orientei Greg. Tenho que explorar o lugar.Cravei meus olhos na direção da mansão ao meu ver sombria e abandonada.


 Se pretende arriscar sua pele e enfrentar a fera chamada Ernest, boa sorte!Felicitou-me cinicamente, me ajudando a levar a garotinha até carro, assim que a acomodamos nos assentos traseiros fechei a porta do veículo e dei as coordenadas a Greg.

Evidentemente, não reavi ou refleti a respeito das minhas intenções de salvar Arizona, a qual intui que estava viva...

*** 

Sorrateiramente, empurrei a pesada porta de madeira que rangeu devido a força que impulsionei para abri-la. As primeiras imagens que preencheram meu campo de visão ao invadir a residência foram de alguns lençois cobrindo móveis e obras de arte clássicas postas por toda parte. Há alguns objetos espalhados pelo chão, e roupas denunciando que os mandantes de Hitler provavelmente estiveram no local. Um quadro estonteante prendeu minha atenção no meio de tantos outros expostos nas paredes. Me refiro a uma pintura estritamente particular, imitando com perfeição o belíssimo rosto de uma mulher, não uma simples donzela, mas uma garota angelical, dona de cabelos acastanhados, levemente dourados e olhos hipnotizantes. Os lábios pintados de um tom rosado em conjunto com a pele naturalmente bronzeada dela assumem um contraste singular na pintura. 


É indiscutivelmente a dama mais formosa que já vi, poderia compará-la a um anjo que veio direto de um sonho para agraciar-me com sua aura celestial. Se ela for inspirada em um retrato real deve ser uma deusa de beleza e encanto. Meus pensamentos viajaram por maravilhosos minutos, enquanto meus olhos se deleitam com a visão dos céus. Sinto-me humilhado diante de tamanha beleza. Como pode uma mulher ser tão genuinamente meiga? Pensei antes de prosseguir meu caminho até o porão ao qual fui instruído a "invadir".
 

***

A pequena passagem para o porão escondida por um tapete não foi um obstáculo de difícil acesso para um intruso astuto como eu. Puxei o empecilho que restara, uma pequena tábua, e desci pela escada que me levaria ao meu destino de desejo. No momento que alcancei o chão a escuridão dominou meus olhos por completo. E instintivamente vaguei meu olhar para o único lugar onde havia luz, graças a uma pequena janela construída para a entrada de ar creio eu, que também permite a passagem dos raios solares. Tive a melhor surpresa da minha vida, e um alívio ao me deparar com a suposta irmã da garotinha que me suplicou para vir a procura do único querido que restou-lhe. Arizona está encolhida, me fitando apavorada, chega a cortar o coração visualizar um ser humano completamente vulnerável como ela. Não a julgo, nos últimos tempos o povo judeu vive submergido em um medo constante. Atrevi-
me a me aproximar dela para observar se tem algum ferimento, e ela inclinou o rosto abatido e assustado para me encarar. Deus é ela, a bela mulher da pintura.

Exatamente como imaginei que seria ao vivo e a cores, um anjo de ternura.


 Olá, meu nome é Michael, você por acaso é Arizona? — Indaguei e ela escondeu o rosto entre as mãos trêmulas nitidamente assustada.


 Por favor, converse comigo, vim para ajudá-la, não há o que temer. Caminhei até o colchão velho no qual ela persisti sentada, e toquei o queixo dela, erguendo seu rosto delicadamente para apreciar melhor seus traços esculturais. Ela recuou e soltei-a imediatamente, afastando-me um pouco dela.

Mesmo tomando consciência de que a pobre menina, parece absorta na tristeza e possui feições pálidas, fatigadas, além de um olhar perdido, vago, ainda consigo contemplar a beleza da garota de traços angelicais que mais aparentam serem esculpidos pelos anjos. Seus cabelos ondulados e parcialmente longos adornam a face da moça mais formosa que já vislumbrei na vida. Os olhos verdes e fantasticamente graciosos dela, me remetem a duas estrelas cintilantes em uma noite obscura, porém também reluzem doçura e espanto. Enfim, tomei a devida coragem de me aproximar mais alguns passos da silhueta magra, frágil e feminina. Ajoelhei-me no chão gélido onde ela permanece encolhida com os braços em torno dos joelhos, e atrevi-me a tocar o rosto delicado da linda mulher que tanto me cativou. Os olhares por fim se cruzaram, levando-me a sentir uma necessidade angustiante de cuidá-la, e arrancá-la do abismo ao qual se submeteu, provavelmente para salvar sua própria pele. Estou mais disposto do que nunca a compreender o que uma dama tão bela pretende trancafiada em um porão imundo de uma mansão abandonada, e claro oferecer minha inteira solidariedade à ela.

                                            
Capítulo 3


                                                                ~Michael~
 
                                                                                                                                               

Sou Arizona, Sr. Rompeu o silêncio sepulcral, ratificando ser a irmã da garotinha inteligente que encontrei ferida. 


—  Sua irmã, eu encontrei-a ferida e ela me pediu para vir ajudá-la. Esclareci, me afastando alguns centímetros dela para deixá-la mais a vontade.


 Como ela está? Pelo amor de Deus, Sr., se algo aconteceu à ela... - cure minha irmãzinha, - Anabelle, foi buscar comida com um amigo nosso, ele sempre traz, mas hoje não pôde... Salve-a! Suplicou agarrando minhas mãos.


Hey, farei o que estiver ao meu alcance, algumas pedras desabaram e...apenas confie em mim e pode me chamar de Michael, é o meu nome. Acariciei os cabelos sedosos dela, mas minha Julieta balançou a cabeça abruptamente, quebrando o contato. 

 Agradeço o que fez pela minha irmã. — Pela primeira vez um sorriso amplo brotou de seus lábios carnudos e convidativos, deixando-me fora de órbita, entorpecido com a beleza da moça. Paixão proibida com certeza não fazia parte de meus planos, no entanto não quero evitar ou tampouco fugir do amor, muito pelo contrário em poucos segundos deixei-o me encontrar e entrar dentro de mim.


Não precisa agradecer, Srta.? Quis instigá-la a confiar em mim, me contar sobre sua família ou o que restou dela.


Frankfurt. Apresentou-se formalmente e ousei beijar o dorso da delicada mão da fabulosa menina que arrematou meu coração.


 Prazer, perdoe-me a indelicadeza, -  encantado, Srta. Frankfurt -, Michael Jackson.Reiterei minhas saudações à ela, usando o sobrenome de mamãe para me apresentar já que misteriosamente não possuo o sobrenome de papai, certamente ela não quis me registrar com o sobrenome do homem que só a trouxe decepção e do qual pretendia se separar. Um sorriso demasiadamente adorável e belo se desenhou nos lábios rosados de Arizona e isso é o suficiente para me fazer esquecer de todos meus problemas familiares.


 É alemão Sr. Jackson?Fitou-me receosa, e eu captei pelo tom irregular de sua voz o quão teme uma resposta positiva.


 Sim, mas não concordo com as ideologias doentes de Hitler... Retruquei agressivamente e suas feições rígidas se relaxaram subitamente.

 

 E sua família, Michael? Indagou visivelmente desapontada. 


Infelizmente, minha mãe faleceu quando eu era somente uma criança, vivo com meu pai, nos mudamos para Varsóvia por ordens de terceiros, papai presta serviços para àquele maldito! Bradei cerrando os punhos.


 Então seu pai faz parte dos infelizes que auxiliam Hitler a destruir judeus e roubar seus pertences como fizeram com minha família? Eles desintegram nosso povo por ambição, sede de poder ou sabe-se lá porque. Repudiou as atitudes desumanas praticadas por mandantes de nazistas. A dor é visível no olhar devoluto de Arizona, há também rancor refletido por terem lhe separado de seus pais, creio eu, é disso que se trata.


 O que aconteceu com seus pais?Incitei-a a me revelar as crueldades que cometeram contra seu povo.


Os nazistas os levaram, reviraram a mansão de canto a canto, roubaram tudo que tínhamos de valor e levaram papai e mamãe para algum lugar, não encontramos pistas, rastros,absolutamente nada, nunca saberei onde eles estão. Talvez, já tenham sido mortos. Minha irmã e eu estamos a salvo porque mamãe resolveu que deveríamos ficar escondidas no porão justo naquele fatídico dia no qual nossa casa foi invadida. Desde então um Sr. generoso tem ajudado eu e Anabelle, ele trás comida e tudo o que consegue de útil. Gregory, também me mantém informada a respeito dos últimos acontecimentos da guerra e sobre as façanhas dos nazistas. Suspirou pesarosa, liberando parte de sua angústia e partindo meu coração com sua história excessivamente trágica. É doloroso pensar que meu pai, o homem que por muito tempo considerei um herói é cúmplice de tamanha barbárie.


 Sinto muito. —  Circundei as bochechas de Arizona com a ponta de meus dedos e ela esquivou-se bruscamente, se negando a corresponder ao meu toque. 


 Pare! Gritou consternada, e seu tom autoritário deixou-me mortificado. Não permito que me toque ou desrespeite-me. Repreendeu transtornada, se defendendo vorazmente do que acredita ser uma ameaça. Jamais seria capaz de ofender e faltar com o respeito a qualquer mulher, não é quem sou. 


Oh, me desculpe, essa não foi minha intenção, peço mil desculpas Srta. Frankfurt, isso não condiz com meu caráter.  Reparei meu ato impulsivo. Sei que é uma moça de família e princípios.Completei constrangido com minha falta de controle em tocar indevidamente uma garota que aparenta ser frágil e pura.


Quero esclarecer, que não sou uma "meretriz", portanto não seja insolente. Reforçou sua indignação, elevando minha vergonha a um nível perturbador.

 

Não pensei em um disparate como esse, jamais o faria. Prometo, que isso não irá se repetir, foi um impulso, perdi totalmente o bom senso. Expliquei constrangido, afinal não se deve tocar uma dama inapropriadamente.


É melhor esquecermos esse "incidente". Sugeriu timidamente. Arizona consegue ser ainda mais linda enrubescida. 


Faço questão de ajudá-la, virei todos os dias para ver como está, assim lhe trago notícias de Anabelle e alguma coisa nutritiva. Afirmei entusiasmado com a hipótese de visitar minha doce menina com uma certa frequência. 


É muito arriscado, agradeço seu empenho em me ajudar, mas não posso aceitar, Michael. Ondulou a cabeça negativamente, renegando minha proposta de oferecer-lhe apoio. 


Terei que contrariá-la, pois estou certo sobre meu dever de cuidar da Srta. e pretendo protegê-la bravamente. Enfatizei seguro quanto ao meu propósito de manter Arizona sã e salva.


 Obrigada, já vi que estou encurralada, não me resta outra alternativa, cederei aos seus anseios. Conformou-se que aceitar minha amizade é o único caminho a seguir.


 Ótimo, espero que passe a me enxergar como um fiel amigo. Estendi minha mão direita e Arizona apertou-a fracamente, já que mal tem forças para se mover. Decerto, vive feito uma miserável , imagino o quão escassas sejam as refeições dela.


 Selamos nosso elo de amizade Sr.Jackson. Anuiu solicita. É notório o quão ela passa a impressão de ser uma moça possuidora de um nobre coração e uma doçura incontida. 


Fico extremamente aliviado em ouvir isso da sua boca. Exteriorizei parte de meus sentimentos. 


 Já deve estar anoitecendo, volte para vigilância de seu pai, com certeza tem muitos assuntos pendentes. Como por exemplo, quantos da minha espécie irão dilacerar. Satirizou, desenganada quanto a um possível término da guerra.


 Talvez, não tenha sido suficientemente convincente, - pertenço a oposição,-  embora naturalizado como um legítimo alemão, discordo e repudio qualquer gênero de conflito bélico. Rebati ríspido. Detesto bancar o carrasco, porém às vezes é inevitável ser austero. 


 Confio em você, é loucura uma judia condenada se agarrar a esperança de que alguém que carrega nas veias sangue alemão irá me libertar dessa prisão obscura, limitada a medo, aflição e dor. Desabafou, permitindo que o choro que tentou reprimir a assolasse, debulhando-se em lágrimas amargas. Nada me afetou como o choro compulsivo dela, me machucou brutalmente vê-la na posição de mulher abandonada.


Eu lhe imploro, não chore, é insuportável para mim presenciar um anjo como a Srta. nesse estado. Ergui o queixo dela com dois de meus dedos para ter acesso irrestrito a sua beleza angelical. Novamente, Arizona fugiu do contato direto, dessa vez abaixando a cabeça. 

Precisa ir...seu pai pode dar por sua falta, e estará perdido se ele... Interrompi Arizona, silenciando-a ao levar meu dedo indicador aos seus lábios macios. 


 Shh, não diga mais nada... Já estou indo. Segui o conselho dela, rumando apressado para a escada do porão que dá acesso ao andar superior da casa, e deixando a garota dos meus sonhos sozinha, eu parti da mansão na qual encontrei o verdadeiro sentido da vida: o amor.





                                            
Capítulo 4


                                                                ~Michael~
 

— Menino seu pai perguntou por você no jantar, deveria ter descido. Onde esteve durante todo o dia? — Matilde a governanta que cuida do bem estar de minha família e os demais afazeres domésticos desde que nasci adentrou meu quarto agitada.


— Isso não importa, a mim Ernest não irá moldar, minha vida, minhas escolhas.— Fechei o livro o qual tanto tem me ensinado sobre o territoriais inviolável e indestrutível do amor. Romeu e Julieta tem me acompanhado ininterruptamente desde que me mudei de Berlim.


— Conheço meu menino há quase três décadas e garanto que está escondendo algo. — Matilde decifrou rapidamente o motivo de meu nervosismo exacerbado.


— Não existe mesmo uma maneira de ocultar-lhe um segredo. — Ri, dando um tapinha na cama, a convidando para sentar-se.


— Conte-me o que o atormenta. — Frisou se sentando de frente para mim na luxuosa cama.

— Conheci ocasionalmente uma belíssima dama, ela é uma deusa de ternura e benevolência. — Elogiei meu doce anjo aos suspiros.



— E posso saber qual o tipo de feitiço essa moça fez para arrebatar teu coração à primeira vista? — Indagou retraindo o cenho ligeiramente.


— O nome dela é Arizona Frankfurt, é descendente e filha de judeus... Leva seus dias em um porão gélido para se esconder dos nazistas.Sua família foi levada pelos colegas de trabalho de Hitler, e ela não teve notícias deles após isso, nem sabe se seus entes queridos estão vivos ou o destino que tiveram. — Expliquei resumidamente.


— Santo Deus, tenha misericórdia! Uma judia, vosso pai jamais abençoará uma união como essa. — Elucidou, temendo o inferno que isso pode vir a gerar no meu relacionamento nada amigável com papai e de fato terá efeitos devastadores.


— Eu sei, tenho plena consciência no que estou me metendo, e além do mais já me envolvi demais... Seria crueldade deixar a garota presa naquele porão imundo, em um dia não muito distante trarei Arizona para essa casa...— Adiantei a Matilde minhas futuras pretensões e ela arregalou os olhos perplexa com minha coragem.


— Será uma tarefa demasiada difícil, Sr. Ernest desenvolveu aversão pelo povo judeu. — Sentenciou descrente de que eu seja capaz de amolecer o coração de pedra do meu pai.


— Se não tiver a bênção dele seguirei adiante de qualquer maneira... Soa como lirismo romântico, contudo, meu coração grita que aquela é minha outra metade. Arizona me encantou naturalmente e fez meu mundo mais vívido, renovou minhas esperanças e a fé no amor. É ela a mulher perfeita para me fazer o homem mais realizado do planeta. — Enalteci sorrindo feito um embasbacado apaixonado.


— Realmente está arrematado, méritos de uma bela mulher. — Gargalhou discretamente e eu levantei as mãos para para alto em sinal de rendição.


— Não uma garota igual as outras, Arizona é distinta, delicada e firme naquilo que julga relevante, tão meiga e de personalidade explosiva ao mesmo tempo... Pode parecer cedo para dizer que a amo, antemão nunca senti essa sensação, ela me causa borboletas no estômago somente ao sorrir. — Divaguei lembrando das emoções sublimes que Arizona me fez experimentar.Duvido veementemente que esteja equivocado, a voz do coração não mente ou se engana.


— Desejo que seja feliz menino, e se essa garota pode completa-lo, invista nela. — Aconselhou Matilde. — Bem, dê-me licença, tenho que criar o cardápio de amanhã. — Retirou-se elegantemente dos meus aposentos, levantando algumas questões em meu íntimo. Estarei eu criando expectativas em cima de algo fadado ao declínio? Criando ilusões de que enfim minha Julieta surgiu? Quando na verdade todo meu desespero em possui-la pode não passar de um capricho egoísta.

*** 

— Mal provou o pedaço de bolo que Ana serviu-lhe ou bebericou o suco, e pelo que constatei está evitando me encarar diretamente. — Papai se manifestou largando bruscamente a xícara de chá na mesa onde cotidianamente nos fartamos de guloseimas na refeição primordial do dia.


— Não lhe devo explicações relacionadas ao meu comportamento e minhas ideologias pessoais. — Revidei o sarcasmo dele à altura, e ele levou o guardanapo que tinha no colo até o canto externo nos lábios a fim de disfarçar sua fúria e incômodo visível.


— Você mora comigo, sou eu que cubro todos seus os gastos e tenho cooperado com seus feitos heroicos e humanitários os quais julgo como irrelevantes, uma total perda de tempo. — Alegou altivo, articulando suas respostas baseado na praticidade e valores impostos por nazistas. selvagens.


— A culpa de eu ter sido praticamente obrigado a abandonar os estudos é exclusivamente do seu egocentrismo e ambição. Desenvolveu o senso de compaixão pelo próximo? Deixe-me responder em seu nome.Não! São sempre suas prioridades, e claro o dinheiro sujo que ganhará à custa da desgraça alheia. — Vociferei em protesto a ganância monstruosa dele. Ando exaurido de ser omisso, não posso simplesmente fechar os olhos para a dor dos outros e fingir que nada tem acontecido.Sinto que há sujeira escondida por trás dessa guerra e as máscaras ainda irão cair. A extensão do genocídio certamente é gigantesca ao ponto de me subir uma ânsia de vômitos pela garganta apenas ao imaginar os prejuízos morais, psicológicos e financeiras que uma parcela considerável de seres humanos está sendo submetida.


— Cale a boca! — Apontou o dedo indicador na direção central do meu rosto. Seus músculos enrijecidos e o maxilar travado mostrou-me o quão minhas palavras o abalaram.


— Sim, eu o farei, é inútil ser contrário a suas condutas aristocráticas. — Elevei exponencialmente o timbre da minha voz, jogando delicadamente o guardanapo no prato e levantando-me da cadeira mecanicamente.

Dei as costas ao Sr. todo poderoso sumindo pelos opulentos corredores da casa, embora ele merecesse ouvir umas boas verdades contive a raiva me tranquei no meu quarto e passei o resto do dia lendo, inerte em meus pensamentos.

*** 

— Posso entrar? — A voz arrependida ressoou pelas paredes do meu quarto revelando que meu pai almeja provavelmente algum tipo de reconciliação.


— E desde quando eu dito as ordens? — Provoquei e o ranger da porta sendo aberta preencheu o ambiente. Por fim a figura fadigada de papai se pôs a minha frente.


— Sabe que muitas vezes ajo por impulso filho, lhe devo desculpas pelo episódio lastimável de hoje no café da manhã. — Soltou um longo e doloroso suspiro e pelo olhar melancólico dele percebi que a consciência pesou.


— Já virou um hábito para mim perdoar suas infâmias, não é novidade sua personalidade prolixa. — Dei de ombros desviando sutilmente o olhar do meu romance favorito para direcionar à atenção de meu pai.


— Eu sinto tanto... realmente fui infeliz em minhas críticas, deveria ter sido menos intransigente. — Lastimou-se.


— Não importa mais, dispenso as lamúrias, está tudo bem agora. — Fingi um conformismo que de fato não agrega meus princípios no intuito de pôr um fim definitivo na dialeto.


— Michael, parece estar sempre tão distante desde ontem vive suspirando pelos quatro cantos.Por acaso conheceu alguma garota? — Arqueou as sobrancelhas e eu sobressaltei com o questionamento aparentemente retórico.


— Exato, é isso mesmo. — Concordei. — Há sim uma belíssima e distinta dama me enlouquecendo. — Ri timidamente, sabendo que precisarei de muita persistência para conseguir a aprovação dele em relação a querer tornar um judia minha legítima esposa.


— Espero que a tal moça seja digna e honre o sobrenome de nossos ancestrais. — Salientou rígido. — Eu a conheço? Porque se não, gostaria de fazer as apresentações formais... — Destacou.


— Ela é uma moça recatada e tímida, suas concepções religiosas são muito rigorosas, então terei que ir com calma e ser paciente com meu anjo. — Evidenciei a fragilidade de Arizona, ocultando a questão primária da questão, ela é judia...e essa informação não pode chegar aos ouvidos de papai.


— Compreendo, aja com cautela nada de ir direto ao ponto... Ainda mais se ela é uma menina de boa índole, - trate-a como uma rainha e terá sua recompensa, - já que todas são "iguais". — Aconselhou duvidando que estou me referindo a uma mulher pura. A oscilação de sua voz é notória o suficiente para eu tirar minhas conclusões a respeito do comentário tendencioso dele.


— Por quê está usando de tanto sarcasmo? — Disparei secamente. — Por favor, Arizona é diferente das mulheres mundanas e exibicionistas que se acostumou à lidar. — Defendi falando além do que posso. O arrependimento agora, me possui subitamente, logo após ter deixado escapar o nome de minha princesa tão naturalmente, atribuo esse deslize ao detalhe desse nome estar gravado em minha memória.

- Qual o sobrenome essa ninfeta carrega?_Objetivo e firme, finalmente meu pai retomou o posto de "monarca irredutível".

— Isso não lhe diz respeito! — Respondi sem pestanejar. A gentileza dele sempre foi efêmera.


— Pode ter certeza que seus interesses também são os meus. — Levantou uma de suas sobrancelhas e sorriu sem mostrar os dentes. 


— Não permitirei que comande minha vida, esse direito nunca lhe será concedido. — Adverti soberbo.


— Pois, enquanto morar debaixo do meu teto e for um Scruse honrará seu pai. — O verdadeiro Ernest ressurgiu ainda mais cruel e prepotente.


— Havia me esquecido de suas características obsoletas, e por ventura do destino não carrego teu sobrenome, somente o sangue...— Ri previamente e ele direcionou-me um olhar mortífero.


— Parece que uma garota desprovida de berço e classe destruiu seu bom senso, porque definitivamente, estou levantando a hipótese te arcado com seus estudos foi um total desperdício de dinheiro. Expôs seu desgosto comigo desdenhando Arizona antes mesmo de conhece-la ou tomar partido de quem ela seja.


— E o que está esperando para acabar comigo? Vamos, desconte sua fúria em mim. — Incitei cego de ódio.


— Seu bastardo! — Rosnou voraz cerrado os dentes com uma força descomunal.


— Prefiro ser um bastardo que herdar seu caráter imundo! — Rebati no torpor da ira, usando toda a potência de voz que minhas cordas vocais permitiram.


— Irei levar em consideração que seus instintos foram afetados por essa paixão fora do comum, insana e fervorosa. Fingiu um certo conformismo e utilizou de cordialidade para cessar nossa discussão sem fundamentos.


— Certo, pense como quiser e não se atreva a vasculhar minha vida particular, nem sei do que seria capaz. — Avisei inflexível em compactuar com uma invasão dessa proporção de papai em meus assuntos estritamente pessoais.


— Vou deixá-lo descansar e refletir sobre seu comportamento petulante e abusivo. — Anunciou seus próximos passos e prontificou-se a sair do meu espaço.

 Escutei o barulho de uma maçaneta sendo girada e simultaneamente o estrondo ensurdecedor da porta que ele bateu violentamente ao sair de minhas vistas. Papai se engana ao achar que conseguirá me dominar com seus métodos opressores... Não sou um dos soldados de Hitler que o obedecem fielmente e temem pela própria vida e não admito que ele me trate com tamanha falta de respeito.



                                            
Capítulo 5


                                                                ~Michael~
 

Só dessa vez Matilde... Me ajoelhei nos pés de minha confidente e única figura materna na qual me inspiro desde a partida prematura de mamãe. 


Menino isso é como cravar uma espada no peito e esperar não sair ferido. Fez uma analogia metafórica sobre o tipo de perigo eminente que me submeto ao querer ir visitar Arizona. E o que eu poderia fazer além de oferecer apoio àquela encantadora garota?


 Muito em breve a esconderei aqui. Entreguei a Matilde quais serão meus próximos passos e o plano de tirar uma princesa de um porão escuro e solitário.


Certo, farei uma cesta com frutas e quitutes para sua "futura esposa". Concordou relutante, atendendo as minhas súplicas contrariada.


 Muito obrigado, sabia que podia contar com você, sempre foi meu anjo da guarda. Jamais me abandonou. Apertei as mãos enrugadas dela em forma de gratidão e constatei a preocupação que tem em sermos descobertos antes mesmo de Arizona poder desfrutar do sabor de uma maçã.


  Seu pai citou ontem que talvez viaje para cumprir algumas"missões" destinadas a ele. Matilde deu-me um notícia extraordinária que serviu de acalento para meu coração inquieto.


 Decerto ele não deixou escapar para onde irá ou qual é o teor violento dessa "missão". Exprimi os olhos irritado apenas ao presumir o tipo de métodos desumanos que são utilizados na guerra. Posso não ter acesso irrestrito e veloz as informações, mas sinto que Hitler é voraz e astuto, há muito sangue derramado, os estragos vão além do que denunciam as estações de rádios.


Também acredito que Hitler seja maléfico, ele me causa arrepios quando o vejo discursar. Admitiu com uma expressão de puro asco.


 O mais perturbador é imaginar que papai faz parte de toda essa carnificina. Às vezes me pergunto para onde os judeus tem sido levados após serem desalojados pelos nazistas? É um grande mistério, talvez para um lugar aonde sejam como escravos, e possam trabalhar para fabricar a matéria prima gasta na guerra...Arrisquei um palpite palpável.


 Quem sabe menino? Um dia tudo virá à tona, embora, seja difícil aceitar esse massacre sabemos o grau de maldade que o homem é capaz de chegar. Reafirmou sua crença na indiscutível poder da justiça divina.


 Esse dia será glorioso e libertador para mim, é uma pena que ao meu ver isso irá demorar a acontecer, Hitler não faz o gênero de quem se rende ou desiste de seus objetivos grandiosos_Conclui triste em estar à par de uma pequena parcela dos interesses ambiciosos de Hitler.- A Europa está sendo devastada, minhas esperanças estão se dissipando Matilde... Recapitulei os estragos mórbidos da guerra.


Querido, terei que deixá-lo preso em seus pensamentos, mas se permita não se torturar por algo que foge de seu controle. Tenho que ir agora, sua formosa pretendente necessita de alimentos nutritivos e eu terei de preparar. Enfatizou solícita, pondo-se ao meu dispor para ajudar Arizona. 
Consenti positivamente com a cabeça incentivando-a em sua tarefa benevolente de cozinhar para a garota que desejo tornar minha esposa.

                                                         (...)


Humm, o cheiro está dos deuses. — Elogiei entorpecido pelo aroma que exala da cesta que Matilde entregou-me. Os dotes culinários dela são dignos de prestígio.


 Não vá comer a comida da moça. Deu um tapa no meu ombro, me repreendendo exatamente por já ter tomado conhecimento do meu fraco por suas guloseimas.


 Prometo resistir à tentação. Jurei aos risos, cruzando meus dedos em forma de cruz e levando-os aos meus lábios para selar a promessa.


Ótimo, é melhor se apressar, assim chegará antes do jantar estar servido e não levantará suspeitas. Orientou querendo me privar de mais um confronto com o Sr. Ernest.


Acalme-se o motorista já está à minha espera... Ele me deixará no local onde encontrei a irmã de Arizona ferida. Peter prometeu guardar segredo. Declarei deixando-a mais confiante. Agradeci novamente Matilde pela gentileza e a lealdade e me dirigi para a rua paralela a minha casa, no lugar exato onde está o carro que papai deixa sempre a minha disposição caso precise trabalhar.

*** 

E quem diria que voltaria a pôr meus pés nesse lugar? Respirei profundamente desviando meu olhar para o chão da mansão abandonada em que minha doce princesa está aprisionada e faminta por uma companhia. Deixei a parte cerimonialista de lado e afastei quaisquer pensamentos negativos, me prontificado a seguir até o porão localizado na dimensão abaixo do andar térreo do local.


Assim que a passagem de madeira que dá acesso ao esconderijo de Arizona se abriu e eu adentrei o porão meus olhos percorreram o ambiente desagradável que me remete a melancolia para só então atravessarem os estreitos olhos verdes de Arizona. Ela tentou disfarçar o incômodo em me ver novamente em sua frente mas não conseguiu me enganar. Minha presença soa ameaçadora para esta ingênua judia, ela tem sido uma alma perdida vagando pela solidão desse porão desde que lhe arrancaram sua família. Como pode ser receptiva com um estranho que tem sangue alemão correndo nas veias?


Cautelosamente, ousei me aproximar mais alguns centímetros dela, sendo o mais natural possível e dei alguns passos a frente alcançando o colchão surrado no qual ela está sentada com os braços atrelados em torno de seus joelhos. Mesmo tão abatida, magra, e visivelmente amedrontada Arizona tem um toque de feminilidade encantador e isso basta para que eu me sinta atraído e absolutamente cativado por sua aura pura.


 Então você veio mesmo...— Arizona Inclinou o pescoço sutilmente para me fitar por um ângulo melhor.


Não é de meu feitio descumprir minha palavra. Adiantei-me para desarmá-la antes que ela o faça comigo. Arizona se remexeu no colchão e balançou a cabeça em sinal de resignação, aceitando meus argumentos sem se impor.


Está bem, podemos tentar nos tornarmos amigos, o tempo dirá se temos alguma afinidade. Cedeu a minha proposta, desfazendo a compostura de temor.


Não irá se arrepender Srta. Frankfurt.Estendi a mão para felicitá-la por confiar em mim e ela apertou meus dedos com firmeza sem hesitar. 


 O que tem aí?_Rolou seus olhos verdes curiosos pela cesta que carrego em uma das mãos. 


 Trouxe comida, água e creio ser o suficiente para um bom tempo. Decretei abrindo o recipiente carregado de frutas, pão, queijo, e claro algumas das receitas deliciosas de Matilde preparadas exclusivamente para a garota que sonhei conhecer. Enquanto tiro os mantimentos da cesta Arizona parece embriagada com o cheiro das frutas. É compreensível a atitude dela, mal deve ter agua para a higiene pessoal. Para alguém nessa situação um prato de comida representa a realização de um sonho.


Me enganei ao seu respeito. Redimiu-se dos últimos atos indelicados que cometeu, bebendo um pouco de suco de laranja e mordendo uma maçã. Suas feições suavizadas indicam felicidade, é como se ela estivesse no céu ao devorar uma maçã suculenta. Francamente não consigo imaginá-la mais adorável do que nesse cenário, degustando uma fruta delicadamente e se deleitando com o sabor da mesma. 


  Que bom que gosta de maçãs. — Exclamei ainda fascinado com a cena e arranquei uma risada liberta dela.


 Maçã era minha fruta preferida antes de me enfiar nesse porão. Confidenciou subitamente.


 Oh, sério? E por que não é mais?. Indaguei retraindo o cenho, atento ao semblante indecifrável dela.


 Não sei... - na verdade ainda aprecio maçãs,- mas elas trazem trazem lembranças dos velhos tempos e isso me entristece...Suspirou profundamente, descendo os olhos pela fruta demasiadamente vermelha como se viajasse em suas memórias.  Eu costumava passar a maioria do tempo com papai, no jardim que já não existe mais, haviam macieiras... tinha o costume de correr e me esconder entre as flores e sempre carregava uma maçã comigo para degustá-la em meio as roseiras. Meu pai tinha verdadeira paixão por esses momentos, era divertido... Riu polidamente, alegrando meu coração com sua meiguice e seu jeito autêntico de ser.


 Sendo assim, da próxima vez trarei mais maçãs. Assegurei sorridente, me sentando no colchão velho ao lado dela, tentando uma aproximação válida.


 Serei eternamente grata por sua ajuda, Michael. Posso chamá-lo sem formalidades? Questionou hesitante, logo depois se servindo de mais suco de laranja em dos copos de cristal que eu trouxe para esse fim. Naturalmente meus olhos se cruzaram com os dela, e ao ficar tão próximo à ela notei que o canto externo de seus lábios estão graciosamente sujos de suco de laranja. Tentador, define perfeitamente bem como me sinto, principalmente porque ousei limpar a boca de Arizona com o dorso de minha mão, ultrapassando os limites que foram estabelecidos. Inutilmente me arrependi do ato impulsivo, mas é tarde demais, já o fiz. Arizona recuou, recusando meu gesto carinhoso e fazendo de mim o mais desolado e infeliz dos homens.


 Sinto muito, não deveria ter...

Sabe que não me renderei a você ou me entregarei, não é? Nem por toda comida do mundo eu o farei, minha dignidade é sagrada. Repito: Tenho decência e me deve respeito. Exaltou-se reivindicando uma postura respeitadora de minha parte. Dói, sim, é torturantemente dilacerante ser privado de tocar a mulher pela qual impropriamente me apaixonei à primeira vista. Mesmo sofrendo e a contragosto aceitarei as exigências de Arizona. É absolutamente normal o medo que ela nutre por mim, afinal tem sofrido muito e confiar em alguém, entregar o coração a um desconhecido deve ser a última coisa que meu anjo fará tão facilmente...


                                            
Capítulo 6

                                                                ~Michael~
  


— Se essa é a condição que impõe para que eu venha visitá-la eu compreendo e compactuo. De agora em diante não me portarei como menos do que um completo cavalheiro. — Garanti cordialmente.


— Vejo que não teremos mais que discutir a respeito de seus ímpetos romântico. Aproveitando nosso acordo de paz, Michael, seria possível eu ter acesso à notícias sobre o estado de saúde de minha irmã? — Questionou notoriamente angustiada ao tocar no assunto. Tentei dispersar meu olhar para o o lado oposto do porão, mas preciso colocar o coração na linha e me dispor a ajudá-la.


— Eu lhe trarei novidades, amanhã mesmo irei ver sua irmã. — Aquietei a garota frágil e aflita que tenho a sorte de fazer companhia. Arizona inclinou a cabeça para o chão e após suspirar me encarou melancólica.


— Nem sei o que faria caso Belle viesse a... — Ponderou as palavras, falhando em completar a frase. Toquei o queixo dela cuidadosamente, evitando criar atrito em nossa amizade novamente. Como posso fechar meus olhos mediante a dor dela? Se ela permitisse a acolheria em meus braços e a encheria de afagos nos cabelos. 


— Sei que é solidário a minha situação deplorável... Sinto estranhamente que se importa comigo. — Quebrou o contato confiando seus sentimentos a mim o que de fato deixa-me à beira de um precipício de emoções. Inicialmente ela não retribuía a minhas gentilezas, agora acredito que poderei ser um amigo ou quem sabe um confidente para ela?


— Eu sinto muito por sua família...— Ressaltei enfaticamente. — Anabelle mostrou-se uma menina amável, para uma garota ingênua sua irmão me surpreendeu, apesar das dores que deveria estar sentindo graças as pedras dos restos de entulhos que desabaram sob cabeça dela não se acovardou. Elucidei verdadeiramente comovido com a força incomensurável de Anabelle.


— Belle sempre foi a filha mais espevitada, embora num primeiro momento aparente ser simplesmente uma garota comum do nosso tempo, no seu íntimo habita uma rebelde audaciosa. Ela combate as circunstâncias, às vezes desejo ser assim, corajosa como ela. — Lamentou arduamente não possuir a conduta de uma pessoa destemida e intrépida.


— Não se desgaste com tais pensamentos, és tão especial como tua irmã. Sua beleza transcende os limites do céu, devo dizer-lhe que pode confiar em mim, farei o improvável para vê-la sorrindo. — Enalteci arfando de paixão. Um sorriso amplo se formou nos lábios de minha "Julieta" como um sinal reservado de  retribuição aos meus "singelos" elogios. Jamais vislumbrei algo divino como o sorriso dela, vem diretamente da alma, e aplaca todo o vazio de minha vida. Arizona herdou o brilho nos olhos das estrelas e creio também que os dentes reluzentes agregam singularidade a delicadeza aos traços minuciosamente delicados do rosto dela.


— Por favor não me deixe encabulada, Michael. — Suplicou tomada por um rubor sutil que espalhou- se por entre suas bochechas já naturalmente rosadas.


— Permita-me ser sincero, sabe que é merecedora de minhas palavras. Uma flor de formosura deve ser devidamente cuidada. — Reintegrei minha admiração por ela, - de fato, - agindo feito um cavalheiro que resgata sua princesa em um cavalo branco. Não me incomodo de soar piegas, sigo a linha romântica de Shakespeare, o que seria o amor sem os dialéticos dramáticos? Nada além de um termo usual da língua.


— Oh, então acaba de conhecer meu outro lado, sou tímida ao extremo. — Lastimou terrivelmente envergonhada com meu galanteio.


— Sinto muito, tentarei sustentar a compostura discreta. — Dei uma piscadela quase imperceptível o que foi o suficiente para a face enrubescida de minha donzela ser dominada por graça.


— Aceito de bom grado sua gentileza, porém deve ser menos claro, quero dizer...ousado. — Corrigiu afoita.


— Compreendo, bem, preciso voltar antes do anoitecer Srta. Frankfurt.— Aleguei desapontado devido a rapidez que o tempo corre quando estou perto dela. A despedida é uma dor tão suave que eu poderia repeti-la até o amanhecer.


— É aconselhável que vá rapidamente. Muito obrigada por vir e pelo gesto nobre de me trazer comida Michael, pode me chamar de Arizona, é desnecessário um tratamento tão formal entre nós. — Surpreendeu-me ao dispensar o cerimonialismo em nossa relação amistosa. 


— Será como deseja, até breve Arizona.— Despedi-me dela com uma reverência e acenei antes de subir pela escada que leva até a entrada secreta para o porão que se localiza abaixo de um tapete da sala da mansão.


*** 

— Ela é minha alma gêmea Matilde, encontrei alguém que me completa. Hoje até me concedeu a honra de sua companhia e conversamos informalmente. Arizona é dotada de inteligência e sentimentos puros, em seu coração só existe bondade. — Divaguei relembrando as palavras simplórias, todavia ainda assim inspiradores que minha bela dama proferiu.


— Alguém levou uma flechada certeira do cupido aqui, antemão, alerto, não oculte do Sr. Ernest suas pretensões de se envolver seriamente com essa moça. — Avisou e eu sobressaltei de ímpeto. Omitir de papai minha paixão indomável por uma judia me causará conflitos estarrecedores.


— Deus, sei disso, não paro de martirizar tal detalhe por um segundo sequer. Nem o torpor da paixão aplaca o medo da fúria que isso despertará em meu pai. — Desabafei, me levantando consternado da cama centralizada no meu quarto opulento o qual sempre uso para revelar meus segredos a Matilde.


— Menino, quanto mais adiar um confronto maior é a possibilidade de declarar guerra ao vosso pai. — Sustentou sua concepção.


— Não posso, definitivamente ele estragaria tudo, nem tornei realidade meu sonho de conquistar Arizona, necessito de tempo... — Justifiquei nitidamente inseguro e perdido.


— Faça como achar melhor. — Deu de ombros claramente resignada, fazendo o trajeto até a saída da suíte. Logo depois escutei o ruído de uma maçaneta sendo girada e Matilde deixou meus aposentos. 

Ela está coberta de bom senso minhas alegrias violentas podem vir à falecer como a pólvora que se transforma em fogo.



                                            
Capítulo 7

                                                                ~Michael~
  


— Desde quando perde o apetite, Michael? — Papai insinuou não convencido de que é normal eu não ter tocado no espaguete ao molho sugo e estar indiferente à  presença dele durante todo o jantar.


— O dia foi exaustivo...— Limitei-me a responder e joguei o guardanapo na mesa bruscamente, ou mais rebuscadamente dizendo, o instrumento que utilizo para limpar os lábios.


— Não irá me comunicar o motivo de seu comportamento misterioso? — Contestou, largando milagrosamente a taça de vinho para direcionar seu olhar repressivo inteiramente a mim.


— Se me der licença, vou me retirar, boa noite! — Desconversei alheio aos questionamentos intromissivos dele.

— Você fica! — Bradou intransigente.


— Por quê tem que ser um soberbo intolerante? Minha vida particular não lhe diz respeito, portanto, nada a acrescentar. — Contrariei-o, fazendo menção de me levantar da cadeira.


— Superei a fase de atacar verbalmente meu maldito filho ingrato. — Gargalhou gloriosamente.


— Você é perverso Ernest Scruse. — Repudiei severamente a sordidez nata dele cumprindo a ameaça de me levantar . Sentindo-me encurralado e ultrajado dei as costas ao altivo homem que custo a reconhecer como tendo um elo sanguíneo comigo.

                                                          (...)

— Madrugou filho?— Indagou retoricamente papai ao me analisar indiretamente dar um nó na minha gravata favorita em frente ao espelho centralizado próximo a porta do meu quarto.


— Perdeu os bons modos? Ah, claro, se esqueceu de bater na porta novamente. — Provoquei irônico, ignorando a pergunta incisiva de papai. Ele detém o poder me provocar mal humor em plena matinê.


— Está se arrumando tão... diferente. Impressionante! O que uma mulher promíscua e experiente não faz com a vida de um homem centrado? — Atingiu-me propositalmente, insultando cruelmente a garota mais ingênua que já conheci. Fuzilei-o com o canto dos olhos e me preparei para atacá-lo.


— Cale-se! Seu imundo! Recupere seus escrúpulos, talvez, daqui há um milhão de anos luz adquira o direito de depreciar minha...


— Sua amada. — Completou satisfeito com meu impulso em falar a além da conta. Droga! Mas ele praticamente me induziu a cometer essa gafe, tocou em meu ponto fraco: Arizona.


— Sim, exato, sente-se vitorioso agora? Pois então, deixe-me em paz! — Ordenei trêmulo e descontrolado.


— Dr.Greg veio falar com você, adiantou que traz notícias sobre um paciente importante. — Mudou o rumo do assunto o que não me desagrada de forma alguma. 

Ótimo! Diga a ele que já desço! — Instrui terminando de ajeitar o paletó.


— Certo, ele está no escritório! Irei transferir o recado, e vamos se apresse, ele o aguarda no meu escritório. — Repreendeu e antes mesmo que eu me recupere das atrocidades que papai proferiu o baque ensurdecedor da porta sendo batida feriu meus ouvidos. Tenho que me restabelecer, e não transparecer esse nervosismo a Greg.— Exclamei diante do meu reflexo fadigado no espelho.

*** 

— Greg, nunca pensei que diria isso, mas é bom vê-lo. — Estendi gentilmente minha mão para o médico com o qual trabalho há um tempo considerável e ele apertou-a firmemente.


— É lamentável que venha tratar de algo tão desagradável. A menina que socorremos, Anabelle, não resistiu aos ferimentos. — Disparou possuído por uma tristeza eminente. 

O que pensar de uma tragédia dessa proporção? Arizona não saberá lidar com a perda de sua querida irmã, a pobrezinha já sofre o suficiente trancada naquele porão. É um golpe duro demais para um garota supostamente órfã. Meu coração se quebra por ela a cada instante que exerce suas outras respectivas funções vitais de bombear sangue arterial para nutrir os tecidos meu organismo. 


— Era tudo o que eu não gostaria de ouvir. Terei que dar essa notícia ingrata à irmã de Anabelle. — Meneei a cabeça inconformado com a morte prematura daquela menina sonhadora e cheia de vida.


— Santo Deus! Você saiu mesmo à procura de uma judia? — Greg arregalou os olhos incrédulo.


— Sim, ela não mentiu, aliás foi graças a Anabelle que um anjo cruzou meu caminho. Arizona vive escondida num porão em uma mansão antiga de sua família. Não tem ninguém no mundo e agora está absolutamente sozinha, sou tudo que lhe restou. Protegerei-a enquanto tiver dinheiro e respirar. — Atestei contendo uma vontade de chorar enlouquecedora.


— Sinto muito pela perda de Arizona, mas não deveria se arriscar por uma desconhecida. — Argumentou transparecendo desdenho.


— Sua postura egoísta, para não dizer desumana, só me prova por que é uma pessoa frustrada e mesquinha. Contra ataquei livre de qualquer peso na consciência.


— É um alívio romper vínculos com uma traidor da sua laia. — Atreveu-se a revidar, fazendo meus músculos faciais se enrijecerem involuntariamente.


— Queira dar o fora! — Solicitei sorrindo minimamente, muito perto de utilizar de força física para expulsá-lo da minha casa.


— Com todo o prazer. — Consentiu quase correndo para sumir das minhas vistas, sim foi mais seguro para ele desaparecer desse escritório. Sorte de Greg eu não ter partido da agressão verbal para a violência, penso que se começasse a socá-lo não conseguiria parar.




                                            
Capítulo 8

                                                                ~Michael~
  



— Ah, finalmente você veio, Michael. — Arizona alegrou-se ao me rever no porão após alguns dias de afastamento. Salpiquei dois beijos nas bochechas dela e vaguei o olhar pelo teto do lugar, me recusando mentalmente a ter que contar-lhe que Anabelle não está mais entre nós .


— Juro que não farei mais isso, ficar longe de você não ajuda em nada... Francamente, me sinto revigorado de estar aqui. — Confessei desviando novamente meus olhos dos dela. Encarar o semblante apático e empalidecido de Arizona não coopera nada com minha missão de contar a ela sobre o falecimento de sua irmã. 


— Qual o problema? — Tocou meu ombro castamente, despertando em mim um desejo ardente de tomá-la nos braços e sentir o sabor do néctar de seus lábios inacreditavelmente avermelhados. 


— Eu sinto tanto, se estivesse ao meu alcance eu traria Anabelle de volta, mas, é tarde demais, ela se foi... — Desprendi da minha garganta um suspiro de lamentação, observando atento a dor ocupar as feições de Arizona e se refletir especificamente em seu par de olhos meigos. Deveria ter previsto de antemão que uma desgraça desse vigor acarretaria danos intrépidos no coração de uma menina ingênua. Arizona é dotada de uma fragilidade excessiva, e todo seu comportamento ora agressivo, outras vezes inseguro deve ser atribuído a instabilidade emocional a qual está sujeita desde que lhe separaram de seus pais.


— Como você pode dizer que sente muito? Definitivamente, Michael, jamais saberá a penúria que é viver se escondendo, afundado em suas próprias mágoas... Nunca entenderá o martírio que tem sido para mim arranjar forças para abrir os olhos todas as manhãs e enxergar somente a solidão. Há um céu esplêndido e azul lá fora, estrelas reluzem trazendo brilho para os corações de pobres homens desesperançosos, e eu continuo aqui. Sozinha, trancafiada em um porão, perdendo a beleza e o aroma que as flores exalam na primavera. Existe um mundo, singelas criações divinas as quais sou impedida de apreciar. Me dê um motivo para não desistir? O  alguém insignificante como eu pode esperar do futuro? Esse é a minha realidade, vazia como um céu uma noite sem luar, e não é você quem vai me salvar.— Discursou em meio aos soluços e lágrimas, mostrando-me que eu vivo em uma mentira.


Construí um "castelinho de areia" em torno de mim mesmo para me proteger das pressões externas, ou quem sabe afogar meu desejo de persistir os sonhos que enterrei quando parti de Berlim. De repente o Michael que esteve adormecido durante tanto tempo acordou, sinto-me livre, enfim pronto para resgatar o homem audacioso e que sonhava em encontrar uma boa mulher e marcá-la como sua, torná-la uma princesa ou somente ser o único responsável pelo sorriso que desponta no rosto dela logo que o sol nasce e o amanhecer anuncia sua chegada sutilmente. O quão irônico todas essas revelações soam? O suficiente para eu entender que o único que precisa de ajuda sou eu, pensei que poderia salvar Arizona, mas como faria isso sem antes cuidar de meu coração? Foi ela a única a me salvar nisso tudo. Sua inocência me fez entender a importância de fazer bom uso de nosso tempo na terra. Observar um céu estrelado pode ser uma experiência inigualável que perdemos diariamente. A primavera é com certeza a época mais encantadora do ano, nela as flores florescem enchendo o ar com o perfume da esperança. 


— Eu sofreria em seu lugar, se possível lhe devolveria sua vida antiga e traria sua família de volta , acredite, o fato de tecnicamente estar livre não faz de mim um afortunado, em síntese estou tão ou mais preso que você. Longe de ser uma pessoa que usufrui da juventude e tem motivação para viver, sou um infeliz! — Manifestei-me. — Estou despindo minhas emoções aqui, Arizona, quero que visualize um ser humano desiludido, exaurido de sua vida enfadonha. Que encontre em mim a dor que finjo não existir para sorrir forçadamente todas as manhãs. Necessito que enxergue por trás da máscara que visto de homem omisso e resignado. Espero ansiosamente que possa compreender que também me sinto diminuído, e o quanto gostaria possuir o dom de ver as coisas com os olhos ingênuos e inexperientes de uma criança, de ver beleza em cada alvorecer. — Dissipei todas as palavras que viviam engasgadas dentro de mim. Me desfazendo integralmente da compostura de cidadão politicamente correto. Chega uma hora que precisamos sair da contra defesa e reavaliar àquilo que somos e a imagem que passamos as pessoas. Nunca me revelei antes porque a maioria de meus conhecidos não merecem saber o que carrego na alma, eles nem saberiam o que fazer com tanta informação.


— Michael. Arizona não hesitou em aproximar-se de mim e assim que obteve proximidade o bastante deslizou suas mãos delicadas pelo meu rosto molhada, já inundado por lágrimas, enfim ela abandonou a expressão rígida e raivosa. — Tudo o que disse, é tão lindo, eu não esperava escutar de você algo tão sincero. Cada uma de suas palavras partiram solenemente de seu coração. Não faço ideia de como conseguiu me consolar, mas você tranquilizou-me somente sendo honesto. Provou ser inteligente e sensível em um momento de desespero. — Murmurou enroscando seus dedos em meus cabelos, acariciando-me de sua forma suave. Uma torrente de sensações me assolam ao estar milimetricamente afastado do corpo dela. É tudo novo, esse frenesi ao redor de nós, a conexão inegável dos olhos, inexplicavelmente todo o restante do universo parece ter evaporado. Somos um só, mesmo que essa mágica em meu olhar seja uma mera união de almas afins, ou o encanto da paixão pairando no ar, é por ela que busquei incansavelmente por todos esses intermináveis anos. Talvez seja em nome dessa garota pura que me mantive forte e não dei um fim definitivo ao meu sofrimento. É por Arizona que pareço ter suportado cada uma das humilhações de papai, e será por ela que me tornarei um homem melhor. A vida me reservou uma recompensa, o amor de uma mulher generosa.


— Vou salvá-la desse tormento, virá comigo para minha casa. — Tomei uma ínfima distância dela para evidenciar minhas intenções e reafirmar que sempre estarei prontificado a protegê-la. — Pode ficar num quartinho que pertencia a mamãe. Ela usava o espaço para tocar piano, e quando faleceu papai trancou o lugar. Ninguém jamais entra lá... Inclusive eu me proibi de adentrar naquele quarto, me trás recordações daqueles tempos que era feliz e nem sabia, mas até eu ter alguma ideia de como fugiremos do país é lá que a esconderei meu anjo...— Emiti meu contentamento em poder oferecer um lar a Arizona, permitindo que a névoa de minhas lembranças venham a tona.


— Michael, isso é  mesmo sério, vai me tirar desse porão tenebroso? Seria terrível ficar aqui, sem a companhia de Anabelle, insustentável.— Suscitou a falta que sua irmã faz, visivelmente emocionada ao tocar na ferida. Também fico comovido ao lembrar da morte prematura daquela menina cheia de vida e sonhos.


— Claro, é uma promessa, jamais deixarei-a sozinha nesse lugar, a partir de hoje tem a mim.— Recapitulei minhas juras românticas a ela que retribui com um. abraço sincero. Assim suspensa em meus braços Arizona é somente uma moça desprotegida, sua castidade permanece intacta e visível maneira como ela se porta diante a mim. Seus 'modos fazem jus a alma pura com a qual foi abençoada.


— Chegou minha hora de partir, mas quando retornar será para tirá-la das trevas. —Sussurrei rente ao ouvido dela, desfazendo o abraço para seguir meu caminho até antes de conhecê-la incerto, agora, ele faz parte não só do meu presente já que nos vejo claramente unidos pelos laços do amor futuramente.



                                            
Capítulo 9

                                                                ~Michael~
  



— Como esperava que eu reagisse mediante a tamanho abuso de poder? — Repeti a mesma frase a papai pela segunda vez em menos de um átimo de segundos. Ele perdeu o juízo. Absolutamente deve estar com algum tipo de distúrbio mental, que recaiu sob sua racionalidade e por isso almeja um casamento arranjado para o único filho.


— Não tenho tempo para seu dramalhão. Apronte-se como como um cavalheiro, deve fazê-lo e prestigiar a mulher que escolhi para ser sua senhora. — Ordenou autoritário para que eu aja amorosamente como um estranha, a qual quer transformar em minha futura esposa. Ser amistoso com uma garota é algo inerente a minha personalidade, porém, em tal posição não me sinto confortável enganando uma pobre moça. Meu coração pertence exclusivamente a Arizona desde que meus olhos atravessaram seu rosto angelical. Oh, poderia usar tantas outras denominações, e ainda não se seriam suficientemente nobres para defini-la, ela é um doce anjo.


— Nem daqui a mil anos eu pedirei a mão dessa Srta. em casamento, será que não compreendes? Já encontrei minha donzela — Ergui a cabeça altivamente desafiando meu pai, enfrentando-o.


Vossa blasfêmia é assustadora! Quem é a energúmena desvirtuada? Inquiriu imponente, lançando-me um olhar impiedoso. — Diga-me, quem é meretriz infeliz que está destruindo seu bom senso? — Vociferou fechando os dois punhos. Essa é possivelmente a última vez que tolero que ele insulte Arizona sem lhe dar a surra que merece.


— Pode até tentar difamá-la, mas isso não arrancará o dote da pureza dela.— Retruquei gloriosamente, sustentando no rosto um sorriso de puro triunfo. 


— Não me persuadirá a ser maleável com você nessas circunstâncias, se insistir com suas aventuras românticas, prepare-se para viver feito um miserável, pois eu o deserdo!!! — Gritou colérico. Nunca me iludi quanto a personalidade indomável dele, sempre foi indócil e utilizou de seu comportamento tempestuoso para me manipular.


— Então tem meu consentimento antes mesmo de cumprir com seu desejo insosso de me deixar sem um mísero centavo. — Desafiei de cabeça erguida, fitando-o implicitamente. 


— Como ousa me desobedecer e confrontar? Não estou lhe dando opções, nem mesmo cogito ceder aos seus anseios melódicos. Esta noite meu estimado amigo Rick Grant oferecerá a mão de sua belíssima e honrosa filha Joanna ao meu filho ingrato. — Reforçou despreocupadamente. Por méritos peculiares ele consegue atingir seus objetivos odiosos, é uma pena que dessa vez a guerra não está vencida, tampouco a dissuasão encerrada. 


— Seu maldito elitista aristocrata! — Praguejei espremendo os olhos bruscamente. — Repito, não me unirei em matrimônio com essa dama, prezo por minha felicidade, conforme-se!  Restabeleci minhas percepções, revolto e disposto a defender meu livre arbítrio. 


— Devia mandá-lo servir a sua pátria na guerra, castigá-lo por me desonrar. Escute, Michael, se me envergonhar perante Rick Grant não terei piedade de tomar um decisão impertinente, não persista no seu mundo romântico de fantasias, se o fizer estará cavando sua própria sepultura. — Ameaçou promulgando suas regras em alto e bom som.


— Me nego a aceitar suas ameaças, mande-me para o exílio, para guerra ou mate-me com suas próprias mãos, vamos, siga em frente. — Incitei corajosamente, perdendo todo o medo de enfrentá-lo e apresentar-lhe meus simplórios pensamentos.


— Eu tentei, filho, todavia não quiseres colaborar, - ou aparece no jantar - ou está proibido de exercer medicina, - sabe que tenho contatos para extinguir sua carreira, - que inclusive nem começou... A escolha fica ao seu critério. Encontro você mais tarde. Use um de seus melhores ternos e ensaie como irá cortejar Joanna. — Exigiu friamente e em poucos segundos o estrondo da porta se abrindo e fechando-se preencheu o espaço limitado do meu quarto. As imposições rigorosas e precisas de papai só fazem crescer o dilúvio das incertezas que tenho sido obrigado suprimir dentro de mim. Não acredito que um casamento construído sob alicerces tão insólitos possa gerar frutos ou prosperidade a mim. Jamais pensei em abdicar de meus sonhos para vangloriar o ego dos outros. 


Casamento visto do ponto de vista do meu leigo entendimento significa consolidar a aliança entre duas almas que nasceram para tal feito. Quando um homem se coloca como escravo responsável por levar alegria a uma mulher, graças ao amor que sente por ela, ele automaticamente passa a abominar qualquer tipo de envolvimento com o sexo oposto baseado essencialmente em prazer carnal. Toda aquela sede por sentir-se em chamas nos braços de uma dama atraente cessa trazendo calmaria e segurança ao coração que deseja apenas um acalento de um abraço. Arizona não precisa de absolutamente nenhum gesto insinuante e de proferir obscenidades para deixar-me a mercê de seus encantos, basta um sorriso inocente iluminar seu rosto, e pronto já sinto o desejo fervilhante em minha corrente sanguínea. Sou capaz de cometer loucuras a troco de vê-la corar e assumir um tom púrpura adorável. Oh não, Tem sido estarrecedor o convívio inflexível com meu pai, tanto quanto ficar longe da mulher que amo loucamente. Faz cerca de 24 horas que não vejo meu doce anjo. E esse período insignificante soa como a eternidade, sim, para um apaixonado convicto a distância do seu outro eu representa categoricamente séculos de pura tortura. 

*** 


Desfiz o semblante pesaroso e obriguei as lágrimas a retornarem ao poço de dor mergulhado em meus olhos, as palavras se perdem no caminho ao me lembrar das imposições drásticas de papai.

Agora é concreto que se não ceder aos planos nefastos que tem para meu futuro, ele me mandará para fora do país, e me afastará definitivamente de meu doce anjo. Arizona, oh, ela nem tomou partido de meus sentimentos,talvez nem será complacente com minhas intenções. Todavia sou resistente, praticamente de ferro, então mesmo que existam contratempos, transformarei o medo que tanto perturba minha paz em coragem que e quando sentir que chegou a hora revelarei meus sentimentos a minha bela Julieta. Deus, ela é tão pura, como desejo poder tocá-la para me purificar também, se não estivesse nas mãos de papai, voaria até aquele porão e me atreveria a beijar os lábios intocáveis dela. Não há nada que não faria para sentir a maciez pecaminosa da pele de Arizona. Só oro para que o dia em que nossas almas se unirão no ritmo sábio e sincronizado do amor chegue breve.


Reacendi as esperanças dentro do meu coração, sorrindo mecanicamente, enfim seguindo ao encontro de minha suposta "noiva", pois na percepção de Ernest, esse casamento já está predestinado a ser um acontecimento histórico. 
 

***

— Michael, esta é a estimada dama da qual lhe falei. Cumprimente-a, sinto muito pelos modos de meu filho Sr Richard ele sempre foi introvertido. — Papai desculpou-se em meu nome ao Sr. robusto, de aparência grotesca e bastante rabugento que marca presença acompanhado da pretendente que gentilmente está sendo ofertada a mim. Será um sacrilégio mentir para a pobre moça que, inclusive permanece me fitando docemente, tentando ser a mediadora de ambas as partes. Por algum motivo que foge do meu entendimento a garota ganhou minha admiração ao se portar majestosamente, como uma digníssima dama. Classe é um afrodisíaco, um olhar basta para uma mulher ser sensual sem utilizar de vulgaridade, mas devo admitir que Joanna é bela de uma forma até mesmo perturbadora e torna-se impossível não se abalar pela beleza da mesma, assim como não sucumbir momentaneamente aos encantos dela.


— Nesse caso ele e meu "tesouro" se entenderão muito bem. Joanna também é absurdamente tímida, tive um baita trabalho para convencê-la a vir conhecer seu filho, meu amigo. — O amigo de papai riu exageradamente, dando um tapa no ombro ignorando totalmente Joanna. Me intimida a firmeza do acordo entre as famílias. O infeliz se orgulha ao se referir a própria filha como se ela fosse um objeto a ser leiloado. Abomino interiormente esse costume dos poderosos ao acharem que suas filhas estão à venda para o partido que oferecer o maior dote, além de vir agregado a um sobrenome de peso e claro uma fortuna pessoal. 


— Deixe-me retratar, prazer Srta., como já deve saber sou Michael.— Levei o dorso da mão de Joanna aos meus lábios e beijei-a respeitosamente. Ela abandonou o semblante sério e mostrou-se enlevada com meu gesto cavalheiresco.




— Encantada, é claro, Sr. — Joanna saudou-me cortês, por algum motivo desconhecido sem perder o pai de vista. 

— Por um milagre que não se vê todos os dias minha filha apreciou a gentileza de vosso filho, Ernest. — O autoritário Rick entonou notoriamente entusiasmado com a troca de olhares explícita de sua filha comigo. Papai e eu nos entreolhamos espantados com o comentário descontraído dele e longe de ser impessoal.


— Sr. Grant, creio que seremos "grandes amigos". — Aleguei forçado, me dirigindo ao fiel amigo de papai e recebi uma risadinha sórdida como resposta prévia.


— Nada disso, está enganado, seremos bem mais que bons amigos, provavelmente parentes, afinal minha princesa entrará para família. — Corrigiu-me seguro de que haverá um casamento. Em virtude de minha boa índole não criarei conflitos, em contrapartida jamais me casarei com alguém que não seja Arizona. Respeito o gênero feminino e não tenho pretensões de magoar uma dama ou mentir para beneficiar meu pai. Joanna não merece ter um homem ao seu lado que deseja outra, nunca cometerei tamanha crueldade com uma garota que sonha  se realizar e encontrar o amor nos braços de um príncipe encantado. Não sou quem ela imagina, somente posso oferecer amor se houver uma perfeita comunhão de almas, inexistente nesse caso, já que apenas Arizona fascina-me e faz meu coração palpitar, as mãos suarem e a magia se profetizar. 


Michael já comentou suas intenções de oficializar um noivado com sua adorada filha.— Papai roubou a palavra de mim, aproveitando para me induzir a aceitar suas sandices.

— Isso procede? — Joanna indagou inocentemente, tendo um brilho intimidador em seus profundos olhos azuis. 

— Filho não se acovardes, diga a ela o quão deseja torná-la sua esposa. — Meu pai insistiu em me instigar a mentir descaradamente para Joanna, ele está se divertindo com sua mediocridade, é ainda mais maléfico que penso. As palavras estão engasgadas na minha garganta junto ao meu constrangimento, simplesmente travei com o questionamento tendencioso, permanecer estático não está nem mesmo entres as alternativas viáveis. Terei que entrar nesse jogo mirabolante, se para não ser privado de minha liberdade é necessário agir feito um maldito canalha eu me submeterei a tal atrocidade.

— Exato, perdoe-me a demora em lhe comunicar sobre uma decisão que já tomei há algum tempo... — Enfiei as mãos no bolso de minha calça social, relutando em omitir a verdade a Joanna, tudo que menos quero é soar cruel, porém preciso me incorporar as regras do jogo. —, chegou a hora de constituir família. — Visivelmente hesitante cedi aos caprichos mórbidos de meu pai consciente do quão é atroz enganar uma menina inexperiente totalmente desprovida de malícia.

— Sendo assim meu caro amigo Ernest, temos de marcar a cerimônia de noivado. Um momento de celebração não pode passar em branco, minha filha merece uma festa de rainha. — Rick propôs uma festa estrondosa e meu coração ganhou um ritmo acelerado ao pensar no que isso representa. Talvez deva começar a formular a hipótese de fugir com Arizona para a Inglaterra ou qualquer outro país que ainda não sofreu as consequências devastadoras da guerra.


— Oh, meu pai, será que não ei de acordar e ver que tudo é apenas um lindo sonho? Michael é um rapaz tão adorável e muito bonito. — Joanna sorriu resplandecente, extasiada com a possibilidade de noivarmos. Estou me  esforçando sobremaneira para não demonstrar desgosto e deixar visível toda a lamentação que sinto em ser covarde com essa moça. Embora, sinta-me lisonjeado em ser cortejado por uma mulher lindíssima sou indiferente a qualquer dama que não seja minha amada Arizona.
 

— Definitivamente, não está sonhando querida. — Retribui o gesto delicado dela sorrindo minimamente e papai estreitou o cenho orgulhoso de mim e de si mesmo pela "gloriosa conquista".


— Finalmente está honrando seu pai, Michael. Fico absolutamente exultante em ver que pretende dar um novo rumo a tua vida, ao lado de uma mulher digna e filha de um dos meus leais amigos. — Deu um tapa em minhas costas satisfeito em atingir seu objetivo. Visualizei um lampejo de desconfiança no olhar frívolo dela, mas isso se dissipou rapidamente.
 
— Preciso deitar-me agora, amanhã visitarei um amigo. Srta. Grant espero revê-la em breve, cuide-se.— Despedi gentilmente de Joanna, dando-lhe um casto beijo na bochecha. Quando me afastei apressado dela, notei os olhos astutos de papai cravados em cima de mim, com certeza ele teme que eu dê algum passo em falso, cometa um deslize e coloque tudo a perder. Prefiro não tentar adivinhar o que ele pensa a respeito desse casamento arranjado. Disfarçando meu nervosismo e angústia reprimida retirei-me da presença dos Grant e do imbatível Sr. Ernest.

Semanas depois...

(...) Em detrimento dos últimos acontecimentos desastrosos, resolvi procurar um antigo amigo para desabafar e lhe pedir conselhos. Pedro também é contrário aos ideais de Hitler e repudia a guerra. Trabalhava comigo no auxílio aos feridos, mas precisou ausentar-se para assumir compromisso com a garota que julga ser o amor de sua vida. Scarlet e ele se casaram  quatro meses após terem se conhecido, ela perdeu os pais para os nazistas, é uma legítima judia, no entanto graças ao seu talento nato para moda e trabalho de estilista renomada das classes dominantes vivem confortavelmente, livres de perseguições. Desde então perdemos contato, as coisas se sucederam naturalmente. Nossos caminhos tomaram destinos opostos, embora continue admirando aquele médico rebelde e determinado, as coisas mudaram. Vim até a casa dele por puro instinto, mais do que nunca necessito de um ombro amigo para lastimar-me da vida e Pedro é o único que poderá me dar conselhos sérios.

Novamente desci os olhos pela decoração modesta, porém requintada da sala de visitas da propriedade na qual ele reside com Scarlet e suspirei derrotado. Ela me recebeu de braços abertos e pediu que aguarde até que comunique ao marido que estou aqui. Pedro uma das poucas pessoas leais que cruzaram meu destino, e talvez seja o ser humano mais sensível a dor alheia que conheço. É a pessoa certa a qual pretendo destinar uma missão especial.



                                            
Capítulo 10

                                                                ~Michael~
  



— Michael, então, é verdade — Pedro apareceu no anexo da sala, explicitamente atônito com minha visita imprevisível. —, é você mesmo, cara, juro que não acreditei em Scarlet, mas que maravilha reencontrá-lo. — Debochou, me dando uma abraço de irmão e um tapa no ombro que sempre tivemos o costume em nossos cumprimentos.


— Pois bem, agora que, já conferiu que sou de carne e osso, será que poderíamos conversar? — Arqueei as sobrancelhas ainda aturdido com a história do noivado intempestivo.


— Creio que veio por algum motivo desagradável, o que está lhe contrariando? — Questionou diretamente, certamente está preocupado com minha inquietude. Sentei-me novamente na poltrona da sala dele onde o aguardei tempo suficiente para refletir e ele fez o mesmo em outro assento sem cerimônias. 


— Há algo maravilhoso acontecendo, mas... por outro lado, existe meu pai que está empenhado a destruir minha felicidade... Me apaixonei Pedro, estou completamente rendido por um belíssima judia. Pode imaginar os sérios prejuízos que isso acarretará as partes envolvidas? — Perguntei retoricamente, pressionando os dedos no cabelo e Pedro esbugalhou os olhos proferindo um palavrão audível.


— Michael, bem meu amigo — Enfatizou meu nome balançando a cabeça negativamente. —, é loucura, sei que soa injusto, só que não parece aconselhável levar uma relação potencialmente perigosa adiante. Vosso pai é poderoso, ele irá mandar dar cabo da pobre moça, pense meu amigo, se optar por lutar contra a fera Ernest se prepare para uma tragédia. — Advertiu. 


— Não posso desistir dela, Arizona é diferente das "outras". Você não entenderia... Aquela doce menina me salvou Pedro, me sinto vivo novamente graças a ela. Entre lutar e morrer ei de ser o dono do meu destino. — Discordei dele e percebi seu semblante ser tomado por medo.


— Ernest é um monstro, além de soberbo, receio que ele faça mal a você... Só seja cauteloso, em nome desse amor genuíno que vibra em seu peito, vá com calma. Proteja-se e dê tempo ao tempo. — Compactuou bastante hesitante com minhas concepções, eu diria a contragosto.


— Temo por Arizona, ela já sofreu tanto ao perder a irmã e os pais. Não quero ser o causador de mais dor na vida dela, ou desgraça, apenas desejo fazê-la feliz e plena. Darei meu sangue por esse donzela. — Sentenciei a mercê de todos os temores que me assolam.


— Quais seus planos e o que eles integram? No que eu posso ajudar-lhe meu amigo? — Pedro inquiriu querendo ser cúmplice e quem sabe colaborar comigo de alguma maneira. E de fato o apoio dele é imprescindível na longa jornada que tenho pela frente.


— Decerto levarei-a para minha casa, Arizona sobreviveu porque se esconde em um porão.
— Esclareci dando ênfase aos pontos principais, detalhes são desnecessários no momento.


— E vosso pai? Michael, ouvi comentários enfáticos de que ele pretende lhe casar com a filha de Rick Grant, um dos homens mais ricos de Berlim, que migrou para a cidade para prestar serviços a Hitler, o infeliz fornece armamentos para a manutenção da guerra. — Exasperou-se.

— Sim, papai pensa que atingiu seu objetivo nocivo. — ri secamente. — Fingi aceitar me casar com Joanna, agi com o sangue frio, tudo para ganhar tempo de planejar minha fuga com Arizona. — Conclui despreocupado, porque de fato serei o vencedor nessa batalha. 


— Por acaso acha que conseguirá sustentar essa farsa? Seu pai, irá o exilar do país se ao menos suspeitar que está o fazendo de idiota. — Endossou exaltado. 


— Ele não tem meios de saber, vou até o final com esse teatro. — Rebati implacável, tomado por uma sede de vingança que antes desconhecia.


— Michael, sua amada está ciente disso? Já declarou-se para ela? — Um vinco profundo formou-se na testa dele e eu abaixei a cabeça transtornado.


— Não, ela ainda não sabe, mas saberá em breve. — Admiti certo de que ela escolherá ficar ao meu lado.


— Por que diabos planeja algo sem ter certeza se és correspondido? Terás uma maldita decepção! — Alertou impressionado com minha segurança.


— Arizona é uma moça decente, ingênua, por isso se recusa a entregar teu coração a qualquer homem... Enxergo naqueles olhos aterrorizados que ela grita por afeto, vi refletido naquele olhar devoluto que eu a toquei de alguma maneira especial. — Defendi meus argumentos. 


— Boa sorte, porque irá precisar! Jamais houve um romance tão fadado ao fracasso como esse, são muitos barreiras a serem derrubadas. — Salientou me desencorajando a seguir em frente.


— Nada disso importa, apenas que eu conquiste a confiança de Arizona e possa desfrutar da graça do amor pela eternidade. — Divaguei viajando pelas lembranças revigorantes da beleza divinal dela.

— Pedro há um pedido que preciso fazer-lhe... Buscarei Arizona no porão assim que pôr os pés fora de sua casa, e gostaria que ela ficasse aqui esta ao menos por esta noite. Papai viaja amanhã pela manhã, é possível acomoda-la até poder levá-la em segurança para a mansão? — Prossegui.
 atrevidamente, afinal não vejo outra solução provisória. 


— Com todo o prazer, ela pode ficar até pela manhã e o tempo que necessitar meu amigo. Pedirei Scarlet para preparar um dos nossos quartos de hóspedes, Arizona será muito bem vinda. — Garantiu provando que é um homem nobre. 


— Obrigado, nem sei como lhe agradecer, isso é muito importante para mim. — Abracei-o fortemente exteriorizando toda minha gratidão para com meu fiel amigo.

*** 

— Michael! Estou tão contente em revê-lo, senti tantas saudades. — Arizona se agarrou aos meus braços e fez todo meu corpo se incendiar ao me receber de braços abertos.

— Também senti saudades, querida. — Apertei-a contra meu peito alisando seus cabelos e inalando o perfume inconfundível que sua pele feminina exala.


— Por que estás tão nervoso? — Surpreendeu-me com um afago no rosto. Inacreditável a sensibilidade aguçada dela, captou por uma simplória frase minha tensão. Embora seja suscetível a emoções e vulnerável a palavras pomposas ela me arrematou com sua ternura. 


— Não se preocupe comigo, tudo permanece em seu devido lugar...— Tranquilizei-a ainda acariciando-lhe os longos cabelos.- Só falta uma coisa para eu ser um homem completo. — Sussurrei assumindo uma lascívia que jamais ousei utilizar com ela. Arizona estremeceu em meus braços, e pude vislumbrar um brilho sublime no par de órbitas verdes dela. Os olhos que antes pareciam focados em qualquer canto do porão atravessaram os meus. 


A boca rosada entreaberta, as mãos apoiadas no meu peito arfante, como resistir a tentação? O pecado, ah, espero ser merecedor desse doce anjo e se pecar me levar ao inferno pretendo ir direto para lá e enfrentar o diabo.


— Michael, o que estamos fazendo? Não deveríamos.. Eu não posso.— Arizona tentou fugir do inevitável e eu calei-a com meu dedo indicador. Contornei o rosto dela suavemente e voltei a contemplar os traços meigos de seu rosto afiliado. Me Demorei alguns demasiados minutos nas caricias que tanto necessito e domado por um desejo ardoroso iniciei o roçar dos lábios. Efusivamente o beijo tão lento tornou-se cálido., a urgência em preencher o tórrido vazio da minha alma fez crescer meu desespero em degustar o mel que os lábios de minha donzela derramam. As mãos introvertidas enfim perdem a vergonha e moldam o corpo curvilíneo e frágil. 


O encanto do primeiro encontro dos amantes paira no ar e meu coração bate desenfreadamente ao sentir o toque açorado das delicadas mãos de Arizona em meus cabelos. Ela guardou uma grata surpresa para mim, também me quer, agora é absoluto que nossas almas se conectam. Interligados pelo amor. Somos apenas um só corpo. Vítimas do destino traiçoeiro que nos apresentou ao fruto proibido. Gostaria de ficar eternamente sugando o néctar aprazível dos lábios dela. Tê-la esmorecendo com minhas carícias intensas, compartilhando comigo a dança harmoniosa de nossas línguas é uma dádiva dos céus concedida pelos anjos. Mesmo sonhando com esse momento por tantos dias não fui capaz de presumir que essa mulher transformaria-se na inércia regente de minha vida. 


O beijo dela me transporta para outro patamar, me eleva espiritualmente. Será penoso e absurdamente doloroso pôr um fim em algo que deveria ser eterno. É basicamente uma obrigação fisiológica desgrudar os lábios para retomar o ar nos pulmões. Me questiono: por que os apaixonados não são dotados de um fôlego infinito? Assim não precisariam interromper uma sensação elétrica que a união de lábios representa. Embora deseje fervorosamente prolongar o beijo, não posso prender Arizona eternamente em meus braços, tampouco torná-la refém de meus anseios. Vagarosamente desconectei meus lábios dos dela, abri meus olhos e novamente acariciei com a ponta dos dedos os cabelos acobreados da garota que levou-me para a terra consagrada do amor. A boca adoravelmente avermelhada e levemente inchada de meu doce anjo denunciam nossa travessura deliciosa. Em contraposição aos meus receios não há resquício de arrependimento na expressão dela o que faz de mim o mais afortunado dos homens e consecutivamente um exímio romântico. Ela permanece calada, fitando-me profundamente. O ar que inspira e expira naturalmente parece lhe faltar, deixando de ser apenas um ato involuntário de seu organismo.


— Céus que loucura cometi? — Meneou a cabeça desesperada. — O que pensarás de mim?— Arizona anulou o silêncio temendo que eu passe a enxergá-la como apenas mais uma garota indigna.


— Não, não, e não. — Sacudi-a pelos ombros, trazendo-a de volta ao senso de realidade.
— Eu jamais deduziria algo tão infame de uma Srta. integra e pura. — Conclamei seguramente e ela baixou a guarda, relaxando o rosto.



— Mesmo assim, minha conduta foi inadmissível. Devo me dar ao respeito para que você possa retribuir com vosso cavalheirismo. — Culpou-se severamente por não ter aniquilado com o beijo antes mesmo dele acontecer. Me entristece ouvi-la alegar abertamente que tudo não passou de um erro ou melhor de um infeliz incidente de percurso.


— Gostaria de possuir o poder de voltar no tempo e ter mudado o rumo das coisas, pena que é tarde demais e eu já a amo desesperadamente. Arrependeu-se do beijo, estás assim tão arrependida? — Estreitei o cenho desnorteado com o andamento caótico da situação. As palavras frívolas de Arizona cortam mais que uma navalha afiada.


— Mas, co.. como aconteceu, como tens coragem ? — Murmurou enfaticamente. — Não podes me amar, será uma desgraça em nossas vidas, um amor proibido pode desestruturar a mente do mais intelectual dos homens... Não quero me tornar a vagabunda deflorada, é isso que desejas, desvirtuar-me? Pois, saiba que não me usarás para benefício próprio para depois me expulsar de tua vida. — Pousei minhas mãos nas costas de Arizona e circulei sua cintura polidamente. Confesso que me magoou escutar as palavras ásperas dela. Porém sei que é justificável todo o medo que possui de se iludir, o sofrimento endurece as pessoas, e meu doce anjo definitivamente não é uma exceção.


— Jamais volte a repetir essas infâmias, pois eu nunca maquinei intenções de me aproveitar de tua ingenuidade. Como pode cogitar que quero usá-la? — Inquiri nitidamente desapontado e bastante exaltado com as tremendas falácias que minha amada proferiu.


— Sinto muito, só não leve tudo que lhe digo em consideração... — Os olhos volúveis dela se inundaram por lágrimas antes mesmo que concluísse a linha de raciocínio. Dor, é absolutamente o que enxergo no desespero de seu olhar. Fui longe demais com meu drama emocional, essa garota visitou o inferno e sobreviveu, mas as desgraças pelas quais passou marcaram-na.


— Michael, em nome amor que sinto por minha família, eu vos peço perdão por todos meus insultos. És diferente dos outros homens, e mesmo que eu me esquive de tuas carícias meu corpo faísca de desejo pelo teus lábios. — Enfatizou assustando-se com suas próprias palavras. 


— Ohh, meu Deus, o que irá pensar de minha virtude? Como uma moça decente diz essas coisas? — Escondeu o rosto por entre suas mãos, envergonhada por abrir seu coração para mim. Devo ressaltar que isso foi um gesto cativante da parte dela. A espontaneidade de Arizona me excita em um grau absurdo. Mas que diabos estou falando? Não é sensato seduzir uma menina ingênua, terei que ser paciente, embora tenha tido experiências sexuais com outras namoradas, muitas delas representam apenas lembranças de aventuras amorosas de minha adolescência ou somente casos baseados restritamente a prazer momentâneo.


— Há uma proposta que preciso fazer-lhe. Quero que venha comigo para a casa de um amigo leal. Lá ele te hospedará em um quarto de hóspede, terá comida, água e poderei cuidar de você tranquilamente. — Sorri sereno e ela seguiu meus passos sorrindo encantada. 


— Eu irei para qualquer lugar do universo que quiser, Michael, porque eu... — Suspirou pausadamente e me olhou docemente. — te amo, amo com toda a força que as batidas do meu coração permitem e de uma forma que não sou capaz de explicar. — Declarou-se timidamente, seus olhos inacreditavelmente verdes se desviaram dos meus e mesmo diante da timidez adorável dela tomei-a em meus braços em um abraço reconfortante.


— Eu também te amo, amo tanto. — Sussurrei convicto ao extremo e logo depois depositei um selinho casto no topo da testa dela. Inesperadamente Arizona intensificou o contato entre nós, acariciando meu rosto me intimidando com sua inocente ousadia. 


— Assim que for apropriado e totalmente seguro levarei-a para minha casa.— Enlacei a cintura fina de Arizona, desenhando suas sinuosas curvas com as mãos. Ela esquivou-se afoita, se mostrando envergonhada e bastante embaraçada com a intimidade que apoderou-se subitamente de nós.

— Anjo, eu sinto muito.— Retratei-me encarando seu par de olhos arregalados.


— Estamos ultrapassando os limites, indo rápido demais e isso é perigoso. — Rebateu ainda no torpor dos efeitos colaterais da paixão. Apesar de seu equilíbrio ser predominante na personalidade de Arizona ela está soberanamente inerte em seus próprios conflitos de integridade.


— Eu realmente sinto muitíssimo pelo ocorrido. Prometo que algo assim não voltará a acontecer sem o consentimento de ambos os interessados. — Reavi formalmente meu sincero pedido de desculpas que dessa vez foi bem aceito por minha garota, mas aflição persisti nítida em suas feições imprecisas.


— Também fui conivente, então... só devemos seguir em frente com mais cautela. — Frisou esperançosa de que a linha tênue do amor e ódio que nos separa, ao mesmo tempo que nos une, seremos imensamente felizes.


— Nada de procurar culpados, senão ambos seremos condenados por infligirmos a regra de amar quem não pertence as mesmas raízes ideológicas que nós. — Ironizei dramático e desprendi um poderoso suspiro de meus pulmões arrancando de Arizona uma risada tímida. 

— Sempre tens razão, fico admirada com seu dom em me reconfortar, detém as palavras certas para absolutamente tudo. — Elogiou deslumbrada com meus galanteios e discursos românticos sobre o nosso amor proibido perante aos olhos dos que nunca amaram ou entendem a linguagem dos amantes.


— Por sorte não conheceu meu lado valente e pretensioso. — Esfreguei meus lábios no nariz dela em um gesto desinibido, tal como carinhoso. — Não há mais um segundo a se perder meu anjo, virás comigo? — Refiz o pedido e ela assentiu e sussurrou no meu ouvido um embargado "Obrigada por tudo, obrigada por me salvar" . A gratidão no timbre da voz dela soa como uma aprovação de Deus para mim, não restam dúvidas de que devo cuidar de minha doce menina, no que depender de mim o martírio dela cessa aqui, ficará esquecido nesse porão gélido e a Arizona encantadora, corajosa florescerá assim que experimentar o dote da liberdade e usufruir da mesma. Ela ressurgirá mais vivida e bela, como uma rosa que atinge seu apogeu da formosura ao desabrochar na primavera.

Precisamos mesmo partir. Necessitas de ajuda para arrumar vossos pertences ou desejas que eu lhe compre novas roupas? — Indaguei acarinhando as bochechas levemente enrubescidas dela.


— Poderia... — Ponderou por alguns instantes se deveria prosseguir, mas eu interferi balançando a cabeça em uma aviso interno de que ela pode confiar em mim seja lá para o que for. —, comprar novas vestes para mim? Sinto que as que tenho além de serem farrapos me trazem lembranças... — Relutante quanto a algo extremamente simples ela terminou de dizer o que dera início. Tanta hesitação da parte dela só reforça os valores morais que aprecio nela, contudo devo ajudá-la a vencer o orgulho terminantemente. Tudo que é meu pertence a Arizona, e de acordo com minhas escolhas, farei dela uma mulher repleta de luxos, e todo o conforto que for cabível a proporcionar com minha herança. Fortuna que recebi de mamãe,  então mesmo que  Ernest não me deserde pretendo não aceitar um mísero tostão dele. Embasbacado com a pureza de Arizona me prolonguei um pouco em acariciar o rosto dela, pensando em como retomar o assunto, o qual gostaríamos de apenas esquecer.


— Oh, minha querida, tenho a mais plena certeza de que meus bens materiais não lhe interessam, portanto, não se sinta triste em me pedir auxílio. — Assegurei, retornando minha atenção a ela, que entrelaçou nossas mãos e fitou-me intrigada para não dizer perplexa com minha afirmação.


— Não suportaria que pensasse uma injúria dessa proporção de mim, partiria o que restou do meu coração. — A mesma expressão fragilizada dela se manifestou no rosto belo que tanto venero. Toda a vulnerabilidade de minha Julieta é explícita em cada um dos gestos que ela projeta.


Anjo, liberte-se de tais pensamentos abstratos, o que é concreto é meu amor, ele é a verdade irrefutável e nele deve crer até o fim dos tempos. — Sorri minimamente, navegando entristecido em minhas "responsabilidades". Assumi falsamente com papai a compostura de filho que honra seu progenitor e desposa a mulher escolhida para a função de esposa dedicada. Jurei em falso para meu próprio benefício e no intuito de atenuar a descrença daquela pobre moça. Eu estou literalmente "encurralado' e só nutro a certeza que definitivamente não me casarei com a Srta. Grant.


Minha piedade por Joanna me compeliu a agir com "bons modos", e ser delicado foi tudo que me obriguei a fazer naquele momento. Além de meu pai ter contribuído para que eu forjasse uma paixão, uma empatia que não se restituiu entre mim e a filha de Rick Grant. Não houve a conexão de sentimentos, tampouco suspiros apaixonados, porque de fato a única dama capaz de desregular meu coração e me provocar borboletas no estômago somente com sua presença é Arizona. Simplesmente me limito no princípio básico no qual todo ser humano se inspira no amor, onde começam, transitam e terminam todas as outras sensações.

 Recompondo-me subitamente de meus devaneios voltei a abordar Arizona.


— Não quero transformar esse recomeço em um pedaço de espelho quebrado aonde o reflexo do teu passado reflete, há algo que precise fazer antes de ser livre, querida? — Recapitulei, semicerrando os olhos, esperando uma reação condescendente de Arizona.


— Absolutamente nada, podemos ir em paz. Segurou minha mão direita e eu conduzia-a pela escada do porão cuidadosamente, libertando-a de sua prisão física e interna.


                                           
Capítulo 11
                                                                ~Michael~
 


Os olhos espetacularmente verdes estão mirados no céu estrelado, e também contemplam a supremacia do brilho que a lua cheia reflete para a terra. Arizona ainda parece incrédula, e as lágrimas que molham sua face representam a felicidade que brota do fundo do coração dela, ao estar ao meu lado, apreciando o luar. Desde que chegamos ao nosso destino, há cerca de trinta minutos, ela se mantém absorta em sua própria paz. Gostaria de permitir que ela desfrute de sua liberdade, e da brisa suave da noite, mas temos que entrar, ficar aqui, estáticos em frente da mansão de Pedro pode levantar suspeitas.


— Anjo, está tudo bem? — Mordi os lábios, encantado com a beleza que irradia dessa mulher perante a luz da lua robusta. — Hey, devemos entrar, o amigo do qual lhe falei nos aguarda. — Elucidei buscando uma resistência que desconhecia em mim, no entanto creio que minha expressão de encantamento não tenha se esvanecido. Como manter-se imune a tamanha beleza?


— Perdoe fazê-lo ficar na rua, tem razão é aconselhável que entremos, a temperatura caiu bruscamente. — Assentiu esfregando as mãos nos ombros devido ao vento frio incômodo. Subitamente uma vontade de protegê-la me tomou e retirei meu paletó, colocando-o em torno dos braços gelados dela.


— Muito obrigada. — Agradeceu se enrolando no casaco e unindo nossas mãos. 


— Está pronta? — Murmurei na expectativa de receber uma resposta positiva, apertando a mão delicada dela com firmeza para oferecê-la segurança.


— Absolutamente. — Consentiu e tendo-a atrelada ao meu corpo guiei-a até a escadaria que nos levará a entrada da casa de Pedro. Inevitavelmente nossos olhares se conectaram e claro, não desgrudamos as mãos até que precisei interromper o contato para encaixar a chave que Pedro me cedeu na fechadura, abrindo a tranca da porta.


— Seja bem vinda. — Exclamei baixinho ao ajudá-la a entrar no lar de meu velho amigo, cedendo-lhe passagem, logo em seguida capturando sua mão novamente. Assim que a tranca foi devidamente travada, e me certifiquei de ter trancado a porta retornei para perto de Arizona, e me deparei com ela atenta a todos os aspectos da decoração da sala. E eu apenas me detive a apreciar o sorriso doce dela, totalmente satisfeito por poder fazê-la feliz e lhe proporcionar uma nova chance.


— Michael, já estava preocupado.— Pedro bradou ao cruzar o anexo da sala, mas rapidamente ao notar a presença de minha rainha, relaxou o semblante, caminhando até nós e estendendo a mão a ela que concretizou o cumprimento amistosamente.


— Sinto muito por meu tom rude, é que Michael não deu mais notícias. — Justificou-se fazendo uma careta ao me fitar. — Enfim, sinta-se em casa Srta. Frankfurt, se detém o afeto de meu amigo pertence a família. — Completou dinamicamente, tentando tornar o momento confortável para todos.


— Eu que tenho que agradecer a hospitalidade. — Arizona rebateu um pouco acanhada com a recepção calorosa.


— Pedro, ela é extremamente tímida, então não se assuste quando corar com algum comentário inofensivo seu ou de Scarlet. — Aproveitei para apaziguar o clima tenso e todos gargalharam da minha indiscrição.


— Scarlet está terminando o jantar, ela é minha esposa Srta. Frankfurt. — Esclareceu de cenho retraído. — Tenho certeza que se tornarão grandes amigas, Scarlet e sociável e ficou exultante em saber que terá uma companhia feminina. — Disse tentando deixar minha amada relaxada.

— Espero que sim, Sr., ficaria comovida em obter uma amiga nesse momento.— Arizona declarou movida pelo êxtase em ter alguém com quem conversar e trocar experiências. 

— Pedro já lhe pedi favores o suficiente, e detesto abusar, mas seria possível Scarlet emprestar ou costurar alguns vestidos para Arizona até que eu providencie roupas novas para ela. — Mudei o rumo do assunto, preocupado com os mínimos detalhes.


— Sim, será um prazer ajudar sua garota, Michael.— Anuiu sua disposição em amparar Arizona, o que serve de acalento para mim.


— Querida, infelizmente tenho que voltar para minha "prisão", aliás já estou atrasado para o jantar.— Constatei ao checar o relógio pulso instantaneamente. Atento as feições de Arizona, percebo uma pontada de tristeza a consumindo. Sei que está desapontada, e sabe que teremos que conviver com a saudade, mesmo que eu não queira me separar dela.


— Voltará para me visitar logo?_Perguntou receosa, seu olhar meigo derrama medo. É explícito, para não denominar visível, o medo de abandono dela.


— Em breve eu voltarei, garanto não demorar anjo. — Jurei tranquilizando-a, me aproximando de Pedro e abraçando-o em forma de gratidão por esconder o amor de minha vida em sua casa e acolhê-la em sua vida de bom grado. 

— Até mais ver! — Clamei dando um último selinho nos lábios de Arizona que estremeceu em meus braços em retribuição ao toque. A contragosto me libertei do olhar piedoso dela, deixando-a sob os cuidados de um amigo com o qual posso contar em todas minhas turbulências. 

***
 
— Menino, demoraste uma eternidade! — Matilde berrou no instante exato que ultrapassei a soleira da porta do meu quarto.


— Tive meus motivos, e asseguro que valeu a pena me ausentar por algumas horas . — Retruquei levantando as mãos em rendição, arrebatado por um bom humor fora do normal.


— O que aprontou? — A face rechonchuda e terna dela retraiu-se devido ao espanto que minha confissão acarretou. 


— Minha Julieta já está segura. Consegui um lar temporário para abrigá-la até ser possível trazê-la para cá. — Expliquei mantendo o sorriso maroto estendido no canto dos lábios. 


— Virgem Maria! Para onde levou-a menino? — Indagou alegoricamente, contendo sua perplexidade.

— Adivinha? Uma risada atrevida escapou de minhas cordas vocais e se fez presente. — Arizona está hospedada na casa de Pedro. — Me recompus para dar prosseguimento a conversa. 


— Pedro é de total confiança, mas mesmo assim é arriscado ter essa moça por perto. — Contestou com uma de suas mãos espalmadas na cintura. 


— Não importa! Jamais permitirei que alguém faça mal a minha garota. — Alterei a voz no intuito de evidenciar meus cuidados excessivos com Arizona. 


— Sabes que só prezo pelo vosso bem, é que, se Ernest chegar até sua donzela, ou sonhar que ela realmente existe e representa perigo... — Ponderou.


— Um dia terei que enfrentar papai, espero que esse tormento tenha logo um fim. Enquanto isso arquitetarei um plano, que inclui fugir para bem longe de Varsóvia acompanhado de Arizona e também desposá-la .— Disparei em um lampejo impulsivo. 


— E como pretende fazer algo desse porte sem alarmar o Sr. Ernest? — Matilde insistiu em tomar partido de minhas "insanidades".


— Simples, via aérea, em um avião. — Ressaltei erguendo uma de minhas sobrancelhas.

— Menino, mas como... arranjará um avião? Algum conhecido o emprestará um jatinho? — Fitou-me totalmente confusa. 


— Não, mas já sei como conseguir um, tenho minhas fontes e a herança inimaginável que mamãe deixou-me.— Argumentei e Matilde suspirou resignada.


— Embora esteja obstinado a seguir em frente, por favor não se esqueça de ser cauteloso. Vosso pai... é um... demônio! — Advertiu exatamente como uma mãe faz quando quer proteger o filho. O contexto pode ser diferente, mas as boas intenções se assemelham a de minha falecida mãe.

— Eu ficarei bem, serei muito feliz. — Sorri sonhando acordado com o dia em que eu e meu doce anjo começaremos uma nova vida livres da repressão de papai, da guerra e quaisquer outros empecilhos.


— Estive no ateliê da Madame Morgana e lhe pedi roupas para sua futura senhora. Não sabia o tamanho certo dela, mas imagino que os vestidos que consegui servirão como uma luva, contanto que sejam feitos os devidos ajustes. — Surpreendeu-me positivamente, e me emocionou com sua lealdade e predisposição em ajudar Arizona da forma que pode.


— És tão benevolente e solidária, Matilde. Sempre adivinha as coisas sem que eu ao menos tenha lhe pedido. Veja, foi à procura de roupas para minha menina. Novamente, agradeço pela discrição e lealdade. — Reforcei meu respeito por ela e beijei a palma de suas mãos em sinal de agradecimento.

— Se não fosse somente uma reles governanta, faria muito mais, lamento ser apenas uma pobre serviçal, menino. — Meneou a cabeça se depreciando de tal maneira que considero uma ofensa pessoal para comigo.


— Nunca mais repita um disparate desse! Suas palavras me feriram em uma dimensão violenta, e não poderia ser diferente, depois de ter dedicado sua vida a representar a figura materna que tanto careço. — Repreendia-a magoado com o comentário hostil dela.

— Sinto muito, não quero me enxergue como uma ingrata ou uma velha coitada que se vitimiza. Foi... puro medo, instinto de mãe. Meu menininho cresceu, e transformou-se em um exímio cavalheiro, um moço de índole que merecidamente encontrou uma moça generosa a qual fará dele um homem realizado. Perdi meu menino, eis o ciclo da vida. — Abriu-se comigo, revelando a tristeza que antes não me era tão eminente e agora está nítida no olhar perdido e lacrimejado de minha mãe do coração. — Não,não, meu Deus Matilde, não quero que derrame uma sequer lágrima. Jamais abandonarei a pessoa que doou um pedaço do próprio coração a mim e se dispôs a me ouvir em todos os momentos de profunda melancolia em que eu mergulhei. Tens minha gratidão, e admiração, há anos é uma de minhas inspirações. Por favor não se desesperes, virei visitá-la ou quem sabe leve-a para trabalhar comigo na Inglaterra assim que me estabelecer por lá. — Enxuguei com a ponta do meu dedo polegar as lágrimas de Matilde e felizmente visualizei o semblante estagnado dela encher-se de alegria. 

— Sinto um orgulho infinito do homem grande que tornou-se, a nobreza de tua alma me faz crer que cumpri com destreza a missão de fazer do meu menino uma pessoa do bem. — Pronunciou-se mesmo em meio aos soluços e a voz embargada subindo a garganta dela.

Movido pelo ímpeto de confortá-la como ela fazia comigo quando era criança e me escondia em baixo da cama com medo dos trovões em noites de tempestades, estendi meus braços e abracei-a posicionando a cabeça dela no meu peito e alisando os cabelos brancos que fazem parte do crescimento espiritual e sabedoria que ela adquiriu com o passar dos anos. Antes não entendia o quão importante os sermões dessa mulher tiveram participação fundamental na formação do meu caráter, toda a estrutura familiar que tive acesso partiu dela, pois de papai só conheci a disciplina severa, afeto não agrega um fator que ele julga relevante e por isso injustamente me privou disso.


Meses depois...


Fevereiro de 1943 - Varsóvia
 

— Collin, está tudo preparado para minha fuga? Fique atento, nenhum detalhe pode passar desapercebido? — Alertei nervoso em plena véspera da obter minha liberalidade definitiva.

— Confie em mim Michael, lhe dou minha palavra. O avião estará a espera de vocês na pista de pouso particular que combinamos, sem atrasos. Foi tudo meticulosamente planejado, a Srta. Frankfurt e você serão levados até lá, pelo motorista que contratei, acalme-se homem. — Meu "cúmplice" implorou para que eu não deixe o nervosismo apoderar-se mim. 


— Certo, tentarei me conter, afinal, falta pouco para esse martírio cessar. — Dei-me por rendido, rezando em prece silenciosa para que nada interfira nos meus planos. — Desculpe ser grosso, mas é que, preciso me preparar para receber Arizona, ela deve estar chegando. — Lembrei-me do meu compromisso de recepcionar minha princesa que terá que passar a noite aqui em minha casa, para que amanhã pelo alvorecer tomemos o voo para Londres.


— Compreendo, é, amigo, precisa mesmo de um banho. — Ironizou apontando para meu macacão sujo de terra. Mal sabe ele que peguei pesado nos trabalhos de jardinagem para deixar o jardim à altura de Arizona, exaurido, posso estar, porém recompensado pelo resultado final que creio que irá extasiar meu doce anjo.


— Então, nos vemos amanhã. Obrigado pôr se colocar ao meu serviço, o restante da quantia em dinheiro que lhe prometi será entregue antes do avião decolar.— Atestei apertando a mão dele para selar nosso acordo e Collin gentilmente saiu de minha presença.

*** 

Os últimos meses, embora exaustivos em virtude dos detalhes que tive que acertar para meu plano transcorrer conforme desejo tem sido maravilhosos. Arizona está cada dia mais descontraída em seus modos, e o sorriso de menina moleca não abandona mais os lábios dela. Ao contrário do que pensei ela não se opôs a partir comigo para Londres, assim como eu também necessita urgentemente reconstruir a vida fora desse campo de batalha. Ultimamente nossas esperanças de que o fim da guerra chegará antes do previsto pelas estações de rádio renasceram. Nas visitas recentes que fiz a ela, pude perceber que todas as desconfianças que um dia nutriu por mim dissiparam-se gradualmente. E o que relatar sobre o constante romance no qual temos vivido? Não houve uma só noite na qual estive na casa de Pedro para vê-la que não trocamos juras de amor e uma fervorosa dose de carícias intensas. Nossos beijos estão cada vez mais febris, e luxuriantes. Sempre que os lábios se cruzam o fogo se espalha entre nós e mal conseguimos manter os corpos a uma distância milimétrica. 


Não há mais volta, eu pertenço a ela e ela a mim, irei pedi-la em casamento. E permitir que dite o e ritmo que as coisas devem fluir, gosto de pensar que a união de almas acontece naturalmente no tempo certo. Se ela não sentir-se pronta para se entregar, fazer amor, isso não me incomoda, tampouco frustra, o corpo de uma mulher é sagrado, e até mesmo para ser tocado é preciso o consentimento absoluto da dama. E além do mais, por Arizona espero um século se for necessário. Sim, daria minha vida por aquele anjo, portanto não me importo em deter meus instintos carnais e guardá-los em minha mente. Durante alguns meses relutei em aceitar que minha amada permanecesse na casa de Pedro, no entanto ela me fez compreender que foi sensato mantê-la distante de papai. Se ocasionalmente eu a trouxesse para essa propriedade e meu pai viesse a descobri-la não faço ideia do que aquele homem sórdido seria capaz. Apesar de me sentir culpado por ter enganado a todos, mantendo um noivado de fachada com Joanna, que outra solução eu tive? Não arriscaria ser mandado para outro lado do hemisfério e perder minha garota de forma alguma. Então o que fiz é dissimular, assim como muitos fazem e papai com maestria. Essa atitude não me orgulha ou eleva meu ego," apenas me corrói de culpa. Por sorte os ventos sopram a favor dos apaixonados e novamente Ernest viajou, pelo que consta dessa vez a viagem se prolongará... Eis minha recompensa, nunca mais terei de encarar aquele homem diabólico e daqui para frente minha única missão é fazer de Arizona a mulher mais feliz do planeta. É por ele que vivo, e tenho respirado, tudo em nome do amor que se apossou do meu coração e renovou minhas esperanças.

(...)


"Romeu, Romeu, Romeu. Por que tu Romeu; recusa teu nome e renega a teu pai;ou se preferir abandonarei minha família para viver eternamente contigo, Mas afinal o que é um Capuleto? Não é mão ,nem pé nem braço, nem outra parte do ccrpo. A flor que chamamos de rosa se outro nome tivesse ainda teria o mesmo perfume; assim teria a mesma perfeição que tu tens agora. 

- Chama-me somente de amor - diz Romeu - e serei novamente batiza e jamais serei Romeu outra vez."


Procurei o ar nos pulmões e coragem para me desprender da leitura que tanto me fascina. Arduamente fechei o livro, pensando em como aplicar as lições que aprendo com ele na prática. Para quê nos limitamos em um mero sobrenome? Por que atribuir apego a coisas que não nos acrescem nenhum sentimento? Shakespeare tem sua genialidade resumida em uma passagem "a flor que chamamos de rosa se outro nome tivesse ainda assim teria o mesmo perfume. "Absolutamente, nomes são somente um título, mas o valor está na essência. Simples, se Arizona quiser que eu seja apenas seu Michael, serei, sem ressalvas ou prelúdios do meu passado, pois pertenço inteiramente a ela, e minhas origens podem ser abomináveis, assim como enterradas.


— Menino, sua donzela já estás a tua espera no jardim. — Matilde rogou se pondo de frente a minha cama, onde repouso e como de costume sonho acordado.


— Meu Deus, e por que não veio me arrastar para fora desse quarto antes? — Saltei do colchão macio antes que o ar se torne rarefeito, meu coração ganhe vida própria e denuncie que não passo de um romântico incurável. — Ela está aqui? Arizona respira o mesmo ar que eu? Meu anjo estará mesmo debaixo do mesmo teto que eu essa noite? — Engoli em seco, recuperando a coragem que perco ao saber que minha garota está por perto. Tenho que retomar a compostura serena ou transformarei uma noite romântica em um pesadelo estarrecedor.


— Se recomponha, Michael. — Ordenou Matilde fingindo uma rigidez que não lhe é natural. — Irá acabar espantando a menina, a pobrezinha vai levar um tremendo susto! — Ralhou me dissuadindo de a agir feito um rapaz na puberdade descontrolado em seu primeiro encontro.

— Certo, me exaltei devido ao frenesi do momento, mas me portarei conforme mandam meus bons modos. — Reafirmei minhas intenções respeitosas com Arizona, sem dar abertura a novas contestações.


— Sinto que cumprirá com a promessa justamente por amar aquela bela moça com a pureza de um menino inexperiente. — Um sorriso amplo enfeitou o rosto da mulher que considero uma mãe de coração.


— Sabe, lhe contarei um segredo... — Ri elegantemente, embora não consiga disfarçar integralmente a expressão travessa que brinca no meu rosto. — Antes de me tornar um homem compenetrado e estudar medicina, eu tive um contingente considerável de "namoradas", casos passageiros. Talvez, isso não tenha ficado tão claro para você, porque não levava as garotas para minha casa, por motivos que não devem ser citados, optei pela discrição. Mas, mesmo estando sempre acompanhado de belas mulheres, havia um vazio incomensurável dentro de mim. E... agora aquela sensação de não existir se foi, graças a Arizona, ela me amansa, me desestabilizam, desmonta o cafajeste que habitava em mim  e nem levanto a hipótese de seduzi-la ou tocá-la inapropriadamente. Tudo acontecerá em seu devido tempo, e naturalmente com o consentimento dela. — Revelei superficialmente algumas aventuras de minha vida amorosa um tanto quanto conturbada.


— Então, vocês ainda não... Oh, graças a Deus. — Desviou abruptamente os olhos do meu campo de visão e eu detive o riso, já que tenho uma pequena desconfiança de qual "informação particular" ela quer colher. 


— Não! Se está referindo-se a sexo, algum contato íntimo, pode se acalmar, não houve absolutamente nada, não por enquanto, ainda. — Sanei a curiosidade dela, me esforçando para não cair na risada diante da seriedade dela ao tratar de um assunto que a mim é natural. Matilde é uma senhora de idade, e compreendo o comportamento pudico dela em relação a determinados "temas", tudo que foge dos nossos costumes é assustador.


                                            
Capítulo 12

                                                                ~Michael~
  



— Não há o que temer, jamais sustentei intenções de me aproveitar da inocência dela. De forma alguma, embora a deseje fervorosamente, meu amor vai muito além de possessão, e prazer físico. — Retruquei as insinuações indiretas de Matilde gloriosamente.


— Desculpe se interpretei tudo equivocadamente, só prezo pela virtude de moças ingênuas meu menino. — Alegou, justificando a agressividade no tom de sua voz.


— Matilde, é extremamente nobre tua solidariedade... porém é desnecessária nesse caso, pretendo desposá-la e só após termos trocado nossos votos perante a lei, marcá-la como minha mulher, a não ser que... — Medi as palavras e suspirei para arquitetar melhor meus argumentos. 


— Enxergo em teu sorriso o respeito que tens por sua futura esposa e acredite, me orgulho em presenciar tua cautela com a menina. Definitivamente, só errou em um aspecto. — Franziu a testa ironicamente, voltando a me intimidar. — Deixar a moça esperando não é adequado, deves ir recebê-la, chega de perder tempo com meus sermões, corra para os braços da tua amada e a faça feliz. — Sugeriu em uma ordem implícita para que eu faça o que deve ser feito. 


— Oh não, perdi completamente a noção do tempo. Que indelicado isso soa de minha parte, esse amor no meu peito desnorteia-me! — Resmunguei ajeitando novamente o casaco informal que estou trajando, aproveitando para reaplicar perfume nos pulsos.


— Agora, tenho mesmo que ir Matilde, seguirei teus conselhos, e... depois daremos continuidade "àquela" conversa. — Destravei a trinca da porta e dei uma piscadela sutil, para só depois seguir meu percurso até o jardim da mansão, onde o a garota dos meus sonhos me aguarda. 

****
Meus olhos varreram cada metro quadrado do jardim em busca de Arizona e encontrei-a próxima a uma macieira carregada de maçãs quase maduras. Mascarei meu nervosismo iminente e caminhei ligeiramente até a ela. Quando meus pés bateram no gramado que rodeia a árvore frutífera que ela tanto observa, meu doce anjo remexeu o rosto e sorriu amplamente ao notar minha presença. Tentei ser silencioso, e acabei falhando, mesmo assim não me arrependo de ter interferido na análise emocional dela.


— Michael, está bonito. — Piscou muito lentamente através de seus longos cílios e preencheu o espaço que nos separa, pondo-se de frente para mim. 


— Sinto muito interromper, aposto que a macieira tem méritos mais grandiosos que os meus. — Despi-me de minha seriedade e me fiz propositalmente de rogado. Arizona amaldiçoou-me inocentemente com o olhar e em seguida tampou a boca para livrar-se da risada que tanto prendeu.


— Eu realmente continuo amando maçãs, é meu fraco. — Encolheu graciosamente os ombros admitindo seu apreço por maçãs.


— Sempre soube que um dia a verdade iria aparecer. Só que agora, gostaria que me falasse da estadia na residência de meu amigo Pedro. Como vão as coisas por lá? — Desconversei, dando um novo rumo para nossa interação. 


— Tudo na mais plena paz, sinto-me livre com ele e Scarlet para debater qualquer assunto. Eles me tratam como uma amiga, e tem sido absolutamente gentis. Scarlet me maquiou hoje, e costura peças de roupas para mim sempre que pode. — Pôs-me a par das novidades, extasiada com o afeto que recebeu de meus amigos.


— Eles são pessoas íntegras, serei eternamente grato por lhe acolherem de bom grado na esfera familiar deles._Ratifiquei minha sincera gratidão a Pedro e sua senhora. E... — Mordi o lábio em um gesto de puro instinto e fitei os olhos estreitos de Arizona. Scarlet, acertou em cheio no figurino, pois está maravilhosa querida. Rodopiei-a cuidadosamente, analisando a beleza natural das curvas de Arizona e as bochechas dela serem tingidas de vermelho subitamente, o que só agrega um charme singular a ela.


— Por que sempre me encabula? — Perguntou segurando a barra do vestido florido e feminino que caiu feito uma luva no corpo curvilíneo dela. Eu posso afirmar que a sensualidade é inerente a uma mulher e não deve ser expressa por vias erradas e vulgares. 


— Essa é minha tarefa, e confesso que fico encantado com o tonalidade púrpura que assume quando a elogio. — Admiti descaradamente. Eis meu contentamento em intimidá-la levando-a rir gostosamente da confissão. 


— Sendo assim, eu estabeleço um acordo de paz. — Rendeu-se aos meus galanteios, entrando no espírito da coisa.


— E eu aceito estimada dama. — Reclinei o corpo fazendo uma reverência esticada a ela. — Aceita ser conduzida por este solitário cavalheiro até os aposentos dele? — Indaguei dramaticamente e ela assentiu solícita. 


— Gostaria que me conduzisse até as estrelas esta noite, Michael. — Impôs seu desejo ardente e atrevido, fazendo a parte mais zelosa de mim sobrepor meus anseios. 


— O que quer de mim? — Inquiri atordoado, para não dizer confuso em absolver o que ela acabou de frisar metaforicamente. — Querida, eu não posso, não me faça agir de uma forma desrespeitosa, eu não conseguiria recuar se começasse. — Sussurrei escovando os cabelos dela para trás de sua nuca.

— E eu não quero que se controle, não essa noite, apenas me torne mulher. — Suplicou salpicando beijos pelo meu pescoço e usando suas mãos nos meus ombros tentou empurrar meu casaco pelos meus braços. Alguma espécie de peso na consciência subiu a minha cabeça e afastei as mãos dela de mim, removendo suas chances de prosseguir.


— Não me queres? Pensei que... lhe agradaria... — Choramingou obstinada a me enlouquecer. — Eu preciso de você, quero senti-lo me possuindo, me ajude a desvendar esse universo tão novo... Em nome do nossas juras românticas, faça amor comigo. — Implorou veementemente para que eu me sacie em seus braços. Nunca me opus a me entregar a uma mulher, e em troca satisfazê-la, mas meu excesso de zelo com Arizona faz-me refletir sobre o quão inesquecível esse momento tem que ser para ela. Duas pessoas se amando, dois corpos se unindo em um só, fundindo a concessão de almas é uma explosão de emoções, a sensação de plenitude, tanto quanto a perfeita sintonia da pele, são uma ínfima amostra da singularidade do que "o fazer amor" significa.


É tão mais intenso e íntimo do que pensamos, nem mesmo o mais sensitivo dos homens é capacitado a descrever o que se passa quando dois apaixonados se conectam de corpo e alma. Provavelmente isso faz parte das coisas indescritíveis que apenas devem ser sentidas, e não explicadas. 


— Responda, Michael, não fazes de mim uma mulher rejeitada! Por que temes me tomar em teus braços? — Arizona interveio em meus devaneios, exigindo uma explicação plausível para minha covardia. 


— Eu receio quebrar o encanto de um momento que eventualmente deve ficar gravado em tua memória como subliminar. — Movi minhas mãos delicadamente pela face angelical dela, reprimindo minha vontade de consumar nosso amor.


— Michael, essa é uma escolha única e exclusivamente pessoal, eu decidi por mim mesma. Ninguém me manipulou ou influenciou. Portanto, não fuja de mim, pelo contrário se perca em meu corpo. — Incitou-me persuasiva e determinada a exercer o poder de sedução que possui. Se ao menos a voz dela não estivesse tão carregada de malícia ou ela não despertasse em mim uma torrente de desejos indomáveis. 


— Não posso manchar tua honra... — Verbalizei meus temores e fui surpreendido pelo toque incomparável de Arizona em meu peito. 


— E isso não vai acontecer, porque eu já sou sua, esperei por isso a vida inteira e tenho a absoluta certeza de que fará me mim tua legítima esposa. Estou segura do que quero, não hesite, somente me leve as estrelas, prove que seu amor é forte e altruísta. — Desafiou sustentando uma meiguice da qual nenhuma outra mulher na face da terra é dotada. 


— Não suportaria que se arrependesse ou que não seja prazeroso para você e torne-se uma recordação lastimável. — Tomei a liberdade de expressar meus receios de que um momento mágico torne-se um martírio para ela.


— Jamais vou me arrepender, e eu sei que nunca faria algo para me machucar ou desapontar. Conheço teu caráter. — Reassumiu a postura de menina cativa, enfim me convencendo de que se ela está me escolhendo para torná-la mulher não posso me acovardar ou me recusar a dar-lhe meu amor.


— E como eu seria capaz de negar um pedido tão singelo como o teu? Se tem convicção que está pronta, quem sou eu para contestá-la? — Sorri pela primeira vez largamente, lendo no brilho dos olhos dela, que relutar amá-la foi uma tremenda estupidez. Só espero ser digno de roubar a pureza de minha Julieta e que ela caminhe junto a mim ao universo da paixão. 


— Juro, respeitar seus limites querida, serei o mais carinhoso e paciente dos homens, para que possa desfrutar do momento. — Cedi, rendendo-me a minha garota, livre de quaisquer neuras ou arrependimentos. Sim, estou completamente rendido e não há nada que possa fazer quanto a isso. Cautelosamente ergui-a em meus braços, e tendo-a em meu colo carreguei-a sem o menor constrangimento até o andar superior da mansão, onde alcancei meus aposentos e discretamente entrei com meu doce anjo.

***

— Parece que estou sonhando. — Arizona exclamou radiante, assim que deu-se conta que eu  acomodei-a em minha cama para fechar a porta e nos dar privacidade.


— É apenas a realidade, meu amor. — Adiantei-me em rebater andando na direção dela, e assim que pude me joguei na cama a meros centímetros de distância dela. 


— Michael, coloque tuas mãos em mim. — Instruiu me guiando, sedenta por iniciar um contato íntimo.


— Está nervosa bebê? — Entrelacei nossas mãos e impulsionei o peso do meu corpo sob ela, posicionando-me por cima dela gentilmente.

Arizona suspirou pesadamente e em seguida desuniu nossas mãos, levando meu dedo indicador aos seus lábios, beijando-o castamente.

 — Não! Me sinto preparada, eu te amo e isso basta! — Salientou segura de uma maneira que também me faz ter discernimento do quão ambos estamos emocionalmente envolvidos.

 — Eu te amo mais. — Afirmei roucamente arrastando o nariz pela curvatura do pescoço dela para inspirar o perfume feminino que a pele de minha amada possui. — Feche os olhos querida, deixe-me levá-la as nuvens. — Insinuei penteando os cabelos dela com os dedos. — És tão linda, Deus. preciso tanto satisfazê-la essa noite. — Exteriorizei esquecendo os pudores, porque de fato é uma necessidade quase desesperadora que tenho de conduzir essa mulher a sensações que ela jamais imaginou experimentar. Em um gesto impetuoso minhas mãos migraram para o fecho do vestido de minha garota, o qual abri carinhosamente revelando outra camada de tecido, um espartilho o qual me apressei em afrouxar. Trabalhei alguns minutos em tirá-lo do meu caminho e no instante que obtive êxito pude contemplar a pele macia e alva da menina pura que estou a um fio de despir por completo. Explorar um território jamais tocado por outro homem agrega todo um louvor a situação. 

Serei o primeiro homem e espero o último, e isso só contribui para aumentar minhas responsabilidades de apresentar novas experiências e um novas descobertas a uma moça casta. Hoje, me coloco a inteira disposição de uma mulher, é para ela que o momento deve ficar gravado na memória, e é em nome de meu amor que se necessário colocarei minhas satisfação em segundo plano, como uma mera consequência ou um ínfimo prêmio de consolação. 

— Ohh, Michael! — Clamou por meu nome empurrando meu casaco pelos meus ombros enquanto eu permaneço acariciando os seios fartos dela por dentro da renda do sutiã. 


— Estou aqui bebê, estou aqui com você, estou aqui para você, e farei o que quiser. — Afaguei os cabelos ondulados e igualmente cheirosos dela, me propondo a lhe oferecer toda minha atenção. — Irei com calma, não sentirá nenhum desconforto no que depender de mim. — Colei minha testa na dela no intuito de reafirmar meu amor, alcançado a alça do sutiã, o qual optei por rasgar e agilizar as coisas. 


Arizona corou com meu ato indelicado, mas sua timidez durou pouco, e antes que eu pudesse proferir alguma palavra de retratação ela começou a levantar minha camisa de algodão branca, e eu segui o ritmo que ela está ditando, terminando de tirar a camisa e me livrando sucessivamente da calça e cueca. Arizona não tardou a esconder o rosto por entre as mãos envergonhada com minha nudez, e também com a sua parcial nudez, já que ela está parcialmente nua. Com a devida maestria de um cavalheiro alcancei a renda da calcinha dela levando a peça íntima junto aos meus dedos e atirando-a no carpete do quarto. Por fim vislumbrei cada centímetro do corpo desnudo de meu anjo, podendo percorrer meus olhos espertos por toda a espessura das formas perfeitas de Arizona, mas sem deixar de acariciar o rosto dela umedeci os lábios e trilhei beijos pela barriga dela, até encontrar suas pernas e abri-las para me acomodar. Fitei-a emocionado por alguns instantes e apoiei minhas mãos na cintura dela, suspirando de amor por essa mulher assim como ela também transpira amor por mim. Optei por prolongar a troca de carinhos e continuei minha tortura, dessa vez beijando os tornozelos dela, e circulando a parte interna de suas coxas levemente. Arizona mantém os olhos fechados, deleitando-se com a pressão delicada de minha mão sob sua pele sensível. Estou igualmente entorpecido, desejando sentir cada milímetro dela me acolhendo. Ah, como sonhei em ouvir gemidos roucos escapando dos lábios de minha princesa. Como ansiei tocar esse corpo virginal e torná-la mulher. Nada se compara a beleza desse momento, onde podermos nos amar até a exaustão, esquecendo por completo até mesmo das barreiras que nos separam, somente esmorecendo nos braços um do outro. 


— Tão bela! — Enalteci tendo a voz arrastada e ligeiramente sôfrega. — Tem mesmo certeza? Jamais me perdoarei se vier a arrepender-se. — Pousei minhas mãos nos cabelos de Arizona novamente, detendo-me para não invadi-la e marcá-la como minha sem ter o consentimento dela. Preciso estar ciente de que ela quer tanto quanto eu, ou não irei até o final.


— Sim, me entregar é possivelmente meu maior desejo nos últimos tempos. — Confidenciou enrubescida pelos beijos urgentes e carícias que partilhamos. Não restam mais incertezas, todos meus receios e inseguranças se esvanecem aqui diante do sorriso espontâneo que adorna os lábios de minha amada. É ela, sempre foi amor antes mesmo de ser e quando existe reciprocidade de sentimentos, os desejos se cruzam e completam-se. Toda a volubilidade que um dia me impediu de dar um passo importante na nossa relação reduz-se ao pó mediante a força impiedosa do amor. 


— Eu te amo! Te amo, te amo. Não se esqueça que te amo. — Repeti sem deixar de observar cada reação dela e dar brechas para ela contestar meu amor. Suas mãos delicadas deslizaram por minhas costas em um convite para que eu prossiga sem ressalvas ou relutância. Fitando profundamente o par de olhos marejados impulsionei os quadris, quase invadindo-a, todavia sem forçar sua entrada, mantendo-me obstinado a não machucá-la, persisti pacientemente roçando a glande na carne quente dela e quando a senti relaxar para me receber em um movimento sincronizado, porém cadenciado movi-me, por fim nossos sexos conectaram-se como se tivéssemos o encaixe perfeito. Vagarosamente me permiti deslizar inteiramente para dentro dela, e ao alcançar seu núcleo sensível recebi como alerta um gemido doloroso dela, fazendo-me interromper a penetração e beijá-la para desviar o foco da dor.


— Bebê, vai passar. Confia em mim?  Preciso apenas que relaxe e olhe dentro dos meus olhos. — Depositei um selinho suave na bochecha de Arizona tentando resistir aos meus impulsos de investir contra a ela e senti-la me acolhendo e apertando-me em torno de si. Felizmente, meu auto controle fala mais alto do que meus instintos.


— Confio, só... dói... e... eu... não fazia ideia de que seria assim. — Resmungou manhosa. Terá que ser paciente, mas por favor continue. — Pediu utilizando de toda sua ternura, e claro, fazendo meu sangue se transformar em fogo líquido nas veias, tamanho o desejo de amá-la ininterruptamente. 

Liberto de qualquer culpa voltei a me movimentar vagarosamente, me controlando sobremaneira já que a pressão do canal apertado aliado a quentura dela, me induz a querer aumentar gradualmente o ritmo. Percebendo ela comprimir seus dentes contra os lábios e a expressão rígida do rosto dela ser substituída por feições distorcidas e relaxadas adquiri segurança para aumentar a velocidade das investidas, já que finalmente a dor se foi dando lugar a prazer.


— Oh, Michael... é tão... — Fincou suas unhas longas em meus ombros, se contorcendo com cada toque meu em sua pele.


— Eu sei, é perfeito. — Balbuciei sentido cada micro célula do meu corpo vibrar como se uma corrente elétrica me incendiasse. Meus músculos se enrijecendo e relaxando sucessivamente, a cada vez que me afundo em seu núcleo antes intocável. As lamúrias doces de Arizona em busca do apogeu tão desesperada espelham como sente desesperada para se saciar e arrastar-me junto a ela para o paraíso desconexo do orgasmo, onde a capacidade de qualquer pensamento oposto a prazer se perde, fazendo crescer a aliciante necessidade de aliviar toda minha adrenalina e relaxar. Acontece que meu dever essa noite é ser um cavalheiro, é fazê-la delirar e suplicar por mim e para isso permanecer dentro dela por mais tempo é essencial. Não importa o quão eu esteja voraz por me enterrar nela e esquecer que há um mundo lá fora, tampouco suprir minhas necessidades, é somente ela que importa, esse é o momento de Arizona e ficarei feliz em torná-lo inesquecível.


— Eu não posso, Deus não quero parar de fazer amor com você. — Balbuciei preenchendo-a com volúpia, beijando seus lábios da forma romântica que faz todas as outras coisas ao nosso redor desaparecerem e perderem a importância. A medida que intensifico os movimentos Arizona arqueja no intuito de me sentir com mais vigor e os gemidos tímidos dela tornam-se aflitos, ela parece absorver todo o torpor do momento para si, mostrando-me que não estou falhando com minha promessa de levá-la às estrelas. As feições volúveis e o sorriso espontâneo enfeitando o rosto dela são um aviso prévio de que ela está a um átimo de seu clímax. Incrivelmente cativante, e já tão em êxtase como eu Arizona agarrou meus cabelos e clamou por meu nome, contorcendo-se debaixo de mim por intermináveis segundos, apertando-me contra seu corpo, como se quisesse atravessar minha pele e me trazer mais para si, tremendo e reverberando o prazer através de espasmos voluntários, ela consecutivamente conduz-me ao meu glorioso ápice. Oh, meu tão esperado gozo veio exatamente como deve ser, Pouco a pouco o frenesi vai passando dando lugar a paz, exaustão... Enfim os músculos relaxam e o coração se enche de contentamento. Fitei Arizona ainda deitado sob ela, e percebi a serenidade assolá-la como um feixe de luz cruza uma pupila. 


— Está bem querida? Eu fui rude? — Arqueei as sobrancelhas sem desfazer o sorriso de satisfação do canto externo dos lábios.


— Sim, estou bem, completamente maravilhada, foi fantástico, Michael, é como estar andando nuvens em pleno céu. — Vangloriou mudando suas mãos para minha nuca adoravelmente.


— Nem posso acreditar que entregou-se a mim, me fazendo o homem mais feliz do planeta. — Cravei meu olhar nela, querendo contemplar os cabelos desgrenhados moldando-lhe os traços, assim como o rubor de suas têmporas que transmitem o espírito do caloroso momento que vivemos.


— Hey, não vale! Eu iria dizer-lhe a mesma coisa. — Choramingou e abriu um beicinho emburrado. Soltei uma sonora risada e saí calmamente de dentro de Arizona, me enroscado no lençol, apoiando meus cotovelos no colchão para ter a visão privilegiada dela.


— Já falei que é sua beleza é uma afronta ao restante das criaturas do mundo? Deus, como é linda... — Emiti meus pensamentos constantes sobre a beleza inimaginável de Arizona.


— Confesso que ouvir uma declaração tão sincera me faz flutuar. — Retribuiu meus elogios lineares com uma docilidade perturbadora.


— Não está cansada? É melhor descansar, amanhã, assim que o sol apontar no céu partiremos.— Beijei carinhosamente o dorso das mãos dela, apreensivo em uma escala excruciante. Nada pode transcorrer diferente do combinado ou as consequências serão mortíferas.


— Verdade, estou mesmo ficando sonolenta. — Bocejou cobrindo os lábios com os dedos. — Tem razão, preciso de uma energizante noite de sono. — Enrolou-se nos lençóis e pude presenciar suas pálpebras antes tão pesadas se fecharem instantaneamente e como em um passe de mágica ela foi relaxando, até estar ressonando profundamente

(...)


Tateei o corpo de Arizona na cama e não encontrei-a, percorri os olhos ainda sensíveis, pois acabei de despertar mas nem sinal dela. Observei a parcial penumbra do quarto e constatei que já é madrugada. Rapidamente tratei de me levantar, vestir um roupão e vistoriar a casa em busca dela. Vasculhei cada canto dos cômodos minuciosamente e até o determinado momento nada de minha Julieta.


O jardim! Não procurei por lá. — Lembrei de súbito meu esquecimento ao deixar o jardim passar despercebido. 

*** 

O alivio me fez enfim respirar profundamente. Arizona está sentada na grama próxima a macieira na qual nos encontramos. Caminhei até ela a passos firmes e assim que ela percebeu minha presença agraciou-me com um de seus sorrisos cativantes.


— Meu anjo, estava desesperado atrás de ti. — Informei-a sobre meu medo de que algo ruim lhe aconteça, sentando-me ao lado dela.


— Estou apenas contemplando as estrelas, faço isso todas as noites. — Elucidou com um semblante travesso, em plena calmaria apesar do meu ar de nervosismo não ter declinado por completo.


— Tudo bem, só deveria ter me avisado. — Uni nossas mãos com o olhar fixo nas órbitas estonteantes dela.


— Da próxima vez eu lhe informarei, só não achei que seria necessário. — Admitiu retraindo os ombros em um gesto meigo.


— Sinto muito, sou bastante protetor com quem amo. — Confessei sem titubear meu lado protetor. 


— Isso acrescenta ternura a tua personalidade. — Mordeu os lábios ao fazer tal observação 

— Quem sabe? Ri negando com a cabeça. — Está frio aqui fora, pode pegar um resfriado anjo. Esfreguei a palma das mãos na face gélida de Arizona. — Vamos para o quarto querida? Coloquei uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.


— Não, ficarei mais um pouco, vá você, prometo que não irei demorar muito! Estou bem agasalhada, nada irá me acontecer. — Resistiu a voltar comigo para a suíte e respeitarei a decisão dela, é normal que queira ter um contato apurado com a natureza e tomar ar fresco, refletir sozinha sobre que aconteceu com nós.


— Sendo assim, deixarei-a refletindo. — Dei de ombros, levantado-me da grama, e tentando limpar o roupão já úmido de orvalho. Por fim recuando, e deixando minha garota apenas com a luz lhe protegendo, perdida em seus próprios pensamentos. Enfim mais tranquilo me dirigi ao andar principal da mansão.

*** 

— Mas como assim ela não está em lugar algum, Matilde? Isso é uma casa, ela tem que estar aqui! — Excedi meu limite ao tomar partido que os empregados aos quais confiei a missão de encontrar Arizona falharam. Ela evaporou desde o princípio da manhã, já organizamos buscas pelos arredores da casa e simplesmente fracassamos.


— Diabos! Esse lugar é um mausoléu enorme, ela tem que estar por aqui. — Bati a cabeça na parede sem o menor receio de me machucar. — Deus, não diga que levaram minha menina, por favor não. 
— Praguejei sentindo o sabor agridoce das lágrimas que escorrem pelo meu rosto em cascatas. Novamente colidi contra a parede, dessa vez minha cabeça latejou, mas nenhuma dor se compara a da alma. Talvez a dor física amenize esse vazio maldito.


— Menino vai acabar se matando, pare com isso! — Matilde puxou-me da parede e me encarou atônita. Daremos um jeito, essa mansão é um labirinto, deve haver onde continuar procurando.


— Por acaso papai esteve aqui? — Esbravejei intuindo que meu pai tem alguma culpa em toda essa desgraça, se for confirmado que ele tem participação no desaparecimento de Arizona terá que enfrentar a fúria de um homem apaixonado.


— Não que eu saiba, apenas escutei movimentação estranha no jardim, e pensei que era você ou a Srta. Arizona. — Estreitou o cenho. 


— Se lembra a que horas ouviu barulhos no jardim? — Indaguei evitando levantar falsas hipóteses e culpar um "inocente".


— Estava amanhecendo menino. — Respondeu convicta, desvendando o mistério e clareando as informações em minha mente.


— Amanhecendo? Inferno! Levaram minha garota! Eles levaram-na! — Bradei sentindo o sangue fervilhar na corrente sanguínea feito ácido sulfúrico e meus punhos se fecharem automaticamente. Flashes da noite anterior se espalham pelo meu subconsciente fazendo um ódio descomunal me dominar. Se tiver que ir ao inferno para encontrar minha Julieta eu não cogitarei ir.


— Eu vou matá-lo, vou destrui-lo! — Cerrei os dentes, e travei o maxilar me permitindo cair de joelhos no chão do meu quarto, jurando a mim mesmo que trarei Arizona de volta...— Não!!! — Urrei em plenos pulmões, sentindo minha garganta arder pela intensidade do grito, enfim liberando toda minha angústia.


Capítulo 13

Michael  

 — Como isso foi acontecer justamente agora? Deus não me puna assim! — Conclamei no torpor da incredulidade, cravando meus joelhos no chão como se a dor física anestesiasse a ferida purulenta da alma.

— Pelo amor de Deus menino, mantenha a fé, vamos encontrá-la. — Captei vagamente a voz trêmula de Matilde me reconfortando.

— Irei até o inferno, eu mato aquele infeliz se necessário! — Permiti-me desabar sobre o chão, desejando apenas despertar desse pesadelo e vislumbrar o sorriso doce de Arizona arrancado-me das trevas. De um ser humano fraco e omisso me transformei em um justiceiro rancoroso, sedento por vingança.

— Michael, céus... acalme-me menino, nem tudo está perdido. — Minha visão turva pelas lágrimas me impede de visualizar a expressão de Matilde, tudo que vejo é o vulto embaçado de sua silhueta robusta. Lembranças dos momentos que partilhei com a mulher pela qual respiro desde que conheci passam em câmera lenta diante de minha memória. Os olhos verdes que dão sentido a minha existência não estão mais aqui... O perfume delicado de flores campestre se esvanece junto aos meus sonhos e dissipa a vontade de viver.

— Miserável! Ernest, a batalha pode estar ganha, mas a guerra não! — Praguejei arranhando o carpete violentamente, debatendo minha cabeça contra o mesmo. Mal consigo processar se isso é real ou fantasia, nem mesmo que lugar do universo estou, distante, disperso... ainda consigo escutar de fundo os gritos agudos de uma mulher atordoada.

— Cesar me ajude, precisamos levantar o menino, ele está em um profundo estado de nervo. — Emergido no meu sofrimento pude compreender o que Matilde proferiu, a mais injusta e infelizmente a verdade irrefutável de minha situação atual... Senti duas mãos me erguendo e consecutivamente a maciez de uma colchão...

— Cesar...— Abri lentamente os olhos, tentando me familiarizar com a luz, e reconheci meu motorista de súbito. Ao lado do pobre homem aturdido que conheço desde a infância encontra-se Matilde, os olhos dela estão marejados e ela soa minimamente aliviada ao me ver recuperar a consciência. — Obrigado por ter... — Suspirei articulando as palavras ideias, já que tudo ao meu redor ainda gira vorazmente. 

— Não agradeça Sr., sente-se melhor? — Perguntou educadamente, evitando ser invasivo, talvez os detalhes sejam desnecessários em tal dialeto.

— Vou sobreviver, mas com certeza não sem minha garota. — Decretei, obstinado a mover céus e terra para trazer Arizona de volta, mesmo que isso custe minha própria vida.

— Eu sei como ajudá-lo. — Meus ouvidos reconheceram o ranger de uma porta juntamente com a melhor coisa ouvi nas últimas horas, e me deparei com a figura enfadonha de Joanna, cabisbaixa e constrangida em invadir meus aposentos sem aviso prévio.

— Mas como... — Inevitavelmente um vinco profundo de perplexidade se formou em minha testa.

— Noite passada, vim visitá-lo para acertarmos os últimos detalhes da festa de noivado... e o vi no jardim com uma moça... Percebi que a amava observando a forma pura como olhava-a e a tocava... Estava ali com tua alma gêmea e eu a intrusa... Não pude mais suportar presenciar a cena e me esquivei de confrontá-lo... Desculpe aparecer assim, eu vim para romper o noivado... Michael, sei para onde levaram sua... bem, a moça. Seu pai administra um campo de extermínio no leste da Alemanha, decerto ele transportou ela num trem junto com outra centena de judeus desabrigados. Se conseguir um avião posso lhe acompanhar, passar as coordenadas para o piloto. — Ofereceu sua ajuda com uma sinceridade admirável. Embora os olhos dela reflitam tristeza seu coração de ouro a impele a exercer justiça.

— Joanna, por favor aproxime-se. — Pedi dando um tapa na cama, Matilde e César também estão encantados com a bondade da moça. — Sinto muito por ter lhe iludido, eu fui um canalha da pior espécie. Infelizmente não houve outra maneira de papai não me exilar do país e eu temia pela segurança de Arizona, todos meus medos se confirmaram e veja a desgraça que Ernest provocou... — Engoli seco, tendo a voz embargada ao concluir meus esclarecimentos.

— Tenha fé Michael, nada de ruim acontecerá com sua garota. — Matilde sentou-se ao meu lado na cama e segurou minha mão firmemente, querendo explicitar seu apoio a mim. Se ela pudesse me carregaria em seus braços a afastaria toda a dor.

— A dona Matilde tem razão Michael, ainda podemos reverter a situação e eu o amo o bastante para querer vê-lo sorrindo, juro que lutarei imbativelmente para que reencontre tua felicidade. — Comprometeu-se a me auxiliar na missão de resgatar minha princesa das feras chamadas nazistas. É tocante, e claro que me comove ter o privilégio ganhar uma nova amiga, sobretudo uma parceira disposta a abdicar-se do próprio orgulho em nome de minha felicidade.

— Joanna, palavras não são boas aliadas para traduzir toda minha gratidão nesse momento, obrigado pelas informações valiosas. Há um avião me esperando em uma pista particular interditada por motivos desconhecidos, mas que pode ser perfeitamente utilizada. Contratei pessoas de confiança para garantir que minha fuga com Arizona para a Inglaterra saísse conforme o planejado. Temos que correr para lá, é a única forma de salvarmos minha garota. — Saltei da cama mecanicamente, me recompondo e enxugando as lágrimas, emoções devem ser omitidas para que nada transcorra contra a força do bem. Joanna fixou o olhar em um canto qualquer do quarto, buscando por coragem e enfim me direcionou sua atenção.

— Vou com você e farei o que estiver ao meu alcance para resgatarmos a moça, eis minha prova de amor, e não se preocupe, não desejo nada em troca, apenas que sejam imensamente felizes e construam uma bela família. — Pela primeira vez o rosto dela iluminou-se de pura graça, tornando-a cativa e demasiadamente extasiada. Entrelacei minhas mãos nas dela selando nosso acordo de amizade.

— César é possível que nos leve até a pista abandonada? — Indaguei virando o rosto na direção oposta a onde eu Joanna estamos, no local exato no qual Matilde e meu motorista nos observam sorrateiramente, evitando maiores constrangimentos com comentários evasivos.

— Sim Sr, levarei-o a qualquer lugar que desejas, és meu patrão ora. — Repreendeu-me com toda sua cautela em não abdicar do profissionalismo.

— Não mais, pode me chamar somente de Michael, e por favor não hesite em me chamar de insano se necessário. — Quebrei o clima fúnebre e conduzi Joanna atrelada ao meu braço porta afora.

(...)
 
— Joanna, hey acorde . — Afaguei suavemente o cabelo de minha mais nova aliada, tentando fazê-la despertar do sono profundo no qual mergulhou desde que o avião decolou. — Já chegamos, tem certeza que estamos no local correto? — Questionei analisando o terreno deserto que nos rodeia pela janela do avião já aterrizado em solo alemão.

— Mi... Michael. — Semicerrou os olhos já entreabertos, e soltou um longo suspiro de fadiga. — Desculpe ter adormecido, não consegui pregar o olho noite passada. Bem, pelo que consta seu piloto seguiu minhas orientações, o campo de extermínio fica a cerca de um quilômetro daqui.

— Então já esteve lá? — Estreitei o cenho.

— Uma vez... papai veio trazer um carregamento de armas pessoalmente, estávamos passando férias em Londres e de lá nosso avião particular partiu para Alemanha. Meu pai cravou uma batalha para que eu o aguardasse no avião, mas eu o desobedeci e segui seus passos como uma sombra desvendando o enigma do desaparecimento de milhões de judeus. Devem existir centenas desses campos espalhados pelo mundo. — Confidenciou.

— Pode me levar até o campo de extermínio? — Apressei-me em cortar o assunto e me deter a cumprir com meus anseios românticos de recuperar minha dama perdida.

— Claro, é para isso que estou aqui. Só não gostaria de entrar naquele... 'inferno' novamente, o ambiente é de uma brutalidade e carnificina absoluta. — Elucidou aterrorizada com uma possível visita ao campo de extermínio onde judeus são escravizados e submetidos as mais inimagináveis humilhações.

— Conheço um atalho, orientarei você como chegar lá e quando estivermos perto, retorno em segurança para o avião.

— Nada que eu diga é capaz de expressar a admiração e gratidão que nutro por ti. Está me salvando Joanna, sua generosidade é a prova de que antes do que imagina tua recompensa virá, o amor chegará em breve, encontrará um homem reto e de boa índole. — Beijei castamente a testa dela e contemplei seus olhos repletos de ternura me indicarem o contentamento com meu breve discurso.

— Talvez... deixo por conta do destino. — Argumentou sorrindo timidamente, sem mostrar os dentes e contraindo adoravelmente as covinhas de suas bochechas.

— Tenho certeza que uma pessoa com tua luz terá a oportunidade de ser amada. — Frisei notando ela corar com meus comentários inofensivos.

— Temos que seguir em frente, resta um longa caminhada até chegarmos ao trunfo dos nazistas malditos, aqueles assassinos são os únicos culpados pelo caos irreversível da guerra.— Endossou crescendo a sonoridade amena de sua voz exponencialmente. Dominada por um ódio descomunal assenti com um meneio de cabeça para que possamos prosseguir com nosso plano unidos e bravamente, determinados a vencer o mal.

***

 Alemanha - Abril de 1943 

Campo de concentração Niederhangen

Conforme fui instruído por Joanna após ela me indicar o caminho para chegar no campo de extermínio, eu conclui os últimos metros do trajeto sozinho, e ela recuou para a aérea segura do avião. Não caminhei muitas léguas, e meus olhos atravessaram uma monstruosa construção, minuciosamente planejada para impedir quaisquer fugas de "prisioneiros". Os portões são totalmente revestidos em ferro inoxidável e embora meu campo de visão seja limitado consigo enxergar a ausência de janelas, e um rastro de fumaça se dissipando pelo céu nublado. Adentrar essa fortaleza requer um nato raciocínio lógico, mas sempre há falhas. Todos deixam alguma abertura na arquitetura de suas construções e por pura sorte, ou acaso, tem uma cerca ao lado oposto aos portões centrais que parece levar até a fumaça provém.
Desprovido de qualquer receio, enrosquei meu casaco nas mãos para proteger minhas mãos do arame farpado e ergui a cerca o suficiente para rolar no chão e me enfiar no lado de dentro do campo. Mesmo ganhando alguns arranhões em virtude da espessura do arame, concretizei minha ideia, e enfim tenho a visão do inferno diante de meus olhos. Soldados lançam cadáveres em uma vala profunda e cavada para restituir os vestígios do sangue derramado. A atividade involuntária de piscar torna-se escasso e demasiadamente difícil, a cerca de cem metros vejo o quão desumano o ser humano pode ser. Inocentes sendo descartados como se não representassem absolutamente nada para ninguém, sonhos sendo sepultados em companhia a juventude, a tão aclamada mocidade sendo desperdiçada . Vidas arrancadas, seres humanos estão sendo massacrados pelo desejo mórbido em dominar o mundo e a aspiração ao poder. Toda essa barbárie acontecendo com nossos irmãos, e o grito deles está sendo ofuscado pelas promessas ideológicas dos nazistas. Crianças puras, mulheres grávidas, todos pagam o preço da ganância humana. A magia da vida é desintegrada a cada milésimo de segundo que esse conflito bélico perdura. Se mil anos eu viver em cada um deles essas imagens virão a tona, a tenebrosa realidade do mundo está cravada em mim desde o início da guerra, mas agora ela me maltrata, martiriza, revolta e induz a lutar pela paz.

— Espere, eu conheço, vosso pai me mostrou uma foto tua. Michael, por acaso és o filho do general Ernest? — Um homem de aspecto asqueroso e frívolo inquiriu armado até os dentes, causado-me pavor e repulsa na mesma proporção.

— Sim, sou o "filho ingrato" do insuperável Ernest Scruse, e vim em paz. Por favor abaixe esse arma, creio que eu não represente uma ameaça para ninguém. — Dissimulei um auto controle que perdi quando Arizona foi arrancada dos meus braços. Eles batalham com armas de fogo e eu com a mente.

— Diga logo quais tuas pretensões. Graças ao respeito que desenvolvi por vosso pai não tomarei providências drásticas. — Cerrou os dentes para em seguida desfocalizar a metralhadora do meu rosto. Sorrateiramente o capacho de Hitler me analisou, procurando resquícios de mentiras em meu semblante artificialmente imutável e sereno.

— Há uma garota, só quero libertá-la e fugir para a Inglaterra com ela. — Revelei sem titubear ou perder tempo com alegações sem fundamento ou fundo de verdade.

— Quer mesmo que eu estoure seus miolos garoto? — Vociferou assumindo uma postura terrivelmente grotesca.

— Longe de mim, teria coragem de matar a sangue frio o herdeiro de vosso general?— Desafiei contendo o sorriso de canto que brota dos meus lábios. 

— Jamais... tens razão, seria um traidor desprezível, no entanto, não devo compactuar com tua insanidade. — Exclamou mais brando do que antes, todavia tão irredutível quanto a primeira vista, para o tremendo azar dele também estou impassível.

— Se mantermos segredo, será como um pacto... Lembre-se tenho fortes influências sob vosso superior e poderia obter privilégios para quem me for útil. — Menti gloriosamente, manipulando o soldado do demônio em meu benefício.

— Interessante... uma proposta irrecusável, mediante a ela me disponho a ajudá-lo. Irei trazer a moça, não nego que é astuto, Ernest tem um corajoso herdeiro. — Ratificou me venerando pela esperteza e insultando intimamente ao encaixar meu pai na conversa.

— Sabe onde Arizona está? Ela tem cabelos loiros na altura da cintura, olhos verdes, baixa estatura, na verdade a beleza dela não passa incólume. — Descrevi sucintamente as características físicas de meu doce anjo.

— Vosso pai chegou furioso com tua donzela pelo amanhecer, nutre um ódio avassalador pela pobre. Ordenou aos seus "súditos" que dessem uma lição nela, a coitada levou uma surra e mesmo assim teve que trabalhar incessantemente o dia todo. — Relatou com a mesma rigidez no timbre de voz, apesar de demonstrar uma lamentação que não lhe pertence.

— Deus, eles espancaram minha garota... — Levei a mão esquerda aos cabelos contendo minha revolta e ira por papai. Meu próprio pai feriu a mulher que amo, torturando-a fisicamente e psicologicamente, receio perder o bom senso ao ver um simplório arranhão na pele macia de Arizona. Como aceitar que aquele rosto meigo e impossivelmente harmonioso pode estar machucado e coberto de sangue?

— Ela está bem, meus colegas tiveram pena dela e não bateram violentamente. — Assegurou me deixando enlouquecido da mesma maneira.

— Traga-a para mim, preciso vê-la, tocá-la, minha garota necessita do meu apoio, eu prometi cuidá-la.— Atestei permitindo que o choro se desprenda de meu canal lacrimal e me atinja compulsivamente.

— Como deseja, buscarei a judia, contando que honre tuas palavras... Deve esquecer meu nome quando partir daqui... certo? — Retraiu o maxilar, exigindo uma garantia minha ou ao menos uma palavra para selarmos o pacto.

— Sim, esquecerei quem você é, não se intimide. — Anui.

— Agora, tenho que ir, espere eu voltar nessa mesma localização, não ouse se movimentar nem explorar o lugar, estamos literalmente no inferno Sr. — Advertiu severamente preservando-me dos detalhes. Ainda estranhando meu comportamento o homem que se aliou a mim e salvará minha garota, deu-me as costas e caminhou na direção leste, sem olhar para trás uma singela vez...

***

Após um tempo que, embora breve para mim é a releitura da eternidade meus olhos completamente vidrados no sentido oposto a minha localização cruzaram as órbitas confusas, e lacrimejadas de Arizona. O soldado realmente cumpriu com a promessa. Novamente uma vertente de sensações faz de mim uma alma perdida no mundo, mas a felicidade de rever meu doce anjo ofusca o sofrimento e me reivindica um alívio que jamais conheci. Paz interior substitui meu pranto e tudo que consigo fazer é correr para acolher a frágil mulher que mudou minha vida definitivamente.

— Meu amor. — Clamei já alcançando os passos lentos dela, e me aproximando o suficiente para envolvê-la em torno de meus braços e beijar sua bochecha arroxeada pelas pancadas. — Como está anjo? Deixe-me ver isso. — Desfiz o abraço e ergui o rosto dela analisando um corte profundo no super cílio e o inchaço dos lábios dela. — O que aqueles doentes fizeram? — Bradei, sentindo o sangue drenar meu corpo imediatamente.

— Nada... ficarei bem, foram apenas alguns socos... vou me recuperar Michael. — Sussurrou baixinho devido a dor lancinante que certamente está sentindo. 

— Temos que sair daqui, ou melhor tirarei você daqui em segurança. — Promulguei ainda transtornado com os ferimentos dela.

— Sr., faço suas minhas palavras. — O soldado se manifestou sutilmente. — Desculpe atrapalhar o reencontro... a moça está bastante fraca e machucada, devemos tirá-la daqui de carro... — Aconselhou sem desgrudar a atenção de mim e Arizona.

— Pode fazer isso? Há um avião em um aeroporto abandonado e deserto nos esperando à cerca de um quilometro daqui, sabe como proceder? — Desviei o olhar um segundo de minha garota para descobrir se devo confiar nesse homem.

— Eu sou apto Sr., já estive lá...

— Ótimo, tire-a daqui, vou em seguida. — Instruí pensando em um jeito de encontrar meu pai.
— Como assim Michael? — Arizona antes mortificada exasperou-se e apertou minha mão com firmeza querendo me prender ao lado dela.

— Querida, papai está por algum lugar dessa fortaleza e não partirei sem confrontá-lo e dizer tudo que está engasgado em minha garganta. Ernest é um desgraçado, um demônio que usou-a para me ferir. — Exaltei-me obstinado a ir até o inferno para dar uma lição nele.

— Perdoe-o Michael, digo, perdoe vosso pai em teu coração e seremos felizes... — Implorou agarrando-se ao meu pescoço como em uma súplica para que eu não me arrisque.

— Sinto muito, não há como ignorar o mal que emana daquele homem. — Alisei os cabelos ensanguentados dela e fiz um sinal positivo com a cabeça para que o nazista tire-a dessa zona de perigo.

 — Não eu não irei se não for Michael. — Descontrolou-se .

 — Se me ama como sei que ama, vá... — Insisti e obtive um murmúrio fraco como resposta.

 — Eu morrerei se qualquer mal aqueles crápulas lhe fizerem, mas se assim deseja eu o farei. — Cedeu e eu voltei a acenar para o soldado. Ele acatou meu pedido e guiou-a para longe do campo de extermínio. Rapidamente não pude mais vê-los. Enfim Arizona está salva.

*** 

— Hey judeu maldito! — Uma voz áspera me trouxe de volta de meus devaneios, virei o rosto para encarar o homem e antes que pudesse refutar que de fato não sou um judeu senti as mãos dele segurarem meus ombros.

— Solte-me, tire as mãos de cima de mim! — Gritei, debatendo-me inutilmente contra o musculoso soldado que permanece com uma expressão inalterável.

— Cuidado com a petulância, você assim como os outros da sua raça não passam de lixo! — Depreciou agressivamente os judeus, incitando-me a atacá-lo.

— Não sou judeu, largue-me, mas isso não lhe dá o direito de menosprezá-los... — Relutei me render a ele cuspindo em sua cara repulsiva.

— Mentiroso desgraçado! — Limpou o cuspe com os dedos e me imobilizou com apenas um braço. — Tua rebeldia lhe custará muito. — Ameaçou gargalhando perversamente, continuando a me arrastar pelos ombros. Prossegui tentando me defender, mas é impossível se soltar desse infeliz e posso jurar que ele está armada o suficiente para me esquartejar.

— Cale essa porra de boca suja!! — Fechou os punhos e desferiu um murro violento em meu rosto, o impacto foi tão forte que provocou-me náuseas e um ligeira vertigem. Novamente tudo ao meu redor parece escuro, minhas pálpebras pesadas, e para meu alívio a escuridão me priva de enxergar a figura maléfica do nazista que certamente me levará para a "sepultura".

*** 

— Covarde! Vocês são uns covardes filhos da mãe! — Berrei recobrando a consciência no exato momento que o soldado alemão me jogou em meio a uma multidão de pessoas vestidas com um uniforme listrado, cada uma delas condenadas assim como eu. A maioria desses seres humanos estão esqueléticos, desenganados, sem esperança ou energia para lutar. O martírio desses judeus é tão insuportável que a morte deve ser a saída menos dolorosa para os mesmos... Meu coração se comprimi dentro do peito ao presenciar crianças, mulheres, inocentes serem dizimados.

— O que farão? — Perguntei retoricamente, já que decerto eles matarão todos que aqui estão e entrarem em uma porta de aço na qual soldados devem trancar judeus e usar alguma artimanha de execução em massa.

— Sou filho de Ernest Scruse, me tirem daqui ou serão linchados. Libertem todos, eu ordeno! — Apelei para a chantagem e o argumento pífio de ser filho de um deles. Não que isso resolva, já que eles julgam apenas como uma tática de sobrevivência. Se o desejo de vingança não tivesse me cegado estaria seguro ao lado da mulher que amo, nos casaríamos e talvez comemoraríamos o fim da guerra juntos do outro lado do hemisfério.

— Seres inferiores como você não servem nem para mentir! — Um homem trajando o mesmo uniforme nobre com o símbolo nazista debochou de meu temor.

— Tudo pronto. — Um sorriso diabólico nasceu nos lábios de outro soldado a frente da fila de judeus e abriu uma porta de aço empurrando alguns judeus para dentro do local e travando a entrada.
— Michael! Meu filho! — Subitamente comecei a procurar de onde partia a voz e me espremendo entre os judeus cheguei no final da filha na qual fomos postos, me deparando com papai, pálido e horrorizado com minha presença. — É o meu filho, seus incompetentes desgraçados, como ousam encostar no meu filho? Afastam-se! — Papai esbravejou para os soldados, empurrando alguns deles que tentam me levar de volta para a fila, me puxando para longe dos judeus infileirados para ir direto de encontro a morte.

 ***

— Tire-os de lá, papai, que tipo de barbaridade vocês fazem com aquelas pessoas? — Excedi-me partindo para cima dele.

— Contenha-se, como conseguiu chegar até aqui? Enlouqueceu? Se eu não chegasse a tempo seria sufocado com aquele bando de animais!

— Não acredito que tenha a consciência tranquila, há crianças lá. Os verdadeiros "animais" são os nazistas, judeus tem meu respeito, tem sido os grandes guerreiros... Utilizam gás letal, monóxido de carbono não é? Esse é o método mais eficiente que encontraram de matar inocentes? — Retruquei inerte na fúria da descoberta que fiz.

— Cale-se, já não basta me envergonhar levando uma judia para debaixo do meu teto... — Repreendeu inconformado com minha audácia.

— E você simplesmente achou que conseguiria solucionar o imprevisto trazendo-a para um campo de extermínio? E que eu ficaria de braços cruzados? — Provoquei sustentando a ironia em minhas feições.

— Voltará para Varsóvia comigo e se casará como manda o figurino com Joanna Grant. — Afirmou rígido, com toda sua convicção errônea de que sou um fantoche.

— Nunca, agora que já acertei as contas com você, é hora de cair nos braços de minha garota. Mas não pense que desistirei de meus objetivos... Um dia a guerra cessará e então o mundo conhecerá a crueldade dos nazistas. — Conclui acreditando no poder infalível da justiça divina, porque a justiça dos homens falha.

— Jamais permitirei que meu filho, o qual carrega meu sobrenome e meu sangue nobre nas veias una-se em matrimônio com uma judia meretriz! — Retribuiu minha afirmação com ameaças. 

— Vá para o quinto dos inferno Ernest! O sangue não é o elo mais importante, portanto nada me liga emocionalmente a você, a não ser o rancor por participar dessa carnificina e apoiar aquele as ideologias doentias de Hitler. — Divaguei dando dois passos para trás, me prontificando a desaparecer dessa lugar tenebroso e recomeçar minha vida tendo a mulher mais cativante do planeta como esposa.

— Prefiro vê-lo morto, enterrado, ao invés de casado com aquele ser medíocre. — Ligeiramente arrancou uma arma de seu uniforme militar e focalizou-a na minha testa.

— Não, perdoe-me Arizona... — Fechei os olhos esperando a morte me sugar todas minhas esperanças e surpreendentemente nada aconteceu. Nem um disparo, sangue, ou a mínima dor. Abri os olhos e visualizei Ernest perturbado, a está arma no chão, comprovando que ele não teve frieza suficiente para dar fim a minha vida. De qualquer forma é emocionante perceber que ainda restam sentimentos, mesmo nessas condições lastimáveis.

— Adeus "Sr. Scruse", espero que se arrependa de todo o sofrimento que causou às famílias judias, não se preocupe, minhas pretensões passam longe de reclamar herança. Tenho o suficiente para me manter confortável com o que mamãe concedeu-me em testamento. É a última vez que coloca os olhos em mim. — Enfatizei a última palavra girando nos calcanhares e deixando as lembranças amargas em companhia de meu pai. O homem que só deveria me amar e proteger, quase me destruiu, essa é a página que rasguei do meu livro. Ernest Scruse.

 (...)


Ao cruzar o corredor estreito do avião a primeira imagem com a qual prazerosamente sou agraciado é a de Arizona sorrindo espontaneamente. Mesmo com dificuldade de se locomover ela correu em minha direção e ao me alcançar afundou sua face em meu peito. Arfei ao tê-la tão próxima de mim e apertei-a contra mim.

— Meu doce anjo, Deus obrigado por me conceder esse presente. — Ergui o queixo de minha garota levemente e beijei-lhe os lábios suavemente, querendo explicitar o quão sou grato por ter conhecido o amor ao lado dela. Arizona movida pela sincronia do amor, também acariciou meu rosto, e contornou meus lábios com suas pequenas e hábeis mãos. Nossos olhares se conectaram e se completaram, de fato pertencemos um ao outro, mas agora é diferente. Vencemos todos os obstáculos e aqui estamos, juntos, unidos pela força do amor.

— Aquela moça bonita que está dormindo no avião e me tratou com extrema simpatia, inclusive higienizou meus ferimentos e me arranjou roupas limpas, quem é ela Michael? — Interferiu, rompendo troca de carinhos, visivelmente curiosa para adquirir conhecimento sobre Joanna e toda a gentileza dela para com as pessoas.

— Uma amiga, alguém muito especial para mim, foi ela que me trouxe até você... Graças a Joanna encontrei-a meu amor, devemos absolutamente tudo a essa nobre Srta. — Enalteci fazendo minha Julieta se encher de alegria e gratidão.

— Os anjos colocaram um de seus representantes em nossos caminhos...  Intui que ela era do bem, é visível a bondade de sua amiga. — Salientou. — Michael. — Hesitou continuar... — Para onde irá me levar?

— Deixaremos Joanna em Varsóvia e depois partiremos para Londres querida... — Respondi ao questionamento inocente dela sem me apetecer de subjetividade.

— Já disse isso e repito: com você irei para qualquer lugar do mundo, se somente segurar minha mão estarei contigo pela eternidade. Eu te amo Michael. — Declarou-se, tendo um sorriso celeste acendendo sua beleza e elevando-a espiritualmente.


Leia ao som de For All Time - Michael Jackson



— Quero lhe dizer algo também...— Murmurei rente ao ouvido dela. — Foi em teu nome, em nome de sua doçura, e integridade que cometi loucuras, e em é em teu nome que prometo, farei qualquer coisa para manter esse sorriso em tua face. Se algum dia sentir-se só serei teu ombro com o toque suave que conhece tão bem. Uma vez li que é a alma que importa, e sim é ela que determina quando duas almas se pertencem. Eu te amo tanto e quando digo eu te amo tem que saber, é para sempre.— Entoei fortalecendo minhas juras de torná-la a mulher mais realizado da terra, voltando a entrelaçar nossas mãos e a tocá-la respeitosamente. — Shakespeare citou: "É pobre o amor que se pode medir". E felizmente não posso verbalizar meu sentimento com palavras... vai além disso, meu amor é ilimitado. — Contemplei o rosto esculpido por deuses de minha menina e encontrei nele tudo que procurei por intermináveis anos. Talvez sejamos almas afins, elas se compreendem e sentem falta uma da outra. Se entristecem por não terem se reencontrado antes, sabem que tudo poderia ter sido tão diferente. No entanto, sentem que o caminho é esse e que não haverá mais retorno. É como se elas se comunicassem além das palavras... Quando almas duas afins se entrelaçam iniciam um processo contínuo de reaproximação até a consumação de seus desejos. O encontro dessas almas está programado antes mesmo que os corpos se unam... Já era amor antes de ser... Estava escrito nas estrelas e se amanhã o sol se recusar a brilhar, as paredes se esmigalharem continuará sendo simploriamente amor.


 Tempos depois...


8 maio de 1945 - Inglaterra


                                                  Epílogo

— Michael, a paz venceu... Os países aliados derrotaram a Alemanha. Nossa filha crescerá em um mundo igualitário, ao menos não terá que se esconder. — Arizona suscitou a vitória inigualável que significa para o mundo o fim da Segunda guerra mundial. Nossa filha Rachel completará um ano e três meses de idade em breve e só tenho motivos para sorrir desde a chegada de minha pequena princesa. Rachel trouxe luz para minha vida, todos os dias ao chegar do consultório me dedico de corpo e alma a ser um pai exemplar para ela. Agora sinto orgulho de minhas concepções contrárias a conflitos bélicos, essa data é muito mais épica que um simples marco histórico. Estamos livres dos opressores nazistas, e torço veementemente para que os destroços irremediáveis que essa guerra deixa colaborem para a extinção de conflitos desse gênero. Acredito que cada um deve levantar a bandeira da paz, não podemos nos agregar a ideias fanáticos que desvalorizam os direitos humanos. Chegará uma hora que todos compreenderão que somos irmãos, e o sangue que corre em nossas veias apesar de distinguir geneticamente possui a mesma cor. Eis a prova de que somos todos iguais, nada se difere a não ser o caráter e é ele que deve ser aperfeiçoado até atingir um patamar no qual o pensamento se integra ao intelecto, mas sem prejudicar ou anular as emoções. O amor ainda pode curar as cicatrizes do caos global, e foi nele que me agarrei em tempos difíceis. Hoje como uma médico graduado e compelido a ajudar enfermos, compreendo o valor da vida, e não há poder que supere a importância de prezar pela vida, é ela que rege todos ecossistemas do planeta.


— A partir desse dia haverá uma transformação na forma que as pessoas idealizam e constroem seus sonhos, eles entenderão que a estrutura familiar é o que dá sentido a todo o resto, e o quão a união combate o mal. — Suspirei caminhado até o berço de minha filha, tomando-a carinhosamente em meu colo.


— Seremos unidos meu amor, sempre estarei aqui, creio que terá que me aturar por um século. — Minha deslumbrante esposa soltou uma risada descontraída, e acarinhou os cabelos do fruto do nosso amor, Rachel.


— Eu te amo, Sra. Jackson. — Sorri abertamente, sentindo que nada nunca esteve em tão perfeita sintonia. Meu coração jamais teve tanta convicção de que sou um afortunado, um homem abençoado. O final da guerra é o sinônimo do recomeço, novos tempos, dias sem medo virão. E a paz interior assolará os mais amargos homens. Ninguém se mantém imune a beleza da paz, ela apagará parcialmente as cicatrizes da alma, bem, é melhor permitir que o tempo cumpra seu curso natural, enquanto eu tento me tornar um ser humano mais humano e menos egoísta, até lá farei o inimaginável para ser o Michael sonhador que inspira calma e segurança. Sou maduro o bastante para cuidar com maestria das mulheres pelas quais meu coração bate. Rachel e Arizona são o tesouro mais valioso que eu poderia sonhar em possuir, expressam em suas atitudes diárias o quão me admiram, e em nenhum de meus sonhos rebeldes de adolescente me enxerguei tão plenamente feliz. Pois esse é o meu conto fadas, imperfeito e autêntico, apenas com um toque singular, minha Julieta é tão ou mais preciosa que a de Romeu, ela é meu outro eu em suma essência.

"Mesmo quando tudo parece desabar cabe mim decidir, entre sorrir e chorar, ir e ficar, desistir ou lutar; porque eu descobri, no caminho incerto da vida que o mais importante é o  decidir."        
  
Cora Coralina  

Mas há vida para vida para ser intensamente vivida,  o amor. Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Não mata.
                  
Clarice Lispector


"Não existe guerra inevitável: se ela vier será por falta de sabedoria humana."


*Fim



44 comentários:

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  2. Nossa a historia parece ser interessante estou doida para ler

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  3. Olha eu de novo :3
    Ansiosa pra mais uma fic maravilhosa. O/

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Olá meninas...

    Agradeço desde já quem está aqui e venho trazer um recado importante para vocês ;)

    "Em seu nome" estréia essa semana ainda e será uma mini-fic que se passa no período histórico que abrangeu a Segunda Guerra Mundial.

    É ousado e diferente de tudo que já escrevi, demasiadamente dramática e por que não dizer encantadora? Sim, é uma fanfic cativante, que carrega a aura imponente de um romance proibido em pleno holocausto.

    This is it!

    Beijão <3

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  6. Cheguei com a estreia girls *-*

    Espero que apreciem ler essa fic como eu amei escrevê-la.

    Boa leitura suas lindas <3

    Beijos

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  7. continua !!! (Devo dizer de antemão que o Holocausto é uma época que mexe muito comigo .. então , já vi que vou chorar horrores .. )

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  8. Ola meninas...

    Trouxe mais dois capítulos. Gostaria de ver mais comentários de vocês para saber se estão gostando da fanfic /:

    Ianna, sua linda, obrigada por estar aqui. <3 Terá motivos de sobra para se emocionar nessa fic, ela é tocante, em breve entenderá porque digo isso flor.

    This is it...

    LOVE

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  9. Essa fic é bem diferente de muitas que já li, envolve um assunto tao marcante q a pessoa se prende a história na maneira que vc escreve. Larissa, vc nunca decepciona :3
    Continuaaa 0///

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    1. Awww, muito obrigada por estar acompanhando florzinha <3

      Esta fic tem um cunho histórico interessante, não é um simplório romance rs...

      Beijinhos

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  10. Capítulo 4 postado...

    Em breve trarei mais 2 capítulos para vocês. Espero que estejam gostando da fic (;

    Beijos

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  11. Nuss , que chato esse Ernest -_- Continua flor <3 sim , tive agora a certeza que vou chorar horrores .. (já me emocionei só imaginando as cenas .. :'( ai meu coração)

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  12. To lok pra saber o rumo q tudo isso irá dar hsjsj continua, ta muito pft :333

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  13. Meninas não trouxe dois capítulos conforme havia prometido, deixei para o final da semana... Hoje vim com o capítulo 5. Eu sei que por enquanto a fic parece"pacata"... Bem, isso mudará em breve haha.

    Ianna e Bruus muito obrigada pelo carinho amores <3

    Beijão

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  14. Ain mana , eu que agradeço por me dar o prazer de ler mais uma obra *---* esse Michael romântico é um sonho ! Nossa ! Continuaa ! <3

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  15. Cheguei atrasada mas estou aqui amores rs.

    Esta semana está sendo extremamente corrida, ando atolada nos estudos, e só continuo aqui no blog por pura paixão e carinho aos meus leitores.

    Peço compreensão e paciência - na próxima semana - bem, as postagens voltarão a normalidade.

    "Em seu nome" é uma fic que surpreenderá em breve, é importante acompanhar o amor de Michael ir amadurecendo, e depois os desafios aparecerão para provar a força do amor dele.

    Beijinhos doces <3

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  16. Mike é fofo e romantico ao extremo, gent como eu queria ele pra mim ;( q dor horrivel.
    Wow veem cap 7 o////

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  17. Trouxe dois capítulos para vocês girls <3

    Michael não imagina o que seu pai está preparando, mas a guerra entre eles está declarada.

    Bruus florzinha, muito obrigada por estar aqui <3

    Até breve amores...

    Beijão

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  18. amei as palavras que ele disse de como se ve, está muito bom mesmo continua

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  19. Oq ele tá preparando?? Gent agr tô mais curiosa jsjsjdj
    Magina, eu q agradeço por me entreter com caps pfts e palavras tão belas ;3. Queria eu saber escrever assim, mas né kkkkkk
    Continua more <3

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    1. Awww, eu que sou grata por poder compartilhar esse tocante romance com meus leitores. <3

      Ernest é maléfico, e mal começou a atormentar Michael, nos últimos capítulos irá ver até onde a maldade humana chega...

      Obrigada pelo carinho Bruus *-*

      Beijos de luz

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  20. Trouxe mais um capítulo meninas. Boa leitura!!!

    OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS. Heloiza, que bom que está apreciando a fic, amore. :3

    Beijinhos

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  21. Isso tá cada vez mais tenso gent quero só ver oq Mike vai aprontar sjsjsjjs continua lariih ;3

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  22. Meninas desculpe o atraso. Precisei resolver alguns assuntos pessoais, mas enfim aqui estou. Vamos a mais um capítulo emocionante da fic.

    Beijinhos amores :-*

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  23. Quanta fofoca em um cap só, estou me desmanchando já ksjsjsj. Mas ainda tô muito ansiosa pra quando Mike levar Arizona pra sua residência, quero ver como vai funcionar ;3
    Continuar more ;*

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    1. Awww obrigada por acompanhar amore...

      Bem, esses dois terão um momento muito especial em breve. Não vou adiantar do que se trata, mas é provável que você já saiba rs.

      Beijos :-*

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  24. Este comentário foi removido pelo autor.

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  25. Capítulo 11 postado florzinhas ;-)

    Quando eu voltar será para trazer o penúltimo capítulo e lhes garanto que os dois últimos capítulos trarão surpresas!

    Até breve... ❤

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  26. Mas já vai acabar? :0 como passou rápido, nem percebi de tão intertida kkkkk.
    Que maravilha de cap, tudo tão bem construído, fluindo naturalmente, me desmancho com essas coisas jsjsjs.
    Continua, Laris :*

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    1. Entretida*****
      Odeio profundamente meu teclado

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    2. Passou rápido mesmo amore, mas em breve trarei mais fics...

      Haverão reviravoltas na fic nos últimos dois capítulos, então prepare o coração rs (;

      Fico extremamente feliz com seus comentários e que esteja gostando amore. <3

      Beijão

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  27. Enfim cheguei com as penúltimas emoções da fic... Michael e Arizona se entregaram, mas parece que alguém resolveu atrapalhar o conto de fadas. /:

    Nos vemos em breve...

    kiss

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  28. eu já vi que vou morrer de angustia até o proximo capitulo né ! Meu Deus, continua menina ! <3

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    1. Amore postarei o último capítulo no final da semana rs, então segure a emoção...

      Fico feliz em vê-la por aqui sua linda. <3

      Beijos

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  29. Apostando q o pai do Mike tem algo haver com isso :v gent, sinto cheiro de treta rçrçrçrç esperando ansiosamente e.e
    Continua :3

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  30. Meninas infelizmente meus dias andam cada vez mais corridos, e tenho vários assuntos particulares para resolver... Por isso ainda não cheguei com o final da fic, mas a boa notícia é que postarei o último capítulo ainda esta semana. Peço desculpas pelo atraso e agradeço aos que acompanham minhas fics. É isso!

    LOVE

    #Larissa Rabelo

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    1. Amore eu sinto muito pelo atraso, postaria na sexta, porém fui informada que uma garota plagiou uma de minhas fics /:

      Obviamente fiquei arrasada, e até pensei em desistir, mas pensando em meus lindos leitores e no apoio deles aqui estou.

      Obrigada pela ilustre paciência e que a espera tenha valido a pena.

      Beijos no <3

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  31. Meninas o último capítulo dessa fic demorou para ser postado porque um lastimável motivo, fui plagiada. Sim, infelizmente roubaram uma fic minha, "As gêmeas", uma garota tentou postá-la como sendo de sua autoria. Fiquei desolada com o ocorrido e gastei alguns dias para superar, além das providências que tive que tomar, foram dias exaustivos. Mesmo assim não esqueci de vocês e vim concluir essa fanfic.

    Sei que "Em seu nome" é diferente da maioria das fics, ela não fez sucesso como outras de minhas fics, - na verdade foi pouco comentada, - mas estou satisfeita com o resultado. Há cunho histórica de sobra nessa história, e ela cativa aqueles que apreciam fugir dos padrões. Também acredito que ela agradou quem deve agradar, e o importante é que continuei tendo leitores leais e compreensivos. Espero que a leitura tenha valido a pena, não nego que foi um desafio mergulhar em um tema polêmico e intenso como o Holocausto.

    Novamente recapitulo meus sinceros votos de gratidão, devo tudo a vocês e é por isso que não desistirei de escrever. Plágio é algo inaceitável e me machucou muito saber que existem pessoas tão insensíveis. Amo cada um de meus leitores. <3

    Obrigada por lerem minhas fanfics.

    Com carinho,

    Larissa Rabelo

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    1. Ainda estou tentando me recompor pq SENHOR QUE FIC MARAVILHOSA!!!
      Amei, simplesmente amei, tema muito bem desenvolvido e mostrou mais como era naquele tempo. Gente, nunca li uma fic q abordasse um tema polêmico e q prendesse atenção para o verdadeiro assunto.
      Alguém pf trás um oscar pra essa garota pq ela tá de parabéns, sério msm. Garota, vc tem um poder incrível em escrever, vc nasceu pra isso, eu estou surpresa com isso, n é em qualquer fic q se acha isso n.
      Mas falando no plágio, que gentinha ridícula, sem imaginação. Kd a vergonha na cara, babys? Deixou no útero? >.>
      Mas enfim, mais uma fic sua q leio e mais uma vez me impressiono com vc. Miga, tu a-haza. Espero ler mais uma de suas obras em breve.
      Bjinhos :*

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