Autora:
Josiane Santos
Gênero
e Subgêneros: Romance, Tragédia, Drama, Ação, Vingança,
Melodrama, Morte, Palavras de baixo calão, Hot, Amor, Cenas de agressão, Morte
Censura: +18
Sinopse
Não
é um conto de fadas e está muito longe de ser. É a história de um belo e
trágico amor, aos moldes do clássico “Romeu e Julieta”, que fará você duvidar
se o amor realmente poderá vencer uma única barreira que o destino irá impor
contra duas pessoas que se amam.
OBS:
As pessoas e os incidentes neste livro são todos fictícios!
Michael Jackson é o filho mais velho do prestigioso Jonathan Jackson e o herdeiro do Grupo
Chromish. Um rapaz bonito, saudável, sagaz e com um QI muito alto, no entanto,
possui uma relação extremamente delicada com o pai, justamente por não ter
interesse e não querer assumir o conglomerado da família, tendo sempre em mente
construir o seu próprio futuro.
Clarke Bradshow é a
corajosa e determinada filha de Robert Bradshow, o terceiro maior acionista do
Grupo Chromish, sendo o majoritário o pai de Michael. Uma jovem garota esperta,
bonita e com uma personalidade um pouco ousada; o tipo de garota que não é
feita de maquiagem e sapatos caros. Acaba sempre se metendo em apuros, sendo
salva algumas vezes por Michael.
Os dois jovens se
conhecem de maneira inusitada e inesperadamente acabam apaixonando-se um pelo o
outro durante alguns eventos cômicos. O problema é que, Robert, pai de Clarke,
é um homem ganancioso que não mede esforços para conseguir o que quer, e no
altar da sua vil cobiça, comete uma atrocidade que acaba destruindo a família
de Michael, o único que escapa das garras da morte e volta, transformado em um
homem sedento por vingança, onde as sombras da noite se tornam suas parcerias
habituais.
Sua definição de vingança torna-se ilimitada, mas conseguirá Michael cumprir com seus planos, quando perceber que ainda ama a filha do homem que matou
a sua família? Conseguirá o amor expulsar o ódio do seu coração e preenchê-lo
com sua essência? E o que Clarke fará com o homem que ama, quando descobrir que
ele jurou o seu pai de morte?
Prólogo
OBSERVANDO O CÉU ESTRELADO SENDO coberto pelas
grandes nuvens, trazendo para a cidade uma noite nublada, — assim como o seu
estado de espírito — Michael estava à espreita, esperando à hora certa para
invadir a mansão. Seu inimigo sabia que mais cedo ou mais tarde ele iria
encontrá-lo, e como resposta desse conhecimento, era a segurança reforçada ao
redor daquela mansão luxuosa.
Michael tinha que ser mais
cuidadoso do que nunca, principalmente porque agora sabiam a identidade do
homem de preto que andava fazendo justiça com as próprias mãos.
Nada iria interromper a sede de
vingança do rapaz, não permitiria que a compaixão e muito menos o amor atrapalhasse
os seus planos. Pois o desejo que carregava era tão grande que ninguém havia de
entender o ódio descomunal de massacrar aquele que conspirou e matou a sua
família. Ele desejava tanto aquilo, até mais do que viver. Escapou das garras
da morte e voltou para enfrentar o responsável por toda a sua tristeza, por
tê-lo transformado no que ele havia se tornado.
Atravessou grandes vicissitudes só para poder
estar frente a frente com o seu principal inimigo, como estava prestes agora, e
jurou a si mesmo que mataria o desgraçado, nem que fosse a última coisa que ele
fizesse em sua vida.
Kamon e Araya, os seus amigos e
os que sempre estiveram ao seu lado nos seus momentos mais sombrios, o olhavam
com aflição, enquanto tentavam convencê-lo de que aquilo sim era um plano
suicida. Que fosse, pois nem mesmo da morte o rapaz tinha mais medo.
— Michael, o que você está
pensando, cara? Aquela mansão é um lugar impossível de entrar com esses seus
métodos de invasão! — Kamon protestou, temeroso do que poderia acontecer com o
amigo. .
— Mike! Mike! Escute! — Araya
segurou em um dos braços de Michael, quase entrando em desespero. — Pelo o amor
de Deus, desista enquanto é tempo, hum? E se algo acontecer com você? —
Demonstrou mais aflição, com medo de que aquele lado sombrio do rapaz estivesse
o levando de vez para escuridão. As lágrimas escaldantes que inundavam os olhos
pequenos e puxados da garota escorreram como torrentes pelo o seu rosto. Ele
pegou as mãos dela que apertava o seu braço e a fez soltar com delicadeza.
Ele sabia que seus amigos
estavam preocupados com ele, uma vez que era ciente da sua teimosia, mas, mesmo
estando confiante de que finalmente tudo aquilo iria acabar, ele não pôde jurar
aos seus amigos que iria ficar bem.
— Mike, você
já foi longe demais com essa sua vingança. Esqueça isso e venha com a gente
para Bangkok, hum? Recomece uma nova vida. — Araya tentou persuadi-lo, mas o
rapaz estava inflexível.
— Robert Bradshow tem algo que me
pertence. — Murmurou, divagando em seus pensamentos. De todas as coisas que ele
já pôde querer em toda a sua vida, a vida de Robert Bradshow foi o que ele mais
almejou.
— Isso é loucura. É impossível
invadir aquela casa, uma vez que ela está cheia de seguranças. — Kamon voltou a
alertá-lo.
Ninguém realmente entendia que a
razão de Michael ter sobrevivido até ali foi para àquele propósito, e voltar
atrás estava fora de questão. Abdicou tudo, inclusive a mulher que amava para
não ter que fazê-la escolher entre ele e o próprio pai. Não por causa dele, mas
sim por causa dela, seria injusto colocá-la no meio de uma vingança
sangrenta.
O ressentimento que havia em seu coração era
tão grande que, se sua morte pudesse acabar com o seu sofrimento de alguma
forma, ele morreria feliz. Mas o ódio, foi ele que o pôs de pé, foi ele que o
fez suportar tal dor angustiante que ele se convenceu de que não podia morrer
antes de devolver a inocência do seu pai e castigar com as suas próprias mãos o
culpado da morte da sua família. E quem na terra seria capaz de detê-lo?
Michael cobriu o seu rosto e
passou por seus amigos, determinado a invadir a mansão, mas antes que ele
sumisse do campo de visão deles, ele parou de costas e girou um pouco a sua
cabeça.
— Se eu não pôr um fim de uma vez
nisso, não serei capaz de continuar sob este céu. Sabe por quê? — Voltou a
olhar para frente e completou: — Esqueceram? Eu sobrevivi para isso. — Sem
olhar para trás e num piscar de olhos, sumiu do campo de visão de Kamon e de
Araya, como neblina que se dissipa no ar.
Capítulo 1
“O início”
Um ano antes...
AS FRESTAS DAS PERSIANAS DE
plástico branco foram abertas e os raios solares entraram no quarto batendo
contra o rosto do rapaz que, exausto pela ressaca causada pelas bebidas da
noite anterior, dormia tranquilamente em sua enorme cama king size. Sem nenhuma
intenção de se levantar, virou-se de bruços e colocou o travesseiro em cima da
própria cabeça para evitar a claridade que fazia seus olhos doerem.
— Esse sujeito! Daqui a pouco o
sol se põe, e você não vai se levantar?! — Os berros do seu pai, o virtuoso
Jonathan Jackson, entraram nos seus ouvidos, fazendo aumentar a sua infernal
dor de cabeça.
Embora quase todas as manhãs fossem
assim, Michael realmente odiava isso!
— Arg... O que você quer de mim tão cedo? — Resmungou, a fim de continuar no seu sono.
— Arg... O que você quer de mim tão cedo? — Resmungou, a fim de continuar no seu sono.
— Cedo?! O que você está falando,
seu malandro?! — Jonathan puxou o cobertor do copo do filho e tomou o seu
travesseiro; Michael piscou seus olhos e os protegeu com o braço assim que a
claridade o atingiu novamente.
Michael e Jonathan não tinham um
bom relacionamento desde a morte da mãe. Talvez porque uma vez ou outra, o
rapaz cometia alguns deslizes, causando problemas ao pai, e, sobretudo, porque
ele não tinha interesse nenhum nos negócios da família. Como o maior acionista
e presidente do grupo Chromish, Jonathan não aceitava que o filho mais velho
não tivesse interesse em assumir os negócios. A sua grandiloquente ética não se
aplicava ao rapaz, — pelo menos não do jeito que ele queria — e era por isso
que eles estavam sempre brigando.
Michael era uma espécie de
“príncipe herdeiro” que a todo custo não queria ascender ao trono.
— Você continua causando
problemas! — Começou com os sermões — Eu sabia que a sua pervertida baixeza
logo traria problemas maiores! — Com o mesmo travesseiro que tomou do filho,
Jonathan começou a batê-lo. — Por que você não se levanta rápido e vai lá em
baixo lidar com o problema que conseguiu dessa vez, seu irresponsável?!
— O quê? O quê? Que problema? — Michael
resmungou com a voz sonolenta.
— Nem sequer quando as suas
travessuras me forçaram encobrir os teus erros, me senti tão desiludido com
você, mas dessa vez você extrapolou todos os limites!
Michael certo de que era apenas
mais um dos sermões matinais do pai, não moveu sequer um músculo para lhe dar
atenção.
— Anda! Desça e resolva você
mesmo o seu problema!
Ah, ele queria mesmo ignorá-lo,
mas Jonathan passaria o dia todo no pé do seu ouvido.
— Sinceramente... Se você fosse
mais claro, talvez eu entendesse do que se trata dessa vez todo esse barulho. —
Murmurou sarcástico, provocando o pai, este que preferiu não fazer caso dessa
vez da rebeldia do filho.
— O da garota grávida.
— E?
— E que ela está alegando que
VOCÊ é o pai! — Jonathan rosnou, proferindo por entre dentes.
Uma vez que Michael ouviu tais
palavras, seus olhos se esbugalharam, e com o impacto da palavra ‘grávida’,
sobressaltou da cama num pulo só. Foi como um despertar. O sono e a ressaca
desapareceram imediatamente.
— O-o quê? Uma garota grávida?
Pai, o que você está falando? — Perguntou só para confirmar que não ouvira
errado.
— Por que você
ainda está aqui? Desça e resolva logo isso! — Bradou Jonathan, impaciente.
—
Re-resolver?! — O rapaz olhou para o pai com a expressão confusa.
Uma garota grávida? Realmente uma
das garotas com quem já ficara havia chegado a esse ponto com ele? Ou ele
realmente havia engravidado uma garota? Chacoalhou a cabeça para espantar tal
possibilidade. Não, não, não... Ele podia ser uma decepção para o pai, um
cretino, patife bastardo com as mulheres, mas ele não era estúpido para
engravidar uma. Nessa questão ele podia garantir não era irresponsável.
Colocou suas mãos nos quadris e
passou a andar de um lado para o outro dentro do quarto, tentando imaginar quem
seria essa garota que estava tentando prendê-lo com uma barriga.
— Você vai mesmo fazer um buraco
no chão ou vai descer e resolver logo isso? — Jonathan disse tirando sua
concentração. Michael encarou-o por alguns segundos em silêncio, e viu que
estava em confusão quando percebeu que qualquer argumento evasivo que saísse da
sua boca seria em vão.
Jonathan balançou a cabeça com a
expressão decepcionada e saiu do quarto do filho.
Sem perder mais tempo, Michael
pegou uma camiseta que avistou jogada em um canto qualquer do quarto e saiu.
Desceu as escadas descalço e vestindo a camiseta, e assim que terminou,
encontrou algumas pessoas na sala da sua casa, sentadas no sofá.
Seu pai estava em pé, e ao seu
lado estava a sua irmã mais nova, Natalie, que estava de braços cruzados e
emburrada, encarando os senhores e a garota que queria “roubar” o seu irmão. —
Era bem a cara dela.
Ele passou uma mão nos seus
cabelos bagunçados e deu uma tossidela para anunciar a sua presença. Todos o olharam.
Uma senhora de cabelo ruivo e elegante, mas de expressão nada agradável o
encarou, estudando-o. Ao seu lado havia um senhor que o fuzilou só com o olhar.
Eles o olhando daquela forma, Michael logo deduziu que eram os pais ou os avós
da garota supostamente grávida.
E finalmente ao lado do senhor
estava ela. Quando os olhos dela se encontraram com os do rapaz, ele logo a
reconheceu. Cíntia, aquela garota erra um porre, completamente um pé no saco.
Ela já havia feito algo parecido antes, Michael deveria ter previsto isso. Pois
de todas as garotas, essa era a pior.
Então, ao constatar que se
tratava de um golpe, o rapaz colocou uma mão na cintura, a outra na nunca e
sorriu da situação que ela o colocara.
— Ah... Fala sério. — Sibilou coçando
levemente o pescoço. — Se eu soubesse que a Cíntia estaria aqui, teria
preparado uma recepção para ela lá em cima. — Completou sarcástico.
— Michael! Você realmente...! — Jonathan
o censurou.
— O quê? — Perguntou se fazendo
de desentendido. Em seguida olhou para os senhores e sorriu. — Meu pai disse
que a senhora e o senhor têm algo para falar comigo. Estou curioso para saber
do que se trata. — Falou, encarando a garota descaradamente enquanto sentava-se
no sofá.
Cíntia simplesmente desviou o seu
olhar, se dando conta que na tentativa de conseguir a pessoa que gostava, havia
cometido um grande erro, e estava agora se praguejando por isso.
Os pais da garota se recompuseram
e se ajeitaram no móvel.
— Sim. Somos os pais da Cíntia e
é com você mesmo que queremos ter uma conversa delicada. — Pronunciou-se o
senhor, com um ar muito sério e preocupado ao mesmo tempo.
— Hum, é mesmo? Então sou todo ouvidos.
O senhor respirou fundo,
indignado com o cinismo de Michael. A senhora ao seu lado vendo que o marido
estava a ponto de perder a paciência, intrometeu-se na conversa.
— Bem... é que... é difícil para
uma mãe e para um pai conversar sobre essas coisas... mas é que estamos muito
preocupados com a nossa filha. — Disse olhando para Cíntia, esta que agora
tentava esconder o rosto, envergonhada.
Michael se remexeu no sofá, e com
a cara mais cínica fingiu estar interessado no assunto.
A senhora continuou:
— Cíntia sempre foi uma menina
quieta, interessada nos estudos e muito recata. Talvez seja por ela ser assim
que ela sempre foi um alvo de garotos interesseiros na sua ingenuidade e
pureza...
Ingenuidade? Pureza? Cíntia? Eram
coisas que ele desconhecia naquela garota.
Quando ouviu os últimos adjetivos,
ele não conseguiu conter-se e quase se engasgou com a sua própria saliva,
interrompendo a senhora que se sentiu constrangida e desrespeitada.
Com Jonathan não foi diferente,
pois a vergonha que estava sentindo do comportamento do seu filho era tão
grande que ele estava a ponto de pular naquele sofá e matá-lo com as próprias
mãos. A quem aquele patife havia puxado? Jonathan não entendia.
— Me desculpe. Continue, por
favor! — Michael os instigou com um gesto de mão, apertando os seus próprios
lábios para não sorrir.
— Sim, a nossa filha é uma menina
que...
— O fato é que... — o senhor
interrompeu a esposa. — a nossa filha está grávida e você terá que se
responsabilizar por isso. — Concluiu sem fazer mais rodeios, encarado o rapaz à
sua frente, enquanto ao lado, Natalie bufava de raiva, cruzando os braços
novamente, odiando cada vez mais a garota que disse estar esperando um filho do
seu irmão.
Todos contribuíram com o silêncio
por alguns instantes, até que Michael decidiu quebrá-lo.
— E por que eu tenho que me
responsabilizar se é a sua filha quem está grávida? — Indagou, agora com
seriedade.
— Michael! Se eles estão aqui...
— Jonathan começou a proferir, mas foi interrompido pelo o filho.
— Hein? Me respondam. Por que eu
tenho que me responsabilizar por isso?
— Como assim “porque você tem que
se responsabilizar”? Por que você é o pai, oras! — O pai de Cíntia se
manifestou, irritado e pondo-se de pé.
— E quem disse isso? Cíntia? —
Perguntou, e o olhar de ira do pai da garota aumentou mais ainda em cima dele,
este que também se pôs de pé. — Olha aqui senhor, eu não sei qual foi a história
que a filha de vocês contou, mas se há uma coisa que eu estou acostumado, é
perceber quando estou sendo alvo do golpe da barriga. — Evidenciou encarando a
garota.
— O que foi você disse? — Berrou
a senhora, descrente com a ofensa.
Michael apenas respirou fundo e
continuou do mesmo jeito que estava.
— Mãe, pai... Vamos embora, hum?
— Sugeriu Cíntia, numa tentativa de fugir da confusão que havia causado.
— Mas filha, você disse que
estava grávida e que ele era o pai.
— Eu-eu não... disse exatamente isso...
— Balbuciou nervosa.
A senhora a encarou confusa.
— Então você mentiu? — Seu tom
era de incredulidade.
— Eu também não disse isso! —
Apelou para a mãe.
Michael rolou os olhos e suspirou
audível.
— É, ela não disse isso, estão
vendo? Agora que tal vocês irem e deixarem a paz reinar novamente na minha
casa? Hum?
Silêncio...
— É... Eu acho que precisamos
verificar essa história cautelosamente. — Pronunciou-se Jonathan dessa vez
cauteloso com as palavras. — Por agora, é melhor vocês irem para casa e
conversarem novamente com a filha de vocês. — Completou num tom apaziguador.
— Sim... Talvez seja uma boa
ideia. É que... queríamos resolver logo isso e acabamos... Enfim... — Tentou
desconversar a mãe, envergonhada.
Michael apertou os lábios e
balançou a cabeça, assentindo veementemente com falsidade.
O senhor segurou no braço da
filha e praticamente começou a arrastá-la até a direção da saída principal da
casa, mas antes que saísse, parou e virou-se para encarar o rapaz, dizendo em
seguida:
— Voltaremos! — Ameaçou com um
tom rígido e saiu porta a fora da casa.
É verdade que Michael antes de
saber de quem se tratava, havia ficado um pouco assustado com a notícia de um
filho, mas quando viu a garota maluca que vivia atrás dele após terem ficado
algumas vezes, foi como tirar um peso das suas costas.
— Mike, você não está namorando
essa garota, não é? — Natalie indagou, quebrando o silêncio que se instalara.
Ele franziu o cenho e negou com a
cabeça.
— Claro que não.
— Eu sabia. Você é muita areia
para o caminhãozinho daquela garota. Ela nem é bonita. — Comentou a menina,
fazendo o irmão mais velho sorrir. A relação dos dois era a única coisa que
salvava o ambiente daquela enorme casa.
Sentindo-se aliviado e disposto a
voltar ao que estava fazendo, — que era dormir — o rapaz caminhou até as
escadas, mas foi parado quando sentiu as mãos pequenas de Natalie envolvendo
sua cintura.
— Você é o melhor irmão do mundo.
— Disse ela, apertando a cintura do irmão. — Obrigada por não ter engravidado
aquela garota maluca. — Completou.
Ele virou-se para frente e
sorriu, fazendo um afago nos cabelos longos dela.
— Você acredita em mim?
— Claro que acredito. Eu jamais
teria um irmão tão idiota. — Brincou.
— E você acha que eles não irão
voltar novamente com essa história? — Disse Jonathan, de longe, tirando a
atenção dos filhos.
— Não precisa se preocupar com
isso. Aquela garota não está grávida, e mesmo se estivesse, não haveria como eu
ser o pai. — Respondeu, tentando transmitir para o pai a mesma confiança que
ele tinha. — Seu filho inútil nunca traria uma criança inocente a esse mundo
imundo.
Michael deu um beijo carinhoso na
cabeça da irmã e subiu as escadas, rumando para o seu quarto.
Essa era a sua vida: dormir
durante o dia e ir farrear à noite.
Uma parte de Michael também era
revoltada com o seu pai por causa disso. Jonathan nunca confiava no filho,
sempre acreditava nas pessoas antes de sequer ouvi-lo primeiro. Mas em parte
isso era culpa de Michael, que nunca deu sequer um motivo para o pai ter
confiança nele.
Empresa? Negócios? Estava longe
do sonho do rapaz. Muito longe mesmo. Queria ser livre para fazer aquilo que
ele mais gostava. Desejava entrar na maior academia de artes marciais,
aprimorar suas habilidades e se tornar um profissional com base em toda a sua
aptidão. Queria ganhar a vida dessa forma, uma vez que já dominava alguns
estilos do kung fu, incluindo wushu moderno. Sem contar que, sabia manejar uma
espada com uma destreza impressionante. E pode-se dizer que, já estava no
início, já que atuou algumas vezes como dublê em filmes de luta, claro, sem o
conhecimento de Jonathan. E ele também era conhecido por causa das
apresentações que ele e o Kamon faziam no clube que frequentavam, tornando-se a
atração.
Kamon era um amigo que Michael havia conhecido na escola de artes marciais quando era garoto, eles se tratavam
como irmãos. Kamon praticava wushu,
mas devido a sua origem e cultura, ele já dominava o Muay
Thai — a arte do seu país, Tailândia.
Michael começou a praticar artes
marciais quando a sua mãe ainda estava viva, e depois da sua morte, continuou
apenas como uma forma de extravasar seus sentimentos e tentar esquecer um pouco
a falta que ela fazia. Mas desde então, não parou mais, e foi percebendo que
ele realmente amava aquilo e era aquilo que ele queria fazer para o resto da
sua vida, e não ser o homem de negócios que o seu pai queria que ele fosse. Não
o herdeiro desinteressado de um grande conglomerado que era o Grupo
Chromish.
(...)
Michael deslizou seus braços pelas mangas compridas do
seu blazer preto, limpou uma poeira imaginaria nos ombros e encarou-se no
espelho, agradando-se com a visão que ele refletia. Embora ele tivesse uma
péssima relação com pai e um gênio difícil, aquele que não soubesse que ele era
um herdeiro, só de olhá-lo ainda dava para perceber devido a sua aparência e os
bons modos — que ele só usava quando queria — que ele era de origem nobre.
Afinal, ele tinha sido bem criado.
Foi até o closet repleto de
roupas e acessórios caros e abriu uma gaveta, tirando de lá um rolex prateado.
Enquanto o colocava no pulso, ouviu batidas na porta do seu quarto, e antes que
pudesse responder, Natalie entrou soltando gritos estridentes que ecoavam por
todo o cômodo.
— Mike! Mike! Kamon está lá em
baixo! — Seus gritos de euforia fizeram Michael sair do closet e encará-la com
o olhar repressor.
— Por que você grita? — Reclamou
com divertimento.
— Kamon está lá em baixo. —
Jogou-se na cama do irmão.
— Quero saber por que você grita
toda vez que o Kamon está lá em baixo.
— É porque... — A menina
limitou-se a falar, sentindo suas bochechas se ruborizarem. Sentou-se na cama e
encarou o irmão. — Pra onde é que vocês vão? — Desconversou.
Michael sorriu e voltou-se para o
espelho, arrumando o desalinho imaginário da sua roupa. Sabia que a irmã tinha
uma queda pelo o seu amigo tailandês.
— Quer saber do seu irmão ou de
Kamon? — Foi incisivo, tirando sarro da cara da menina que, esbugalhou os olhos
e ergueu o queixo.
— De você, ué! — Ela arrebitou o
nariz, tentando disfarçar.
— Eu? — Ela assentiu e ele
respondeu: — Para um lugar que você não precisa saber. — Enfatizou.
Ela pegou um travesseiro e jogou
contra o irmão que a olhou de sobrancelhas arqueadas.
— Na última vez que você disse
isso, no dia seguinte apareceu uma garota dizendo que estava esperando um bebê
seu.
— O que você quer dizer? — Ele
franziu o cenho e a menina agora ficou séria.
— Estou dizendo para não
aborrecer mais o papai. Por favor! — Foi como uma súplica que fez ele se
sentir péssimo com isso, mas não a respondeu. Natalie também não estendeu o
assunto, pois sabia que a relação do seu pai com o seu irmão não era nada boa.
— Não fique acordada até tarde,
hum? — Disse pegando o seu celular e as chaves do carro que estavam em cima do
criado mundo. E então saiu do quarto. Desceu as escadas e encontrou Kamon numa
conversa amigavelmente com Jonathan. Pigarreou para chamar a atenção deles.
— Oh! Você desceu. — Disse Kamon
quando viu Michael.
— Hum. — Olhou do amigo para o
pai. — Estou saindo. — E sem esperar qualquer resposta, dirigiu-se a porta,
pronto para sair.
Kamon que já tinha conhecimento
da relação entre pai e filho, sentiu-se desconfortável com o clima tenso.
— Foi um prazer vê-lo, Sr. Jackson
— Kamon despediu-se de Jonathan e seguiu o amigo.
Jonathan foi até a janela e
observou o carro de Michael saindo da garagem, acompanhando até ele sair do
território da casa. Respirou profundamente, pensando em uma maneira de fazer o rapaz
se interessar pela empresa, o que seria uma tarefa difícil. Na verdade quase impossível.
Mas ele não tinha escolha, uma vez que descobrira que a empresa estava entrando
em perigo sob a ganância de um certo indivíduo, e já havia passado da hora do
seu sucessor dar as caras.
Capítulo 2
“Esbarrar em alguém é como uma
afinidade”
AS ROUPAS MASCULINAS NO CORPO magro
da garota caíam perfeitamente bem, escondendo suas curvas femininas. Os
cabelos curtos e castanhos claros no estilo chanel foram escondidos dento do
boné, deixando de feminino apenas o seu rosto fino e delicado.
Sendo a doçura em pessoa, Clarke
Bradshow também era a definição de coragem. Como uma estudante de jornalismo,
sempre usou esse seu lado para se sobressair em tudo o que fazia. Considerando
o outro lado meio ousado que não deixava nada escapar, uma vez que chamasse a
sua atenção.
Seu alvo agora era o Secret Man,
um clube só para homens. Quando ela descobriu esse detalhe, a vontade de saber o
que um bando de marmanjos faziam todas as noites dentro daquele lugar além de
encher a cara e falar de sexo, deixou sua curiosidade ainda mais inflamada.
Imaginou que o que acontecesse ali dentro seria um bom assunto para uma matéria
inédita e peculiar que teria de apresentar na faculdade.
Como ela não podia entra pelo o
fato de não ser homem, então ela decidiu vestir-se como um.
— Eu realmente sou mais louco que
você! — Clarke ouviu Grant resmungar ao seu lado, enquanto estavam na fila para
entrar no clube.
Ela não deu atenção ao amigo,
apenas continuou caminhando de acordo com a fila que dava acesso a entrada.
— Não está me ouvindo? — Ele
sussurrou, inclinando-se para dizer perto do ouvido da teimosa amiga: — Esse
clube é só para homens. Se te descobrirem, você sabe que estaremos em apuros. —
O medo na voz dele era perceptível.
— Shiii... Se você continuar
falando essas coisas, ai sim irão nos descobrir. — Clarke o censurou, e ele
balançou a cabeça em sinal de positivo e continuou andando, olhando para os
lados, assustado, seguindo a amiga que estava vestida como um homem a fim de
entrar naquele lugar.
Uma vez dentro do Secret Men, ela
tentou ao máximo agir como um homem, mesmo com o Grant aflito ao seu lado.
O
fato da maioria daqueles caras já estarem chapados e a penumbra do lugar,
ajudava a garota a se camuflar melhor.
— Ainda temos chance, Clarke.
Vamos embora.
— Shiii... Realmente... — Lançou
novamente para o amigo um olhar repreensor.
— Se está com tanto medo assim, apenas vá. — Estalou a língua nos dentes
num amuou.
— Está brincando? Como posso ir se
já estou aqui dentro?
— Então... Dá pra pelo menos você
mudar essa sua cara? Se alguém me descobrir, a culpa será toda sua. — Ela disse.
— Desculpe, oh machão, mas essa é a única cara que eu tenho. — Retrucou.
Ela revirou os seus olhos e
respirou fundo.
— Olha só. Vou dar uma ronda por
aí e procurar alguma coisa interessante. E, não se atreva a ir embora sem mim!
— Falou num tom ameaçador, esbugalhando os seus olhos num aviso.
Grant não estava confiante de que
aquele plano iria dar certo até o fim, mas como a sua amiga era teimosa demais,
ele não tinha escolha a não ser assentir e seguir como ela dissera.
Quando se separaram, Clarke
começou a estudar o clube, e a princípio ficou até triste porque ainda não havia
nada de interessante, a não ser um bando de homens bebendo e conversando sobre
mulheres. Mas quando ouviu dois homens comentando sobre um tal show de artes
marciais, o seu entusiasmo voltou com força total.
Pigarreou e tentou fazer com que
sua voz ficasse ridiculamente rouca e grossa, como a de um homem.
Cautelosamente, e com medo de que eles desconfiassem que ela fosse uma garota,
ela se aproximou deles.
— É... Com licença, é que eu sou novo aqui e
ouvi vocês falando sobre um show de artes marciais... e...
Os dois homens se entreolharam e
franziram o cenho. Voltaram a encarar o ‘garoto’, estudando-o, certamente os
seus traços afeminados. Mas para a sorte da garota, não fizeram muito caso, e um deles
respondeu:
— Você só pode ser novo aqui
mesmo para não conhecer o Michael e Kamon. Os mestres das artes marciais.
— Mestres das artes marciais? — Ela franziu o cenho.
— Sim, os caras têm uma
habilidade incrível. — O baixinho se empolgou e começou a gesticular. — Quando
eles pegam aquelas espadas com aquela lâmina assassina, e mexe pra lá, e para
cá... Chega a me dar um frio na barriga.
— Eles são... realmente bons
assim? — Clarke perguntou, mostrando interesse.
— Estou dizendo, cara. Espera só
até você vê-los. — O homem assegurou e bateu no ombro da garota, saindo em
seguida acompanhado pelo o outro.
Clarke cambaleou um pouco para
trás e ajeitou o boné.
— Seriam dois espadachins
ocidentais? Hum... Parece interessante. — Murmurou para si mesma e começou a
olhar em volta para ver se encontrava o Grant.
Nesse momento, três rapazes sem
camisa e bastante bêbados passaram esbarrando nela, de modo que seus corpos a
tocavam, deixando-a sem jeito com toda aquela nudez, e fazendo-a rodopiar
algumas vezes. Sem querer, ela tropeçou no seu próprio pé e perdeu o equilíbrio
do seu corpo. E por sorte, ou destino, um corpo que ela esbarrou de frete a
salvou de aterrissar no chão, também quase perdendo o equilíbrio.
Clarke sentiu duas mãos firmes
segurarem os seus ombros, e então subiu devagar seus olhos pela clavícula masculina
de Michael, o rapaz que a segurava. Quando os olhos de ambos se encontraram,
Clarke esbugalhou os seus ao se deparar com aquele rapaz charmoso e bem dotado,
de um olhar marcante que podia penetrar a sua alma.
Ela continuou encarando-o, mas o
que era mais estranho era que Michael também a encarava, achando aquele rosto
delicado demais para pertencer a um homem.
— O que você está fazendo? — Foi
quando ele finalmente perguntou pacificamente. Sua voz áspera, mas ao mesmo
tempo aveludada a atingiu como uma bomba.
— É que... — Clarke parecia
perdida, deixando a frase inacabada, tropeçando nas palavras ao encher seus
olhos com aquele rapaz à sua frente.
Ela não era do tipo de garota que
se deixava se impressionar tão facilmente pela beleza masculina, mas não havia
dúvidas, ela o conhecia de algum lugar. Mas de onde?
A princípio, ela não pôde observar
o seu físico, mas seu rosto ela estudou minuciosamente enquanto ele a mantinha
em suas mãos. A pele do rapaz era levemente bronzeada. Seus olhos grandes eram negros,
não aquele negro desbotado, mas sim negros brilhantes que lembravam pérolas
negras do mais subido quilate. Os mais expressivos e fascinantes olhos que
Clarke já tinha visto.
Ao contrário da garota que
parecia hipnotizada pela beleza do rapaz, o mesmo simplesmente franziu o cenho
enquanto a encarava estranhamente.
Como Michael era um homem dotado
de sagacidade, sua perspicácia o deixou bastante desconfiado do ‘garoto’ à sua
frente. Havia alguma coisa errada com ‘ele’, e o rapaz brevemente pôde sentir
isso.
O som de uma voz com uma pintada
de sotaque e um sorriso ao lado de um outro rapaz com traços orientais que, até então
Clarke não havia notado, a fez regressar de volta à realidade.
— Michael, isso é realmente
embaraçoso. — Kamon fez careta, olhando para o amigo. — Vocês dois aí assim...
Pega mau, cara!
Foi então que Clarke percebeu o
que estava fazendo.
— Oh meu Deus! — Murmurou, desgrudando
rapidamente seu corpo do de Michael. — Me-me desculpe! — Gaguejou, se sentindo
intimidada sob o olhar intrigante e desconfiado do rapaz.
— Vamos! — Disse Kamon, e saiu na
frente.
Michael encarou a garota vestida
de homem da cabeça aos pés, achando mais uma vez o seu rosto bonito demais. E
sem proferir nada, afastou-se. Clarke virou-se para acompanhar os passos dele,
agora prestando atenção na sua estrutura física naturalmente magra, mas que ainda
sim eram notáveis os músculos por debaixo das roupas caras que vestia,
fazendo-a constatar que ele era um nobre.
Meu
Deus, o que foi isso? — Perguntou a si mesma depois que ele
sumiu do seu campo de visão, sentindo que finalmente podia soltar o ar que
estava preso nos pulmões. Respirou fundo, e com muita coragem, enfiou-se no
meio de todos aqueles homens na tentativa de encontrar o Grant.
De repente, um instrumental no
fundo começou a ecoar pelo o salão, um estilo rock’n roll com uma mistura de
violino, fazendo os homens que estavam ali irem à loucura, gritando e erguendo
os seus copos de bebidas. A aglomeração que estava na pista de dança da clube
começou a se dissipar, e todos que passavam por Clarke esbarravam em seu braço.
Isso já estava irritando-a.
Por um instante, sem entender o
que estava acontecendo, ela ficou a esquerda na pista, mas logo se juntou aos
outros quando percebeu que algo estava prestes a acontecer.
Um corredor foi aberto entre
alguns homens, e para a surpresa dela, Michael, a pessoa que ela esbarrara há
poucos minutos atrás, caminhou até o centro da pista de dança com as mãos para
trás e ostentando uma postura muito misteriosa, o que tornava aquele momento
bastante interessante.
— Aí! — A voz de longe em alto e
bom som chamou a atenção de todos, inclusive a de Clarke. Kamon, o amigo de Michael, estava perto do DJ. Um breve sorrisinho de lado surgiu nos lábios do tailandês.
— Pensa rápido. — Ele arremessou em direção a Michael, que estava na pista, uma
maçã, este que rapidamente desembainhou uma espada de trás de si e cortou a
fruta em quatro pedaços antes mesmo dela de ir ao chão, fazendo a galera
gritar.
— Ua! — Clarke murmurou,
maravilhada com o talento de Michael. Achou tão impressionante que,
instintivamente tampou a boca com uma mão. Bem, ela já vira alguns truques como
aquele, mas foi em filmes de artes marciais. Porém, ao vivo e a cores era
totalmente diferente.
Kamon saltou lá do alto fazendo
uma acrobacia incrível, caindo com uma perna dobrada e um joelho no chão, da
forma que seu corpo parecia leve como uma pluma.
Agora que os dois estavam juntos,
Kamon puxou um nunchaku e começaram um número incrível, prendendo a atenção de
Clarke que observava os dois amigos se movimentando, mostrando algumas técnicas,
incluindo acrobacias e golpes, chegando até a trocarem as armas. Eles eram
dotados de uma destreza técnica impressionante, incluindo velocidade, precisão
e força. Até pareciam dubles de filmes de luta.
Clarke não sabia ao certo que
tipo de luta era aquela, mas eles eram realmente bons. E claro que aquilo era
um bom tema para fazer uma matéria para a faculdade. Era inédita e
interessante. Sem contar que além de serem bons, eles também eram bonitos.
Kamon chamou a atenção dela pela
flexibilidade do seu corpo e sua aparência, claro, a suas pálpebras duplas nos
seus olhos puxados, mas Michael além de lhe parecer muito familiar, ele tinha
algo especial que lhe deixava intrigada.
Os cabelos negros e sedosos num
corte mediano do rapaz esvoaçavam cada vez que ele se movia, e nas partes que
ele permanecia parado, ela não enxergava mais nada, suas veias saltadas toda
vez que ele apertava a empunhadura daquela espada era verdadeiramente sexy aos
olhos dela.
Talvez ela parecesse estar
ficando louca em ficar observando essas coisas, mas era o que estava fazendo.
Concentre-se
Clarke! Concentre-se! — Ela disse em mente, chacoalhando
a cabeça.
Meteu a mão no bolso do casaco e pegou o seu
celular para começar a filmar tudo. Ela teria tido para fazer a matéria para o
trabalho da faculdade um bom e longo vídeo de Michael e Kamon, se o clube não
tivesse sido invadido por policiais de repente, que obrigaram o DJ a
interromper a música, dando início a um burburinho de reprovação.
Clarke ficou parada, apenas
observando de olhos confusos.
O que parecia ser o líder da
equipe dos policiais deu um passo à frente e mostrou a sua identificação.
— Sou o detetive Macalie da
delegacia local. Estamos no meio de uma investigação na equipe de narcóticos e
estamos fazendo uma inspeção em todos os estabelecimentos noturnos. — O
detetive tirou do bolso um papel e o desdobrou. — Aqui! — Estendeu para que
todos pudessem ver. — Isso é um mandado de busca e apreensão. Então...
Os burburinhos começaram
novamente.
— Cooperem, por favor! — O jovem
detetive bradou, mostrando irritação. — Teremos que revistar o local e todos
que estão aqui. Vocês só têm que cooperar. — O detetive não fez mais caso do
barulho, e deu a ordem aos seus subordinados para que eles começassem a
revistar o local e as pessoas.
Clarke arregalou os olhos, tendo
consciência que logo estaria em apuros. Se um daqueles policias a revistassem,
ela seria descoberta na hora. E a última coisa que ela queria era que o seu pai, que tanto confiava nela, soubesse que ela havia se metido em problemas.
Passou sua vista no meio daqueles
homens na tentativa de encontrar Grant, mas a única pessoa que encontrou a
encarando foi Michael, que estava intrigado com a beleza exagerada do “garoto”.
Será que ele desfiava de que ela era
na verdade ele?
Num ato desesperador, Clarke saiu
discretamente do meio dos homens e entrou no primeiro corredor que avistou. Foi
caminhando devagar, se afastando daquele tumulto todo até que encontrou um
banheiro. Depois de ficar um bom tempo pensando numa tentativa de escapar, ela
decidiu entrar e se esconder em uma das cabines. Aquele era um plano idiota,
ela sabia, até porque quando os policiais entrassem ali, olhariam nas
cabines. Mas ela não tinha outro plano.
Por um momento, ela decidiu abrir
um pouco a porta da cabine, mas só depois do feito foi que percebeu que tinha
sido uma má ideia. Pois Michael a encarava com o olhar acusador. Sua saída do
meio dos homens bem na hora que a polícia chegara, foi tão estranha e suspeita
que, Michael agora tinha certeza que o garoto bonito era na verdade uma garota.
Capítulo 3
“Ele é uma garota”
EMBORA CLARKE FOSSE UMA GAROTA
corajosa e esperta, ela não era páreo para a perspicácia afiada de Michael; sendo considerado por alguns como o Casanova, ele tinha a capacidade de
reconhecer uma mulher mesmo se ela tivesse feito uma cirurgia plástica ou uma
troca de sexo. E não fora diferente com Clarke. Quando ela esbarrou nele, a princípio, ele
apenas ficou desconfiado, mas os traços exageradamente femininos e os movimentos
suspeitos da garota foram o fator x para que ele tivesse a confirmação.
Quando ela foi ao banheiro na
tentativa de se esconder, ele a seguiu e também entrou assim que ela
adentrou em uma das cabines. Ele caminhou silenciosamente olhando para o chão
de cada divisão, foi bem na hora que Clarke decidiu por um pé no piso. Quando
ele viu o tênis pequeno da garota, um sorriso ardiloso surgiu em seus lábios. Colocou as mãos
nos bolsos do seu blazer e encostou-se na parede, esperando o momento em que
ela abrisse a porta.
Clarke por sua vez, fez
exatamente o que Michael esperava. Ela abriu uma brecha na porta da cabine e ele
a fitou.
— Aishiii... Que droga! — Clarke
murmurou, e rapidamente voltou a fechar a porta, se praguejando por tê-la
aberto.
O sorriso preguiçoso de Michael se
fez audível dentro do banheiro.
— Você acha isso inteligente? — Perguntou, deixando-a em alerta. — Acha mesmo que aqueles policiais não
estarão aqui em poucos minutos? — A voz dele era firme, mas extremamente calma.
Silêncio...
Clarke não sabia quais eram suas intenções, mas ela estava começando a ficar assustada. Por que ele tinha seguido
ela?
— E agora, o que você vai fazer?
— Indagou a ela.
— Vo-você está falando comigo? —
Ela gaguejou, sem ter certeza do que ele estava falando.
— Hum! Você está com posse ilegal
de drogas. Não é por isso que está se escondendo? Seria mais fácil se você
tivesse jogado-as fora.
Essa acusação tinha sido uma isca
de Michael para Clarke, esta que se sentiu estranhamente incomodada por ele
estar pensando que ela estava se escondendo por causa de drogas.
Ela saiu da cabine e o encarou.
— Eu não uso drogas! —
Esclareceu.
Ele sorriu, um sorriso debochado
que a deixou irritada.
— Acha mesmo que uso drogas?
Ele desencostou-se da parede, deu três passos
em direção da garota, ficando bem perto dela, e começou a fazer um exame
minucioso em seu rosto angelical.
— Rosto brilhante, cílios longos,
nariz reto e os lábios proporcionais. — Sorriu de lado, do jeito que só os
homens fazem. — O que você está tentando
fazer?
Clarke franziu o cenho.
— O que você está falando, cara?
— Tentou ser evasiva, mas isso não funcionaria com Michael.
Ele olhou para o lado e respirou
fundo.
— Eu não entendo o que...
Ele não a deixou concluir a
frase, pois o que aconteceu em seguida foi algo que Clarke não esperava.
— Vem aqui. — Ele segurou nos
braços da garota e a puxou de encontro ao seu corpo. — Acha que eu não posso
sentir isso? — Referiu-se aos seios dela, que mesmo sendo pequenos, dava
para senti-los perfeitamente.
Clarke esbugalhou seus olhos e
engoliu em seco, percebendo então que ele tinha atraído ela para fora da cabine
para comprovar as suas suspeitas, sentindo o seu corpo.
Ela forçou suas mãos na barriga
dele e o empurrou para longe.
— O que você está fazendo? — Levantou o queixo em indignação.
— O que você — ele apontou um
dedo para ela — está fazendo? — Completou.
— Se encostar um dedo em mim
novamente, considere-se um homem morto! — Ameaçou, o que fez Michael achar
engraçado a postura que ela ostentava agora.
— Você não deveria estar nesse
lugar.
— Isso é... — Ela tentou argumentar.
— Por que entrou nesse lugar com
roupas de homem, sendo na verdade uma garota?
— Isso... Isso não é da sua
conta. — Foi a sua resposta.
— Quem é você? Por que está nesse
lugar? — Ele questionou novamente.
— Eu já disse que isso não é da
sua conta! — Para uma garota que estava em apuros, ela estava sendo orgulhosa
demais, dessa forma ele não poderia ajudá-la. Também ele não era do tipo de
fazer caridades mesmo.
Ele ficou encarando-a por alguns
segundos, balançou a cabeça e se afastou dela, indo em direção a porta.
— Estou curioso para saber como
isso vai acabar. — Disse com ironia, fazendo menção de sair.
Foi aí que Clarke lembrou que, a
qualquer momento os policiais poderiam entrar naquele banheiro, e com a
sensação de que talvez aquele intrometido pudesse ajudá-la, ela correu até ele
e segurou o seu braço, impedindo-o de sair.
— Me ajude! — Pediu, jogando fora
o seu orgulho.
Michael virou a cabeça, olhou para
a mão da garota que segurava o seu braço e depois a olhou.
— O que disse?
— Me ajude a sair dessa, hum?
Ele puxou o braço.
— E por que eu te ajudaria? —
Disse mesquinho.
— Porque... porque... os seres
humanos devem ajudar uns aos outros.
Ele sorriu, agora lhe lançando um
olhar profundo como quem estava se divertindo com tudo aquilo.
— E quem te garante que eu sou um
ser humano?
Ela rolou os olhos e respirou
profundamente.
— Se você me ajudar, — ponderou —
eu faço o que você quiser. — Propôs, e imediatamente a expressão de Michael mudou, causando arrependimento em Clarke por ter falado tal coisa.
— Qualquer coisa? — Seu tom agora
carregava um pouco de lascívia, o que fez com que ela demorasse a
responder.
— Sim. — Assentiu, mas se por
acaso aquele sujeito tentasse tirar proveito, ele com certeza seria um homem
morto.
Descaradamente, os olhos de
Michael desceram pelo o corpo dela, mas não pôde imaginar nada com tanto pano
que a cobria.
— Com toda essa roupa aí... Não
sei se é bom, mas só provando para ter certeza. — Caçoou, olhando nos olhos
dela e com um sorrisinho de escárnio brotado no seu rosto.
Sentindo-se constrangida, Clarke deu
três passos para trás.
— O que você está pensando? Está
maluco?
Ele sorriu novamente, colocando a
mão em punho perto da boca.
Nesse exato momento, vozes e
passos eram audíveis. Isso significava que os policiais estavam indo para o
banheiro.
— O que eu vou fazer? — Clarke
arregalou os olhos em desespero.
Michael aproximou-se da porta e
encostou sua orelha na mesma.
— Tire a sua camisa. — Ele disse.
— O quê?
Ele voltou-se para ela.
— Tire a sua camisa. — Repetiu,
enquanto tirava o seu blazer.
— Como eu posso tirar a camisa na
sua...? — Clarke praticamente gritou, mas parou espantada quando Michael subiu a
sua camiseta preta e a tirou, revelando o seu peito e músculos definidos e bem
traçados. Ela engoliu em seco e ficou olhando sem emitir nenhum som, enquanto o
seu rosto branco era tomado pelo o rubor.
Quando Michael olhou para o rosto
vermelho dela, teve vontade de sorrir, mas se conteve
— O que está fazendo? Pensei que
queria a minha ajuda. — Falou, tirando-a do torpor.
— Mas é que... — Ela não queria
tirar a camisa na frente de uma pessoa completamente desconhecida, era
constrangedor. Por mais que ela fosse uma pessoa corajosa, sua ousadia não
chegava a esse ponto. Mas ela não sabia o que fazer, a não ser confiar nele
naquele momento. Mesmo estando um pouco acanhada, ela tirou a camisa e ficou só de sutiã. —
Pronto. — Murmurou, segurando a camisa na frente do seu busto. Perguntava-se se
ele a mandaria tirar a calça também, e isso ela definitivamente não iria fazer.
Preferiria ser descoberta a ter que ficar de calcinha. Mas felizmente, para Michael só a parte de cima era o suficiente.
Ele olhou para ela e tomou o
pano, revelando o seu sutiã branco, deixando-a com mais vergonha.
Depois de jogar as roupas em cima
da pia, ele a puxou pelo o braço, segurou firmemente a sua cintura e a sentou
sobre o mármore frio da bancada, de modo que ficou entre as pernas dela.
— O que está fazendo? — Perguntou
ela, olhando para o corpo dele tão perto do seu, em seguida empurrando-o,
afastando-o um pouco.
— Estou te ajudando. — O rapaz estalou a língua nos dentes. — Não é como seu eu quisesse te tocar.
— Disse com falso desprezo.
Ainda um pouco desconfiada das
intenções de Michael, Clarke o deixou aproximar-se novamente.
Ele tirou o boné dela, fazendo
com que os seus cabelos lisos e curtos caíssem até a altura do pescoço e o franjão tomasse forma em um lado do seu
rosto delicado, dando a Michael uma das visões mais lindas que ele já contemplou.
Mas o que diabos era aquilo? Como ela poderia ser tão... bonita?
Por um momento, Michael ficou
admirado e hipnotizado pela beleza da garota. Os olhos delineados dela eram um capricho da
natureza, do mesmo tom dos seus cabelos, castanhos claros e brilhantes. Era a perfeita harmonia de cores. Os cílios longos e
pestanas longas faziam sombras na altura da face dela... Os olhos dele desceram
para os lábios pequenos e carnudos, e sem que percebesse, seus instintos
primitivos já estavam querendo beijá-la de verdade. Mas ele não ousaria a fazer
isso, uma vez que percebeu que Clarke não era como as garotas que ele conhecia.
Também foi por essa razão que ele não ousou a descer seus olhos para os seios
dela, por mais que ele quisesse dar uma breve olhadinha.
— Olha só, você realmente é uma
garota. — Comentou com sarcasmo, disfarçando que ficara admirado.
Clarke piscou duas vezes, e com
timidez colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Claro que eu sou uma garota. O
que eu mais seria? — Murmurou.
Michael sorriu, achando graça da
timidez dela.
Os olhos de ambos voltaram-se
para a porta do banheiro quando as vozes dos policias se fizeram muito mais
audíveis.
— E agora? O que vão fazer comigo
se me descobrirem em um lugar que só tem homem?
— É só fingirmos que estamos nos
pegando. — Michael disse para ela.
— Nos pegando? — Ela o olhou confusa.
— Você tem que fingir que está
comigo. Entendeu?
Clarke assentiu, balançando a
cabeça freneticamente.
Ele aproximou seu rosto do dela,
e por um momento Clarke pensou que ele iria beijá-la, tanto que se ele
realmente fosse, ela tinha que fazê-lo também. Afinal, foi ela quem pediu a
ajuda dele.
Ela apertou a beira da bancada
por causa do nervosismo, fechou os seus olhos e esperou que os lábios dele
encostassem nos seus. Mas não foi exatamente o que aconteceu. Pois ele apertou a cintura
dela e mergulhou o rosto no seu pescoço.
— Só finja que está gostando. —
Sussurrou rente ao ouvido dela. A temperatura da boca dele que bateu contra a
pele sensível do pescoço dela, a deixou completamente arrepiada, tanto que ela
nem percebeu que suas mãos pousaram nas costas dele. E eles nem
estavam se pegando de verdade.
A porta do banheiro foi aberta e
três policiais e o detetive Macalie entraram, e quando viram a cena que Clarke
e Michael estavam protagonizando, arregalaram os olhos. Os três policiais
achando aquilo excitante e engraçado, mas o detetive que era cismado com tudo,
na realidade estava se questionando porque havia uma mulher ali, já que era
proibida a entrada delas. Ele pigarreou para chamar a atenção de Michael e
Clarke.
Os dois que estavam fingindo que
estavam se pegando, pararam de se tocar. Clarke virou a cabeça e puxou mexas de
cabelos para frente do seu rosto, para que aqueles policiais não a vissem, e Michael virou-se por completo e encarou o jovem detetive, este que quando lhe
viu, o encarou como quem já não se impressionava mais.
— Há quanto tempo, detetive. — Michael o saudou com falsidade.
O detetive respirou fundo, piscou
os olhos demoradamente e o encarou.
— Saudades de me visitar, Michael Jackson? — Retrucou com ironia, fazendo Michael sorrir. Os olhos do detetive
pairaram sobre Clarke que escondia o rosto com os cabelos. — O que você esta
fazendo? — Perguntou.
— Eu preciso explicar? Não é
obvio? — Respondeu com tranqüilidade, enquanto Clarke mordia os próprios lábios
com a tensão. Como ele conseguia agir assim?
— Eu quero saber quem é ela e o
porquê dela estar aqui. — O detetive respondeu impaciente.
Michael virou sua cabeça para
olhá-la e voltou a encarar o detetive.
— Ela? Não se preocupe muito, ela
é uma... prostituta. — Foi a sua resposta.
Os olhos de Clarke se
esbugalharam e os seus lábios se enrugaram de raiva que sentiu ao ouvir o que Michael falara. Prostituta? Não tinha outra coisa para falar não? E o pior, era
que ela nem podia virar-se para dizer que era mentira.
— Prostituta? — O detetive estava
um pouco intrigado.
— Hum. — Michael confirmou.
— As prostitutas podem entrar
aqui? — Indagou meio desconfiado.
— Bem... Se eu quiser que uma
prostituta entre, então ela entra. — Respondeu altivo. — Você sabe, detetive.
Eu sou Michael Jackson. — Sua presunção fez o detetive sorrir com deboche e Clarke
resmungar em silêncio um “grande coisa”. — Mas como eu sei que você não vai com
a minha cara, pode perguntar ao responsável pelo o estabelecimento e...
— Acho que não será necessário. —
Cortou-o. Conhecendo Michael Jackson, o detetive Macalie sabia que seria perda de
tempo fazer isso, uma vez que Michael era um herdeiro rico e carregava muitos
privilégios. E também ele não se importava se uma prostituta estivesse dando
para aquele patife arrogante. — Nos vermos por aí, Sr. Jackson. — Disse como uma
promessa e saiu do banheiro acompanhado pelos os outros policiais.
Michael foi indiferente com as
palavras do detetive; suspirou e foi até a porta para trancá-la. Quando o fez, vou-se para Clarke. Ele observou-a
enquanto ela vestia a camisa, e quando terminou, recebeu um olhar mortífero da
mesma
— O que foi? — Ele perguntou, com
as sobrancelhas arqueadas.
— Prostituta? Não tinha outra
coisa melhor para falar não?
Ele sorriu daquela garota mal
agradecida.
— Se quer agradecer, apenas faça.
Hum?
— Agradecer? — Riu sem humor. — Por ter dito que eu era
uma prostituta?
Michael já estava ficando
impaciente.
— Qual é o seu problema? Você
estava em apuros e eu te salvei. Apenas agradeça.
— Não precisava chegar a tanto. —
Resmungou.
Michael a encarou impacientemente,
agarrou um braço dela e a puxou de encontro à porta, mas deteve-se quando ela
puxou o braço.
— O que está fazendo?
— Ué. Vou levá-la até o detetive
para dizer que menti e dizer que na verdade você entrou aqui vestida de homem
para fazer O QUÊ eu não sei. — Ele ameaçou.
Ela arregalou os olhos e puxou o
braço.
— Esqueça! Já está feito. — Disse.
Michael reprimiu o sorriso
enquanto a encarava. De qualquer forma, ele sabia que ela estava agradecida, só
não entendia como que ela não tinha medo. Ela era uma garota, era para estar
fazendo coisas de garotas.
— Como uma mulher pode ser tão
destemida para entrar em um lugar como esse? — Ele resmungou, ela então o
encarou com um olhar interrogativo. — Se você fosse um homem, eu mesmo já teria
te dado uma surra. — Completou.
Clarke respirou fundo, procurando
paciência, e sorriu a contragosto.
— Olha aqui, Sr. Jackson —
lembrou-se quando o detetive disse o nome dele. — Obrigada! — Disse para parar com aquela
discussão ridícula.
— Está vendo, foi simples e fácil.
— Provocou-a altivamente.
Clarke cerrou os dentes e apertou
os lábios um no outro, contendo-se para não retrucá-lo.
Enquanto Michael vestia
as suas roupas, ela pegou o seu celular e mandou uma mensagem de texto para
Grant, dizendo que estaria ao lado de fora esperando por ele.
Pegou o boné e escondeu seus cabelos por debaixo
dele.
— Será que eles ainda estão aqui?
— Perguntou ela, referindo-se aos policiais.
— O que é que você acha? Claro
que eles estão. — Ele respondeu rabugento.
— Aishiii... Por que eles tinham
que vir logo hoje? — Resmungou, em seguida olhou para Michael com um olhar
implorador. Michael sabia que ela iria pedir mais alguma coisa.
— Não! — Ele respondeu antes
mesmo dela pedir.
— Só mais dessa vez, hum?
— Você não acha que está sendo
demais não?
— Eu só quero sair daqui. —
Implorou.
Michael fechou os olhos por um
instante, coçou a cabeça e deu as costas a Clarke. Ela não estava querendo
demais não? Por que ele tinha que ajudá-la?
O rapaz levou a mão aos cabelos,
embrenhando os seus dedos e os puxando insatisfeito com o seu próprio
comportamento.
— Me siga. — Disse apenas. Ela
não contestou, simplesmente o seguiu.
Trocaram alguns olhares de canto
de olho enquanto caminhavam por um corredor onde dava acesso à porta dos fundos
do clube. O lugar estava um pouco escuro e havia alguns carros estacionados por
ali.
— Agora é com você. — Michael disse, e antes de entrar novamente no clube, parou e girou um pouco a
cabeça para fitá-la. — Você. Tome cuidados e não faça mais coisas assim. —
Aconselhou e adentrou no clube.
Embora estivesse verdadeiramente
agradecida, Clarke o achou intrometido, irritada por ter sido descoberta
justamente por ele.
Ela olhou ao redor e sentiu um
frio na barriga quando se encontrou sozinha naquele lugar escuro. Olhou para o
outro lado e avistou apenas duas pessoas encostadas em um carro aos amassos, e ninguém mais. Se ele sabia
que ali era assim, por que a levou e a deixou sozinha? Questionou-se.
Pegou o celular do bolso e discou
o número de Grant, mas o rapaz não atendia o celular. Ligou de novo, de novo e
de novo, mas a resposta era mesma. Ela iria matá-lo quando o encontrasse.
Caminhou até o outro lado do
clube, e depois de esperar pelo amigo por mais de vinte minutos, decidiu ir
embora sem ele, praguejando-se por não ter ido com o seu carro.
(...)
Michael e Kamon estavam dentro do carro quando passaram por Clarke, mas quando Michael olhou pelo retrovisor e viu a garota perambulando sozinha alguns metros
depois do clube, parou o carro de supetão, fazendo Kamon, que estava ao seu lado, franzir o cenho.
— O foi cara? Por que parou? —
Perguntou Kamon.
Michael nada disse, apenas apertou
os olhos e resmungou um palavrão. Não costumava se meter nos problemas dos
outros, e por ela, ele já tinha feito até demais. Mas porra... Ele realmente
não se sentia bem em deixá-la sozinha ali. No final das contas, ela ainda era
uma garota. Então ele andou de ré com o carro e parou assim que chegou perto
dela, fazendo a mesma se assustar. Desceu o vidro da janela do carro e a
encarou.
— Suponho que não esteja de
carro, e o ponto de taxi é longe daqui. Então se não quer ficar perambulando
como uma alma penada por essas ruas escuras, entre no carro. — Autorizou.
Ela olhou dele para o tailandês
que estava ao seu lado, ponderando se poderia confiar ou não. Olhou para os
dois lados e viu que realmente aquela rua era assustadora. Então mesmo um
pouco hesitante, ela entrou no carro, no banco traseiro.
Quando a garota se
acomodou no banco, os olhos de ambos se encontraram pelo o retrovisor interno.
— Onde você mora? — Ele
perguntou.
— Me deixe no centro da cidade. —
Foi a resposta dela, não achou conveniente ele levá-la em casa, então quando
chegasse no centro da cidade, pegaria um taxi. Ele assentiu.
Kamon olhou de Michael para
Clarke, reconhecendo o “garoto” que tinha esbarrado no amigo.
— Oh! Você! — Exclamou
esbugalhando seus olhos pequenos e puxados, apontando o dedo para ela. — Certo,
você é aquele garoto que esbarrou nele. — Apontou para Michael.
Clarke o encarou
com curiosidade quando notou novamente a pequena diferença no sotaque de Kamon,
que mesmo falando inglês fluentemente, ainda sim carregava uma pintada de outra
língua que provavelmente era o seu sotaque nativo. Ela só não sabia ao certo
qual era.
— É uma garota. — Michael revelou,
dando partida com o carro.
— O quê? — Kamon ficou confuso.
— Essa pessoa, é uma garota. —
Repetiu, fazendo Kamon olhar novamente e imediatamente para Clarke, essa que se
sentiu envergonhada sob o olhar minucioso dele.
— Sério? Você realmente é uma
garota? — Perguntou. Clarke apenas assentiu com um gesto de cabeça. —
Mas... por que você está vestida assim? — Perguntou curioso.
Michael franziu o cenho.
— Agora que você perguntou, eu
também gostaria muito de saber. Mas esqueça, ela não vai dizer. — Michael intrometeu-se na conversa enquanto mantinha sua concentração na estrada.
— Mas... como vocês...?
— É uma longa história. —
Respondeu antes de Kamon concluir a pergunta.
Clarke não iria dizer o motivo de
ela ter se vestido de homem, mesmo se eles ameaçassem matá-la. Primeiro porque
perderia a graça fazê-la, e segundo, porque eles eram os protagonistas da sua
matéria. Não tinha certeza qual seria a reação deles se soubessem que foram
filmados.
Os amigos entraram numa conversa
não muito interessante, deixando a garota de fora, essa que finalmente olhou
para o lado do banco e viu a mesma espada que Michael usou mais cedo na
apresentação. Sorriu, e quando iria tocá-la na bainha, percebeu que o carro
tinha acabado de ser estacionado. Olhou para Michael através do retrovisor interno
e viu que ele também a encarava profundamente.
— Cai fora o meu carro. Hoje
você está com sorte. Mas se nos encontrarmos novamente, eu realmente darei em
cima de você. Então se prepare. — Ele patenteou com seriedade, fazendo ela engolir
em seco.
— Puxa vida, não seja assim com a
menina. — Kamon repreendeu o amigo com divertimento e olhou para a garota.
Clarke
apreciou a defesa do tailandês, então retribuiu com um sorriso amigavelmente,
em seguida fechou o semblante e olhou seriamente para Michael.
— Tente e você verá. — O
desafiou, saindo do veículo. Depois de alguns passos que ela deu pelo o meio-fio, Michael aproximou-se com o carro.
— Ai! Não se esqueça que você me
deve uma. — Lembrou-a com um sorrisinho no canto dos lábios, de uma maneira
singular que só ele sabia fazer.
— Eu não vou esquecer, ok?
— Ela retrucou, e ficaram os dois ali, ela em pé e ele dentro do carro, entreolhando-se; os olhos imóveis pelo que pareceu ter durado um minuto inteiro, embora pudessem ter sido apenas alguns segundos.
Era Incrível! Meio absurdo! Ambos
sentiam como se estivessem ficado loucos tentando entender o que tudo aquilo
significava. Mas eles realmente tinham uma conexão inexplicável.
Michael desconectou seus olhos dos
dela e saiu cantando pneu.
Capítulo 4
“O príncipe herdeiro”
“O príncipe herdeiro”
ASSIM QUE PASSOU PELA PORTA
principal de sua casa, Clarke se colocou na ponta dos pés e caminhou
minuciosamente pela sala da casa, tentando no mínimo não fazer barulho. Assim
que colocou um pé no primeiro degrau da escada, a voz baixa e rouca de Robert, o
seu pai, soou da penumbra abaixo da escada.
— Me pergunto o que você estava
aprontando agora. — O tom de falar não era de reprimenda.
Clarke mordeu o lábio inferior
quando viu a figura do homem de rosto enrugado e de cabelos parcialmente
brancos, lhe encarando com os braços cruzados.
— Pai. Vo-você me assustou. —
Tentou desconversar, murmurando a última frase.
Robert aproximou-se da filha e passou os olhos nas roupas masculinas que ela trajava.
Robert aproximou-se da filha e passou os olhos nas roupas masculinas que ela trajava.
— O que é isso? — Perguntou de
cenho franzido.
— Isso? É que... eu estava em uma
festa... fantasia. — Inventou descaradamente, fazendo Robert sorrir.
— Essa garota... Realmente...! —
Limitou-se com falsa indignação, prendendo um sorriso.
Robert Bradshow era o pai de
Clarke, um homem que escondia inúmeros segredos da família, especificamente o
seu verdadeiro caráter. Com uma ganância pelo o dinheiro e poder que
ultrapassava o nível normal, conseguiu chegar aonde chegou pisando nas pessoas
sem sentir o mínimo de remorso, em outras palavras, era um louco com máscara de
anjo que conseguiu ser o terceiro maior acionista do Grupo Chromish, comprando
um pequeno pedaço das ações num momento difícil que o conglomerado estava
passado.
Embora fosse um sujeito
mau-caráter, a única coisa que não lhe era falso, era o amor desmedido pela sua
família, principalmente pela sua preciosa filha, a Clarke, que para ele era
como a jóia mais rara de todo o mundo. Seu amor era tão grande que, perante a
garota ele facilmente se tornava um tolo e um pai babão; escondia da esposa as
travessuras da filha e até mesmo abriu mão da profissão que queria para ela,
deixando ela livre para escolher o que quisesse.
A relação entre pai e filha
expressava um elevado grau de amor e confiança, que nada e nem ninguém um dia seria
capaz de quebrar, — aparentemente. Do jeito que ela era preciosa demais para
ele, para ela o seu pai era uma espécie de herói,
o melhor pai do mundo. Acreditava cegamente que Robert era honesto e modesto, e
nada naquele mundo poderia fazê-la pensar o contrário.
— Por favor, não diga a mamãe,
hum? — A garota pediu em tom de súplica e subiu as escadas antes mesmo de
Robert falar alguma coisa.
Uma vez já dentro do seu quarto,
tirou o boné, jogou-o em um canto qualquer do cômodo e se jogou sobre a cama
com os braços abertos. Assim que fechou os olhos por um instante, o toque
padrão do seu celular soou dentro do seu bolso. Com muita preguiça, ela pegou o
aparelho e o atendeu sem mesmo ver de quem era a chamada.
— Hum? — Resmungou
preguiçosamente.
—
O que aconteceu? — Grant perguntou do outro lado da
linha.
Ela esbugalhou os olhos e
sentou-se na cama quando reconheceu a voz do amigo. Ela iria matá-lo!
— Eu é que pergunto. Por que não
respondeu a mensagem que eu enviei? — Perguntou irritada.
— É que...
— Ah... Esquece! — O interrompeu.
— Estou cansada. Amanhã ligo pra você. Estou desligandooo! — Cantarolou e
desligou o celular, deitando-se novamente na cama. Sabia que não podia dormir
sem antes tomar um banho, mas queria ficar ali, naquela posição só mais um
pouquinho. A noite tinha sido tão agitada.
Suas pálpebras tremularam
rapidamente e logo desceram sobre os olhos. Os cílios grandes caíram sobre a
face levemente rosada, e sem se dar conta, seus lábios carnudos curvaram-se
como o arco de Eros quando a imagem
do rapaz bonito que lhe ajudara mais cedo perambulou por sua mente. Não
entendia porque de repente começou a pensar nele, mas aquele pensamento era tão
gostoso que, ela tinha medo de abrir os olhos e ele simplesmente sumisse. Mas
aquele sorriso foi sumindo ao lembrar-se do nome dele.
— Michael... Jackson. — Murmurou
com lentidão... — Espera! — Ela abriu os olhos rapidamente. — Michael Jackson.
— Sibilou. Já ouvira aquele nome, não uma ou duas vezes, mas sim várias. Tinha
certeza. Mas aonde?
Ela levantou-se levando o celular
junto e pesquisando no Google o nome de do rapaz, nome este que estampava
alguns sites, nomeando-o como o herdeiro de um grande conglomerado.
— O quê? Herdeiro? — Perguntou a
si mesmo. — Do grupo Chromish...? Espera! É aonde meu pai tem ações... —
Vasculhou uma galeria de fotos que o Google disponibilizava só de Michael,
entendendo agora de onde saia tanta presunção dele. Ironia, não? Ela tinha
conhecido pessoalmente o herdeiro do grupo onde o seu pai era o terceiro maior
acionista.
Então era isso? Era por isso que
ela sentia que o conhecia de algum lugar?
Jogou-se novamente na cama com um
sorrisinho nos lábios, achando aquilo um tanto engraçado.
(...)
Michael saiu do seu quarto e rumou
até as escadas preguiçosamente, arrastando um chinelo nos pés e trajando uma
calça moletom e uma camiseta, ambos brancos. Os olhos inchados e os cabelos
desalinhados denunciavam que ele acabara de acordar, em pleno meio-dia. Antes
de descer as escadas, parou no alto e jogou os braços para trás de seu corpo,
cruzando os seus dedos na altura das suas costas, espreguiçando-se. Quando viu
Matilde, a jovem senhora que trabalhava na casa, desceu as escadas correndo e a
abordou, dando-lhe um abraço carinhoso de lado e um beijo terno na bochecha.
— Bom dia, minha esposa. —
Brincou com a mulher, esta que se assustou com a abordagem surpresa do rapaz.
— Como assim “bom dia”? Não seria
“boa tarde”? — Ela olhou com repreensão para ele, o que fez o rapaz sorrir. Michael
adorava aquela mulher, pois desde a morte da sua mãe, fora ela quem cuidou dele
e de Natalie, já que Jonathan na época vivia mais na empresa.
— O pai está em casa? Já veio
para o almoço? — Perguntou assim quando a soltou.
— Nesse momento, ele já está
almoçando.
— Ok. — Ele murmurou e fez menção
de afastar, mas a mulher o chamou.
— Michael. — Ele virou-se e a
encarou. — Seja bom com o seu pai. — Aconselhou. Ele apenas balançou a cabeça e
rumou para a sala de jantar, onde encontrou Jonathan e Natalie em volta da
enorme mesa, já almoçando. Aproximou-se e sentou-se ao lado da irmã, de frente
para o pai.
— Não tem mais modos, garoto? —
Jonathan reclamou, mas de forma pacífica, por ele ter sentado antes mesmo de
cumprimentá-lo e a sua irmã.
Michael olhou para ele e respirou
fundo. Não queria começar brigando com o pai, já que foi ele quem começou
errado naquele dia. Reconhecia isto. Mas quando abriu a boca para
cumprimentá-lo, Natalie interveio, não tendo a certeza do que exatamente Michael
iria falar, conhecendo o temperamento dele.
— Pai, ele está assim porque
acordou agora. Está meio desorientado. — Disse ela, tentando aliviar a tensão
que se instalou em tão pouco tempo desde que pai e filho se encontravam no
mesmo cômodo.
Sempre fora assim na hora das
refeições, exceto no café da manhã, já que Michael nunca acordava cedo.
Depois que o rapaz foi servido
pela empregada, eles comeram em silêncio. Como Jonathan fora o primeiro a
começar a almoçar, terminou antes dos filhos, passou o guardanapo nos lábios e
jogou-o sobre a mesa.
— Michael — Olhou para o rapaz,
este que interrompeu a refeição e o encarou. — Quando terminar venha falar
comigo no meu escritório. — Disse com a voz séria, em seguida se pôs de pé e
saiu da presença dos filhos.
Natalie olhou para Michael apreensiva, pensando no que o irmão poderia ter aprontado dessa vez.
— Esse cara... O que você fez
agora, hein? — Indagou com cara de irritada.
— Eu?
— Hum! Você! — Assentiu.
Michael balançou a cabeça em
negativo.
— Eu não fiz nada. — Defendeu-se
achando graça da cara da menina.
— Então por que ele quer
conversar com você no escritório?
— Eu não sei. — Disse
desinteressado. — Mas estou indo saber agora. — Colocou-se de pé e rumou para o
escritório do pai.
Ele realmente não sabia o que
Jonathan queria com ele, mas tinha alguns palpites. Talvez repreendê-lo por
estar frequentando lugares inapropriados que pudessem prejudicar a imagem da
empresa, já que querendo ou não ele ainda era o herdeiro; tentar convencê-lo de
ir para a empresa, ou reclamar de alguma outra coisa... Michael poderia fazer
uma lista.
Bateu na porta do escritório de
Jonathan para anunciar que estava entrando. Assim que entrou, encontrou o pai
encostado no espaldar na cadeira, encarando um canto fixo da parede. Na
verdade, Jonathan estava pensando em uma maneira de convencer o filho a fazer o
que ele queria pedir, pois sabia que seria quase impossível, sabendo que ele não
tinha interesse na empresa.
— Qual é o problema? Sente-se. —
Disse Jonathan, apontando para a poltrona a sua frente.
Michael aproximou-se e fez o que
o pai disse, sentando em uma das poltronas de couro de frente para a mesa.
— Por que você me pediu para vir
aqui? — Ele perguntou.
Jonathan permaneceu calado por
alguns segundos, pensando em uma forma de começar aquela conversa, para que Michael
não fugisse antes mesmo dele terminar de mencionar a palavra “empresa”. Girou a
cadeira e fitou o rapaz.
— Peço que não me interrompa até
que eu termine o que tenho a dizer. — Pediu com seriedade.
Michael respirou profundamente,
por já imaginar do que o pai queria tratar, cruzou suas longas pernas e
assentiu balançando a cabeça em positivo.
— Eu preciso de você. — Jonathan
começou a falar, sendo cuidadoso com as palavras. — Eu preciso de você na
empresa.
Michael fechou os olhos por um
instante e respirou fundo. No final das contas, acabou acertando o que o pai
queria falar com ele. Ele realmente odiava aquela conversa. Já estava cheiro de
ouvir “empresa, empresa, e empresa”, era sempre a empresa! Quando ele fez
menção de falar, Jonathan passou na frente com as palavras.
— A empresa está passando por um
momento difícil. — Disparou com desespero.
— E o que eu tenho a ver com
isso? — Michael murmurou pacífico.
— Você é o herdeiro do grupo.
— Eu já disse que não tenho
interesse na sua empresa. — Patenteou. — Tem a Natalie. Você não precisa
exatamente só de mim.
— Sua irmã ainda é muito jovem.
— Esqueça. Eu não quero! — O
rapaz era inflexível, tão inflexível que a vontade de Jonathan era surrá-lo ali
mesmo. Mas isso só pioraria a relação dos dois, algo que era muito desvantajoso
para Jonathan.
— Tem uma pessoa dentro da
empresa que está tentando me ferrar. Essa mesma pessoa vazou acusações falsas,
e por isso eu estou sendo investigado pelo o ministério público nesse exato
momento.
Michael passou a mão no rosto
impacientemente, e encarou o pai.
— Você fez alguma coisa errada ou
fora da lei? — Perguntou retoricamente, pois apesar de não se dar bem com
Jonathan, ele sabia que o pai era incapaz de cometer algum delito que pudesse
prejudicar o grupo.
— Informações e poder financeiro
para lavagem de dinheiro. É por isso que estou sendo investigado agora.
— Impossível! Você não fez isso!
— Disse convicto.
— Você está certo. Eu não fiz,
mas de alguma forma, alguém fez usando o meu nome no intuito de me prejudicar.
Michael sorriu sem humor.
— E você quer que eu faça o quê?
Que eu entre na empresa e descubra quem é? — Perguntou sarcástico.
— Não é necessário, eu já
descobri quem foi.
— Então, por que não resolve isso
já que sabe quem foi?
— Você acha que é fácil apontar
para alguém com base apenas nas palavras? Sem provas suficientes? — Jonathan
sabia claramente quem estava tentando prejudicá-lo a todo custo, aquela não
tinha sido a primeira vez. Pois desde que o mundo podia ter um homem integro e
virtuoso como ele, que sempre visou fazer as coisas certas sem prejudicar
ninguém, então da mesma forma, este mundo também tinha um egoísta e ganancioso
completo, um demônio chamado Robert Bradshow. E também pelo o fato de algumas
pessoas saberem que Michael não tinha interesse no grupo, acabou despertando
ambições daqueles que já tinham olhos grandes em cima do grupo, e isso deixava
Jonathan muito mais preocupado. Tinha que levá-lo para a empresa o mais rápido
possível para todo mundo ver que além dele, o grupo já tinha um sucessor. E
claro, para garantir que o grupo estaria nas mãos certas caso algo lhe
acontecesse. — Deixe de brincar. Já está na hora de você assumir o seu lugar. —
Disse com um pouco de rigidez.
Michael suspirou profundamente,
cansado da conversa que mal tinha começado e decidiu deixar a sala antes que
começasse uma discussão com o pai, coisa que ele não queria.
— Se você não tem mais nada a
dizer, estou saindo. — Levantou-se da poltrona e deu meia-volta, mas antes que
saísse, Jonathan saltou da sua cadeira e falou:
— Um ano. — A voz do seu pai o
fez parar. — Passe um ano na empresa e depois não me oponho mais as escolhas
que você fizer para o seu futuro. — Propôs.
Michael continuou de costas
durante alguns instantes, enquanto Jonathan esperava com o olhar ansioso por
uma resposta. O rapaz repudiava a ideia de trabalhar na empresa do seu pai,
mas... o que Jonathan havia lhe proposto.. pensando bem, não era tão ruim.
Depois de ponderar mais um pouco, ele virou-se, dando a entender de que estava
interessado na proposta.
Jonathan soltou um leve suspiro
vendo a atitude do filho, embora ele ainda não tivesse dito uma palavra.
— Muito bem. Eu quero um ano. Se
você não quiser ficar depois desse tempo, eu irei aceitar. — Reformulou a
proposta.
Michael colocou as mãos nos
bolsos e soltou um sorrisinho.
— Quer que eu passe um ano na
empresa e então depois não irá mais se opor as minhas escolhas. É isso mesmo? —
Arqueou as sobrancelhas.
— Hum. Foi contra a sua vontade,
mas você estudou administração de empresas e é apto para trabalhar.
— Você acha que eu sou apto para
trabalhar? Então você realmente enxerga alguma qualidade em mim. Estou
comovido. — Disse sarcástico, mas Jonathan não fez caso e apenas continuou.
— Você é inteligente, tem um
julgamento rápido e uma notável determinação. Assuma um cargo por um ano e
depois deixarei você trilhar o seu próprio caminho. — Prometeu a contra gosto.
— E o que me garante que você irá
cumprir a sua promessa? — Michael ainda estava um pouco encabulado.
Jonathan ergueu o queixo. Embora
ele soubesse que nunca iria se conformar com a escolha do filho, ele tinha que
manter a sua palavra. Promessa é uma promessa.
— Eu sou um homem de palavra.
Sabe disso. — Reforçou.
O rapaz se aproximou e
repousou-se novamente na poltrona em frente à mesa do pai, este que também
voltou a se acomodar na sua.
— Certo. Vamos supor que eu
aceite. Então que cargo você iria me dar?
Jonathan sorriu audível. Aquele
patife estava mesmo negociando com ele?
— Como você é meu filho e é o
herdeiro, o cargo de diretor executivo é o que lhe encaixa melhor.
— Sério? Não acha isso demais pra
uma pessoa que sequer vai à empresa?
— Você é o meu filho.
— Você não é o único acionista.
— Seu avô construiu o Grupo
Chromish e eu herdei dele. Então eu sou o dono, não sou?
Michael revirou os olhos em tédio
e se levantou.
— Tá certo. Nem um dia a mais e
nem um dia a menos. — Olhou profundamente nos olhos do seu pai. — Mantenha a
sua palavra depois de um ano. — E saiu do escritório, deixando Jonathan
sozinho.
Talvez a proposta feita ao seu
filho não tivesse sido feita da forma correta. Não era exatamente o que ele
queria, mas o que estava feito já estava feito. Não tinha mais como voltar atrás.
Era a única maneira de levá-lo para a empresa nem que fosse apenas por um ano.
Durante esse pouco tempo,
planejava arrumar as coisas na empresa com a ajuda de Michael, já que o rapaz
era muito inteligente. Sim, ele também ainda tinha uma esperança de que talvez
o rapaz pudesse se interessar pelo o grupo durante o ano. Para ele que
acreditava que princípios eram mais importantes quanto à vida em si, ver o seu
filho primogênito ocupando um cargo na empresa, pode se dizer que era algo
excepcional, mesmo sabendo que depois de um ano ele abandonaria tudo aquilo e
seguiria o seu próprio caminho.
Capítulo 5
“Você de novo?”
AS PORTAS DE VIDRO ESPELHADO da
faculdade foram abertas e alguns minutos depois uma aglomeração em frente ao
prédio foi criada pelos alunos. Entre eles estava Clarke, carregando uma bolsa
de alça comprida pendurada em seu ombro, com fones de ouvido e um sorriso de
satisfação escancarado nos lábios, enquanto assistia pela milésima vez no seu
celular ao vídeo que tinha gravado há duas noites.
Assim que desceu do último degrau
da escada, foi surpreendida quando Grant e Gina aproximaram-se e agarraram os
seus braços. Ela os encarou rapidamente, alternando o seu olhar de um para o
outro.
— Caramba! Vocês me assustaram! —
Resmungou com falsa irritação no tom da sua voz, puxando os fones de ouvido e
enfiando-os junto com o celular dentro da bolsa.
— Você. Por que não veio à
faculdade ontem? — Grant perguntou.
— Estava indisposta. — Foi a sua
resposta.
Os três amigos caminharam pelo
gramado em frente à faculdade enquanto jogavam conversa fora. Grant ainda foi
alvo dos ataques da Clarke quando ele tocou novamente no assunto do clube
Secret Man.
Por mais que ele perguntasse como
ela tinha conseguido sair daquele lugar, ela não queria dizer como conseguiu e
muito menos com ajuda de quem. Só de lembrar-se da forma que tinha sido, lhe
deixava envergonhada. Ficar de sutiã na frente de um cara que ela sequer
conhecia, — pessoalmente — seria vergonhoso contar aos amigos.
Depois de mais algum tempo
conversando, Grant disse que teria de fazer uma coisa para o seu pai e Gina
disse que teria que ir para as aulas particulares dela. Então assim os amigos
se despediram dela e se afastaram, deixando-a sozinha.
Clarke caminhou até o seu carro e
entrou, jogou a sua bolsa no banco ao lado e arrancou com o carro em seguida.
Enquanto dirigia pelo o centro da cidade, avistou a loja de conveniência que
ela costumava frequentar com o Grant. Ela não planejava dar uma parada por lá,
mas começou a sentir a necessidade quando a sua barriga começou a roncar. A
causa de ter saído de casa sem tomar o café da manhã.
Assim que estacionou o carro e
entrou na loja, comprou duas barras de cereais, uma garrafinha de suco natural
de laranja e sentou-se em uma mesinha próxima a janela de vidro, colocando a
sua bolsa na outra cadeira.
Enquanto ela comia e olhava o
movimento do lado de fora do café, não notou que um homem baixinho de pele
branca e outro de pele morena de altura mediana, ambos mal encarados, tinham
entrado na loja e ficado com os olhos fixos na bolsa dela. Esses mesmos homens
tapearam, rondando pelos corredores da loja, escondendo alguns itens dentro do
blusão que usavam, passando até despercebidos pela funcionária que estava no
caixa. O moreno rapidamente saiu e ficou esperando em frente à loja, enquanto o
outro se aproximava de Clarke. Em um movimento rápido, o homem deu um bote na
bolsa da garota e saiu correu.
Clarke jogou o que comia sobre a
mesa e sobressaltou da cadeira, observando o ladrão escafeder-se porta a fora
da loja.
— Yah! Esse filho da mãe
ladrãozinho! — Vociferou, apontando o dedo para a porta. Pretendia deixar para
lá, uma vez que sabia que era muito perigoso reagir a um assalto, mas quando se
lembrou que o seu celular estava dentro daquela bolsa, seus olhos
esbugalharam-se instintivamente e suas penas ganharam vida própria. Ela saiu da
loja de conveniência rapidamente e avistou os dois ladrões balançando a sua
bolsa para um lado e para o outro enquanto fugiam.
Achava aquilo injusto. Era muito
injusto! Naquele celular estava o conteúdo do trabalho da faculdade dela; tinha
passado por muitas coisas para conseguir aquele vídeo e agora iria perdê-lo
para dois ladrõezinhos assim tão facilmente? Não! Ela definitivamente não iria!
Seus punhos de fecharam e seus
dentes se cerraram. Logo mais ela estava correndo atrás dos ladrões como se
estivessem com fogo nas canelas e proferindo inúmeros palavrões, dando a
entender às pessoas, as quais ela quase esbarrava que, ela era realmente louca
por estar correndo atrás de ladrões.
(...)
No
outro lado da rua, situava o restaurante tailandês dos pais de Kamon que Michael
costumava frequentar de vez em quando. Ele estava sentado em uma cadeira
enquanto os seus olhos negros encaravam com desinteresse uma miniatura de Buda
de ouro, um dos mais preciosos tesouros da Tailândia e do budismo, a religião
predominante da população thai.
Michael estava pensando na
conversa que teve com Jonathan, julgando ter sido uma burrice de sua parte ter
aceitado a proposta do pai. Não sabia ao certo se aguentaria passar um ano
trancafiado nos deveres de uma empresa que ele sequer tinha interesse. E o
pior, era que ele já tinha aceitado e voltar atrás era como ferir o próprio
orgulho.
— O que há com você, cara?
Acordado há essa hora? — Kamon o encara embasbacado ao vê-lo tão cedo.
— Isso é tão... — Resmungou. — Eu
acho que fiz merda. Puta que pariu! Como eu pude concordar com o que ele disse?
— Rezingou, ainda encarando a pequena estátua dourada.
— O que você está falando, cara?
— Kamon mudou de embasbacado para confuso.
— Eu deveria pelo menos ter
apelado para seis meses. Porra, isso é tão frustrante! — Bateu uma mão na mesa,
deixando Kamon ainda mais curioso para saber do que ele estava falando.
— Eu perguntei sobre o que você
está falando! — O tailandês gritou agoniado, só assim finalmente chamando a
atenção de Michael que o olhou rapidamente.
— Eu disse que fiz merda, cara!
— Isso eu já ouvi. — Kamon fez
cara de tédio.
— Não cara. Agora é a merda das
merdas, sabe? Eu... eu aceitei uma proposta do meu pai e em troca terei de
passar um ano como diretor executivo do grupo. — Confessou, irritado consigo
mesmo.
— E daí? Aquele grupo será seu um
dia.
— Nunca! — Repreendeu o amigo. —
Você mais do que ninguém sabe que eu não quero ser como o meu pai, que vive só
para aquele grupo.
— Então você está desistindo de
ir? — Kamon perguntou.
— Eu já aceitei. Não posso voltar
atrás. — Respondeu, agora desviando os seus olhos para a janela de vidro enorme
do restaurante. Kamon havia perguntado mais alguma coisa, mas Michael não pôde
ouvi-lo, pois a sua atenção estava voltada agora em dois homens que passaram
correndo pela calçada enquanto eram seguidos por uma garota que movia os
lábios, fazendo o rapaz ter a certeza que ela estava xingando-os.
Nos primeiros instantes, ele
achou a cena um tanto engraçada vendo aquela garota maluca correndo atrás de
dois homens, mas quando notou que havia algo familiar nela, ele estreitou os
olhos e a estudou rapidamente enquanto ela continuava correndo. Em um segundo
que a Clarke virou a cabeça rapidamente, os olhos dele custaram a acreditar que
era a “garota masculina”.
Michael olhou, olhou, olhou e
olhou mais uma vez, debruçando o seu corpo sobre a mesa para não perdê-la de
vista. Franziu o cenho. Era ela mesma! Estava um pouco diferente por causa das
roupas que usava: uma calça jeans e uma blusa polo branca que combinava com seu
tênis da mesma cor. O corte dos cabelos dela e a cor que combinava com os seus
olhos, ele podia lembrar perfeitamente, e foi esse o fator x para que a certeza
que ele tinha se fortalecesse. Definitivamente era ela! Mas... o que diabos ela
estava fazendo?
— O que essa garota maluca está
fazendo agora? — Murmurou, em seguida sobressaltou da cadeira, passou
esbarrando de leve em Kamon, que ficou completamente confuso, e saiu porta a
fora do restaurante. Não sabia exatamente o que estava fazendo, mas sentia que
tinha que correr atrás dela.
Ele a seguiu, vendo-a correr
atrás dos ladrões e proferindo coisas que ele não conseguia ouvir.
Os ladrões entraram num beco e
sem ver o quanto era perigoso, Clarke também entrou, fazendo Michael arregalar
os olhos, pois ele sabia perfeitamente que aquele beco não tinha saída.
O rapaz correu com mais
velocidade, e finalmente quando conseguiu chegar até o beco, viu Clarke e os
dois ladrões se encarando e discutindo.
— Está maluca, sua vadia? — O
ladrão baixinho bradou nervoso com a ousadia da garota.
— Sério, pode ficar com a bolsa,
eu só quero o meu celular. — Ela disse esbaforida.
— Essa garota... — Ele sorriu
nervosamente, em seguida puxou um canivete e apontou para ela. — Quer morrer?
Clarke engoliu em seco e deu um
passo para trás com as mãos estendidas, sentindo o seu corpo ser envolvido num
pequeno torpor de medo.
Michael que até então havia
acabado de chegar à cena, aproximou-se de Clarke e a puxou pela mão. Ela olhou
rapidamente para ele com os olhos esbugalhados e ficou completamente
surpreendida quando lembrou claramente daqueles olhos negros e dos traços
marcantes e esculpidos.
— Você está bem? — Ele perguntou num
murmúrio de voz, enquanto encarava atentamente os ladrões.
— Hum. — Ela murmurou ainda
surpresa. — Mas... o que você...?
— Por que você veio atrás desses
caras? — Perguntou com um tom de voz irritado.
— É que... Meu celular. Tem uma
coisa muito importante no meu celular, então...
— Quem é esse otário? Por que
está se metendo nos assuntos dos outros? — O ladrão baixinho a interrompeu,
esbravejando atordoado enquanto mantinha a faca erguida.
— Otário? — Michael sorriu sem
humor e respirou profundamente, se contendo para não pular naqueles caras e
espancá-los. — Ai, ela disse que tem uma coisa importante no celular dela. Por
que vocês não devolvem apenas o celular e acaba logo com isso? — Sugeriu
pacificamente. Ele achava aquilo muito estúpido, mas já que estava ali mesmo...
— O que é que esse otário está
falando? — O moreno resmungou enquanto se entreolhava com o comparsa, em
seguida, o outro que portava o canivete, impulsivamente e tomado pelo
nervosismo avançou pra cima de Michael, este que numa forma de proteger Clarke,
a empurrou repentinamente contra a parede ao lado, onde ela se manteve. Ele
bloqueou o ataque com um chute que deu na caixa dos peitos do ladrão, fazendo-o
cair sobre uma pilha de caixas de papelão que havia ali.
— Que droga! Esse kung fu
nojento! — O outro resmungou olhando do
comparsa para Michael, espantado pela peculiaridade do rapaz na forma de se
defender. — Eu... Depois que eu te matar eu vou espancar essa vadia e depois
brincar um pouquinho com ela. Já assistiu “doce vingança 2”? Então, vou fazer
do mesmo jeito que aqueles caras fizeram com a Katie.
Ao ouvir isso, Clarke sentiu um
frio na espinha, horrorizada ao imaginar a cena do filme. Michael arquejou
fortemente e meneou a cabeça, indignado com a nojenta ameaça daquele
troglodita.
— Sabe qual é o pior homem do
mundo? Aquele que bate e abusa de mulheres. Como você descobriu? Eu odeio ver
mulheres sendo agredidas ou abusadas. O que fazer, cara? Eu odiei o que você
falou. — Disse calmamente enquanto passava as mãos nos cabelos, fervendo por
dentro de raiva mal contida. Embora Michael fosse um pouco áspero por fora, ele
tinha muito mais coisas positivas do que negativas a seu favor, e uma das
coisas que ele mais odiava, aquele homem tinha acabado de dizer que iria fazer.
Ser um “Casanova” era uma coisa,
mas abusar de mulheres era totalmente repugnante.
Então depois de ter a sua revolta
inflamada, ele aproximou-se do ladrão, — que tentou fugir, mas não conseguiu —
pegou-lhe pela gola do blusão, o golpeou no rosto e o chutou, fazendo-o cair no
chão. Porém, o outro que ainda estava jogado sobre a pilha de caixas, lançou um
pedaço de madeira que havia ali contra Michael, atingindo-o bem na testa.
Instintivamente, o rapaz colocou uma mão sobre a sua testa e deu um passo para
trás. Encarou aquele malfeitor, não crendo que tinha sido acertado por aquele
filho da puta. Aquilo feria o seu orgulho como um lutador. Um sorriso maléfico
surgiu em seus lábios. Ele iria matá-los na porrada.
Ele se aproximou do ladrão que
agora já estava de pé novamente, pulou dando-lhe outro chute, fechou o punho e
fez menção de socá-lo, mas foi detido quando sentiu os braços de Clarke
agarra-lhe pela cintura por trás, lhe impedindo.
— Não faça isso. — Pediu, a fim
de evitar uma tragédia. Pois ela já havia visto as habilidades de Michael antes,
e com certeza se ele pegasse aquele cara de verdade, ele seria capaz de matá-lo
com apenas alguns golpes.
Michael podia sentir a respiração
descompassada da garota batendo contra as suas costas, percebendo que ela
estava assustada.
— Cai fora antes que eu te pegue!
— Falou para o bandido que o encarava assustadíssimo. Olhou para o outro. —
Você também.
— Esse Shaolin mizerázel! — O
mesmo ladrão resmungou, e só não ele como o outro também meteu no pé, deixando
inclusive a bolsa de Clarke jogada no chão.
E ficaram ali por mais alguns
segundos, e Clarke nem percebeu que já podia soltá-lo.
— Gostou tanto assim de mim que
quer ficar agarrada comigo? — Michael perguntou sarcástico, tirando-a do torpor.
Ela soltou rapidamente o corpo
dele e virou-se para o outro lado, mas ele se pôs na frente dela, segurou seus
ombros e lançou-lhe um olhar indignado.
— O que exatamente você é? —
Perguntou irritado.
— Eu só queria o meu celular e...
Ela tentou explicar, mas ele a
interrompeu.
— Você não tem medo? Como uma
garota pode ser assim tão impetuosa? Primeiro entra em um lugar cheio de
homens, agora corre atrás de ladrões? Você não tem noção do perigo, garota?
— Não é assim... Eu só ia pegar o
meu celular!
A desculpa dela só piorava a
situação. Ele simplesmente não acreditava que ela arriscou a própria vida por
causa de um mero celular. E se ele não tivesse a seguido?
— Você realmente é uma garota? Tão
audaciosamente... — Ele estava incrédulo com a atitude dela.
— Está dizendo que sou audaciosa?
— Ela ergueu o queijo em protesto.
— Se não é, então o quê?
Ela com certeza iria retrucar,
inclusive já estava com a resposta na ponta da língua, mas quando viu que
sangue começou a escorrer na testa dele, seus olhos se arregalaram.
— Sangue...! — Murmurou
horrorizada.
— O quê?
— Tem sangue aqui. — Disse
apontando para a testa dele.
Michael passou a mão na testa e
viu que realmente havia sangue quando olhou para os seus dedos melados.
— Ah, pode ter certeza de que se
eu encontrar aqueles filhos da puta novamente irei matá-los! — Falou raivoso.
— Você precisa limpar isto.
Vamos. — Clarke que antes viu que a sua bolsa tinha sido largada no chão, a
pegou rapidamente e segurou o braço de Michael, que a olhou de cenho franzido.
— Não precisa fazer isso.
— Quer que eu me sinta mais
culpada se isso infeccionar ou se você sofrer algum dano cerebral?
Ele sorriu rabugento.
— Seja menos, hum! — Respondeu
desdenhoso.
— Vamos! — Ela insistiu mesmo
assim, puxando-o para fora do beco, até estarem em frente a primeira farmácia
que avistou. Lá ela comprou uma pequena pomada para ferimentos e alguns
band-aids.
Michael disse que se ela quisesse
realmente ajudá-lo, teria que fazer isso em um lugar que não fosse público.
Então teve a ideia voltar para o restaurante dos pais de Kamon que era próximo
dali, já que ele só funcionava à noite.
Assim que os dois colocaram os
pés dentro do restaurante, foram recepcionados por Gun, o pai de Kamon — que
também era Tailandês.
— Michael, o que aconteceu com a
sua testa? — Gun perguntou de cenho franzido.
— Não precisa se preocupar. Foi
só um acidente. — Mentiu.
Gum olhou dele para Clarke,
estranhando por não conhecê-la.
— Quem é ela? — Perguntou.
— Ela? É só alguém que eu
conheço. — Falou olhando-a com desdém. Clarke não se abalou com o olhar dele,
sabia que ele ainda estava indignado com ela.
— Por favor, o senhor tem álcool
e um pedaço de algodão? — Ela perguntou, dirigindo-se ao tailandês a sua
frente.
— Claro. — Ele assentiu e
afastou-se.
Clarke e Michael sentaram-se em
uma mesa, ele a encarando ainda irritado e ela o olhando se sentindo culpada.
— Você! — Ele disse quebrando o
silêncio que se instalara.
— O que tem eu?
— Qual é o seu nome?
— Bem... Meu nome é Clarke.
Michael sorriu sarcasticamente.
— Isso é incrível. — Resmungou
com um olhar falso de asco.
— O quê? — Ela ficou confusa.
— Eu nem sabia o seu nome há
alguns segundos, mas sempre quando encontro você, tudo se torna perigoso.
Ela sorriu se sentindo um pouco
envergonhada.
— Me desculpe. — Murmurou.
— Você simplesmente não consegue
evitar que os perigos aconteçam, não é mesmo? Eu sempre acabo te protegendo.
Isso é tão irritante.
— Ei! Pra começo de conversa,
quem pediu pra você se meter nos assuntos dos outros?
Michael arregalou os olhos ao
ouvi-la.
— Olha só pra essa mal
agradecida... Eu te salvei duas vezes, com quem você acha que está falando
assim?
— Me desculpe. É que você...
— Esqueça! — Ele cruzou os braços
e desviou os seus olhos dos dela.
— Michael, é sério. Eu já me
desculpei. — Choramingou.
Ele voltou a olhá-la rapidamente.
— Michael? Como você sabe o meu
nome? Você é uma stalker ou algo assim?
— Quem não sabe quem você é? Eu
apenas sei. — Desviou o olhar do dele.
O rapaz ficou um pouco intrigado. Ele era
ciente de que era bastante conhecido por causa da família que veio, mas aquilo
era estranho. Ela parecia não saber quem era ele da última vez e agora
simplesmente o chama pelo o seu nome? Por mais que fosse intrigante, nos
segundos seguintes esses seus pensamentos sumiram, pois agora que tinha notado
mais uma vez o quanto aquela garota era bonita e completamente diferente de
todas que ele já pôde conhecer. Tão ousada, destemida, mas completamente doce e
fofa do jeito dela. Aquilo de certa forma o deixou encantado. Era como se
aquele jeito dela o seduzisse.
Chamando a atenção de Michael que
estava absorto em seus pensamentos e a de Clarke que olhava para um ponto
insignificante daquele lugar, Gun reapareceu novamente com um saquinho de
algodão e um frasco de álcool.
— Aqui está... — Gun limitou-se
por não saber como chamá-la.
Clarke se pôs de pé.
— Clarke. — Completou
amistosamente. — Obrigada, senhor.
Gun apenas assentiu e se
afastou.
Clarke pegou um pedaço de algodão
e molhou com álcool, enquanto o rapaz apenas a observava. Aproximou-se mais
dele ao ponto de ficarem a centímetros, afastou as mechas de cabelo que cobria
a testa dele e encostou de leve o algodão no ferimento, fazendo ele afastar a
cabeça bruscamente quando sentiu a ardência.
— Ah, vá com calma! — Michael resmungou.
— Eu sequer toquei em você
direito! Você é um bebê chorão? — Ela reclamou e deu um tapa no peito dele.
— O quê? Um bebê chorão? Não
estou sendo. — Defendeu-se.
— Não? Você nem sabia que tinha
se machucado até ver o sangue.
— Certo, eu não sabia mesmo. Mas
agora que sei dói! — Reclamou. — Você é uma garota, deveria ser mais delicada.
— E você é um homem. Não deveria
reclamar tanto de um simples ferimento.
— E de quem é a culpa de eu ter
me ferido?
Clarke o encarou, mas não tinha o
que responder. Ela sentia que a culpa era dela mesmo. Certo que não tinha
pedido para ele se meter, mas de qualquer forma, ele a salvou novamente e ela
estava realmente muito grata.
Quando ele finalmente ficou
quieto, Clarke concentrou-se e limpou o ferimento da testa dele. Depois que
aplicou um pouco da pomada, ela pegou um dos band-aids e inocentemente
aproximou mais o seu rosto do dele na intenção de cobrir bem a ferida. Como
nunca havia acontecido antes, Michael sentiu-se muito estranho quando olhou nos
olhos da garota, tão concentrada no que estava fazendo, e os lábios pequenos e
carnudos dela só pioravam a situação.
Clarke colocou o band-aid e
passou levemente o polegar por cima, um pequeno sorrisinho brotou-se em seus
lábios, este que não durou muito, pois instantaneamente os seus olhos cruzaram
os dele, que também lhe fitava; e ela ficou presa lá.
Ambos tentavam entender o que
aquilo significava, mas sentiam que era cedo demais para deduzir alguma coisa.
Tirando os dois do torpor, Kamon
surgiu gritando estridente, acompanhado por mais outro amigo. Clarke
rapidamente ergueu-se e Michael se recompôs na cadeira, pigarreando numa forma
de disfarçar o clima que estava.
— Por que você saiu correndo
daquele jeito? O que aconteceu com você, cara? — Kamon questionou assim que
chegou perto dele, tocando no corpo do amigo a procura de danos.
— Foi um acidente. Não exagere. —
Michael resmungou achando o tailandês um tanto exagerado.
Kamon olhou para Clarke e
rapidamente a reconheceu.
— Oh! É aquele garoto... Espera,
a garota. Uau. Você realmente é bonita. — Sorriu contagiante, fazendo todos
sorrirem da forma alegre dele. — Mas... por que vocês estão juntos? — Franziu o
cenho e chegou perto de Will, o outro rapaz que estava com ele. — Ai. Você não
acha isso estranho? — Disse num tom insinuativo agora.
Michael e Clarke se entreolharam
muito suspeitos. Ela tinha ficado muito sem graça, e quando Michael notou,
decidiu aproveitar e brincar um pouco com garota.
— Como assim “por que estamos
juntos”? Ela é a minha namorada. — Disse com tranquilidade. O anuncio foi
seguido por saudações e assobios de Kamon e de Will, enquanto Clarke o fuzilou
de olhos esbugalhados. Ele era louco!
Para provocá-la ainda mais, ele
pegou a mão dela e fez um carinho no dorso com o polegar, o que desencadeou uni
coro de gozações por partes dos amigos.
— Ela é gata. Vocês não
concordam? — Perguntou sorrindo cinicamente.
Clarke se desvencilhou da mão
dele com rapidez, sentindo o rosto enrubescer. Aquilo era tão embaraçoso.
— Na-não é assim... — Tentou
esclarecer, mas Kamon a cortou, uma vez que sabia que Michael estava apenas
caçoando com aquela garota.
— Puxa! Você realmente é rápido.
— Para aguentar esse cara... Isso
é que é amor de verdade. — Acrescentou Will que, até então só observava
sorrindo, e o comentário foi acompanhado pela peculiar gargalhada animalesca.
— Mal posso esperar para ver o
que acontecerá quando os dois tiverem a primeira briga.
— Briga? Isso a gente faz toda
vez que nos vemos. — Michael falou divertido, enquanto a encarava.
Kamon e Will trocaram olhares
cúmplices e começaram a incitar em uníssono:
— Beija! Beija! Beija!
— E agora amor, o que iremos
fazer? Querem que nós nos beijemos. Devemos? — Aquela expressão cínica dele a
fez ficar irritada e estalar a língua nos dentes.
— Esse cara realmente... —
Sibilou, pegando a sua bolsa e pendurando-a em seu ombro. — Pelo o que
aconteceu mais cedo... Obrigada! Agora estou saindo. — Girou o corpo e rumou em
direção à porta.
— Aí. Espera! E se aqueles caras
aparecerem?! — Gritou levantando-se e correndo atrás dela, deixando Kamon e
Will confusos em relação ao que realmente havia acontecido entre eles.
Assim que Michael a alcançou,
segurou-a pelo o braço, fazendo-a parar.
— O quê? Eu não já agradeci?
O rapaz coçou a cabeça e franziu
o cenho.
— Você está brava? A gente só
tava brincando.
— Deveria parar de brincar assim.
É embaraçoso. — Levantou o queixo em protesto.
Ele ergueu as mãos em rendição e
de repente ficou curioso sobre como ela iria voltar.
— Você... pra onde você está
indo? Diga que eu te levo. — Se ofereceu amigavelmente.
— Não é preciso. Eu estou de
carro.
— Está? — Ele arqueou as
sobrancelhas. — E onde ele está?
— Um pouco mais lá na frente.
— Certo. Então eu te levo até
ele. Vai que aqueles caras apareçam de novo.
Clarke apenas assentiu e os dois
caminharam até o carro dela. Quando ela parou ao lado de um SUV prateado,
Michael encarou o veículo, constatando ser o carro dela, e depois a encarou.
— Esse é o seu carro? — Indagou
um pouco surpreso. Não imaginou que ela era pudesse ser rica, embora a carro
não pudesse confirmar isso. Ela assentiu balançando a cabeça em positivo. —
Nada mal. — Comentou.
Ficaram se olhando por alguns
segundos, até que Clarke decidiu quebrar o silêncio constrangedor.
— Você... está realmente bem? —
Fincou seus olhos na contusão dele com o olhar preocupado.
— Sim. Eu estou bem. — Foi a
resposta.
Ela pegou de dentro da sua bolsa
a pomada, os outros band-aids e estendeu para ele.
— Aqui. Troque por estes depois.
Ele pegou os itens da mão dela e
teve uma ideia.
— Me empresta o seu celular. —
Pediu.
— Meu celular? — Pigarreou,
achando estranho o pedido dele.
— Hum. Seu celular. Me empreste.
Clarke hesitou um pouco, mas deu.
Ele discou o próprio número no
celular dela e ligou para ele mesmo, fazendo o celular vibrar no bolso do seu
blazer.
— O que você está fazendo?
— Eu não disse antes? Que dá
próxima vez que a gente se encontrasse, eu iria dar em cima de você?
Clarke sorriu sem humor.
— Então... Você está dando em
cima de mim? — Perguntou.
O rapaz puxou o ar entre os
dentes, olhou rápido para o lado e voltou a fixar seus olhos nos dela.
— Talvez. O que você acha? — Sua
linha de expressão séria fez a garota ficar estática e presa no seu olhar.
Quando ela notou que estava
demonstrando interesse demais no que ele tinha dito, com medo que ele
percebesse isso, ela desvirou o seu olhar, pigarreou e voltou a encará-lo com
um olhar evasivo.
— Não deixe que o seu ego infle,
hum? — Disse estendendo a mão, pedindo o seu celular de volta. Ele sorriu e lhe
devolveu. — Então... Eu vou indo. Obrigada mais uma vez. — Ela entrou no carro
e deu partida, saindo dali, enquanto Michael acompanhava o veículo com os seus
olhos.
— Se está mesmo grata, então não
se meta mais em problemas. Só assim não terei que me meter. — Murmurou para si
mesmo. Olhou para a pomada e os band-aids que estavam em suas mãos e sorriu,
enquanto os seus olhos brilhavam. Enfiou os itens no bolso e voltou para o restaurante
dos pais de Kamon.
Capítulo 6
“De frente com o futuro inimigo”
A MADRUGADA TINHA SIDO CURTA para
Michael, que dormiu tarde, mas que a contragosto, teve que acordar cedo. Pois
como ele tinha prometido ao pai, começaria a trabalhar naquele dia.
Depois de colocar o relógio no pulso, recolheu
o seu celular que estava em cima do criado mudo, pegou o paletó que estava
sobre a cama e saiu do quarto.
Desceu as escadas com uma mão no
bolso, enquanto com a outra segurava o paletó jogado sobre um ombro. Quando
avistou Jonathan e Natalie sentados no sofá da grandiosa sala, aproximou-se e
pigarreou para chamar a atenção deles.
— Já está pronto? — Jonathan
perguntou, olhando-o maravilhado. Ainda não podia acreditar que o filho estava
indo à empresa.
— Hum. — Ele assentiu.
— Olha só pra esse cara! —
Natalie sobressaltou do sofá e correu até o irmão, agarrando no braço dele. —
Uau. Terno cai bem em você. — Analisou-o, achando ele o homem mais bonito do
mundo. — Você vai mesmo trabalhar com o papai? — A menina perguntou em seguida.
— Sim. — Michael respondeu com um
tom desanimado.
— Isso é tão incrível! — Natalie
comentou eufórica, com esperança de que agora, talvez, a tensão entre eles
atenuasse, já que o motivo do desentendimento deles era o fato de Michael não
querer ir à empresa. — Mas, o que aconteceu com o a sua testa? — A menina
perguntou quando viu um band-aid que estava
sendo escondido pelo o cabelo dele.
— Nada demais. Eu apenas me
machuquei. — Mentiu.
Jonathan olhou para a contusão no
rosto do filho e embora tivesse preocupado, não perguntou como ele conseguira
aquilo, pois aquela não tinha sido a primeira vez que ele aparecera assim.
Natalie fez menção de tocá-lo na
testa.
— Mas você...
— Não está na hora de você ir à
escola? — Michael a cortou, numa tentativa de mudar de assunto.
— Ah. É mesmo. — Voltou-se para
Jonathan. — Papai, me dê carona hoje, hum? — Natalie não conseguia esconder o
tamanho da sua felicidade, alternando o olhar entre o pai e o irmão, com um
sorriso esboçado nos lábios.
(...)
Dentro do carro, Natalie não
parava de falar. Como ela estava no banco de trás do carro, ela jogou o seu
corpo para frente, pondo a cabeça entre Jonathan e Michael que estavam nos
assentos da frente.
— Mas Michael, agora que você
está se tornando um homem sério, não
acha que está na hora de arrumar uma namorada e casar-se com ela, só pra
consolidar a sua nova reputação? — A menina perguntou, que com tão pouca idade,
achava que o irmão teria que arrumar uma mulher que lhe merecesse, já que para
ela, ele era bom demais para qualquer uma.
Jonathan sorriu da filha,
enquanto mantinha a sua atenção no trânsito.
Michael olhou para ela e estalou
a língua nos dentes, numa repreensão indulgente.
— Você é tão... impossível com
essa idade, menina. — Ele resmungou, vendo-a dar de ombros. — Desde quando
entende de relacionamento?
— Eu apenas entendo. — Respondeu
ela, erguendo o nariz.
— Por favor, Natalie! Seja apenas
uma garota de quinze anos, sim?
Quando a menina abriu a boca e
fez menção de falar mais uma fez, Michael olhou para o lado e suspirou, mas
sentiu-se completamente aliviado quando avistou o colégio da menina.
— Aí. Já chegamos. — Disse
cortando-a.
— Ah, é mesmo. — Ela pegou a sua
mochila, esticou-se, deu um beijo na bochecha do pai, em seguida na do irmão e
desceu do veículo. — Tchau meninos. — Fez um breve aceno para eles e rumou para
dentro da escola.
(...)
As portas gigantescas feitas de
vidro da empresa matriz abriram-se automaticamente assim que Jonathan e Michael
aproximaram-se. Uma vez que a atravessaram, pai e filho andaram lado a lado em
passos longos e firmes, ganhando a atenção dos funcionários que os
cumprimentavam.
Por mais que Michael fosse
indiferente com os olhares daqueles que o detestavam dentro daquela empresa,
ser o centro das atenções pelo o fato dele ser o filho do dono e presidente/CEO
do conglomerado, lhe incomodava. Mas ele preferiu não fazer caso, apenas
colocou as mãos nos bolsos e continuou andando, enquanto seus cabelos fartos
esvoaçavam um pouco, deixando seu ar de sexy aos olhos das funcionárias que o
olhavam mendigando por uma migalha.
Esperaram o elevador calmamente e
quando o mesmo chegou, os dois entraram. Duas jovens funcionárias também
adentraram e se puseram ao lado de Michael, que manteve o seu olhar fixo para
frente. As duas funcionárias encararam o rapaz de lado e ficaram boquiabertas
ao repararem os traços daquele homem extremamente bonito, e só quando uma delas
cochichou para a outra que ele era Michael Jackson, o herdeiro do grupo, que
ele pôde ouvir. Era sempre assim. Quando as pessoas ficavam sabendo quem ele
era, um prota, ele automaticamente
tornava-se mais interessante, e como ele já estava familiarizado com aquele
tipo de situação, sabia muito bem o que fazer. Ele virou um pouco o rosto, as
encarou e abriu um sorrisinho sínico para elas, e esse ato dele foi como uma bomba
para as duas funcionárias que pensaram que estavam sonhando que o herdeiro do
grupo havia sorrido para elas.
As portas do elevador se abriram
no último andar, e Jonathan e Michael andaram a passos longos e firmes até a
porta à frente deles, que estava sendo protegida por duas secretárias vestidas
elegantemente. As letras que indicavam que aquela era a sala de reunião
proporcionaram novamente para Michael a ideia de que ele tinha errado ao
aceitar a proposta de Jonathan, mas como ele já estava ali mesmo, apenas
cumpriria com a sua parte.
A sala de reunião estava lotada,
fazendo-se presente os outros acionistas, os diretores executivos e alguns
advogados que trabalhavam para o grupo, esperando o presidente chegar para dar
início à reunião.
As portas foram abertas, e por um
momento, todos que estavam ali presentes se calaram quando viram Michael. A
feição de todos era de total surpresa.
Jonathan adentrou seguido pelo
rapaz que, ganhou todos os tipos de olhares do batalhão que rodeava a enorme mesa.
— Bom dia. — Jonathan disse
enquanto fazia o encalço até a cadeira majoritária. Michael o seguiu e assim
que o Jonathan sentou-se, ele também se sentou na lateral da mesa, justamente
em frente ao terceiro acionista chamado Robert Bradshow, este que o encarou com
o olhar curioso, deixando o rapaz já de cara
intrigado.
Michael já estava ciente da
situação, já que antes de vir trabalhar, Jonathan havia lhe dito algumas coisas
e lhe dado algumas orientações, inclusive falando um pouco dos funcionários de
cargos importantes e dos outros acionistas. Só não lhe disse quem exatamente
era a pessoa que estava tentando prejudicá-lo.
— Me desculpem pelo o atraso. Mas
pulando as formalidades, hoje tenho um anúncio para dar a vocês. — Jonathan
começou a falar, ganhando a atenção de todos; respirou fundo já sabendo que o
que ele estava prestes a anunciar seria motivo para um burburinho. — Eu sei que
por muito tempo houve rumores pelos corredores e até mesmo fora da empresa de
que o meu filho não tinha interesse no Grupo Chromish. — Ele colocou os
cotovelos sobre a mesa e entrelaçou os dedos embaixo do queixo. — Mas... que
tipo de filho não se interessaria pelo o que já lhe pertence por direito? Isso
não é meio absurdo? — Sorriu calmamente, tentando passar para as pessoas a
certeza de que o boato era falso, embora ele fosse verdadeiro. Mas esconder
isso daquelas pessoas era a coisa certa.
Michael que até então tinha os
olhos detidos em uma garrafinha de água mineral à sua frente, olhou para
Jonathan.
— Então para provar que rumores
são apenas rumores, hoje anuncio que meu filho, Michael Jackson, o herdeiro
desse grupo, oficialmente está entrando para a equipe como diretor executivo e
responsável pelo projeto da empresa filial Chromish Construction, na construção
do parque temático. — Ele olhou para Michael, e o mesmo se pôs de pé por breves
segundo, voltando-se a sentar novamente.
Como já estava previsto, todos
ali se entreolharam e deram início aos burburinhos de oposição contra ao que
Jonathan tinha dito. Michael não se importava com o que aquelas pessoas falavam
sobre ele e manteve-se calmo e indiferente sobre os comentários negativos.
— Pessoal, por favor! — Jonathan
aumentou um pouco o tom da voz, fazendo todos se calar. — Não entendo o motivo
de tanta objeção! — Ah, ele entendia sim!
— Isso é um absurdo! Como pôde
ter tomado uma decisão sem antes consultar os outros acionistas? — Protestou um
dos acionistas, indignado.
— Consultar? Vocês todos que
possuem ações, se juntarem todas não chega nem a metade da quantidade que eu
possuo. Eu não sou o dono desse grupo apenas porque possuo a maior quantidade
das ações, mas também porque eu o herdei. E ele é o que é hoje por minha causa!
Então, estão querendo me dizer que eu tenho que pedir permissão para dar um
cargo ao herdeiro, o futuro dono? — Jonathan falou com autoridade.
Michael olhou para Jonathan
extremamente surpreso, pois nunca tinha visto o pai se exaltar daquela forma
com outras pessoas, exceto com ele.
— Mesmo que ele seja o seu filho,
como pode nomeá-lo como diretor executivo, quando ele nem dava as caras direito
ou mostrava interesse?
— Eu concordo. E também que
experiência ele tem sendo tão jovem? — Outra pergunta foi feita.
Jonathan suspirou
impacientemente. Já Michael sabia que iria ser assim, e também não era pra
menos, ele nunca dava as caras e agora estava tomando posse de um cargo que
para outras pessoas era anos de trabalho árduo para conseguirem. No entanto, o
fato de ser julgado pela sua idade era realmente muito ridículo, ao ponto de
fazê-lo sorrir sem humor.
— Então... eu deveria morar na
empresa para vocês verem o tamanho do meu interesse? — Michael soou ironicamente, mas mantendo o seu tom de voz polido. — Se vocês estão tirando conclusões precipitadas sem antes
saber do que eu sou capaz, deveria saber que se eu por acaso cometer um erro,
coisa que não acontecerá é claro, o maior prejudicado entre todos será eu
mesmo, o herdeiro. Por que simplesmente não esperam pra ver, hum? Eu não sou só
um rostinho bonito... São vocês que apenas não me conhecem.
— E o que você entende de
empresas? — Foi questionado outra vez.
Michael definitivamente não
queria responder, achava aquilo muito humilhante para ele ter que ficar dando
explicações para aquelas pessoas, mas decidiu ser paciente.
— Eu cursei administração de
empresas e ao contrário do que vocês todos pensam, estou familiarizado com
assuntos que ouvi o presidente de vocês falar sobre. Querem que eu dê uma
palestra? — Soou irônico.
Robert Bradshow o encarou
furiosamente, mas não demonstrou no seu semblante. Ele definitivamente nunca
fora com a cara daquele rapaz sem antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente, mas
agora que eles se encontraram as coisas pioraram. Ter que lidar com Jonathan já
era arduamente difícil, e com o seu filho que mostrava petulância e perspicácia
seria o dobro.
— Isso é interessante. — A
ambição em pessoa se pronunciou. — Ele parece ser muito inteligente e seguro
sobre si mesmo. Isso é muito bom, no entanto, isso é uma jogada muito
arriscada. Quando os investidores estiverem a par da situação, ficarão
inseguros sobre nós. Mas, como não há vitória sem antes ter que pisar nas
pedras do caminho, deveríamos aceitar. Vamos dar uma chance, afinal, ele é herdeiro. — Só pelo tom que Robert
falou, Jonathan e Michael notaram que ele não estava sendo sincero.
.
Michael sabia que no mundo
havia muitos humanos que desistiam de serem humanos e que a ganância e as mentiras
estavam se tornando norma. Aquele mundo estava cheio de depravação e difamação.
Por isso, no início ele desconfiou de todos, analisando um por um toda vez que
abriam a boca para falar, mas foi quando ouviu o que Robert disse que percebeu
que algo de errado estava ali além da sua falsidade nítida. Seu tom era sombrio
e maléfico, o rapaz podia perceber isso.
Aquelas pessoas se entreolharam
novamente, ainda não conformados com a decisão do presidente, mas ficaram em
silêncio.
— Então, — Jonathan se levantou.
— a reunião está encerada! — Decretou e saiu da sala, deixando todos, inclusive
Michael.
Quando Michael estava prestes a
deixar a sala, Robert o abordou. O rapaz o encarou profundamente, vendo o mal
no olhar daquele homem.
— Seja bem-vindo, diretor Jackson.
— Robert estendeu uma mão para felicitar o rapaz e abriu um sorrisinho falso.
Michael olhou para a mão enrugada
dele e depois voltou a encará-lo.
— Não precisa fingir que gosta de
mim e nem que concordou com a decisão do meu pai. Eu não preciso disso. — O
rapaz foi incisivo, fazendo com que o sorriso de Robert sumisse. — Nós iremos
trabalhar juntos, então eu peço que quando for se dirigir a mim, que seja por
um motivo relacionado ao trabalho. — Sorriu sem humor. — Me desculpe pela minha
sinceridade desconcertante, mas eu não consigo receber felicitação de pessoas
que não gostam de mim. Você não precisa se esforçar tanto.
Robert ficou encarando-o por
alguns segundos, completamente furioso pela arrogância do rapaz, mas ele não
demonstrou isso, simplesmente abriu um sorriso de escárnio e ardiloso.
— Eu não sei quanto ao seu pai...
— Presidente. — Michael o cortou,
corrigindo-o.
— Certo. Presidente. Eu não sei
quanto a ele, mas você parece muito seguro de si mesmo, garoto.
Michael respirou profundamente e
ficou com a expressão mais rígida.
— Garoto? Certo. Então espere só
e veja o que esse garoto sabe fazer.
— Falou altivamente, seco, polido e objetivo, em seguida afastando-se de
Robert.
Michael sabia que conviver com
aquelas pessoas seria muito cansativo e estressante, principalmente com Robert
Bardshow que demonstrava ser um homem ganancioso e ardiloso. Só assim ele pôde
realmente ver o que o Jonathan enfrentava sozinho, e isso ascendeu um pouco de
motivação para ele ajudar o pai.
Certo! Ele iria trabalhar duro
durante os doze meses até o grupo estar totalmente fora de perigo e depois
disso, voltaria para o que ele realmente queria fazer.
(...)
Michael jogou-se com roupa e tudo
na cama, sentindo-se extremamente cansado, visivelmente duas vezes mais cansado
do que quando ele passava a noite fora. Havia passado o dia inteiro estudando
algumas papeladas para ficar a par da situação atual do grupo; havia visitado a
Chromish Construction para assumir oficialmente a construção do parque temático
e até foi ao local onde iria ser construído. E se isso já não bastasse, ainda
teve que voltar para a matriz antes de finalmente poder voltar para casa.
Aquela rotina só consolidou mais ainda a sua certeza de que ele não queria ter
uma vida como aquela para sempre. Era tão cansativa e estressante que, sendo o
primeiro dia, ele já esperava ansiosamente pelo último.
Ele olhou o para o relógio em seu
pulso que apontava para 20:45 PM e resmungou um palavrão por ser tão tarde.
Seu celular vibrou no bolso e quando ele o pegou, o nome de Kamon aparecia na
tela. Deslizou o dedo sobre ícone verde e atendeu.
— Hãm. — Murmurou preguiçoso.
—
Chegou agora? — Kamon perguntou do outro lado da
linha.
— Hum. — Michael disse apenas.
—
Shiii... Pela sua voz já vi que hoje não irá para o clube.
— Realmente hoje não vai rolar.
Me sinto tão exausto que acho que nem consigo nem levantar uma faca, quanto
mais uma espada.
Kamon sorriu do outro lado da
linha.
—
Então já que você é um homem de negócio, desligarei e deixarei você descansar,
Diretor Jackson. — Disse zombeteiro.
— Isso, continue fazendo piadas.
— Michael falou num tom repressor com falsidade, que fez o tailandês sorrir
novamente.
—
Nos falamos depois. — Kamon disse, ele assentiu e ambos
finalizaram a ligação.
Michael fechou os olhos por alguns segundos,
pensando se realmente teria que ir dormir cedo. Para o clube ele não podia ir,
pois não tinha certeza se iria voltar antes da meia-noite, mas sair sozinho e
ainda por cima cansado seria entediante demais. Foi aí que uma luzinha ascendeu
na sua cabeça e ele levantou-se da cama, levando o celular junto, vasculhando a
sua agenda telefônica até encontrar o nome de Clarke. Sem que ele percebesse,
um sorrisinho estúpido tomou conta dos lábios e ele finalmente colocou o número
dela para chamar.
(...)
Clarke estava sentada na sua
cama, pernas cruzadas e o seu notebook sobre elas. Seu dedo deslizava-se pelo
touchpad e sua atenção estava voltava para a tela. Ela já havia visto novamente
o vídeo que gravara em seu celular dos meninos no clube e agora estava pondo o
seu trabalho em prática, editando o vídeo e colocando algumas legendadas.
Sua atenção foi cortada quando o
seu celular tocou sobre o criado-mudo e ela foi obrigada a colocar o notebook
sobre a cama e esticar o corpo para alcançar o aparelho. Olhou para a tela e
franziu o cenho por não reconhecer o número. Deslizou o dedo sobre o ícone
verde na tela e encostou o aparelho na orelha.
— Alô? — Disse, mas não recebeu
nenhuma resposta, apenas conseguia ouvir a respiração da outra pessoa do outro
lado da linda. — Alô? — O silêncio continuou, deixando Clarke impaciente. — Se
não vai falar, então irei desligar. — Quando a garota afastou o celular e
estava quase desligando, ouviu a voz do outro lado da linha finalmente falar.
—
Onde você está? — A voz era rouca, mas refinada.
Clarke aproximou novamente o
celular da orelha.
— Alô?
—
Eu perguntei onde você está. — A voz do outro
lado da linha falou novamente.
— Quem está falando? — Perguntou
confusa.
—
Serio que não reconhece a minha voz?
Clarke meneou a cabeça para o
lado, ponderou, ponderou e ponderou, até que se lembrou perfeitamente a quem
pertencia àquela voz.
— Por acaso... é o Michael? —
Indagou só por via das dúvidas.
—
E quem mais seria? Seu namorado?
A garota arregalou os olhos e
sobressaltou da cama, surpresa pela ligação.
— Por que... está me ligando? —
Perguntou debilmente.
—
Você está ocupada?
— Eu? — Ela olhou para o notebook
aberto em cima da cama. — Não. — Mentiu.
—
Então vamos nos encontrar. — Não foi nem uma pergunta, mas
sim uma intimação.
— O quê? Nos encontrar?
—
Hum.
— Assentiu.
— Agora? Aonde? Por quê? —
Questionou nervosamente, ainda abalada pelo o impacto da notificação.
—
Não faça muitas perguntas, apenas me encontre, hum?
— Foi a resposta dele.
— Mas... — Clarke olhou a hora
pelo o seu celular e respirou fundo. — Se queria me encontrar, por que não
ligou mais cedo?
—
Eu estava trabalhando.
— Ele trabalha? Isso sim é
surpreendente. — Falou baixinho, mas mesmo assim ele pôde ouvir.
—
Eu consigo ouvi-la!
Ela pigarreou para disfarçar.
— Então... você está me chamando
para um encontro? — Atreveu-se a perguntar.
Michael franziu o cenho e respirou
fundo do outro lado da linha.
— Eu nunca convido as garotas
para um encontro, mas se você quiser considerar como um, apenas faça.
Clarke fez cara de nojo.
— Você é tão mesquinho e rude.
Esqueça! — Deu a entender que iria desligar o celular.
—
Espera! Não desliga! — Michael sabia que era infantil o que
ele iria falar, mas era a única desculpa estúpida que ele tinha para dar. — Minha testa, por causa daquele ferimento,
ela não está bem.
Ela sorriu, sabendo perfeitamente
que ele estava mentindo. Que homem em sã consciência ligaria para uma garota
por causa de um ferimento pequeno na testa, ainda mais sendo tarde da noite? Ele
queria mesmo era encontrá-la e ela sabia disso.
— É mesmo? Então você não deveria
ir a um hospital ao invés de estar pedindo para eu ir vê-lo?
—
Por acaso foi culpa do hospital de eu ter me machucado? Não, foi sua! Então se
responsabilize!
A garota sentiu vontade de
sorrir, mas se conteve.
— Certo. Mas vou logo dizendo que
será rápido! Aonde quer que eu o encontre?
— Em frente ao museu Metropolitano de Arte. Não se atrase! — Depois
do seu aviso final, ele finalizou a ligação antes mesmo que ela pudesse falar
mais alguma coisa.
Clarke olhou para a tela do
celular, não acreditando que ele realmente havia desligado o telefone na cara
dela. Poxa, ele às vezes tinha alguns gestos de um cavalheiro, mas em
compensação disso, ele era tão rude. Clarke não sabia o que mais havia visto
nele além da sua beleza, e, realmente não entendia o porquê que havia gostado
tanto daquele jeito dele. Era simplesmente incompreensível.
Quando saiu do seu transe, ela
fechou o notebook e correu para o banheiro, tomando um banho rápido, rápido
mesmo. Em menos de vinte minutos a garota saiu do banheiro com uma toalha
enrolada no corpo e outra nos cabelos. Ela foi até o seu closet e catou algumas
roupas a procura da mais digna de um encontro, mas como o estilo dela não incluía
nada curto ou esvoaçante, um short jeans claro um pouco folgadinho e uma blusa
bem leve e solta branca de mangas compridas não era tão mal. E além do mais, o
short era bonito e caia bem no seu corpo magro e a blusa apesar das mangas
compridas, a gola V mostrava o quanto era bonito o seu colo e pescoço. Pelo
menos ela se sentia bem confortável com elas. Para completar o look, ela calçou
uma sapatilha preta, secou os seus cabelos que agora estavam úmidos e optou por
usá-los soltos. E claro que não pôde esquecer-se de se perfumar.
— Será que eu to legal? —
Murmurou para a sua imagem no espelho, tendo a certeza de que ainda faltava
algo. Esticou os lábios num sorriso e estalou os dedos quando notou o que
faltava. Foi ao encalço da sua bolsinha onde ela sabia que estavam alguns
produtos de maquiagem, tirou de dentro um delineador e contornou a parte de
cima dos olhos com uma linha fina, depois aplicou rímel e um batom clarinho.
Certo que ela sem sempre andava por aí usando maquiagem, tanto que na maioria das
vezes os seus lábios ficavam ressecados, mas como ela iria se encontrar com
Michael, ela queria pelo menos impressioná-lo uma vez. Pois quando se
encontraram pela primeira vez ela estava vestida como um garoto e na segunda
estava usando roupas muito casuais, não queria que ele tivesse apenas a imagem
dela agindo estranho, como vestida de um garoto ou correndo atrás de ladrões,
dessa vez ela queria passar uma boa imagem dela, mostrar-lhe que era uma garota
de verdade.
Quando já estava pronta, ela
pegou o seu celular, a sua carteira, as chaves do seu carro e saiu do quarto de
mansinho para não acordar os seus pais e nenhum dos empregados.
Capítulo 7
“Uma garota adorável”
CLARKE PAROU O CARRO EM frente ao
museu, pegou apenas o seu celular e saiu do veículo. Fez a volta e passou os
olhos por todo o local a procura de Michael, mas só conseguia ver algumas
barracas noturnas e alguns casais sentados, namorando.
— Cadê ele? — Disse baixinho,
vasculhando o seu celular e ligando para ele. Três toques depois ele atendeu a
ligação. — Cadê você? — Perguntou enquanto andava para ver se o encontrava.
—
Você está atrasada? — A voz aveludada soou do outro lado da linha.
— Não. Só não consigo te ver. — Disse,
em seguida parou rapidamente quando avistou o rapaz um pouco mais à frente,
encostado no seu carro e com o celular rente a sua orelha. — Já vi você. —
Disse apenas e finalizou a ligação antes que ele pudesse falar algo.
Michael olhou para a tela do
celular e franziu o cenho. Clarke aproximou-se e ele ergueu a cabeça quando
percebeu a presença dela. Ao vê-la, seu corpo petrificou e somente os
seus olhos moveram-se, percorrendo lentamente pelo o visual da garota. Que ela era
bonita isso era um fato que ele já sabia, mas vê-la daquela forma — tão feminina — o deixou maravilhado, o que era exatamente a intenção de Clarke.
— O que foi? Por que está me
olhando assim? — Perguntou ela fingido não saber o motivo.
— Olha só... Agora eu tenho a
certeza que você é de fato, uma garota. — Ele falou enquanto sorria, tentando
esconder que na verdade estava surpreso.
Clarke sorriu sentindo-se um
pouco enrubescida. Aproximou-se mais e analisou a testa dele.
— Você... estava mentindo, certo?
— Perguntou quando notou que não havia nenhum band-aid na testa do rapaz.
— Claro que não. — Sorriu torto.
Ele tirou do bolso do seu blazer um band-aid, depois que mostrou a ela, voltou
a aguardá-lo e afastou os cabelos que cobria um pouco a sua testa, para
mostrar-lhe a lesão que estava cicatrizando. — Isso dói, e a culpa foi sua!
— Tá, eu já sei. Então foi por
isso que você me chamou?
— Também. — Ele desviou os seus
olhos por um breve instante.
— Também? — Ela arqueou as
sobrancelhas com a certeza de que ele não havia lhe chamado por causa daquilo,
e perguntava-se qual poderia ser a verdadeira razão.
— Hum. Primeiro vamos comer. Eu
estou morrendo de fome. — Michael disse fazendo careta e colocando a mão na
barriga.
— Comer? — A garota sorriu
descrente. — Uau... Você é inacreditável! — Resmungou.
— Eu? Eu sou o inacreditável? —
Ele lançou pra ela um olhar insinuante.
Ela desviou os olhos e tossiu.
— E aonde deseja comer a essa hora?
— Desconversou com a voz mansa e suave.
Michael não respondeu, apenas
esboçou um sorriso malandro, enfiou as mãos nos bolsos da sua calça, deu-lhe às
costas e se pôs a andar. Parou alguns passos depois quando notou que ela não
estava o seguindo, e virou-se para encará-la.
— Você não vem? — Perguntou em
voz alta.
Clarke ficou encarando-o por
alguns segundos enquanto cogitava. Ele podia ser perigoso, mas mesmo assim decidiu ir com ele sem
medo algum. Não obstante, às vezes mostrava ser um pouco rude e altivo, ela sabia de
qual família ele vinha e que ele rescendia a água de colônia cara, em outras palavras, um cara refinado. Além
disso, ela o via como os heróis das histórias em quadrinhos que sempre aparece
quando a mocinha entra em perigo. Bem,
ela não era como as outras mocinhas cem por cento indefesas, mas gostava da
ideia de ter sido salva por ele duas vezes.
Clarke ainda o seguia em
silêncio, enquanto observava-o andando elegantemente. Ele tinha um
porte físico agradável e atlético, porém não chegava a ser como os atletas
brutamontes. Pelo o contrário, ele era magro, mas por causa do treinamento
intensivo que teve enquanto aprendia artes marciais, ele ganhou alguns músculos
e uma postura atraente. E quer saber? Ela estava adorando aquela visão, tanto
que estava com um sorrisinho desenhado em seu rosto, — que não durou por muito
tempo, inclusive. — Pois quando Michael virou-se para conferir se ela ainda estava
o seguindo, quase a pegou em flagrante.
Um pouco mais a frente, havia uma
barraca de petiscos que era famosa por vender os melhores barquinhos com
provolone, gorgonzola, cupim desfiado e vários outros petiscos. Por trás da
barraca estava uma senhora preparando alguns pedidos e uma mulher morena lhe
ajudando.
Michael aproximou-se e se sentou
em um banco em frente a uma mesinha de plástico. Clarke também fez o mesmo, de
cenho franzido, não entendendo o motivo deles estarem ali, naquele lugar.
— Por que... estamos aqui? — Ela
perguntou hesitante, recebendo o olhar dele.
— Por quê? Não gosta desse tipo
de lugar?
— Não é isso. — Apressou-se em
responder com medo de que ele a entendesse mal. — É que... Você não parece o tipo
de pessoa que frequenta lugares assim. — Explanou nervosa. Não que ela fosse
uma pessoa que abominasse aquele tipo de lugar ou como uma daquelas pessoas
cheias de frescuras que vinham de família rica, ela só não fazia ideia que o
herdeiro de um grande grupo era adepto àquele ambiente.
— Bem, — Michael cruzou as suas
longas pernas e apoiou um cotovelo sobre a mesinha. — não são todas essas barracas
que tem o privilégio de ter Michael Jackson como cliente. — Disse com presunção,
mas numa forma de brincadeira. — Mas então, aqui vende o melhor barquinho de
provolone e a melhor batata frita. Você vai ver. — Desviou o olhar e
rapidamente voltou-se a ela novamente. — Espera! Não me diga que você não come
essas coisas com medo de engordar. — Caçoou.
— Eu não tenho tempo pra ficar me
preocupando com essas coisas. — Ela resmungou e estalou a língua nos dentes num
amuo.
— Uau. Você é realmente diferente
das outras mulheres.
— Percebeu isso agora? — Ela arrebitou o queixo.
Ele sorriu e olhou para o lado
quando alguém proferiu o seu nome.
— Michael Jackson. — A morena alta
aproximou-se de Michael com um sorriso desenhado nos lábios carnudos, sorriso este que
lhe foi retribuído pelo rapaz.
— Julie. — Ele se levantou e os
dois se cumprimentaram com um rápido meio abraço, enquanto Clarke os observava
tendo uma ideia errada sobre o relacionamento dele com a morena.
Julie era uma sobrinha distante
de Matilde, a governanta da casa de Michael, que ele conheceu alguns anos atrás
quando a mesma tinha ido buscar a tia no trabalho. Ela era uma mulher bonita e
mais velha que Michael, inclusive, embora fossem apenas amigos, foi com a morena
que o rapaz teve a sua primeira transa. Em outras palavras, Julie tirou a
virgindade do rapaz quando o mesmo estava na adolescência. Mas, esse ocorrido
não afetou a relação dos dois, pois desde então eles continuaram com a amizade.
— Você estava sumido. Como vai? —
A voz de Julie era forte.
— Bem, e você? — Michael também a
cumprimentou.
— Eu também estou bem. — A morena
olhou para Clarke estranhando o fato de ela estar com Michael. — A propósito,
porque o Tai não está com você hoje? — Ela se referia a Kamon assim por causa
da sua nacionalidade.
— Não pudemos nos encontrar hoje.
— Foi a resposta dele.
— Isso é um milagre. — Brincou. —
Ah... — olhou para Clarke. — É a sua namorada?
Michael deu um sorriso de viés e
Clarke arregalou um pouco os olhos.
— Não... Nós não somos namorados.
— A garota respondeu não entendo o razão de ele não ter respondido, e tampouco
o motivo daquele sorriso.
— Sério? — Ela olhou para ele e sorriu. — Que pena. Ela é bonita. — Elogiou a garota com sinceridade. — Oi,
eu sou a Julie. — Se apresentou.
— Clarke. Muito prazer. — Ela
sorriu também.
— Mas então. O que vocês vão
querer?
— O de sempre. E ah, traga também
uma porção daquelas batatas deliciosas que a sua avô faz, por favor. — Pediu.
— Certo. Vai querer alguma
bebida?
— Traga dois refrigerantes. — A
morena olhou pra ele estranhando a escolha, porque sempre quando ele ia ali com
Kamon, o pedido era o mesmo: cerveja ou qualquer outra coisa que tivesse álcool. —
Eu não posso beber hoje. Sou um homem sério agora. — Explicou para a morena.
— Olha. Se você está dizendo. — A
morena falou em tom de brincadeira e logo em seguida se afastou para atender ao
pedido.
Michael pegou o celular e passou a
vasculhá-lo por um momento, enquanto Clarke o observava tentando entender como
realmente ele era. Certo que essa era a terceira vez que eles se encontravam,
mas como ela sabia quem ele era — o herdeiro do grupo onde Robert, seu pai,
tinha algumas ações — vê-lo assim, deixava-lhe muito mais curiosa pra saber
como era o seu verdadeiro “eu”.
Michael levantou o olhar e viu que
a garota lhe encarava de forma estranha.
— O quêêêêê? O que há de errado com
você pra me olhar assim? — Questionou, guardando o celular no bolso do seu
blazer e tirado Clarke do estado de transe.
— Vamos falar a verdade. Por que
estamos aqui? — Perguntou curiosa.
Ele arqueou as sobrancelhas em
conjunto.
— Eu já disse que estou com fome.
— Respondeu. — A propósito, eu estou muito curioso sobre uma coisa.
— Sobre o quê?
— Você. Qual foi a verdadeira
razão para você ter seguido aqueles dois ladrões? — Indagou, tendo em mente a
imagem dela correndo.
— Eu já disse. Porque tinha uma
coisa muito importante no meu celular.
Ele arquejou.
— Era tão importante assim, ao
ponto de fazer você arriscar a sua vida?
— Bem... — A garota mordeu o
lábio inferior, ponderando se contava a ele ou não. Não sabia ao certo qual
seria a reação do rapaz, mas mesmo assim achou que ele deveria saber, já que
ele estava no vídeo. — A verdade é que... você está naquele vídeo. — Confessou.
Michael pestanejou algumas vezes
antes de falar.
— Eu? — Seu olhar agora era confuso.
Como assim ele estava no vídeo? Aliais... Que vídeo?
— Hum. — Ela confirmou.
Ele sorriu, achando aquilo
engraçado. Olhou para o lado, coçou a nuca e voltou a fitá-la.
— Por eu estaria em um vídeo no
seu celular? Não me diga que você é uma... Stalker? — Arregalou um pouco os
olhos, caçoando da garota.
— Não é isso. — Ela disse
rapidamente. — Não me entenda mal. Eu só precisava de algo interessante para
apresentar o meu trabalho da faculdade.
— Trabalho da faculdade? Espera
aí, que tipo de vídeo é esse? — Indagou.
— É que... É de você e aquele seu
amigo chinês lutando no clube. — Respondeu baixinho.
Foi então que tudo começou a se
encaixar na cabeça de Michael.
— Então quer dizer que... Naquela
noite que você entrou no clube vestida como um homem, foi para nos filmar?
— Não exatamente. Apenas
aconteceu. — Respondeu, não sabendo ao certo se ele estava irritado ou não.
Um brilho ofuscante nos olhos
negros do rapaz foi aceso e um sorriso bobo foi desenhado nos seus lábios.
— Então... Você filmou muita
coisa? — Perguntou na expectativa, deixando Clarke confusa.
— Você... não está zangado? — Murmurou
temerosa.
— E por que eu ficaria zangado
com isso?
— Não sei. Geralmente quando
alguém lhe fotografa ou lhe filma sem a sua permissão, é inconveniente. Direitos
de imagens autorais... Essas coisas, sabe?
— Isso é besteira. — Disse
desdenhoso. — A propósito, você cursa o quê? — Puxou mais assunto.
— Hãm... Jornalismo. Estou no penúltimo
semestre.
— Ah, agora eu sei de onde vem
tanta coragem. — Brincou. — Então você nos filmou para apresentar um trabalho.
Você não acha isso meio... bobo?
— De jeito nenhum! Muitas pessoas
que não podem entrar naquele clube têm a imensa curiosidade de saber o que um
bando de marmanjos fazem ali dentro. Não foi muita coisa, mas é interessante,
uma vez que vocês são bons. Então eu irei fazer uma matéria sobre isso e
apresentar no final deste mês. Se você e nem o seu amigo chinês se importarem,
é claro. — Disse receosa.
Michael se remexeu no banco e
desviou a sua vista por alguns instantes, em seguida voltando a fitá-la.
— Deixe-me ver o vídeo. — Pediu.
A garota o encarou com confusão, mas rapidamente e de um jeito meio
desajeitado, pegou o seu celular, colocou o vídeo e lhe entregou o aparelho.
Michael assistiu ao vídeo, e como
o ambiente do clube era um pouco escuro e ele e o Kamon se moviam com rapidez,
dificilmente dava para ver os seus rostos. Se fosse antes, mesmo se desse para
vê-lo, ele não ligaria, mas como agora ele estava dentro da empresa, ter a sua
imagem em qualquer tipo de escândalo seria muito prejudicial ao grupo Chromish.
— Como eu disse, — Devolveu o
celular a ela. — eu não ligo pra essas coisas. Mas... se por acaso você for
citar o meu nome, prefiro que use outro nome.
— Outro nome?
— Sim Eu já percebi que você
sabe quem eu sou, então você deve imaginar o tamanho do peso que o meu nome
carrega. Estou certo?
— Ah, entendi. — Ela assentiu, entendendo-o
completamente. Afinal, não pegava bem o herdeiro do Grupo Chromish frequentar
um clube e praticar aquele tipo de coisa, embora não fosse nada demais. Não
seria bom para a imagem dele, visto que a mídia é gananciosa e tem o poder de
distorcer as coisas. — Então, que nome você gostaria que eu usasse?
— Eu não sei. Invente um. — Deu
de ombros. — Ah, certo. E se por acaso você for citar as origens do Kamon, faça
um favor a si mesma e não diga que ele é chinês. — A garota fez uma expressão
interrogativa. — Embora ele saiba kung Fu, ele é tailandês.
— Mas... é quase a mesma coisa. —
Ela agiu com indiferença.
— Nunca foi! Acredite! — A
corrigiu. — E pelo o amor de Deus, não diga isso na frente dele, isso lhe
irrita.
— Sério?
— Mais do que sério. Você não
sabe como os asiáticos se ofendem quando são confundidos ou comparados.
— Ah... — Nessa hora, uma
travessa de vidro com batatas fritas e uma bandejinha com barquinhos de
provolone surgiram na frente deles e duas latinhas de refrigerantes foram
postas na frente do rapaz.
— Aqui está. Tenham um bom
apetite. — Julie disse e se afastou em seguida.
A comida parecia
surpreendentemente apetitosa. Michael abriu as duas latas de refrigerante e pôs
uma na frente dela.
— Aqui. Vá em frente e
experimente um pouco. — Ele pegou duas batatas fritas para si e empurrou a
travessa para ela.
Clarke assentiu, pegou uma batata
frita coberta com queijo derretido e deu uma mordida, então ela pegou outra...
outra e depois partiu para os barquinhos de provolone que, para a sua surpresa,
estava uma delícia.
— Uau... Você come bem, hein? —
Ele comentou e tomou um pouco do seu refrigerante.
— Isso é muito bom. — Ela colocou
o pedaço do barquinho que segurava na boca e mastigou bem, fazendo-o sorrir.
— Melhor do que qualquer outra
coisa, não é? — Perguntou ele, com um sorriso de provocação.
Ela assentiu e também tomou um
gole de refrigerante.
— Não, isso é realmente muito
bom. Mas acho que já estou cheia.
— Depois que come quase tudo, diz
que está cheia. — Ele resmungou para irritá-la.
Ela não fez caso e o ignorou.
Pegou o refrigerante e deu um último gole enquanto Michael se levantava.
— Irei pagar a conta. Me espere
aqui, hum? — Ele não esperou por uma resposta e foi até Julie.
Clarke continuou sentada. Pegou o
seu celular e passou a vasculhá-lo, mas foi obrigada a interromper o que estava
fazendo quando sentiu uma mão pousar-se no seu ombro. Ela rapidamente ergueu a
cabeça para olhar quem era o dono daquela mão ousada. Havia dois jovens em pé
ao lado dela, e o loiro de olhos azuis era o dono da mão que estava pousada no
seu ombro. Assustada, ela desvencilhou-se, colocou-se de pé e o os encarou
cenho franzido.
— Quem são vocês? Por que chega
colocando a mão no corpo das pessoas assim?
— Calma gatinha. Foi mal. É
que... a gente viu você sozinha e solitária aqui, então decidimos dar um chega pra te fazer companhia. — O
jovem loiro com o par de olhos azuis disse em um tom malicioso.
Ela sorriu sem humor.
— Obrigada, mas eu dispenso a sua
intenção. — Foi a resposta dela. Curta e grossa.
Os dois jovens se entreolharam e
sorriram com sordidez.
— A garota é marrenta. — O loiro
deu um passo à frente e segurou um dos pulsos de Clarke; ela tentou puxar, mas
ele estava segurando com muita força. — Não faz assim não, se não eu me
apaixono mais. — Os dois jovens sorriram se encarando.
Clarke tentou se desvencilhar
mais uma vez puxando o seu braço, mas a tentativa foi em vão.
— Me solte agora! — Exigiu com
asco, mas ele continuou segurando-a e olhando-a com malícia.
Michael que tinha acabado de pagar
a conta e estava voltando ao encalço de Clarke, quando avistou aquele cara
segurando o braço dela, ele apressou os seus passos e a alcançou, em seguida
fazendo a sua voz imponente chegar aos ouvidos do loiro.
— Continue com essa sua mão
imunda aí, se quiser saber como é ser canhoto. — A ameaça foi direta e
objetiva. Tanto Clarke como os dois jovens o encarou imediatamente. — Você é
surdo ou o quê?
— E se eu não quiser? — O loiro o
desafiou ainda segurando o braço da garota.
Michael sorriu debochado.
— Acho que você não entendeu. —
Deu mais um passo à frente, colocou a sua mão sobre a do sujeito e a empurrou
bruscamente, fazendo-o soltar o pulso da garota. — Isso não foi uma opção.
O loiro olhou para Clarke.
— Ele é o seu namorado? —
Perguntou rabugento
— E daí se eu for? Algum
problema? — Michael respondeu no lugar dela.
O outro jovem que até então
observava, cutucou o amigo e sussurrou:
— Qual é, cara? Vamos embora.
Você não sabe quem é ele? Michael Jackson.
Ele sabia muito bem quem Michael era, e era isso que lhe deixava mais irritado. Mas para evitar confusão, ele
decidiu dar as costas e se retirar.
— Mauricinho otário! — Resmungou
baixinho, mas Michael ainda pôde ouvi-lo.
Ser chamado dessas coisas só
porque ele vinha de uma família rica lhe deixava muito puto, ao ponto do seu
sangue ferver. Michael fechou os punhos e deu um passo à frente, fazendo menção
de ir pra cima daquele cara, mas Clarke pulou na sua frente e lhe deteve
segurando nos seus braços.
— Saia da minha frente! — Ele
olhou para a garota com a expressão muito intensa, aquele olhar de quem iria
bater em alguém.
— Está doido? Quer resolver tudo
no punho?
— Mas que droga, Clarke! Eu disse
para sair da minha frente! — Alterou um pouco a sua voz. .
— Eu não quero e não vou! — Ela
se manteve firme.
Ele respirou profundamente
encarando-a com incredulidade. Aquela garota definitivamente era dona de medos
bobos e coragens absurdas. Atrevia-se até mesmo a detê-lo.
— Quando você ficar calmo, eu te
solto.
— Eu estou calmo. — Murmurou
pacientemente.
Ela levantou a cabeça e os seus
olhos encontraram os dele, que agora diziam que ele estava mais calmo. Ficaram
se encarando por alguns instantes, até que ele quebrou o contato visual e
afastou-se dela, rumando em direção ao museu Metropolitano de Arte.
Clarke sabia que ele tinha ficado
irritado com o que ouvira daquele jovem, por isso decidiu segui-lo em silêncio.
E assim que ele parou em frente ao museu e sentou-se, ela fez o mesmo,
sentando-se ao lado dele.
Houve um grande silêncio que
durou alguns minutos, que, pareceram mais uma eternidade. Ao contrário de Michael, sentindo-se já incomodada, Clarke decidiu por um fim naquele silêncio
absurdo entre eles.
— Não precisava você ter se
irritado. — Ela murmurou, ainda um pouco hesitante.
Lentamente, Michael virou a cabeça
e a encarou.
— Acha que eu posso me controlar
quando estou sendo provocado? Além disso, eu odeio ver uma mulher ser
intimidada. Sorte a dele de você ter ficado na minha frente.
Certo! Aquela reação dele era
intrínseca. Era uma parte dele.
Ela respirou fundo.
— Mesmo assim. O ocorrido dos
ladrões foi diferente, você estava nos protegendo. Mas falando de agora a
pouco, você não pode sair por aí batendo nas pessoas todas às vezes que elas te
insultarem. Se é que isso pode ser chamado de insulto. — Defendeu o seu ponto
de vista. — E eu não me senti nem um pouco intimidadas por eles. — Evidenciou.
Ele sorriu sem humor. Ele não
entendia o porquê que ela apenas não o agradecia ao invés de ficar lhe dando
sermões. Como se já não bastasse Jonathan para fazer isso. Ela era tão
confiante que não sabia que, aquela confiança demais era o seu maior inimigo.
— Antes de discutir sobre isso,
você deveria pelo menos me agradecer. Realmente não sabe como fazer isso? — Ele falou
voltando o seu olhar para frente.
Ela iria retrucar, mas optou por ficar
calada. Estava querendo muito mudar de assunto para fazer isso. Então numa
forma de mudar aquele climão, ela
estendeu a mão aberta pra ele. Michael olhou da mão pequena à sua frente para
ela.
— Me dê o band-aid. — Clarke pediu
balançando a mão.
— Esqueça! Isso não dói... — Ele
deteve-se. Quase tinha confessado a sua verdadeira intenção, a de tê-la
chamado.
— Me dê o band-aid! — Ela
insistiu balançando mais forte a sua mão na frente dele.
Michael hesitou, mas decidiu dar o
que ela queria. Clarke sabia que aquele ferimento não doía mais, inclusive já
estava cicatrizando e tudo, mas não sabia outra maneira de evitar que aquele clima
chato continuasse entre eles.
— Não fique choramingando dessa
vez, hum? — Advertiu com divertimento. Então quando tirou o plástico do band-aid
e se ajeitou no banco, ficando de lado, ela se aproximou mais de Michael. Tocou
com delicadeza no rosto do rapaz, fazendo-o virar, tirou as mechas de cabelo
que caia deliciosamente sobre a testa dele e colou o band-aid sobre a contusão.
— Missão cumprida. — Falou passando o dedo de leve por cima, sem notar que o
rapaz lhe fitava intensamente.
Michael encarava a garota completamente
enfeitiçado. Ela tinha lá aquele jeito diferente de se comportar, mas a beleza
estonteante dela calava tudo... E os seus lábios eram tão convidativos que, a
inquietação o perturbava pela vontade de se deliciar com aqueles lábios que
tanto lhe atraia.
Sem querer, quando os olhos dela
cruzaram com os negros intensos e profundos que persistiam moldados no rosto de traços
marcantes e esculpidos do rapaz, ela ficou estática e engoliu em seco. Para
agravar mais a situação, o perfume másculo e inebriante dele adentrava em suas
narinas e fazia o seu coração acelerar. Quando notou que estava ficando
estranho demais o clima entre eles, Clarke recuou com a cabeça, mas Michael agiu
rápido e segurou no pulso dela firmemente puxando-a para si, fazendo os seus
rostos ficarem a exato cinco centímetros de distancia e os corações baterem na
mesma sintonia.
— Eu posso ver claramente. — Michael sussurrou com a voz serena e tranquila, que soou sexy aos ouvidos de
Clarke.
— O que é que você pode ver? —
Ela também sussurrou, com nervosismo.
— O seu rosto vermelho.
— Quem está com o rosto vermelho
aqui? — O coração da garota acelerou ainda mais e as suas mãos começaram a
suar.
Ele
examinou minuciosamente a expressão dela.
—
Por que está tão nervosa? — Continuavam conversando em sussurro.
— Eu não estou nervosa. Por que
estaria? — Mesmo com as respostas evasivas da garota, o seu rosto não mentia.
Ele desceu a vista ligeiramente
para os lábios entreabertos dela, voltando a encará-la novamente nos olhos
brilhantes cor de mel que refletia o sinal da sua integridade.
— Vai me bater
se eu te pedir um beijo, não é? — Pediu assim, desavergonhado.
— O que você
acha? Você provavelmente já beijou tantas por aí, porque eu deixaria você me
beijar? — Perguntou manhosa.
Michael ficou
encarando-a, ponderando. Valia à pena levar um tapa por causa de um beijo? E se
ele simplesmente roubasse? Ela o bateria do mesmo jeito? Era tentador.
Ele olhou de
novo para os lábios pequenos da garota e novamente a inquietação de beijá-la
atingiu-o como uma bomba. Com Clarke não era diferente, mesmo que tentasse
mostrar que não, ela também se sentia muito atraída pelos lábios do rapaz,
principalmente quando os via se abrindo e fechando lentamente de forma sensual
cada vez que ele proferia.
Sem mais
conseguir segurar o seu desejo que estava evidente por ela, Michael impulsionou
a sua cabeça para frente, e quando ele estava prestes a beijá-la, Clarke olhou
já muito rente da boca dele e sussurrou:
— Eu vou te
bater depois disso! — Ela estava blefando, mas mesmo se não estivesse, Michael não estava nem aí para o que viesse acontecer depois. Ele só precisava beijá-la
logo.
Então depois
de respondê-la com um simples “hum”, ele primeiro deu um simples toque nos
lábios dela com os seus; quando viu que a mesma não recuou, ele capturou os
lábios dela com suavidade, dando início a um beijo lento.
A princípio,
ela manteve-se de olhos abertos, mas bastou sentir a língua dele pedindo permissão
para aprofundar o beijo, que suas pálpebras caíram por sobre os olhos e ela abriu
passagem para ele explorar a sua boca.
Ele encostou a
mão dela junto com a sua que a segurava, próximo ao próprio peito. A sua outra
mão pousou-se no pescoço dela, logo em seguida migrando para a nuca e
embrenhando os dedos por entre os fios do cabelo dela, embaixo da nuca.
O beijo acelerou, demonstrava desejo, interesse
e por incrível que pareça, paixão. Embora não se conhecessem direito, estava
claro que eles se queriam, e todo esse querer estava sendo colocado naquele
beijo que se tornava cada vez mais intenso.
Quando o ar
começava a ficar escasso, paravam, mas em uma fração de segundos, após
recuperarem o fôlego, suas bocas voltavam a se unir, resultando em um
sentimento sôfrego cadenciando o ritmo intenso dos lábios deles.
Quando
finalmente largaram os lábios um do outro, eles se olharam com os rostos ainda
muito próximos, enquanto Michael ainda permanecia com os dedos embrenhados nos
cabelos da nuca dela. As respirações descompassadas e os corações acelerados
denunciavam o quanto aquele beijo havia mexido com ambos, algo que causou
estranheza em Michael, pois agora que encarava os lábios inchados da garota, ele
queria mais.
Então ele a
puxou novamente para dar início ao segundo beijo, mas a garota o deteve dessa
vez, cobrindo os lábios dele com a sua mão e recuando com a cabeça.
— Você... está
a fim de mim? — Clarke ousou a perguntar totalmente desinibida. Também, depois
daquele beijo não havia como ficar envergonhada.
Alguns segundos
depois, Michael respondeu:
— Não tenho
certeza. — Ele puxou o ar entre os dentes e fez de conta que estava refletindo.
— O que você acha?
— Também não
tenho certeza. — Foi a resposta que ele recebeu.
— E se eu não estiver?
— Perguntou para ver qual seria a reação dela.
— Então por
que me beijou? — Perguntou agora com uma pintada de irritação, fazendo Michael esboçar um pequeno sorriso.
— Porque você
quis.
— Quem disse
que eu queria?
— Aí, não vá
se fazer de encabulada agora. Porque eu quero mais. — Sorriu sinicamente, do
jeito único que apenas ele sabia fazer.
— Você disse
que não estava interessado. Sai por aí beijando as garotas com desinteresse?
Michael queria
sorrir, sorrir muito. A expressão de irritação dela era tão adorável que a
deixava... fofa.
— Bem, — Dizia
ele quando decidiu abrir o jogo pra ela. — eu não iria te beijar sem nenhuma
razão. — Sua frase deixava claro para qualquer um que quisesse ouvir que, ele
estava a fim dela. Deixava tão claro que ele sequer podia acreditar nisso
direito. Ele, Michael jackson, interessado de verdade em uma garota? Era incrível,
mas ele não podia evitar, e mesmo se pudesse não iria. Clarke tinha duas coisas
que as outras garotas que ele conhecera não tinham: uma personalidade única e
um mundo refletido em seus olhos que não era o mesmo que ele costumava a
conhecer. Apenas essas duas razões a distinguia de todas as outras, e ele
gostava disso.
Clarke, por sua vez, estava
perplexa com a frase subentendida do rapaz, embora não tenha sido dita
explicitamente. Não tinha nada a ver com ela estar se menosprezando, afinal,
ela também era de elite e tinha uma boa aparência sem precisar se embonecar.
Mas ele era Michael Jackson, uma figura um tanto conhecida não só por ser o
herdeiro de um grande grupo, mas também porque tinha uma lista de garotas
morrendo de amores por ele. Em outras palavras, não era impossível, só era
difícil de acreditar que ele estava verdadeiramente interessado nela.
Clarke afastou-se dele e recostou-se
no banco, olhando para frente.
— Me diga. Você me beijou. O que
vai acontecer agora?
— Vamos ver... — Ele imitou a
ação dela, também olhando para frente. — Eu assumirei a responsabilidade.
Ela sorriu baixinho.
— Não é como se você tivesse
tirado a minha virgindade. — Resmungou sem recato ao falar de tal assunto,
ganhando um olhar incrédulo do rapaz ao lado.
Sério que ela estava falando sobre virgindade?
Sério que ela estava falando sobre virgindade?
— Por acaso... você ainda é
virgem? — Ele simplesmente perguntou baixinho por impulso.
Ela olhou para ele.
— Pra que você quer saber? —
Indagou meio que rabugenta.
— Foi você quem tocou no assunto.
— Ele defendeu-se. — Esqueça!
Houve novamente um breve silêncio,
até que foi quebrado pelo sorriso alto e em bom som de Michael. Fora tão alto
que as pessoas que estavam por perto o encaram rapidamente.
— Do que está rindo? — Ela o
olhou irritada.
— Isso não é engraçado? — Ele parou para se recompor. — Nossas conversas sempre acabam dando um giro de cento
e oitenta graus até que acabemos brigando.
— Tem razão, seria estranho se
não brigássemos. — Clarke falou ao constatar.
Bastante hesitante, Michael perguntou:
— Então... estamos saindo?
Clarke nada disse, mas o sorriso
meio bobo que ela abriu pra ele respondeu a pergunta.
Ele estava interessado, ela
também, então não havia o porquê de não começar a sair com ele.
Parece
até um conto de fadas, certo? Mas se ambos tivessem
pelo menos uma ideia do que o destino reservava para eles, que a desgraça
pairava sobre as suas cabeças... Mas o destino não estava apenas conspirando
contra, ele também decidiu brincar um pouco. Estaria ele entediado?
O próprio provérbio diz que o
sangue é mais espesso que a água, então, talvez, ficassem de lados opostos se
previssem o que estava por vir, — ou não. A garota estava prestes a se
apaixonar pelo cavalheiro de armadura
que lhe salvou algumas vezes. No entanto, estava longe de ser um conto de
fadas. Pois a verdade era que o rapaz estava prestes a se apaixonar pela garota
cujo pai era um abutre e traria a catástrofe para vida deles, que mudaria o
rumo dessa história de amor que estava apenas começando.
Capítulo 8
“Vivendo dias de inferno”
QUANTO MAIS O RAPAZ SE via
envolvido com os assuntos do Grupo Chromish, mais ele tinha certeza de que aquilo
não era para ele. Ele podia fazer qualquer coisa para ganhar a vida quando o
trato que fizera com o pai chegasse ao fim: professor de artes marciais ou até
mesmo ser um dublê oficial, qualquer coisa mesmo, contanto que não fosse
semelhante à rotina estressante que ele estava tendo agora.
Seus olhos negros viraram-se para
os dois lados dentro da ampla sala de reunião, fixado nos rostos daquelas
pessoas em volta da enorme mesa, atentos ao que ele explanava. Deu uma breve pausa,
respirou fundo, afrouxou o nó da gravata listrada que estava lhe incomodando e
continuou com o que estava explicando.
A noite tinha sido maravilhosa,
mas em compensação, a manhã além de estressante estava quente como o inferno.
Por isso, não estendeu muito a tese que estava sendo discutida, pois todos que estavam
presentes entenderam o suficiente a proposta apresentada pelo o rapaz sobre a
construção do parque temático que estava sob a sua responsabilidade.
A apresentação fora tão clara que,
para uma pessoa que não tinha experiência e nem ambição para os negócios, ele
se saíra muito bem. Os investidores ficaram satisfeitos com a sua didática estupenda
ao falar. Jonathan, que também estava presente na reunião, sentia o mesmo que
os investidores, pois sabia que o filho era inteligente, só não imaginava que
em tão pouco tempo o rapaz pegaria jeito para a coisa.
Quando Michael terminou a
apresentação e deixou que os investidores interessados no projeto o
questionassem, mesmo absorto nas perguntas que lhe eram feitas e nas respostas
que ele dava, ainda não deixou passar despercebido o olhar abutre de Robert
Bradshow que encarava aquela apresentação como uma ameaça, mas Michael não fez
caso, apenas ignorou o fitar do velho e continuou com a atenção nos
investidores.
(...)
A reunião finalmente terminou e Michael ficou na entrada da sala para se despedir dos investidores e lhes
agradecer pela atenção e pelo o voto de confiança que lhe fora dado.
Robert Bradshow que permaneceu
calado durante toda reunião, esperou até que Jonathan se afastasse de Michael para poder se aproximou do rapaz. Ele agora sentia que havia ganhado mais um
obstáculo, obstáculo esse que tinha de sair imediatamente do seu caminho.
Michael encarou o velho com desprezo
assim que o mesmo parou em sua frente.
— Parabéns, garoto. Parece que
você tem capacidade de dirigir um grande negócio. — A falsidade e o sarcasmo
estavam evidentes no seu tom asqueroso.
Michael arquejou com cinismo, seguido de um sorriso nasal. Ele realmente odiava quando
o velho lhe chamava de “garoto”.
— Eu não
disse? Eu não sou apenas um rostinho bonito. — Retrucou desdenhoso.
— É mesmo?
Parece que sim. — Robert sibilou com deboche.
Michael respirou
fundo, moveu suas pestanas lentamente uma única vez, mostrando o quanto ele
estava desinteressado nas ironias de Robert; deu às costas ao mesmo e fez
menção de se afastar.
— Acha que
será tão fácil assim? — Disse o velho, fazendo Michael parar e voltar-se para
ele.
— O que quer
dizer? — Indagou Michael seriamente.
— A sua
confiança é louvável, mas em tempos difíceis como este que o grupo está
passando, você vai precisar se esforçar mais.
Michael sorriu
sem humor.
— É mesmo?
Sabe que eu acho que você tem razão. Porém, uma vez que já comecei, parar, só
depois da morte. — Ressaltou diretamente. — Não posso fingir que não vejo lama
debaixo dos meus pés apenas para não sujar os meus sapatos. Nem se eu quisesse.
— Eu não tenho
certeza onde eu ouvi isso, mas permita-me dizer-lhe uma coisa. Os seres humanos
são como os tubarões. — Robert dizia calmamente em tom baixo. — Os seres humanos
são criaturas muito assustadoras, assim como os tubarões. — Elucidou enfiando
as mãos nos bolsos. O que ele dizia parecia não se encaixar no momento, mas
logo, logo, Michael saberia aonde ele queria chegar.
O rapaz ergueu
um pouco o queixo, mas nada disse, apenas manteve o seu olhar impassível.
Robert
continuou:
— Sabe os
tubarões? Eles vivem sempre em movimento, porque se eles pararem, certamente
morrerão. Em outras palavras: eles têm que estar sempre em movimento para
continuarem vivo. Assim são os seres humanos.
O rapaz fitou
o chão brevemente, alisou levemente a sua linha mandibular e voltou a encarar o
velho.
— Nesse caso, deve
ser um saco ser um tubarão. — Michael comentou, entrando no jogo de palavras de Robert.
— Sim, mas de
qualquer forma, no reino dos mares, ele reina.
— Verdade?
Então... eu acho que não gosto nem um pouco dos tubarões. Sabe... Eles parecem
fortes quando na verdade são patéticos. Porque são criaturas que noventa por
sento da população não gosta. Eles também devem ter uma vida solitária, além de
patética.
— Então... se
um tubarão ferisse alguém que você ama, hipoteticamente é claro, o que você
faria? — Isso foi uma ameaça e Michael entendeu perfeitamente.
— Vamos ver...
— Puxou o ar entre os dentes e fez de conta que estava pensando. — Eu me
tornaria o pesadelo dele. — Foi a sua resposta.
— Sério?
— Hum. — O
rapaz assentiu. — Não importa o que eu tivesse que fazer, com certeza eu iria
encontrá-lo. — Disse convicto, revidando a ameaça indireta de Robert.
— Sua
determinação é admirável. Mas... como faria isso?
— Até que eu morresse,
neste mundo, em qualquer lugar, nós nos encontraríamos, porque eu o acharia nem
que tivesse que mergulhar em alto mar. Seria injusto eu morrer sem antes
encontrá-lo, você não acha? — Michael mantinha o seu aspecto sisudo. Ele não
estava desafiando Robert, apenas deixando patente ali que ninguém mexia com a
família dele.
— Quem sabe! —
Um sorrisinho malévolo ganhou vida no rosto de Robert. — De qualquer forma,
parabéns pelo o seu ótimo desempenho hoje. — E lá estava mais uma vez a sua
hipocrisia nas suas palavras. E com a cara mais fingida, ele se retirou,
passando pelo rapaz, afastando-se.
Michael sentiu-se inexplicavelmente estranho quando o “diálogo” entre eles acabou, mas
não colocou muita fé no que o velho disse. Não fazia ideia do quanto ambicioso
era ele.
Ah, se ele
soubesse...
(...)
Robert bateu
furiosamente a porta da sua sala e foi ao encalço da sua mesa, batendo fortemente
na mesma com as mãos e em seguida jogando tudo o que estava sobre ela no chão
num único gesto.
Estava ficando
cada vez mais difícil suportar aquele garoto
que tinha um poder incrivelmente odioso de persuasão sobre os investidores. Isso
não era nada bom para ele!
Robert era de
personalidade inconstante e tinha um extremo complexo de inferioridade. Se
sentir inferior a Jonathan era uma coisa, mas agora ter que aturar a arrogância
e a petulância do seu filho era muito pior. Não suportava a ideia de que um
dia, aquele garoto viesse a ser o CEO
do Grupo Chromish. Ele tinha que fazer algo antes que fosse tarde demais. Sendo
mais claro, ele tinha que eliminar àqueles que estavam obstruindo o seu
caminho.
Desde quando
comprara uma pequena parte das ações numa época em que o grupo estava passando
por uma crise, há pouco mais de sete anos, seu único desejo era chegar ao topo.
Para ele ser o terceiro maior
acionista não era o suficiente. Mesmo que não pudesse ser o majoritário, o
cargo de CEO pelo menos teria de ser seu. Assim ele julgava. Já tinha feito
muitas coisas para chegar onde estava, e por isso, acreditava veementemente que
era digno de tal cargo e não mediria mais esforços para consegui-lo.
Não importava o quanto ele amasse o dinheiro,
ele sabia que deveria ter um pouco de consciência, considerando também que o
que tinha em mente era uma jogada muito arriscada. Por isso, há dias vinha ponderando
sobre tal assunto, mas depois do resultado da reunião daquele dia, sentiu-se
mais motivado em arriscar tudo o que pudesse.
É aquela coisa: se você está a
fim de pegar um peixe grande, tem que estar disposto a mergulhar em alto mar
com a cara e a coragem. E isso Robert tinha de sobra.
O que estava pensando era ousado
e pernicioso ao estremo, mas por sua ambição profunda e a vontade implacável de
alcançar seus objetivos para conseguir logo o que queria, ele estava disposto a
usar a sua carta Ás.
Ter usado Jonathan como um bode
expiatório com o caso do ministério público estava demorando mais do que ele
imaginava. Tinha que agir logo.
Sentou-se na poltrona atrás de si
e capturou o celular do bolso, vasculhou na sua agenda o nome de uma pessoa que
ele vinha rondando já há algum tempo para quando aquela hora chagasse.
Demorou um
pouco para o outro lado que estava hesitante atender, mas acabou fazendo-o.
—
Alô? — A voz grossa do outro lado da linha disse.
— Sou eu.
Temos que conversar.
O homem do
outro lado da linha suspirou audível, pois sabia sobre o que o velho queria
tratar.
—
É sobre aquele...
— Apareça na
minha casa esta noite. — O cortou. — Seja discreto. — Robert não deu nem tempo
para o homem responder, pois ele desligou sem lhe dar chance.
(...)
Dentro do
escritório da casa de Robert Bradshow, o homem alto, de estrutura forte e de
pele morena, cujo nome era Daniel, encontrava-se em frente à mesa de Robert,
com um olhar um tanto relutante. Não houvera muita conversa, nem mesmo algo
para beber foi oferecido, apenas a proposta e a ordem fora dada.
— Precisa
mesmo fazer isso, senhor? — O moreno perguntou pela enésima vez.
— Não faça
perguntas, apenas cumpra com a sua parte e receba a sua recompensa.
— Eu não sei
não. — O moreno resmungou indeciso. Trabalhava para Jonathan há anos, e fazer o
que Robert pedira era um absurdo. O cumulo da traição — Eu não posso fazer
isso. — Disse novamente.
Robert estalou
a língua nos dentes em forma de censura.
— Preste bem
atenção no que eu ou lhe dizer. Isso não foi um pedido, ou você faz o que eu
disse ou... voltará pra cadeia.
O moreno
esbugalhou os olhos, pois não fazia ideia do que o velho havia feito para lhe
pressionar.
— Eu não sei
do que você está falando. — Tentou ser evasivo, desviando o seu olhar.
O sorriso
sádico no rosto enrugado de Robert mostrava o quanto ele sabia que aquilo iria acontecer,
que o moreno recusaria a “proposta”. O velho era inteligente e sabia usar seus
contatos e condições uma vez que quisesse saber ou conseguir algo. Por isso
investigou tudo sobre a vida de Daniel para usar quando àquela hora chegasse.
Robert tirou
de dentro da gaveta um dossiê e jogou sobre a mesa, em frente ao moreno que,
olhou dele para a papelada, porém, não pegou para ver. Robert levantou-se, foi
até a janela do escritório e abriu as persianas.
— Sabe... Seu
histórico é muito interessante. — Dizia enquanto olhava para o jardim pela
janela. — Assim quando eu vi você, pensei: “puxa vida, esse homem é realmente
honesto, tanto que chegou a ganhar a confiança do virtuoso Jonathan Jackson.” —
Sorriu com sarcasmo. — Mas sabe? Você parecia tão honesto que isso se tornou
estranho aos meus olhos. Eu tenho um bom olho para julgamento, consigo julgar
alguém se apenas ver ou conversar com essa pessoa por cinco minutos. Sabe por
quê? Porque eu não confio em ninguém além de mim mesmo. Mas... o que fazer?
Parece que Jonathan Jackson está com problemas.
A atmosfera do
escritório ficou bastante assustadora. Robert agora parecia um psicopata pela
forma que falava, e isso deixava o moreno bastante assustado.
Ele continuou,
agora sem fazer mais rodeio.
— Há oito
anos, o que era pra ter sido apenas um assalto acabou tornando-se um
latrocínio. Você matou um homem que reagiu ao assalto, foi capturado e pegou
quinze anos de prisão. — Revelou Robert, fazendo com que o moreno remexesse na
poltrona, inquieto. — Porém, você fugiu e falsificou todos os seus documentos,
inclusive o seu nome e idade. Foi um plano bom durante todos esses anos, só não
foi perfeito porque eu descobri tudo. O que devemos fazer sobre isso? Eu tenho
planos pra você. E não se preocupe, nada nessa vida é de graça.
— Co-como você
descobriu tudo isso? — O moreno pigarreou.
— Como eu
descobri não é o que importa, e sim o porquê que eu descobri. Acredito que não queira
voltar para a prisão. Estou certo, não estou?
— Você não
pode fazer isso.
— Não posso? —
Voltou-se para encarar o moreno. — Sabe por que o lobo tem um pescoço espesso?
Porque nele realiza seu trabalho. Então espere só e veja do que eu sou capaz.
Robert era um
abutre que precisava da desgraça humana para se promover, mas em contrapartida,
o moreno também não queria voltar para a cadeia, sabendo que agora que se fosse
pego, talvez pegasse mais anos de sentença. Sim, ele se arrependera amargamente
durante todos aqueles anos que passou fugindo por ter tirado a vida de uma
pessoa, mas ele definitivamente não voltaria para aquele inferno. Ele
provavelmente não seria perdoado, mas o que podia fazer quando a liberdade dele
estava em jogo? Se sentia um miserável só por estar considerando o que Robert
dissera, mas para ele, não era um crime querer ser livre.
Então, não
tinha mais nada para ser discutido. O moreno, agora sem mais conseguir recusar
as ordens diretas do velho ganancioso à sua frente, apenas assentiu e concordou
com a proposta que fora feita antes, onde lhe foi garantida a ocultação do seu
passado e também uma boa grana preta.
Daniel saiu do
escritório e passou por Clarke que, acabara de chegar de um passeio da
faculdade. O moreno não olhou mais que três segundos para a garota e ela também
não fez caso da sua presença na sua casa, apenas direcionou a sua atenção ao
seu pai que saiu do escritório e abriu um sorriso assim que a viu.
— Você chegou
agora? — Ele perguntou, aproximando-se da garota que assentiu com um gesto de
cabeça.
— Hum. Onde
está a mamãe?
— Suponho que
esteja na sala de jantar, como sempre. Você não sabe que ela gosta de ficar
dando palpites para a cozinheira?
— É verdade. —
Sorriram. — Ah, agora a pouco, quem era? — Ela perguntou mesmo assim sem ter
interesse, pois nunca tinha visto o homem que acabara de sair da sua casa.
— Ninguém
importante. — Foi a resposta de seu pai. — Agora suba e se apronte para o
jantar. Não demore. — Robert advertiu com divertimento.
— E quando foi
que eu demorei, hum? — Ela sorriu para ele e em seguida subiu para o seu
quarto.
Capítulo 9
“O futuro é imutável”
A ÁGUA MORNA
CAIA DELICIOSAMENTE sobre Michael que se permitia tomar um banho demorado.
Queria que a água lavasse os seus pensamentos e todo o estresse do trabalho.
Que filtrasse todo o cansaço daquela maldita rotina que estava tendo, que era
apenas compensada quando ele falava com ela pelo celular, a garota que
conseguia suprir tudo aquilo que ele estava sentindo. Passavam muitos
minutos conversando, minutos estes que pareciam eternos, falando sobre tudo até
mesmo ficarem sem assunto.
Desde que se
encontrara com Clarke da última vez, há exatos dois dias atrás, não conseguia
tirá-la da cabeça, ainda mais quando conseguia lembrar-se do gosto dos pequenos
lábios da garota que insistia em vagar por sua mente.
Naquela noite
ele parecia estar com sorte, pois além de ter saído cedo do trabalho, ainda
recebera um “sim” da garota quando sugeriu que se encontrassem naquela noite.
Foi a primeira
vez que ele considerou em convidar alguém para jantar, mas porra... aquele
não era o jeito dele de conquistar uma garota, e também era tão... sem
originalidade na sua concepção. Por isso, o que tinha em mente era algo que ele
tinha certeza que ela iria gostar.
Vestiu-se com
os seus típicos trajes e penteou os cabelos, deixando uma parcela desgrenhada,
realçando ainda mais o seu charme.
Desceu as
escadas e encontrou Jonathan com o olhar fixo no rosto da mulher do quadro
pendurado no norte da enorme sala de estar. Michael não
queria tirar a concentração do pai, mas passar despercebido por Jonathan era
impossível naquela hora, uma vez que a saída era exatamente no norte do cômodo.
— Você vai
sair? — Perguntou Jonathan, sem ao menos virar-se, mantendo o seu olhar sólido
no rosto da falecida esposa.
Michael parou e
virou-se para o pai.
— Sim. — Disse
apenas e quando fez menção de se afastar, Jonathan chamou-lhe a atenção
novamente.
— Diga-me! Como
se sente trabalhando no grupo? — Perguntou puxando assunto.
O rapaz coçou a
cabeça, jogou os braços atrás do corpo, segurando as próprias mãos, e pôs-se ao
lado do pai.
— Quer que eu
responda com sinceridade? — Seu tom continha um punhado de monotonia.
— Esqueça. Não
precisa responder. — Arquejou Jonathan; conhecendo o filho, já podia imaginar a
sua resposta.
Michael também
encarou o rosto da mãe no retrato à sua frente, e os dois contribuíram com o silêncio que se instalou. Eles eram assim. Pareciam duas pessoas desconhecidas
conversando.
A jovem mulher
que ostentava um sorriso na foto tinha os cabelos longos e negros jogados para o
lado, e os seus olhos eram iguais aos de Michael e Natalie, negros e brilhantes
como duas pérolas negras. Ali sim, estava refletido a sinceridade e o respeito
de uma mulher. Ela era exuberante.
— Ela era
linda. — O rapaz comentou baixinho, encantado pela beleza da falecida mãe, que
Deus a tinha.
— Sim. Ela era
a mais linda de todas. — Jonathan concordou, absorto em seus pensamentos.
— A mais linda
de todas? — Michael encarou o seu pai de perfil e franziu o cenho.
— Sim. Como
você e sua irmã sabem, eu e a sua mãe nos conhecemos no exterior. Eu estava a
trabalho e ela estava em uma viagem com três amigas. E ela era a mais bonita de
todas.
— Você é
suspeito em dizer isso. — Murmurou o rapaz.
— Não, é
verdade. Se você tivesse visto as outras, não estaria dizendo que sou suspeito
só porque foi com ela que eu me casei. Além de ser a mais bonita, ela era
singular. Ela até me deu um pouco de
trabalho no início. Fazia coisas fora do comum sem se importar com o que as
pessoas fossem falar. A sua mãe era uma pessoa assim.
Michael não se lembrava desse lado da mãe, mas isso lhe trouxe em mente as imagens de alguém
exatamente assim. Um arquejo escapou da sua garganta e um sorrisinho de lado
foi ganhando vida nos lábios do rapaz.
Jonathan e Michael não eram de conversar, pois sempre que trocavam algumas palavras, acabavam
discutindo por terem opiniões e pensamentos controversos. No entanto, naquele
dia algo estava estranho, ambos não haviam percebido, mas naquela altura eles
nem se deram conta que já estavam em uma conversa. Se Natalie ou o Kamon
tivessem visto tal cena, acharia esquisito, já que Michael e Jonathan não
conversavam muito.
Mantendo o seu
olhar fixo no retrato da senhora da casa, pela primeira vez, Michael sentiu-se à
vontade para falar com o pai sobre assuntos íntimos.
— Conheço uma
pessoa que... na primeira vez que eu a vi, ela estava vestida com roupas
masculinas. Ela é do tipo de garota que se veste de homem para entrar em lugares
perigosos, para ganhar a vida em base dos seus próprios méritos. Eu realmente
também conheci uma pessoa assim. — Sorriu baixinho com a imagem de Clarke
perambulando por sua mente.
Jonathan o
olhou e franziu o cenho.
— Você, tem uma
pessoa que seja assim pra você? — Perguntou ao rapaz, este que o olhou
brevemente.
— Eu? Não tenho
certeza. Eu nem a conheço direito. Só sei que ela é o tipo de garota que é
capaz de usar roupas de homem pra conseguir o que quer, e até mesmo correr
atrás de ladrões. — Michael revelou ao lembrar-se da cena.
— Ela é assim?
Então... ela não deve ser uma garota comum.
— Pode crer
nisso. — Confirmou o rapaz, com veemência.
— Você gosta
dela? — Seu pai questionou novamente.
— Eu? Como eu
posso gostar de uma pessoa em tão pouco tempo? — Sua resposta demonstrava
incerteza.
— Michael,
escute o seu pai. Quando alguém entra na sua vida, é uma coisa importante.
Porque toda a sua vida vem junto com ela, seja entre os acontecimentos bons ou
ruins.
— Eu acho
que... concordo com você. Eu não sei. As garotas que já conheci em toda a
minha vida são feitas de sapatos e maquiagem e só sabem falar de shopping e
ficar preocupadas de quantos quilos perdeu na semana, mas... ela não. Ela não
se apega a essas coisas. Ultimamente a minha cabeça só pensa nela. — Disse um
pouco envergonhado, mas continuou. — Quando ela sorri, eu sorrio com ela. Só em
tê-la perto de mim, o meu mundo de alguma forma se torna completo. Eu me sinto
à vontade, sabe? — Jonathan assentiu. — A minha mãe, era assim pra você?
— Ela ainda é. — Foi a resposta
de Jonathan. Michael o encarou quando sentiu o peso da solidão nas últimas
palavras do pai. Depois que a sua esposa morreu, Jonathan nunca havia sequer
pensando em se casar de novo. A esposa poderia não estar fisicamente junto
dele, mas ela ainda permanecia viva no seu subconsciente e no seu coração.
Quando o silêncio novamente
começou a ficar incômodo, Michael desatou as mãos que estavam presas atrás de si
e pigarreou.
— Estou indo. — Disse baixinho.
Jonathan nada disse, apenas assentiu com um gesto de cabeça e Michael se retirou
da sua presença.
(...)
Como prometido, Michael foi até o
endereço dado pela garota, e assim que estacionou o carro em
frente ao enorme muro que escondia a residência, ele saiu do veículo e se
deparou com todo aquele luxo estampado nos pequenos tijolos de pedra e nos
outros pequenos detalhes. O luxo não era exatamente tão grande assim quanto o da
sua casa; ele sabia que aquela garota provinha de uma boa família, mas só
agora que acabara de ver a casa que ela residia, foi que teve a certeza.
Deixando tais pensamentos e
reparações de lado, ele capturou o celular do bolso e ligou para Clarke.
—
Onde você está? — Ela perguntou do outro lado da linda assim que atendeu a
ligação.
— Eu acho que já estou em frente
à sua casa. — Respondeu Michael, passando novamente a vista no enorme muro.
— Tudo bem, já vou sair, hum? —
Finalizaram a ligação.
(...)
Clarke desceu as escadas e
dirigiu-se à porta principal da casa, mas antes que saísse, parou quando
alguns sussurros lhe chamaram atenção. Deu um passo para trás e seus olhos
custaram a ver que Robert, seu pai, e Clarice, a sua mãe, estavam de chamego bem
em frente aos seus olhos. Ela franziu o cenho e fez cara de nojo. Bem neste
momento, Robert levantou a cabeça e encontrou a filha os encarando.
— Clarke. — Murmurou e
desgrudou-se da esposa rapidamente, esta que também virou a cabeça para encarar
a filha.
— Isso é tão embaraçoso. Os
empregados podiam ver. Vocês têm sorte que foi eu quem os peguei no flagra.
Robert e Clarice sorriram um
tanto constrangidos.
— Pra onde você está indo? — Sua
mãe perguntou.
— Vou ver alguém.
— Um namorado? — Robert indagou. Clarke sorriu
com a pergunta, o que desencadeou mais desconfiança dos seus pais. — Você está
namorando?
— Eu não estou namorando, ok? —
Respondeu rapidamente. — É só alguém que eu conheci. — Esclareceu.
— Só alguém que você conheceu?
Sei. — Sibilou desconfiado.
— É verdade. Mas deixa pra lá,
tenho que ir logo porque ele está me esperando.
— Ele está aí? — O velho arqueou
as sobrancelhas.
— Ele está ao lado de fora.
— Então... — dizia olhando da
esposa para a filha. — eu deveria pelo menos conhecer a pessoa com quem a minha
filha está saindo. — Ele começou a rumar em direção à porta, mas quando Clarke
viu que o pai estava mesmo determinado, ela pulou na frente dele com os braços
abertos.
— Não! Você não pode! — Bradou
imperiosa, fazendo o pai franzir o cenho.
— Olha só pra essa garota. —
Resmungou. — Por que eu não posso vê-lo? Que tipo de pessoa ele é?
— Pai, eu já disse que ele não
é meu namorado. Não há necessidade de vê-lo. — Olhou para Clarice. — Mãe, não o
deixe sair, hum? — Apelou.
— Verdade? Ele... não é o seu namorado? — Robert questionou novamente.
— Hum! — Ela afirmou.
— Fico mais aliviado. — Passou a
mão na cabeça da filha. — Você é preciosa demais para qualquer um.
— Ok... eu sei, mas... Ele também
não é qualquer um. — Revelou com um olhar travesso. — Não se preocupe, um dia
eu o apresentarei a você. Ficará surpreso.
Sem esperar por uma resposta do
pai, ela saiu porta afora da casa, deixando Robert confuso.
Mal sabia ele com quem a sua
preciosa filha estava saindo.
(...)
Assim que Michael estacionou o
carro em frente à academia “Wudang Kung Fu Wushu”, os olhos castanhos de Clarke
reluziram e seus lábios se contraíram num sorriso ao observar a frontaria da
academia bem trabalhada em madeira oriental e com o nome realçado em Hanja —
caracteres chineses — em cores pretas e vermelhas.
Quando saíram do carro, Michael enfiou as mãos nos bolsos da calça, fez a volta no veículo e postou-se ao lado
da garota.
— Por que está sorrido assim? —
Perguntou a ela, mantendo o seu olhar fixo na entrada da academia.
Clarke o encarou.
— Como assim? Isso aqui é...
— Isso mesmo. Uma academia de
artes marciais.
— Verdade? Como eu não tive essa
ideia antes?
Michael a fitou e confirmou com um
gesto de cabeça.
Clarke não sabia muito sobre
artes marciais, mas desde o dia que tinha visto Michael praticando no clube, passou a
apreciar o estilo sem mesmo saber qual era. Mas agora que ela tinha visto a
fachada daquele lugar, percebeu que se trava de um dos estilos do Kung Fu, e
aquilo era impressionante para ela.
— Acredito que será útil para o
seu trabalho da faculdade. — Disse o rapaz, tirando-a do seu estado de transe.
Uma vez dento da academia, Michael e Clarke caminharam até o amplo ginásio rodeado por um conjunto de bancos
dispostos em fileiras. O centro era vago para a prática dos movimentos, na
esquerda havia dois “Muk Yan Jong” — boneco
de madeira que substitui uma pessoa —, uma fileira de bastões de madeira e
espadas de madeiras usadas para treinamento. Além
dos dois mestres chineses, — professores — também se encontravam cerca de oito
alunos naquele lugar, todos vestindo uma camiseta
branca com o símbolo da academia nas costas, calça preta, faixa e sapatilha.
O rapaz e a garota trocaram
sorrisos e dirigiram-se em direção a bancada, mas pararam no caminho quando
foram abordados por um ancião e antigo professor chinês de cabelos grandes e
grisalhos, atados numa fina trança. O velho tinha um bigode bastante crescido e
os seus olhos pequenos e puxados eram rodeados pelas rugas que marcaram o seu
rosto ao longo dos anos.
— Jovem Michael. — Ele disse
calmamente, com um pequeno sorriso desenhado nos lábios.
— Mestre. — Michael o
cumprimentou, curvando ligeiramente a cabeça em reverência. Em seguida, ele
olhou para a Clarke. — Esse é o mestre Liu Zeng. Cumprimente-o. — Disse e ela
rapidamente imitou o gesto do rapaz, cumprimentado o velho chinês.
— Você está bem, rapaz? Fazia um
tempo que eu não o via. — Liu Zeng disse ainda ostentando o pequeno
sorriso.
— Eu estou bem. Sumi um pouco
porque andei meio ocupado. — Foi a resposta do rapaz.
— Verdade? Entendo. — O velho
sorriu audível e em seguida fitou a garota que estava ao lado do rapaz. Poucos
sabiam, mas acreditava-se que aquele velho chinês, que era descendente de uma
linhagem de xamãs, podia falar um
pouco sobre o futuro; era incerto, mas acreditasse quem quisesse, e ele olhando
para aqueles dois jovens à sua frente, por um breve momento, ele pôde sentir
uma vibração negativa de modo premonitório e uma nuvem negra pairando sobre a
vida de ambos, só não conseguia ver o que aquilo poderia significar. Pois as imagens
não eram claras. — O que o destino não faz, não é? Olha só pra vocês. Ficam bem
juntos. — Disse o velho. — São um casal?
Michael e Clarke se entreolharam
meios que sem jeito.
— Nós? Não, somos apenas amigos.
— Respondeu Michael .
— Estranho. Os seus horoscópios
são compatíveis. — Liu Zeng não tinha certeza se a resposta do rapaz era
verdadeira, mas de uma coisa ele estava certo: aqueles dois jovens já estavam
apaixonados e prestes a enfrentar um futuro doloroso, futuro este que nada e
nem ninguém conseguiria mudar. O velho Liu Zeng encarou-os por um breve momento
com um pesar e respirou fundo. — Sabe, jovens? O momento em que os humanos
percebem a vontade dos céus é chamado de destino. E não há o que possa fazer em
relação ao que está por vir. É imutável.
Michael e Clarke olharam um para o
outro rapidamente e ficaram confusos com as palavras aparentemente desconexas
do velho chinês. Não disseram nada, apenas continuaram encarando o velho que
continuava falando.
— Nós, humanos, não podemos
escapar da vontade dos céus. — Liu Zeng segurou suas próprias mãos atrás do corpo.
— “Quando alguém entra na sua vida,
é uma coisa importante. Porque toda a sua vida vem junto com ela, seja entre os
acontecimentos bons ou ruins.” Você já ouviu essa frase, certo? — Ele olhou
diretamente para Michael.
O rapaz sentiu-se estranho e intrigado, pois eram as mesmas palavras que ouvira de Jonathan mais cedo. Mas ele era uma pessoa que não dava lugar a esse tipo de coisa, e por isso questionava-se se aquilo poderia ser apenas uma mera coincidência. Quanto a Clarke, bem... Esta estava inerte, encarando o velho sem entender absolutamente nada, embora aquelas palavras lhe dessem calafrios.
O rapaz sentiu-se estranho e intrigado, pois eram as mesmas palavras que ouvira de Jonathan mais cedo. Mas ele era uma pessoa que não dava lugar a esse tipo de coisa, e por isso questionava-se se aquilo poderia ser apenas uma mera coincidência. Quanto a Clarke, bem... Esta estava inerte, encarando o velho sem entender absolutamente nada, embora aquelas palavras lhe dessem calafrios.
— Deixem as
coisas acontecerem da forma que deve ser. — Foram às últimas palavras de Liu
Zeng, antes de se afastar dos dois jovens.
Ao se encontrar
sozinha novamente com Michael, Clarke finalmente pôde soltar o ar que estava
preso nos pulmões. Ela não entendia o que aquelas palavras podiam significar,
mas a aura era sinistra.
— O que foi
isso? Estou toda arrepiada. — Murmurou ao encarar o rapaz ao lado.
Michael puxou o
ar entre os dentes e franziu o cenho.
— Não tenho
certeza. — Disse um pouco intrigado, mas logo decidiu não fazer caso do que o
velho dissera. — Vai entender os
pensamentos dos orientais. — Deu de ombros e também encarou a garota. — Vamos.
— E rumou para a bancada, sendo seguido pela garota.
Uma vez
sentados, passaram a assistir dois alunos treinando com espadas de madeira,
simulando ataques e fazendo acrobacias incríveis, deixando Clarke maravilhada
com a visão e amando cada vez mais aquela parte da cultura.
— Um: olho.
Dois: os pés. Três: coração. Quatro: a força. — Dizia Michael enquanto assistia
os alunos. Clarke o olhou de lado. — A espada e em primeiro lugar: o olho em
que vê. Segundo: os pés se movendo. Em terceiro: um coração forte, e finalmente
poder e habilidade. Para superar a espada, significa que você tem que enganar o
olho, ligar os pés, nublar a mente e enfraquecer a habilidade do adversário. —
As pupilas do rapaz se dilataram, denunciando o quanto ele era apaixonado por
aquela cultura.
A garota por
sua vez, se sentiu confusa quando viu a paixão refletida naquele olhar.
— Você...
parece saber muito sobre isso tudo. — Comentou titubeando.
— Errado. Tenho
muito o que aprender, ainda. — Foi a resposta do rapaz, enquanto mantinha o seu
olhar fixo agora em outros dois alunos que acabara de fazer o “Kin Lai”, a
saudação do Kung Fu, antes de iniciarem uma luta. — Olhe só pra eles. — Apontou para os alunos e
Clarke os olhou. — Observe bem os seus movimentos. Antes de qualquer coisa, a
arte do Kung Fu vai muito mais além da luta física. Os movimentos são
controlados de acordo com a nossa mente. Ah, e não importa o quão bom
você seja, se não estiver determinado, certamente será derrotado. Entendo o que
eu quero dizer? Vence aquele que tiver mais determinado. Viu isso? Quando uma pessoa
é atingida por um golpe desses, ganha um enorme hematoma. É uma técnica que
fere os órgãos por dentro e deixa a vítima com problemas para respirar. Levei
seis anos para descobrir como evitar ser lesionado por dentro.
— Olha só pra
você? Gosta tanto assim de artes marciais?
— Hum. É o meu
segundo talento.
— E qual é o
primeiro?
— Ser bonito. —
Gabou-se. Embora ele tivesse apenas brincando, Clarke não podia negar isso.
— Não seja tão
metido, huh? — Ela estalou a língua nos dentes. — Mas de qualquer forma, você realmente
é um perito nisso. Se não fosse o herdeiro do grupo Chromish, poderia levar
isso como profissão.
Ao ouvir o que
a garota tinha dito, Michael juntou as mãos a apoiou os cotovelos nas pernas.
— Pra falar a
verdade... eu não quero e nunca quis ser o herdeiro do grupo Chromish. —
Revelou.
Clarke
arregalou um pouco os olhos.
— O quê? Como
assim? Você... é o filho mais velho! Que absurdo é esse?
Michael sorriu,
fitando o chão.
— Chocante, não
é?
— Realmente! —
Clarke não entendia o porquê que uma pessoa que tinha tudo, queria ter nada,
visto que muitos outros caras queriam estar no lugar dele.
— Desde que eu
era pequeno, via a falta de liberdade na vida do meu pai, e quanto mais eu ia
vendo isso, mas eu tinha certeza de que não queria isso pra mim. Eu só quero
ser eu mesmo... fazer o que eu realmente gosto.
— Ah... — A
garota murmurou agora começando a entendê-lo. — Então... Posso perguntar uma
coisa? — O olhar dela era relutante.
— Hum. Vá em
frente. — Ele fez que sim com a cabeça.
— Eu sei que
parte da sua vida é afetada pelo o fato de você ser um Jackson. Mas eu realmente
estou curiosa. Você já é um homem e pelo o que já percebi, não só é inteligente
como também tem capacidade de ganhar a vida sozinho, ser independente. — Michael confirmou com um gesto de cabeça, modéstia à parte. Ela continuou: — Então...
por que você apenas não pula para o que realmente deseja fazer, ao invés de
fazer uma coisa que não gosta?
Michael respirou fundo e a fitou por um tempo antes de respondê-la.
— Porque... eu
quero deixar o meu pai satisfeito comigo pelo menos uma vez na vida, já que eu
sempre fui contra os seus desejos. E também tem a minha irmã. Se eu apenas
metesse a cara sem a aprovação do meu pai, sem dúvidas, nós ficaríamos brigados
eternamente, isso seria muito difícil para ela.
— Ah... — Ela
sibilou, constatando que ao invés de ser “rei”, ele preferia ter a liberdade.
— E você? Como
é o seu relacionamento com o seu pai. — Agora foi a vez de Michael a questionar.
— Eu? Bem... o meu nunca se opôs à minha decisão.
— Verdade? Seu
pai é um cara legal, então.
— Ele é sim. A
pessoa que eu mais respeito é o meu pai. Não porque seja o meu pai, mas porque
ele é a pessoa mais honesta que eu conheço.
— Pela forma que você diz, o seu
pai deve ser uma figura muito conhecida também.
— Nem tanto. Mas sim.
— Será que eu sei quem é ele?
— Será? Vamos fazer assim. Vou
deixar você na curiosidade até o dia de conhecê-lo. — A garota não via a hora
de apresentá-lo ao pai, porém em momento algum citou que era filha de Robert
Bradshow, não de propósito, mas porque queria fazer uma surpresa, não só a ele,
mas ao próprio Robert.
— Que estranho. Me sinto ansioso.
— Disse Michael e os dois sorriram.
(...)
Por volta das 22:00 horas, Michael estacionou o seu carro em frente à casa de Clarke depois de um
momento incrível que teve com ela. Suas conversas foram tão agradáveis que,
compensou todo o estresse que teve naquele dia. Ele simplesmente adorava estar
perto dela.
Após agradecer ao rapaz por
tê-la levado naquele lugar e depois de se despedir, Clarke fez menção de abrir a porta,
mas antes que ela fizesse isso, Michael as travou, fazendo ela o encarar
rapidamente e um pouco surpresa.
— O que foi? — Pigarreou.
— Preciso falar com você. — Ele
disse calmamente.
— O quê?
Ele não a respondeu, pois seus
olhos e movimentos foram mais rápidos que suas palavras; ele colocou as mãos sobre os ombros dela, a puxou e encostou os seus lábios nos da garota que
sequer fechou os olhos durante o contato inicial. Ela permaneceu imóvel, sem
saber o que fazer naquele momento.
Michael afastou o rosto, apenas o
suficiente para analisar a expressão dela.
— Não fique assim. Não é como se
fosse a primeira vez que nos beijamos. —Sussurrou e realinhou os lábios aos
dela novamente, maravilhosamente acariciando-os e estimulando-os a se abrirem. Clarke
perguntou-se se deveria retribuí-lo. E seria possível resistir àquele beijo?
Então assim que ela cedeu, aconteceu que ele a estava consumindo, usufruindo do
contato e do calor dos pequenos lábios dela.
As mãos da garota ganharam vida
própria e embrenharam-se nos cabelos dele, puxando-o mais para si, até que um som
baixo e rouco escapou da garganta do rapaz — o som que reverberou por todo o
interior dela e que a fez render-se cada vez mais. O beijo dele era gotoso,
caloroso e sensual ao mesmo tempo.
O beijo foi
tornando-se muito mais profundo e acabou devido à falta de ar em ambos.
Clarke
soltou-se das mãos dele e o encarou com falsa repreensão.
— Vai me
beijar sempre que nos encontrarmos?
— Hum. — Ele assentiu
francamente.
— Você
realmente é incrível, sabia? — O encarou com falso asco.
— Sabia.
Mas... da última vez... você me perguntou se eu estava interessado em você.
Agora vendo o quanto você corresponde bem aos meus beijos, também quero saber.
Você... gosta de mim? — Perguntou, deixando Clarke sem saber o que responder a
princípio. Por que ele estava perguntou isso a ela? O que ela responderia?
— Pelo o que
ouvi, você tem fama de ser mulherengo. Um Casanova.
Por que eu iria gostar de um cara assim?
Michael estreitou os lábios antes de retrucá-la.
— Essa é a sua
perspectiva sobre mim, e eu não posso mudar isso. Porém, depois que eu conheci
você, todas as outras mulheres me parecem chatas. — Disse desdenhoso.
— Do que você
está falando?
— Vamos
namorar. — O rapaz propôs, com o semblante tranquilo e sem titubear nas
palavras.
Os olhos da
garota dispararam para o rosto do rapaz, pasmada com o pedido repentino.
— Na-Namorar?
Eu e você? — Arquejou seguido de um sorriso incrédulo.
— Hum. Não vejo
razão para não fazermos isso. — Ele assentiu com a cara de paisagem. — Você
quer que eu entre agora e fale com a sua família? Vamos fazer isso então. — Ele
destravou a porta do carro e fez menção de abri-la, mas Clarke rapidamente
segurou o braço dele.
— Está maluco? Eu
não sei por que você está dizendo isso, mas...
— Você
realmente não sabe? — Ele a cortou.
— Não. Eu nunca
pensei que você de repente... Hãm... Então... O que eu estou querendo dizer
é... — Muito nervosa, ela perdeu-se nas palavras.
— Por quê? Você
não quer? — Michael arqueou as sobrancelhas.
— Não é isso...
É que... Você me pegou de surpresa. — A garota balbuciou debilmente, desviando
os olhos. Suas bochechas estavam coradas.
— Ah... É isso?
— Depois de permanecerem em um silêncio profundo, o rapaz bateu as mãos com uma
solução em mente, fazendo a garota olhá-lo pelo o susto que levara. — Beleza!
Que tal isso? Vou deixar você escapar por hoje. Amanhã você me responde. Tá bom
assim?
Não demorou
muito para Clarke encontrar no que ele disse, a oportunidade de fugir só por
aquela noite. Ela estava muito nervosa.
— Fechado! —
Ela praticamente pulou de dentro do veículo e começou a andar em passos
rápidos, com um braço estendido sobre a cabeça numa tentativa de se proteger da
garoa fina que lhe molhava, anunciando uma futura chuva. Michael também saiu do
carro, sem se importar se iria se molhar ou não, e não perdeu tempo em mostrar novamente o
seu lado cavalheiro para a garota. Ele tirou o seu blazer preto e correu ao
encalço de Clarke, cobrindo a cabeça dela com o blazer.
Ela parou e o
fitou um pouco surpresa. Não esperava por aquele gesto.
Os olhos dele
ostentavam um negro intenso que penetrava na alma da garota.
— Michael... —
Disse baixinho, porém, o rapaz não deixou que ela continuasse, pois ele a virou
e a envolveu em seus braços da maneira mais carinhosa do mundo, assustando-a no
início. Foi tão inesperado que até ele mesmo ficou espantado com o seu próprio ato.
Sentia uma forte e inexplicável necessidade de abraçá-la que não conseguiu se
segurar diante dela.
— Não se
preocupe. Depois você me devolve o blazer. — Ele sussurrou brandamente e virou um
pouco a cabeça para inalar o cheiro doce dos cabelos dela.
Ela não
retribuiu o abraço de imediato, mas aos poucos os seus braços foram envolvendo
a cintura do rapaz até suas mãos pousarem nas costas dele.
Os dois
permaneceram abraçados debaixo do chuvisco por alguns segundos, um minuto
talvez, como se naquele mais puro e mais singelo dos toques pudessem demonstrar
todo o sentimento que já sentiam um pelo outro. Qualquer um que olhasse para os
dois juntos... o jeito que ambos se olharam, era impossível não perceber que
eles estavam apaixonados. Era perceptível.
Quando
finalmente se soltaram, Michael sorriu ao olhá-la. Clarke por sua vez, por algum
motivo se sentiu envergonhada, coisa que não era do seu feitio.
— Está tarde. É
melhor você ir. — Balbuciou ela, tentando não parecer inibida.
— Hum. — Ele
assentiu e sem que ela esperasse, ele curvou-se e a beijou rapidamente nos
lábios.
— Michael? — Ela
censurou-o olhando para os dois lados. Estavam em frente da casa dela,
afinal...
— Estou indo. —
Ele desconversou e afastou-se dela.
Por causa da
chuva, Clarke não esperou até ele ir embora. Ela adentrou na casa, rumou diretamente
para o seu quarto e uma vez dentro do cômodo, jogou-se sobre a cama ainda
descrente do pedido de namoro que recebera de Michael Jackson.
Não é que ela
não queria ou estava na dúvida, só havia sido pega de surpresa e com isso
ficara estupefata com o pedido repentino de namoro.
A verdade é que ela já tinha um certo
interesse no rapaz, mas depois desta noite, ascendeu um desejo desmedido de
saber como era o verdadeiro Michael Jackson, aquele que era referenciado como o
herdeiro de um grande conglomerado. Ele era diferente de como era descrito nos
jornais e nos sites de fofoca, e só tinha de verdadeiros o seu temperamento e a
fama de Casanova. Quanto ao resto, a
garota tinha certeza de que o seu caráter ia muito mais além, mas, o
que também a deixou surpresa foi a sinceridade estampado no semblante dele.
Poderia ele estar gostando dela? Era meio que inacreditável! Mas... ele iria
pedi-la em namoro se não gostasse? Não! Ele não parecia ser do tipo, embora tivesse aquela fama.
Ao lembrar-se
do beijo, — e que beijo — ela esboçou um sorriso estúpido e cobriu brevemente o
rosto com as duas mãos de forma infantil. Em seguida, parou de sorrir e
praguejou-se por não tê-lo respondido antes.
Embora não
tivesse respondido o pedido, definitivamente a sua resposta era sim. Um sim bem
grande!
Sem querer
perder mais tempo com a confusão louca que estava na cabeça, ela pegou o
celular e enviou para ele a sua resposta por mensagem. Curta e um pouco
vaga, mas era objetiva.
Para: Michael Jackson
SIM!
Só deu tempo de ela se
levantar e pôr o blazer dele no cabide, que o seu celular soou novamente.
Era uma resposta dele.
De: Michael Jackson
Então... Te ligo amanhã, namorada!
Seus lábios
curvaram-se num sorriso.
Notas da autora: Meninas, por causa de um problema com o Gadget, eu tive que postar a continuação dessa fic em outra página, ou seja, eu abri um novo topico, mas basta apenas clicar no link que irei deixar aqui em baixo ou na imagem da fic, hum?
Link da continuação: Click aqui para ler
Anciosa!
ResponderExcluirBem vinda com certeza será uma estória especial boa sorte Nani Jackson.
ResponderExcluirDesculpa a sinceridade, mas começo a ficar com receio de ler algumas fanfic. Uma vez que começo a me interessar e depois "do nada" a autora não termina. Entendo que as pessoas têm suas vidas e problemas, mas é frustrante para quem ler. Como vc garante que não acontecerá com essa...vou te dar um voto de confiança. Até o dia 25/09.
ResponderExcluirRelaxa, flor! É compreensível o teu receio, pois eu também sou leitora e sei o quanto isso é frustrante uma vez que nos apegamos à história. Como deixei patente lá em cima, eu me dediquei ao extremo a essa história, então isso significa que ela está completa, o que torna mais um motivo de ir até o fim. Eu andei sumida ultimamente por motivos pessoais e também, como disse, passei também um tempo dedicada a esse livro que demorou bastante para escrevê-lo, já que na terceira pessoa é muito mais complexo o desenvolver e tal... Enfim, espero que esteja mais tranquila em relação a isso, hum? E obrigada por marcar presença, pois por ter passado tanto tempo sumida assim, tive receio de que vocês não fossem me querer mais. rsrsrs Bjs ;*
ExcluirOk! Cara que a queremos! 😎
ResponderExcluir*claro
ExcluirEsperando
ResponderExcluirEsperando
ResponderExcluirQue chegue dia 25 logo *_*
ResponderExcluirOi meninas. Vocês estão bem? Espero que sim! ^^
ResponderExcluirBem, hoje trago o prólogo e o primeiro capítulo pra vocês.
Hoje vamos ver um pouquinho do nosso Michael herdeiro e lutador, na próxima postagem vamos enfim conhecer a nossa mocinha destemida.
Se tiverem alguma dúvida obre a fic, é só peguntar, ok? Responderei tudinho. :D E ah, digam o que acharam, please!
Beijos e até mais! :*
Adoreeeeeei!!!!!!!!!! Continuaaa..
ResponderExcluir:D
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEm quais dias você vai postar ?
ResponderExcluirEstou amando essa fanfic! Continua...
ResponderExcluirEsperando!!
ResponderExcluirVai ter capítulo hoje??
Mariana
Cadê a fic???
ResponderExcluirJá tem cinco dias e nada????
Oi meninas... Cheguei com mais. :o
ResponderExcluirHoje vamos conhecer a nossa mocinha destemida e corajosa.
E ah, respondendo a pergunta de algumas: As postagens serão feitas todos os finais de semanas, sábados ou domingos.:) MAS, se eu tiver um tempinho livre no meio dessa semana que está para entrar, quarta-feira talvez, eu trago um capítulo adiantado pra você, capítulo este onde eles têm a primeira conversa. rsrs
Enfim... Obrigada por estarem aqui.
Beijos e até breve! :*
kkkk....agora lascou tudo! Só quero saber o que vai acontecer.Estou ansiosa! Estou amando essa fic!!
ResponderExcluirContinuaaa! !!
ResponderExcluirTô adorando ❤❤��
Anciosa
ResponderExcluirOiii meninas. Não foi exatamente na quarta-feira, mas como prometido, eu trouxe um capítulo adiantado pra vocês. \o/
ResponderExcluirComo foi um pouco na correria, foi feita uma breve revisão novamente antes de postá-lo. Então se houver algum erro de digitação ou algo do tipo, please, me desculpem e avisem, hum? Obrigada! rsrs
Enfim... Espero que gostem.
Beijos ;* e até breve!
Estou amando essa fic kkk
ResponderExcluirO michael tá uma delícia desse jeito rs
Não demora muito...
Tô anciosa
Continuaaa
Mariana
Muito bom! Que clima entre esses dois!
ResponderExcluirContinua, por favor!
Continuaaa logo! !!
ResponderExcluirMariana
cont
ResponderExcluirSó acho que demora muito pra postar fico ansiosa km muito o a a fic
ResponderExcluirSó acho que demora muito pra postar fico ansiosa km muito o a a fic
ResponderExcluircontinuua!!! mto bom ate agora
ResponderExcluirJosianne???
ResponderExcluirCadê a fic...POXA NÃO DEMORA NÃO :( :(
MARIANA
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirctn...
ResponderExcluirContinua!!!! Pfv... :'(
ResponderExcluirctn<3
ResponderExcluirJosiane , cadê você ? :'(
ResponderExcluirComeçou tudo de novo! espera,espera,espera,e nada de postar e você não da nem noticia!continua ou para! não deixa a gente nessa expectativa.
ResponderExcluirJá tá ficando chato ja! !!! >. <
ResponderExcluirContinua com isso LOGO!!!!
MARIANA
Gente... Vamos lá!
ResponderExcluirEu primeiro quero pedir desculpas por não ter postado esse final de semana, como eu tinha dito que seria os dias das postagens. Mas deixem-me dizer uma coisa: Eu não avisei não foi porque eu não quis não. Primeiro tem a questão do meu tempo e também foi porque eu fiquei sem internet. Foi isso! E pra falar a verdade, eu ainda estou sem internet e fiquei a semana inteira preocupada de chegar aqui e ter comentários negativos. Acreditem! Eu queria muito tê-las avisado sobre... Porém aconteceu o que eu disse... Então de verdade, eu espero que entendam e que aceitem o meu pedido de desculpas e que continuem comigo, pois a fic vai continuar sim.
Para recompensar esse atraso, hoje trago pra vocês dois caps, hum?
Espero que gostem!
Postados meninas! Demorou, mas foi. rsrsr
ExcluirAh, como foram dois capítulos grandes seguidos, eu tive alguns probleminhas aqui para postá-los. Então se houver algum erro de digitação ou outra coisa do tipo ou estranha,peço desculpas desde já
Esse final de semana, eu volto com mais!
Enfim... /espero que gostem, suas lindas! Bjs!
Já estão começando a se envolver kkkk
ExcluirTô adorando!!!
Continua sim...
Posta logoo
ResponderExcluirContinuaa!!
Que capítulo gostoso de ler!! Parabéns!! E continua, por favor!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirContinuaaaa!!! Please!!!
ResponderExcluirContinua, por favor!!
ResponderExcluirContinua, por favor!!
ResponderExcluirContinuee
ResponderExcluirMeninas... Acabei de atualizar! HeHe
ResponderExcluirComo estão vendo, eles têm uma química muito forte, não é? Mais pra frente terá mais cenas deles juntos, românticas, porém, nem tudo o que é bom dura pra sempre. Viram que a treta entre Michael com o pai dela já começou, né? O pior ainda está por vir. Aguardem meninas!
Espero que gostem!
Próximo final de semana volto com mais!
Beijos
! :*
Aí qué anciedade!!! :(
ResponderExcluirContinuaa
Este Michael não bobo não hein??
Ele vai logo tirando o cavalinho de Robert na Chuva!!!
E esse clima entre Clarke e Michael???
♡♡♡♡
Amando cada dia mais!!
Mariana
Nossa vc atiçou minha curiosidade!Tomara que eles se envolvam o mais rápido possível. Rs
ResponderExcluirRealmente, o pai dela é um demônio! Ainda bem que Michael percebeu que ele não é confiável.Estou ansiosa!! 😉
Continua...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirContinuaa
ResponderExcluirSó quero saber como será esse ´´encontro´´ deles kkkk show! continuua
ResponderExcluirContinuaaa logo!!!
ResponderExcluirVC demora muito pra postar :( :( :(
Leandra
Continuaaaa.
ResponderExcluirCadê? ??? O cap???
ResponderExcluir:(
Meninas, cheguei com o capítulo sete pra vocês!
ResponderExcluirComo estão vendo, estão se envolvendo cada vez mais e depois desse capítulo não fica mais dúvidas de que eles realmente já se sentem atraídos um pelo o outro.
Quanto ao Robert, o pai dela, bem, tbm puderam observar um pouquinho das más intenções dele, embora não tenha sido muito explorado nesse capítulo, mas nos futuros você vão ver o quanto esse homem é cruel Preparem-se para odiá-lo muito. Está chegando!
Enfim... Espero que estejam gostando!
Beijos e até mais! :*
QUE CAPÍTULO GOSTOSO DE LER!!! O #LINDO DO MICHAEL TÁ COMEÇANDO A S APAIXONAR POR CLARKE!!❤ ESTOU AMANDO CADA LINHAS DESSA FIC!!! CURIOSA PRA SABER O RESTO TODO DA FIC!! ��
ResponderExcluirE ANNIE VER SE POSTA OS CAPÍTULOS DE SEMANA TAMBÉM. .. NÃO DEIXA A GENTE FICAR ESPERANDO POR MUITO TEMPO :( :(
AMANDO
Adoreeeeeeei!!!! Continua!!!
ResponderExcluirRealmente foi um delicioso ler esse capítulo.Eu viajei nesse romance deles. Tão fofa e tão meiga, a Clarke.
ResponderExcluirE continua, por favor!!
*tão
ExcluirContinuaaaaaaa tô amando esses dois!! ❤❤❤❤❤
ResponderExcluir#Fernanda
Lindos !!
ResponderExcluirAdorando
LUIZA
Continuaaa tô adorandoo
ResponderExcluirMeninas, estou passando aqui para vos dar um recado.
ResponderExcluirInfelizmente, não estarei livre para atualizar a história neste final de semana por motivos pessoais. Eu sinto muito mesmo e espero que compreendam. Porém, trago o capítulo novo já nesta segunda-feira, hum? Não se esqueçam. Segunda-feira.
Enfim... Obrigada pelos comentários, pois fico muito feliz em lê-los. De coração! ♥
Bjs :*
OK! Bjs.
ExcluirCadê o capítulo
ExcluirUé? ?? Cadê
ResponderExcluir'-'
Atualizado, meninas. Hehe
ResponderExcluirNesse capítulo vocês poderão ver mais um pouco sobre o quanto o pai da nossa prota é do mal. Não gosto de dar spoiler, mas como já estamos no capítulo oito, posso vos dizer que a partir do capítulo dez para preparem os lencinhos... Tá bom, paro por aqui. srsrs
Enfim...
Espero que estevam gostando.
Beijos e até mais. <3
Nosso que velho asqueroso!! Suporto esse tipo dê gente!! O Robert qie tem morrer.... tem que beber do próprio veneno!! 😡😡😤😤
ResponderExcluirContinuaaa
Tenho a ousadia de dizer que não me espantaria que na vida de MJ não tivesse alguns "Robert" em sua volta.Só que esse Michael não é bobo. Que homem mais ganancioso! Qual será a reação de Michael ao descobrir que Robert é o pai da garota que está gostando?
ResponderExcluirContinua, por favor!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue capítulo tenso. Continua!!!
ResponderExcluirQue capítulo tenso. Continua!!!
ResponderExcluirCooontiiinuuuuaaaaaa ♡♡♡♡♡
ResponderExcluirAnciosaaa!!
ResponderExcluirMariana
Esperando ansiosamente! 😎
ResponderExcluirQue Lindos ele juntos!!!
ResponderExcluirQ pena q vai ter alguém q vai querer estragar com o relacionamento deles :( :(
Continuaaa ADORANDO
Atualizado, meninas. Como podem ver, esse capítulo nos revela um pouco do futuro através das palavras do velho chinês. Só posso adiantar pra vocês que nos próximo capítulos estejam preparadas, pois a partir deles é que entraremos no lado dramático da história.
ResponderExcluirPróximo capítulo, não se esqueçam, que eu vou ver se dá para trazê-lo nesta quarta-feira, nada confirmado, mas eu vou tentar, hum?
Obrigada pelos cometários!
Bjs e até mais. :*
Sim.. fofa..
ExcluirVou me segurar pra ler o próximo capítulo 😓
Ok, vou esperar ansiosamente pelo próximo capítulo. Estou amando, amando mesmo!!
ResponderExcluirAh uma perguntinha básica,eles vão ficar só nos beijos? Rsrs
Continua, por favor!!
kkk Bastante básica, não é maria? kkk
ExcluirFlor, é assim: Quando eu escrevi essa história, eu quis mesmo me focar no amor sofrido deles, não que "aquilo" não vai rolar, pois vai sim e está mais perto do que longe. Haha Eu não queria jogar um capítulo com uma cena hot sem se encaixar com o anterior ou ou posterior, sabe? Pois eu quis encaixar esse momento em um capítulo que veio bem a calhar.
Mas relaxa, vai chegar. kk
Bjs :*
Está maravilhosa a história! Também não acho que ser logo. Concordo com vc. O amor está sendo construído. É só uma curiosidade! Kkkk
ExcluirADOREEEEEEEEEEEI o capítulo!!! Continua ...❤
ResponderExcluirCadê o capítulo? ???
ResponderExcluirOi meninas. Tudo bem? Está anônimo, mas sou eu, a Anne ou Josiane, como preferirem.
ResponderExcluirBem, infelizmente não deu pra postar nessa quarta-feira. E, infelizmente só poderei postar nessa segunda ou terça, que é quando estarei voltando pra casa. Sinto muito, muito mesmo e espero que entendam. Mas pra compensá-las postarei dois capítulos, hum? Ent, até lá. Bjs